Dentre as análises de filmes que concorrem ao Oscar nesse ano de 2021, falemos hoje de “Bela Vingança”, que concorre a cinco estatuetas: Melhor Filme, Melhor Atriz para Carey Mulligan, Melhor Diretor para Emerald Fennell, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.
Vemos aqui a história de Cassandra (interpretada por Carey Mulligan), uma moça que se finge de bêbada em Night Clubs para que os homens a levem para a sua casa e aproveitem a sua suposta condição de vulnerabilidade para abusar sexualmente dela. Mas Cassandra se revela sóbria na hora em que o homem vai cometer o abuso, colocando-o numa tremenda saia justa. Ela faz isso, pois quando estava na Universidade, sua amiga muito próxima Nina sofreu abusos sexuais de estudantes de medicina e a moça se retirou da Universidade, pois ao acusar os colegas de abuso, a visão machista que existe desde sempre acabou culpando-a pelo ocorrido. Para ficar solidária com a amiga, Cassandra também se retirou da Universidade e as duas não terminaram o curso por causa disso. Mais tarde, Nina comete suicídio. Cassandra, então, começa sua saga de colocar os abusadores em seu lugar, mas ela também tem um objetivo maior: ir atrás das pessoas que desgraçaram a vida de Nina e se vingar. No meio disso tudo, aparece na vida de Cassandra Ryan (interpretado por Bo Burnham), que está muito interessado nela e parece ser um cara muito legal. Mas nem sempre as coisas são o que parecem ser.
O filme tem uma mensagem muito clara que é a denunciar o abuso de mulheres em situação de vulnerabilidade pelos homens. Cassandra é uma espécie de “justiceira” que não recai no expediente da violência para castigar os machistas. Num primeiro momento, fica parecendo que vemos uma vingança à meia bomba. Mas, numa segunda análise, essa é a melhor resposta a se dar, onde temos um grande susto que é dado, mas nenhuma maldade ou violência é cometida, algo que é mais atribuído ao universo masculino. A ideia de Cassandra é fazer os algozes passarem pelo mesmo constrangimento que ela e Nina passaram, mas sem a violência que sofreram, não sendo um “olho por olho”.
O filme se torna mais interessante em função de seus plot twists, sobretudo no desfecho da película, onde o algoz maior, o estuprador de Nina, recebe a punição mais severa. Apesar dos plot twists, o filme tem uma constante: a de que nenhum homem realmente presta, com todos tendo alguma espécie de defeito ou dando os mesmos argumentos para justificar os malfeitos do passado.
E as indicações? A indicação para Melhor Atriz está uma briga muito grande e Mulligan aparece com força. Continuo dizendo que minha favorita é Viola Davis, mas ela realmente já ganhou um Oscar e, se valer a regra de se premiar atrizes mais jovens para render mais contratos lucrativos, Mulligan ganha força aqui. Na direção, temos a presença de duas mulheres: Chloé Zhao, por “Nomadland” e Emerald Fennell por “Bela Vingança”. Seria muito interessante que uma das duas ganhasse, embora “Mank” venha forte com dez indicações, podendo também ser possível que seu diretor David Fincher tenha boas chances. A premiação para Roteiro Original, escrito pela mesma Emarald Fennell, também cairia muito bem.
Dessa forma, “Bela Vingança” é mais um medalhão que vem forte na disputa pelas principais categorias. Um filme que denuncia o comportamento machista e abusador dos homens que se aproveitam de mulheres em situação de vulnerabilidade. Chances boas para a premiação de atriz, direção e Roteiro Original.