Um documentário brasileiro no mínimo provocante. “A Rosa Azul de Novalis”, de Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro, busca mapear a figura de Marcelo Diorio, um rapaz que é homossexual e HIV positivo, cuja trajetória de vida é bastante curiosa. Para podermos entender melhor o filme, vamos precisar de spoilers.
Dando voz total ao protagonista, o documentário não faz qualquer leitura e deixa Marcelo bem à vontade para falar de si próprio. E ele o faz sem qualquer medo e com muita sinceridade. Com uma certa mágoa, Marcelo fala da difícil relação com sua família, segundo ele altamente conservadora, que não aceitava a sua sexualidade e uma revelação extremamente bombástica no enterro do irmão que deve ter azedado o clima entre nosso protagonista e a família de vez (não darei o spoiler aqui). Marcelo ainda fala de sua relação com o HIV e com os amantes com os quais ele tem relações, contando experiências inusitadas, como um conector USB com um cronômetro enfiado em seu cu por um desses amantes desvairados, gerando uma história inusitada e hilária. Mas a característica mais curiosa dessa película é o fato que Marcelo diz ter lembranças de outras vidas, tais como a de um corpulento general asiático na Idade Média e o poeta romântico alemão Novalis no século XIX, que buscava uma rosa azul. Mais inusitado, impossível.
O documentário também vai ser muito agressivo para os conservadores mais sensíveis, pois há encenações das experiências sexuais de Marcelo, com direito a vigorosas cenas de sexo oral. E podemos também dizer, com o perdão do trocadilho, que esse é um cu de filme, não no sentido de ser uma película ruim, mas pelo fato da película começar e terminar com um close do cu do protagonista. E por que isso? Ao início, Marcelo toma sol em virtude de sua deficiência de vitamina D e, por mais estranho que isso possa parecer, ele precisa tomar sol no cu (não me perguntem por que, indicações médicas). E, ao final, numa postura e posição altamente desafiadoras, nosso protagonista fica nu, de quatro para a câmara, que faz uma viagem por suas entranhas depois dele fazer um monólogo onde exalta sua sexualidade (e seu cu), além de dizer que a película, até aquele momento, estava muito careta. Fico imaginando os mais conservadores vendo tudo isso. Eles, literalmente, iriam enfiar do dedo em seus cus e rasgar.
Brincadeiras à parte, esse é um documentário muito corajoso, sincero e importante, pois mostra, de forma bem natural, sem deixar de ser iconoclasta, o pensamento de Marcelo Diorio sobre si mesmo e sua sexualidade, pouco ligando se vai ser agressivo aos mais conservadores. Pela sua ousadia, é um filme muito importante para os momentos sombrios em que vivemos. Um filme sem papas na língua. Vale a pena dar uma conferida.