Batata Movies – Gardênia Azul. A Alucinação Como Protagonista.

Dvd - A Gardênia Azul - ( The Blue Gardenia ) Fritz Lang - R$ 60 ...
Cartaz do Filme…

Mais um filme de Fritz Lang em sua fase americana. “Gardênia Azul”, de 1953, traz novamente o claro/escuro do “Noir” inspirado no expressionismo, os elementos das culturas chamadas “primitivas”, de que Lang tanto gosta, um suspense regado a alguns sustos aqui e ali, mas, principalmente, a alucinação como o elemento-chave do filme.

DIÁRIO DE UM CINÉFILO: A GARDÊNIA AZUL (The Blue Gardenia)
Norah, uma mulher que vai encarar um pesadelo…

O plot é relativamente simples. Três amigas que vivem juntas dividem suas confidências. Crystal (interpretada por uma carismática Ann Sothern) reata com o ex-marido. Sally (interpretada por Jeff Donnel) é uma mocinha engraçada que adora histórias policiais de suspense e assassinato, sendo um interessante alívio cômico para o filme. E Norah (interpretada por uma vistosa Anne Baxter) é a nossa protagonista, que trabalha como telefonista. Um pintor de calendários de mulheres sensuais, Harry Prebble (interpretado por Raymond Burr) foca na companhia telefônica azarando as telefonistas e consegue o telefone de Crystal. Norah recebe a carta de seu namorado, um soldado que está na Guerra da Coreia. Ao ler a carta, seu namorado diz que conheceu outra mulher e vai casar com ela. Desnorteada, Norah atende o telefone em casa. É Prebble atrás de Crystal. Norah, num impulso, se faz de Crystal e marca um encontro num night club chamado Gardênia Azul. Lá, sob a música cantada por ninguém mais, ninguém menos que Nat King Cole, Norah fala do que aconteceu para Prebble, que começa a servir deliberadamente uma bebida inspirada na Polinésia para Norah ficar bêbada. Prebble leva a moça para o seu apartamento e tenta pegá-la à força. Vemos que Prebble é assassinado e, tudo indica que foi Norah quem o matou. A moça, mergulhada em alucinações por causa da bebida, vai para casa e de nada se lembra. No dia seguinte, ela descobre que Prebble foi assassinado e que a polícia investiga o paradeiro da criminosa, pois foi encontrado um sapato feminino no local do crime. Desesperada, Norah busca escapar de ser apanhada. Para isso, ela vai contar com a ajuda do repórter Casey Mayo (interpretado por Richard Conte), que escreveu uma carta no jornal para a assassina pedindo que ela entrasse em contato com ele. E é o que Norah faz.

Yoshiwara´s World: Resenha de Filme - A Gardênia Azul.
Norah vai ter uma decepção com o namorado, combatente na Coreia…

Se compararmos esse filme de Lang com os outros dois analisados aqui, “O Segredo da Porta Fechada” e “Maldição”, esse é um “Noir” menos escuro. Temos momentos pontuais de escuridão no filme como, por exemplo, no momento em que Norah lê a carta do namorado e a cena do assassinato em si. A alusão à cultura da Polinésia no drink que embebeda Norah assinala bem essa característica de Lang de exaltar tais culturas. Em “O Segredo da Porta Fechada” vemos as máscaras na parede apenas, por exemplo. Mas aqui a questão da alucinação, tão ligada ao subjetivismo do expressionismo, é a mais presente dentre as características desses filmes de Lang “Noir” nos Estados Unidos. É a alucinação que encobre a cena do assassinato em que Norah está envolvida. É a alucinação que quase condena Norah e oculta sua inocência. Alucinação que foi tão cara ao expressionismo e atravessou o Oceano Atlântico juntamente com Lang.

Gardênia Azul - Filme - Cinema10.com.br
Prebble tenta pegar Norah à força…

Como Norah é inocente, fez-se a opção pelo happy end. Um fim que, inclusive, foi bem levinho, com o alívio cômico das três personagens protagonistas falando das táticas de se lidar com homens. Ou seja, se há a tensão do suspense, esse é um filme de Lang que tem elementos pontuais de humor que não vimos nos outros dois filmes analisados aqui. Humor que consegue conviver com o pesado do “Noir” de uma forma bem pertinente e com bom gosto, não sendo um elemento estranho à película.

The Blue Gardenia (Gardenia Azul) (1953) de Fritz Lang – Cinema ...
Casey Mayo vai ajudar (?) Norah…

Dessa forma, “Gardênia Azul” é mais um bom “Noir” da fase americana de Lang, que mantém os elementos expressionistas do diretor, o amor pelas culturas primitivas e um certo protagonismo das alucinações, que encobrem a cena principal do filme. O humor e o toque feminino caíram como uma luva nessa história pesada que tem um happy end regado a uma leveza bem coerente. Vale a pena a conferida abaixo.