Mais um filme da fase americana de Fritz Lang. “Os Carrascos Também Morrem” (“Hangmen Also Die”, 1943), pode ser considerado um filme todo especial do diretor, pois ele é baseado numa história que Fritz Lang escreveu com ninguém mais, ninguém menos que Bertolt Brecht. Uma história de resistência do povo tcheco contra a invasão nazista. Lembrando que os spoilers de setenta e sete anos estão liberados.
O plot é bem simples e foi baseado numa história real. O administrador nazista da Tchecoslováquia é conhecido por ser um carrasco cruel do povo tcheco. Ele acaba sendo assassinado pela resistência tcheca, o que faz com que a Gestapo, a polícia secreta nazista, comece uma caçada. Os nazistas prendem várias pessoas para pressionar a população, promovendo fuzilamentos até que o autor do atentado apareça. Ele é o Doutor Franticek Svoboda (interpretado por Brian Donlevy), que se esconde na casa do historiador Stephen Novotny (interpretado por Walter Breenan). Isso vai envolver a família do historiador, que é seguidamente presa e interrogada pelos nazistas. O filme, portanto, será todo um rosário de situações onde o povo tcheco terá que lidar com a pressão e a truculência dos nazistas até que estes encontrem o assassino.
Se tem uma coisa que a dupla Lang/Brecht conseguiu fazer aqui é colocar no espectador um ódio muito grande contra os nazistas. Poucas vezes vimos uma truculência tão crua num filme de Segunda Guerra Mundial que, como já dissemos aqui várias vezes, tem um repertório muito vasto. Por um outro lado, a união do povo tcheco contra o nazismo se torna um personagem à parte. E isso tem uma explicação. Esse é um típico filme de propaganda, pois à época em que ele foi realizado (1943), a guerra ainda não havia terminado e era uma prática no cinema americano se fazer filmes onde eram exaltados povos que lutavam efetivamente contra o nazismo naquele momento. Ou seja, podemos dizer que tais filmes eram uma espécie de propaganda exaltando a luta contra o nazismo. Quando a União Soviética passou para o lado dos aliados, por exemplo, foi feito um filme exaltando a resistência do povo ucraniano na luta contra o nazismo (“Estrela do Norte”, 1943). Ou seja, os comunistas eram bem vistos no cinema americano quando eram aliados na época da Segunda Guerra Mundial.
Embora a população tcheca tenha sido exaltada como bastião de resistência, o filme é claro em mostrar como as táticas desumanas dos nazistas de repressão tinham êxito em dividir a população. Vemos, por exemplo, Svoboda numa baita de uma crise de consciência ao ver muitos inocentes sendo executados por causa do homicídio que ele cometeu, a ponto de Svoboda querer se entregar aos nazistas, algo que somente não aconteceu pois ele foi dissuadido por seus companheiros, pois o ato de Svoboda se entregar significava que os nazistas ganhariam em sua pressão. A filha de Novotny, Masha (interpretada por Anne Lee), também passou pela transição de uma personagem que queria entregar o assassino para salvar o pai para uma cidadã tcheca que era consciente de sua resistência, sofrendo a dura pena de ver seu pai ser executado, mas com a consciência tranquila de que resistia ao nazismo.
Apesar das pressões nazistas, a união da população tem sua grande exaltação quando ela trabalha conjuntamente para incriminar um cervejeiro que era um agente nazista e vigiava os passos da resistência. Ao final, ficou claro que os nazistas sabiam que o cervejeiro não era o culpado, mas ele foi o bode expiatório conveniente para ficar a impressão de que os nazistas tiveram êxito na investigação. Só devemos nos lembrar que os reais assassinos do administrador alemão se suicidaram quando perceberam que o cerco nazista se fechava cada vez mais.
Dessa forma, “Os Carrascos Também Morrem” é um filmaço de Fritz Lang, que pode falar com conhecimento de causa sobre o nazismo e trouxe sua visão sobre o conflito europeu para o cinema americano com grande competência e a ajuda do grande Bertolt Brecht. Vale a pena assistir o filme na íntegra abaixo.