Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar 2021, vamos falar hoje de uma produção que está na Amazon Prime Vídeo. “Borat, Fita de Cinema Seguinte” concorre a duas estatuetas (Melhor Atriz Coadjuvante para Maria Bakalova e Melhor Roteiro Adaptado), além de ter ganho os Globos de Ouro de Melhor Filme nas categorias Musical ou Comédia e Melhor Ator nas categorias Musical ou Comédia para Sacha Baron Cohen. Para podermos falar desse filme, vamos precisar de spoilers.
O filme fala sobre Borat (interpretado por Sacha Baron Cohen), um repórter do Cazaquistão, que estava preso, pois ele passou uma imagem ridícula de sua pátria quando esteve nos Estados Unidos (vide o primeiro filme). Ele foi retirado da prisão pelo presidente do país para uma nova missão, que era dar um macaco de presente para o vice-presidente dos Estados Unidos. Mas sua filha Tutar (interpretada por Maria Bakalova), que vivia acorrentada em casa, acaba fugindo e se escondendo na jaula do macaco. Como ela não tinha nada para comer, a garota comeu o macaco. E aí, Borat decide dar a própria filha de presente para o vice-presidente dos Estados Unidos.
Quem viu o primeiro filme do Borat, sabe que o humor dele ultrapassa as fronteiras do ácido, indo para o agressivo e o provocativo. A proposta do filme era confrontar diversos segmentos da sociedade com seus próprios preconceitos, criando situações altamente absurdas. No primeiro filme, havia muitas cenas com câmaras escondidas que flagravam as pessoas estupefatas com as situações criadas por Sacha Baron Cohen, como correr pelado por uma Conferência num hotel de luxo, destilando um humor muito mais agressivo. Nesse segundo filme, Borat e Sacha Baron Cohen já eram figuras conhecidas, o que tornou o artifício da câmara escondida mais difícil de ser feito (embora o encontro com o vice-presidente numa Convenção de Conservadores tenha usado a câmara escondida). Assim, a impressão que se dá é a de que muitas das situações inusitadas que vemos no filme parecem ter sido combinadas previamente, com muita gente entrando na brincadeira proposta por Sacha (a cara do velhinho da loja em que Borat passava fax é impagável). Isso não faz com que o filme perca a graça, muito pelo contrário até, pois o roteiro bem escrito conseguia divertir bastante, se posicionando de forma muito debochada contra os setores mais caretas e conservadores da sociedade americana. Outra coisa muito engraçada eram os disfarces que Borat usava, já que ele era uma figura conhecida e ele queria se passar por americanos conservadores típicos, fazendo isso de uma forma tão caricata que despertava gargalhadas. Um elemento que tornou um filme um pouco mais suave foi a relação entre pai e filha, introduzindo um melodrama leve que não vimos no primeiro filme, muito mais agressivo. Assim, a indicação para roteiro adaptado foi bem dada, assim como a indicação para Maria Bakalova como melhor atriz coadjuvante, que entrou no clima das provocações e deboches com grande desenvoltura e, por que não, coragem, pois Sacha é muito malucão e não tem medo de se colocar em situações até um tanto perigosas como a Convenção dos Conservadores ou um encontro de americanos de extrema-direita onde, disfarçado, cantou uma música de apologia ao ódio contra Barack Obama e aos democratas (se a galera percebesse que ele fazia tudo isso de deboche, Sacha estaria ferradaço ali). De qualquer forma, essa atitude muito corajosa de Sacha acabou produzindo um documento, um depoimento dos dias atuais, onde a polarização política gera grupos que podem ser muito perigosos, como vimos no episódio da invasão ao capitólio.
Dessa forma, “Borat, Fita de Cinema Seguinte” é uma boa pedida, já tendo conseguido abiscoitar dois Globos de Ouro e concorrendo a dois Oscars. Esperemos que pelo menos um dos Oscars ele consiga ganhar. Torço mais para a premiação de Atriz Coadjuvante, onde vejo mais chances que no Roteiro Adaptado, onde é uma maior briga de cachorro grande.