Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar nesse ano de 2021, falemos hoje de “The United States Vs. Billie Holiday”, que concorre a estatueta de Melhor Atriz para Andra Day e que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Filme de Drama para Andra Day. Para podermos analisar esse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.
O filme começa com uma foto real de um grupo de brancos queimando o corpo de um afroamericano e falando de uma lei contra os linchamentos que era votada na década de 30 e que não era aprovada. Billie Holiday (interpretada por Andra Day), em grande evidência na época, cantará uma música intitulada “Strange Fruit”, que fala de forma bem crítica dos linchamentos de afroamericanos, se tornando alvo do Departamento Federal de Narcóticos, na figura de Harry Anslinger (interpretado por Garrett Hedlund). Na verdade, eles queriam calar a música de protesto da cantora, mas decidiram atingir seu ponto fraco que era o vicio em drogas, levando-a a prisão. Depois de um tempo encarcerada, Holiday volta à ativa mas sua licença de cantora é caçada, não podendo trabalhar de forma oficial. Por isso, ela precisa se associar com um empresário do ramo de shows que tem contatos com o governo para poder continuar a se apresentar e a levar a sua carreira, em troca de sexo com ele. Por outro lado, Holiday mantém uma relação com o policial Jimmy Fletcher (interpretado por Trevante Rhodes), um informante do Departamento Federal de Narcóticos que justamente armou para levar Holiday à prisão. Apesar disso, ele acaba se envolvendo com a cantora e sua carreira é destruída por causa disso. Holiday seria perseguida pelos oficiais da narcóticos por toda a sua breve vida de quarenta e quatro anos, sempre sendo pressionada a entregar quem fornecia drogas para ela, o que significaria a vitória dos brancos que a perseguiam sobre ela. E a moça resistiu bravamente até a sua morte, onde foi alegado que encontraram drogas em seu organismo, com ela sendo “presa” depois de morta.
O filme tem dois eixos principais. O primeiro foca bastante na curta biografia de Holiday, sua carreira conturbada, seu vício com as drogas e as difíceis relações que ela teve que estabelecer para levar sua carreira de sucesso adiante. Fica aqui um ponto muito forte para Andra Day, que abraçou a personagem de uma forma profunda, dando toda uma ideia da personalidade forte da cantora, que não podia esmorecer num meio totalmente adverso a ela, o que dá uma indicação para lá de merecida a Day. O segundo eixo é o tema da questão racial nos Estados Unidos, onde vemos toda a perseguição à cantora quando ela cantava “Strange Fruit” e as tentativas de órgãos do governo de silenciar a sua carreira. Há também outros elementos que assinalam em cores vivas o racismo nos Estados Unidos. Além da forte foto do linchamento ao início do filme, há uma sequência um tanto onírica, um tanto real, onde Holiday se depara com uma mulher enforcada e sua família aos prantos em volta do corpo pendurado numa árvore, num momento muito pesado que tem a intenção de chocar o espectador e alertar para o problema do racismo. Mas a grande surpresa vem ao final do filme, quando é dito que a lei do linchamento foi finalmente aprovada pela câmara em… 2020, mas que o senado americano ainda não fez a votação de sua aprovação. Ou seja, vendo o exemplo de vida de Billie Holiday no passado e a demora da aprovação de uma lei que parece ser tão óbvia em ser aprovada, é que entendemos a importância de movimentos como o Black Lives Matter.
Dessa forma, “The United States Vs. Billie Holiday” é um filme que merece a indicação para Melhor Atriz no Oscar e mereceu o prêmio no Globo de Ouro, coroando a boa atuação de Andra Day. Difícil dizer se ela ganhará o Oscar, até porque já ganhou o Globo de Ouro e pelo fato de ter concorrentes de peso como Viola Davis e Frances McDormand.