Dando sequência às análises de filmes de Fritz Lang na Batata Espacial, vamos falar hoje da segunda parte do filme “As Aranhas”, intitulado “O Barco de Diamantes”. Lembrando que essa película foi rodada em 1920 e os spoilers de um século estão liberados.
Qual é o plot? O herói Kay Hoog procura sua vingança contra Lio Sha e organiza uma batida policial onde a vilã consegue fugir. Ela está atrás do diamante cabeça de Buda, cuja posse dará poder sobre todo o continente asiático, ampliando a teia das Aranhas por aquela parte do mundo. Os poderes de um vidente serão utilizados para se saber o paradeiro do diamante, que está com o contrabandista inglês John Terry. Lio Sha seqüestra a filha de Terry para chantageá-lo. Hoog, ao saber que o diamante pode estar com Terry, o procura mas fica sabendo que foi um antepassado de Terry que consegui o diamante e que ele estaria nas Ilhas Malvinas. Hoog e Sha se encontram novamente nas Malvinas e o protagonista consegue achar o diamante primeiro numa espécie de gruta. Mas é aprisionado por Sha. O problema é que a gruta libera um gás venenoso que mata Sha e seus capangas. Hoog consegue fugir com o diamante e liberta a filha de Terry. É o fim das Aranhas.
“O Barco de Diamantes” segue a mesma pegada de aventura vista no primeiro filme, embora seja menos impactante por não se tratar de uma novidade, seguindo a regra de que, geralmente, toda sequência é pior do que o primeiro filme. Mas agora há mais elementos exóticos. A sequência da cidade subterrânea chinesa impressiona, assim como a sequência do vidente indiano. De qualquer forma, o elemento estrangeiro parece ser tratado aqui com mais preconceito de que em “O Lago Dourado”. Se no primeiro filme, os incas eram vistos como fanáticos que faziam sacrifícios ao Sol, ainda havia todo um ornamento da arquitetura nativa que parecia dar àquele povo alguma exaltação, isso sem falar da doçura da nativa Naela, que inclusive se torna a esposa do protagonista europeu. Já em “O Barco de Diamantes”, os chineses são tratados como pessoas ardilosas e traiçoeiras, chegando a viver nos subterrâneos, tais como insetos. O ritual indiano do vidente que ceifa a sua vida para dar a informação da localização do diamante, nos dá a impressão de que a vida humana está abaixo dos interesses da ambição para os povos asiáticos. Povos esses que querem o diamante para poder controlar seu continente, não dando brechas para a presença imperialista européia. Caberá ao herói europeu Hoog tomar o diamante para que os europeus possam ter garantida a sua presença imperialista na Ásia, à despeito de As Aranhas desejarem a posse do diamante para também terem uma maior influência sobre o continente, o que reforça o argumento imperialista. Ou seja, se em “O Lago Dourado” há uma presença culturalista e imperialista no filme, em “O Barco de Diamantes”, o culturalismo é chutado para escanteio para dar lugar a um fulgurante imperialismo em todo o seu preconceito às culturas “primitivas”.
Como haveria mais duas partes a serem filmadas da saga de Kay Hoog, pareceu que o desfecho de “O Barco de Diamantes” ficou em aberto, pois esperava-se que Hoog fizesse um par romântico com Ellen, a filha de Terry, o que não aconteceu. De qualquer forma, a organização criminosa foi destruída e Lio Sha pagou o seu crime de ter matado Naela com a sua própria vida.
Dessa forma, “O Barco de Diamantes” dá um final à série “As Aranhas”, dois filmes de aventura, com cara de Indiana Jones pré-expressionista, e que alimenta todos os preconceitos oriundos da expansão imperialista europeia pelo mundo àquela época. Veja o filme com legendas em inglês abaixo.