Mais um filme que concorreu ao Oscar. “Judy” concorreu a duas estatuetas (Melhor Atriz para Renée Zellweger, levando esse prêmio, e Maquiagem e Cabelo) e nos conta a trajetória da diva Judy Garland, que todos nós conhecemos como a Dorothy de “O Mágico de Oz”. É um daqueles filmes que pesca o cinéfilo pelo coração desde o início. Para podermos falar sobre o filme, vamos precisar, como sempre, de spoilers.
A película opta por focar mais no ocaso da carreira da atriz (interpretada por Renée Zellweger), quando ela está afogada em dívidas e nem lugar para morar ela tem, precisando ficar aqui e ali com seus dois filhos pequenos (Liza Minelli já está crescida e estabelecida). Isso vai fazer com que seu ex-marido Sid (interpretado por Rufus Sewell) peça a guarda dos filhos, o que vai deixar Judy Garland abalada. Sem dinheiro e sem propostas de trabalho, ela aceita a oferta de se apresentar na Inglaterra e aí o filme mostra o dia-a-dia de Judy Garland em terras inglesas, onde suas apresentações alternavam altos e baixos, sempre regados a muitos remédios e bebidas, despertando um dó danado na gente.
O filme também mostrou, em menor escala, momentos da juventude da atriz, onde a gente consegue compreender porque ela acabou se tornando uma pessoa tão atormentada e difícil. Sua mãe a obrigava a ser altamente profissional, não dando a ela nem o direito de se alimentar de forma satisfatória para não engordar e ainda a enchia de remédios para ficar acordada e para dormir, tornando-a dependente de todos esses medicamentos. Era uma prática comum entre os artistas tomar essas medicações para não dormir em virtude da maratona de shows e, depois, para poder evitar a insônia, tomar também medicações para dormir, numa época em que ninguém acreditava que isso fazia muito mal e detonava o organismo. Nossa Carmen Miranda também passou por essa experiência e foi isso que acabou abreviando demais as vidas tanto de Carmen quanto de Judy (a primeira morreu com 46 anos e a segunda com 47 anos).
Em virtude de toda essa situação, Judy metia os pés pelas mãos e, aos poucos, fechou a última porta que restava, que era a temporada inglesa. Nem as tentativas de seu novo marido, Mickey Deans (interpretado por Finn Whittlock) foram suficientes para levantar sua carreira, o que acabou com o casamento entre os dois. É realmente muito doloroso ver toda a via crucis de Judy para o inevitável caminho que todos já sabíamos. E aí, Zellweger foi fundamental nisso, pois ela convence, e muito, no papel, sendo, a meu ver, muito merecedora da estatueta de Melhor Atriz. Sua atuação é muito tocante, mostrando toda a fragilidade e agressividade de Judy nas medidas certas, monopolizando todas as atenções.
Apesar de todo o rosário de lamúrias que o filme provoca, nem tudo era somente sofrimento. Há uma sequência em que ela vai dar autógrafos a dois amigos depois do show e acaba decidindo sair com eles. Como não acham um restaurante aberto tarde da noite, ela vai para a casa deles, onde descobre que são um casal gay que sofrem muitas perseguições, se identificando com eles, já que toda a sua carreira sempre foi forjada com base em muitas exigências, não dando a ela um momento mínimo para viver em paz como ela mesma, dentro de suas vontades e desejos, sendo sempre reprimida quando saía um pouco do cabresto que lhe fora severamente imposto por toda a vida. E, ao final do filme, ela, já demitida, ainda entra no palco uma última vez e, ao cantar “Somewhere Over The Rainbow” e, não conseguir, em virtude de todo o peso que carregou nas costs a vida inteira, vê todo o teatro lotado cantando para ela, sendo um desfecho para o filme de dar muitas lágrimas nos olhos. Um certo alívio para tanto sofrimento de uma mulher que não conseguiu se reerguer e reconquistar a guarda dos filhos.
Assim, “Judy” é um programa obrigatório para qualquer cinéfilo e para qualquer espectador. Um filme que consagra Zellweger e é uma justa homenagem a Judy Garland, um enorme talento que foi triturado pelo star system. Imperdível.