Dentre as nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar desse ano de 2021, falemos hoje de “Nomadland”, que concorre a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Atriz para Frances McDormand, Melhor Direção para Chloé Zhao, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Fotografia, além de ter ganhado os Globos de Ouro de Melhor Filme de Drama e Melhor Direção. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.
Vemos aqui a trajetória de Fern (interpretada por Frances McDormand), uma mulher que perdeu emprego, marido e casa depois da crise de 2008, tendo apenas a estrada e trabalhos temporários que surgem ao longo da via para viver, morando em sua pequena van e tendo uma vida totalmente nômade. Fern irá ter uma infinidade de empregos diferentes e conhecerá muitas pessoas ao longo da estrada, passando pelas mais diversas experiências. Uma vida que pode ser muito dura, mas onde também se encontra muita solidariedade entre os nômades, vítimas da recessão mas que, ao mesmo tempo, não conseguem mais se readaptar à vida sedentária.
O filme conta com a ajuda de nômades verdadeiros e, num certo clima de Road Movie, busca mostrar como essas pessoas que parecem invisíveis à sociedade americana conseguem sobreviver nesse panorama de crise econômica. Totalmente descartados pela sociedade, eles recorrem às mais diferentes estratégias, à medida que vão relatando suas experiências de vida. Há aqueles, como Fern, que pegaram a estrada depois de fortes perdas. Há outros que simplesmente optaram por essa vida, pois viram os entes queridos trabalharem a vida inteira e não puderam desfrutar de todas as suas economias pois morreram logo depois que se aposentaram. Alguns simplesmente foram afetados pela crise e não tiveram mais para onde ir. Ou seja, o filme, ao expressar de forma multifacetada a vida dos nômades, responsabiliza sim a crise econômica, mas também mostra que a vida na estrada pode ser uma opção, tudo variando muito de caso a caso. O acampamento nômade no deserto que vemos na película é o indicativo de que temos toda uma sociedade e cultura nômade sendo forjada nos Estados Unidos, algo peculiar e curioso aos nossos olhos sedentários. E, mesmo com certos desconfortos como não ter um banheiro à disposição ou enfrentar o forte frio, os nômades se adaptam à sua realidade e conseguem levar a sua vida, mesmo sendo vistos pelos sedentários com um certo preconceito, encarados como sem-teto ou pessoas em estado de forte miserabilidade.
Falemos, agora, das indicações. Frances McDormand está muito bem em seu papel, mas a concorrência com atrizes mais jovens (o que significa maior chance de novos contratos lucrativos) e o fato dela ter abiscoitado um Oscar nos últimos anos acaba tirando um pouco suas chances. Chloé Zhao pode ter chances de ganhar como diretora ou roteiro adaptado. A fotografia parece ter mais chances que a montagem, pois o filme mostra paisagens muito deslumbrantes do interior dos Estados Unidos, indo da neve inclemente aos desertos e paisagens rochosas, passando por parques florestais, o que dá ao Road Movie um certo gostinho de Western, muito embalado pela música country, que tem um certo destaque no filme. Tais paisagens ganham muito em beleza, mas também conseguem passar um forte sentimento de desolação, dialogando bastante com o filme e o espectador.
Dessa forma, “Nomadland” é mais um filme graúdo que concorre nas categorias principais do Oscar. Com uma grande atriz e uma grande diretora, provavelmente essa película deve sair com premiações, o que não seria nenhuma surpresa.