Uma música do novo álbum da Bonnie Tyler, Between the Earth and the Stars…
Mês: abril 2020
Batata Arts – Olha Só! (4)
Continuemos a olhar…
Batata Movies – Minha Irmã De Paris. Engraçadinho, Mas À Americana.
Uma comédia francesa engraçadinha à americana. “Minha Irmã de Paris” é um filme com o único objetivo de entretenimento. Protagonizado por Mathilde Seigner (irmã de Emmanuelle Seginer, esposa de Roman Polanski e que contracenou com Harrison Ford no já longínquo “Busca Frenética”), que faz dois papéis, o de uma atriz profissional sofisticada e metida à besta que busca recuperar sua carreira (Jullie) e uma cabeleireira de cidade de interior altamente alegre e comunicativa (Laurette), o filme consegue fazer rir mas também passa uma mensagem da importância de tratarmos bem ao próximo e fazermos a diferença na vida dos outros. Para podermos falar desse filme, vamos lançar mão de spoilers.
Como Julie e Laurette, duas mulheres ao mesmo tempo tão diferentes e iguais irão se encontrar? A primeira está com sua carreira por um fio e seu empresário consegue um papel para ela com começo imediato. O problema é que a atriz fez preenchimento labial e teve uma reação alérgica, ficando com o lábio inchado. Dias antes da operação, Laurette se apresentou a Julie e seu empresário no restaurante, numa mostra de tietagem explícita, e deixou o cartão de seu estabelecimento de cabeleireira. Julie então irá contactar Laurette e pede para substituí-la nos primeiros dias de filmagem, até que ela se recupere de seu inchaço no lábio. Mas a natureza afável e amigável de Laurette conquista todos no set de filmagem, onde a moça cai como uma luva no papel de uma protagonista de comédia, algo impraticável para Julie, que faz filmes mais “cabeça”. O grande detalhe aqui é que Laurette e Julie são irmãs gêmeas que foram abandonadas num orfanato e, enquanto a atriz orgulhosa e metida à besta não sabe disso, Laurette tem plena consciência dos laços de parentesco. Está montado o cenário para várias situações hilárias ao longo da exibição da película.
É um filme onde tudo depende muito de Mathilde Seigner, que conseguiu muito bem dar conta do recado. Ela realmente conseguiu dar vida a duas pessoas de características completamente diferentes, mesmo que as duas personagens tenham a mesma cara. O mais interessante é que a atriz consegue fazer rir com as duas personagens, por mais díspares que sejam suas características, numa prova de um bom trabalho de interpretação. E ainda, de quebra, conseguiu levar ao público uma lição de moral, pois Julie consegue aprender com Laurette que a petulância e a soberba machucam muito as pessoas, de forma que a diva desce de seu pedestal e desiste de sua carreira, havendo uma verdadeira troca de papéis entre as duas, onde a vida de uma agrada à outra. O grande barato do filme é que, até que esse desfecho seja alcançado, temos um roteiro que apresenta muitos desdobramentos e alternativas, que desenvolvem a história de uma forma engraçada, mas também instigante, onde torcemos pelo espírito alegre e cheio de compaixão de Laurette, mas também torcemos por Julie, pois ela é muito infeliz com seu trabalho e muito de sua soberba vem daí. Isso tudo sem falar que Julie precisa saber de sua história pregressa de órfã, um elemento a mais para trazer tensão ao roteiro.
Dessa forma, “Minha Irmã de Paris”, se é uma comédia um tanto despretensiosa, ela cumpre a função de fazer rir, traz uma tocante lição de moral e o talento de uma atriz como Mathilde Seigner, que consegue fazer duas personagens com características muito diferentes, fazendo o público rir igualmente com as suas interpretações. Vale a pena para passar um tempinho agradável.
Batata Movies – O Último Amor De Casanova. Um Amante Deprê.
Vincent Lindon está de volta em mais uma película. “O Último Amor de Casanova” é um daqueles filmes que vão na contramão de todas as nossas impressões sobre o personagem em questão. O prolífico amante que povoa nossas mentes está mais para um cara feliz e vibrante, que sabe aproveitar a vida e que tem um controle muito forte da situação. Mas o filme em questão não mostra nada disso, muito pelo contrário até. Para podermos entender um pouco melhor isso, vamos lançar mão de spoilers.
Vemos aqui a vida de Casanova na Londres do século XVIII. Todo senhor de si, Casanova fica fortemente atraído por uma cortesã, Marianne de Charpillon (interpretada por Stacy Martin), que vê prestando seus serviços a dois homens numa carruagem. A partir dali, Casanova faz de tudo para se aproximar da moça, e ele descobre que ela havia recebido um presente dele quando menina. Sabendo do histórico de casos do famoso amante, Marianne faz de Casanova gato e sapato, humilhando-o o tempo todo e não se entregando a ele, até que o famoso personagem pira na batatinha e destrói o quarto quando Marianne presta seus serviços para um cliente, o que provocou o afastamento definitivo da moça e mergulhou Casanova na depressão.
