Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Judas E O Messias Negro. Traição Num Ambiente De Guerra Civil.

Judas e o Messias Negro - Ingresso.com
Cartaz do Filme

Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar 2021, falemos hoje de “Judas e o Messias Negro”, que concorre a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya, Melhor Canção, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator Coadjuvante (de novo!) para Lakeith Stanfield e Melhor Fotografia, além de ter ganhado o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya. Ou seja, temos mais um concorrente de peso aqui. Para podermos analisar esse filme, vamos usar os spoilers de sempre.

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Fred Hampton, o Messias Negro…

O filme fala da trajetória de Fred Hampton (interpretado por Daniel Kaluuya), o presidente do Partido dos Panteras Negras de Illinois. Dono de um discurso muito eloquente e cativante, Hampton tinha como principal ambição reunir vários grupos na luta revolucionária para instituir o socialismo nos Estados Unidos. Ele consegue o apoio de outras facções de afroamericanos, grupos de origem latina e até brancos sulistas. Sua capacidade de aglutinação de todas essas facções provocou a preocupação no FBI, que começa a investigar mais de perto as ações de Hampton. Para isso, será infiltrado no grupo de Hampton como informante do FBI Bill O’Neal (interpretado por Lakeith Stanfield), um puxador de carros que enganava as pessoas dando uma carteirada de policial e que foi pego pela polícia, recebendo a oferta de ser informante ao invés de ir para a cadeia. A vida de O’Neal não será fácil, pois ele fica muito temeroso com toda a forma de ser dos Panteras Negras e a ideia de ser pego como informante por eles o aterrorizava. Mas, com o tempo, O’Neal percebeu como Hampton tinha um lado também mais afável, além de começar a acreditar em sua causa. Entretanto, as pressões do FBI em cima dele eram simplesmente impossíveis de se aguentar, já que a ameaça de prisão sempre era algo bem real. A coisa irá culminar com uma tocaia organizada pelo FBI para matar Hampton, onde O’Neal teve que participar.

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Bill O’Neal, o Judas…

O filme, baseado numa história real, mostra como o conflito entre os Panteras Negras e o governo teve ares de uma pequena guerra dentro dos Estados Unidos, com direito a tiroteios entre a polícia e os ativistas do movimento em alguns momentos do filme. São apresentados, do lado dos Panteras Negras, vários personagens que vão simplesmente morrendo ao longo do filme. É emblemático um tiroteio entre a polícia e os Panteras Negras em sua sede, sob os olhos atônitos da população. Quando os Panteras Negras são rendidos, os policiais, sem qualquer cerimônia, levam gasolina para dentro do prédio, incendiando-o de forma criminosa, sem qualquer preocupação com uma punição. Ou seja, era um verdadeiro clima de guerra que vimos ao longo da exibição, guerra essa completamente desigual em favor das forças do governo.

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Uma ligação perigosa…

E quanto às indicações? O leitor pode estranhar duas indicações para melhor ator coadjuvante num mesmo filme. Mas isso volta e meia acontece, até porque provavelmente não haveria uma “vaga” de Melhor Ator para um dos dois atores indicados a Melhor Ator Coadjuvante. E aí, se coloca essas indicações a Melhor Ator Coadjuvante, até porque o Oscar é uma premiação de indústria e a indicação ao Oscar também é um rótulo que dá prestígio ao indicado, valorizando-o e fazendo a roda do dinheiro rodar mais. Como Kaluuya já ganhou o Globo de Ouro, existe uma possibilidade maior de premiação para Stanfield que, diga-se de passagem, merece muito o prêmio, pois não é fácil dar vida a um personagem tão dúbio quanto um informante, que vive constantemente no medo de ser descoberto, além de ter se arrependido de tudo o que fez (o verdadeiro O’Neal acabou se suicidando). Hampton, por sua posição idealista, parece um personagem mais fácil de se fazer do que O’Neal. A premiação para Melhor Filme sempre é uma incógnita, assim como o Roteiro Original. Já a fotografia, confesso que estou torcendo para o preto e branco de “Mank”.

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Relutância ao trair…

Dessa forma, “Judas E O Messias Negro” é outro concorrente de peso ao Oscar desse ano. As atuações de Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield são dignas de premiação, com uma chance maior para Stanfield, que fez um personagem mais complexo. Vemos aqui mais um filme baseado numa história real, que mostra uma luta crua dos afroamericanos pelos seus direitos e a violenta repressão que sofreram.