Esse é um daqueles filmes franceses que trabalham sua temática favorita: o existencialismo e a depressão. Lindon, como sempre, teve uma excelente atuação, e com sua voz grave, adicionou um tom de melancolia que tornou o filme extremamente arrastado e tristonho. Parece que vemos aqui uma vingança contra todos os males que Casanova provocou contra as mulheres que ele atraiu para sua alcova, um desfecho deprimente para sua vida de coleção de amantes. O chato é que o filme, apesar de contar com um bom figurino e locações, não foi muito além desse clima melancólico, o que pareceu um desperdício de um talento como Lindon. Um ponto positivo foi a participação de Valeria Golino, que mais era uma amiga de Casanova do que uma amante. Ela estava muito linda com suas vestimentas de época e seu penteado louro e encaracolado, onde sua voz rouca e sexy é uma marca registrada ainda muito forte.
Dessa forma, “O Último Amor de Casanova” foi demasiadamente arrastado e melancólico, o que foi uma pena, pois o talento de figuras como Vincent Lindon e Valeria Golino poderia se destacar um pouco mais se o filme fosse um pouco mais vibrante. A humilhação do personagem principal cheirou a uma vingança contra o passado de excessos do amante, embora nunca devamos nos esquecer que essa história é baseada na vida de Casanova. Se você gosta muito, como eu, de Vincent Lindon e de Valeria Golino, esse é um programa obrigatório. Mas o filme é muito lento e deprimente, e ainda tem ingleses que defecam nos jardins.
Batata Movies – Aspirantes. Choque De Realidade.
Um filme brasileiro. “Aspirantes”, de Ives Rosenfeld, fala da trajetória de um rapaz que tem um sonho igual ao de milhares, talvez milhões de jovens por todo o país: ser um jogador de futebol famoso e rico. Mas a vida, sempre ela, dá uma rasteira atrás da outra no protagonista desse filme. Para podermos pensar um pouco sobre a película aqui, vamos precisar de spoilers.
O protagonista em questão é Júnior (interpretado por Ariclenes Barroso), um rapaz que vive na região dos lagos no Rio de Janeiro e tenta, juntamente com o amigo Bento (interpretado por Sérgio Malheiros) um lugar ao sol no difícil mundo do futebol. Júnior tem uma namorada que está grávida dele e mora com um tio com quem não se dá bem. Tudo parece muito idílico e prosaico no filme, mas o cenário tem um potencial para virar de cabeça para baixo a vida de Júnior, o que acaba acontecendo. Ele se desentende com o tio, que o expulsa de casa, tendo que ir morar na casa da namorada. Entretanto, um desentendimento entre a mãe da namorada e a mesma mostra que Júnior tem, na verdade, que lidar com uma grande pressão, que é arrumar um emprego para sustentar o filho vindouro. Isso faz com que ele precise ter êxito na carreira de jogador de futebol, o que pode ser um processo muito lento sem garantias a longo prazo. E aí, nosso Júnior entra em parafuso, com direito a desentendimentos com o amigo Bento (inclusive de forma trágica) e com a namorada, a ponto do menino dormir na rua até ser acolhido por seu técnico e pelo clube. O filme termina com Júnior numa partida decisiva, fazendo um gol.
O filme, que parece um tanto ingênuo e bucólico em seu início, acaba se revelando uma sucessão de choques de realidade com o passar do tempo, marcando a via crucis de Júnior, um rapaz pacato que se torna um cara soturno e até agressivo em virtude das pancadas que a vida dá. O maior problema aqui é que o filme termina de uma forma extremamente abrupta, como se um gol fosse a solução de todos os problemas do personagem. Ele ainda precisa de um bom emprego, precisa se acertar com sua namorada e, principalmente com Bento, a parte mais surreal desse choque de realidade. Entende-se até que o roteiro tenha sido enxuto mais pelo sentido de se contar uma boa história e não se complicar muito para não encarecer demasiadamente a produção. Mas o excesso de pontas soltas e se dar ao espectador a responsabilidade de mentalmente amarrá-las podem ser problemas que tornam o filme um tanto incompleto em sua construção. De qualquer maneira, essa é uma história que pode acontecer com muita gente por aqui em nosso país.
Dessa forma, “Aspirantes” vale por seu choque de realidade, embora seu roteiro pareça demasiadamente simplório e plano, deixando muitas pontas soltas. Vale para o espectador trabalhar sua imaginação.