Batata Movies – O Último Amor De Casanova. Um Amante Deprê.

O Último Amor de Casanova - Filme 2019 - AdoroCinema
Cartaz do Filme

Vincent Lindon está de volta em mais uma película. “O Último Amor de Casanova” é um daqueles filmes que vão na contramão de todas as nossas impressões sobre o personagem em questão. O prolífico amante que povoa nossas mentes está mais para um cara feliz e vibrante, que sabe aproveitar a vida e que tem um controle muito forte da situação. Mas o filme em questão não mostra nada disso, muito pelo contrário até. Para podermos entender um pouco melhor isso, vamos lançar mão de spoilers.

Vincent Lindon interrogé sur ses "fesses dans le film" : Il répond ...
Casanova, um amante que se depara com um grande desafio…

Vemos aqui a vida de Casanova na Londres do século XVIII. Todo senhor de si, Casanova fica fortemente atraído por uma cortesã, Marianne de Charpillon (interpretada por Stacy Martin), que vê prestando seus serviços a dois homens numa carruagem. A partir dali, Casanova faz de tudo para se aproximar da moça, e ele descobre que ela havia recebido um presente dele quando menina. Sabendo do histórico de casos do famoso amante, Marianne faz de Casanova gato e sapato, humilhando-o o tempo todo e não se entregando a ele, até que o famoso personagem pira na batatinha e destrói o quarto quando Marianne presta seus serviços para um cliente, o que provocou o afastamento definitivo da moça e mergulhou Casanova na depressão.

O Último Amor de Casanova | CinePOP
Marianne de Chapillon. Vingança???

Esse é um daqueles filmes franceses que trabalham sua temática favorita: o existencialismo e a depressão. Lindon, como sempre, teve uma excelente atuação, e com sua voz grave, adicionou um tom de melancolia que tornou o filme extremamente arrastado e tristonho. Parece que vemos aqui uma vingança contra todos os males que Casanova provocou contra as mulheres que ele atraiu para sua alcova, um desfecho deprimente para sua vida de coleção de amantes. O chato é que o filme, apesar de contar com um bom figurino e locações, não foi muito além desse clima melancólico, o que pareceu um desperdício de um talento como Lindon.  Um ponto positivo foi a participação de Valeria Golino, que mais era uma amiga de Casanova do que uma amante. Ela estava muito  linda com suas vestimentas de época e seu penteado louro e encaracolado, onde sua voz rouca e sexy é uma marca registrada ainda muito forte.

Crítica (2): O Último Amor de Casanova | Woo! Magazine
Casanova, humilhado por Marianne…

Dessa forma, “O Último Amor de Casanova” foi demasiadamente arrastado e melancólico, o que foi uma pena, pois o talento de figuras como Vincent Lindon e Valeria Golino poderia se destacar um pouco mais se o filme fosse um pouco mais vibrante. A humilhação do personagem principal cheirou a uma vingança contra o passado de excessos do amante, embora nunca devamos nos esquecer que essa história é baseada na vida de Casanova. Se você gosta muito, como eu, de Vincent Lindon e de Valeria Golino, esse é um programa obrigatório. Mas o filme é muito lento e deprimente, e ainda tem ingleses que defecam nos jardins.

Batata Movies – Aspirantes. Choque De Realidade.

Aspirantes - Filme 2012 - AdoroCinema
Cartaz do Filme

Um filme brasileiro. “Aspirantes”, de Ives Rosenfeld, fala da trajetória de um rapaz que tem um sonho igual ao de milhares, talvez milhões de jovens por todo o país: ser um jogador de futebol famoso e rico. Mas a vida, sempre ela, dá uma rasteira atrás da outra no protagonista desse filme. Para podermos pensar um pouco sobre a película aqui, vamos precisar de spoilers.

O gramado de tensão em Aspirantes - Assiste Brasil
Júnior. Um rapaz na busca do estrelato no futebol…

O protagonista em questão é Júnior (interpretado por Ariclenes Barroso), um rapaz que vive na região dos lagos no Rio de Janeiro e tenta, juntamente com o amigo Bento (interpretado por Sérgio Malheiros) um lugar ao sol no difícil mundo do futebol. Júnior tem uma namorada que está grávida dele e mora com um tio com quem não se dá bem. Tudo parece muito idílico e prosaico no filme, mas o cenário tem um potencial para virar de cabeça para baixo a vida de Júnior, o que acaba acontecendo. Ele se desentende com o tio, que o expulsa de casa, tendo que ir morar na casa da namorada. Entretanto, um desentendimento entre a mãe da namorada e a mesma mostra que Júnior tem, na verdade, que lidar com uma grande pressão, que é arrumar um emprego para sustentar o filho vindouro. Isso faz com que ele precise ter êxito na carreira de jogador de futebol, o que pode ser um processo muito lento sem garantias a longo prazo. E aí, nosso Júnior entra em parafuso, com direito a desentendimentos com o amigo Bento (inclusive de forma trágica) e com a namorada, a ponto do menino dormir na rua até ser acolhido por seu técnico e pelo clube. O filme termina com Júnior numa partida decisiva, fazendo um gol.

Aspirantes' ganha força 4 anos após lançamento - Cultura - Estadão
Júnior cultiva uma grande amizade com Bento…

O filme, que parece um tanto ingênuo e bucólico em seu início, acaba se revelando uma sucessão de choques de realidade com o passar do tempo, marcando a via crucis de Júnior, um rapaz pacato que se torna um cara soturno e até agressivo em virtude das pancadas que a vida dá. O maior problema aqui é que o filme termina de uma forma extremamente abrupta, como se um gol fosse a solução de todos os problemas do personagem. Ele ainda precisa de um bom emprego, precisa se acertar com sua namorada e, principalmente com Bento, a parte mais surreal desse choque de realidade. Entende-se até que o roteiro tenha sido enxuto mais pelo sentido de se contar uma boa história e não se complicar muito para não encarecer demasiadamente a produção. Mas o excesso de pontas soltas e se dar ao espectador a responsabilidade de mentalmente amarrá-las podem ser problemas que tornam o filme um tanto incompleto em sua construção. De qualquer maneira, essa é uma história que pode acontecer com muita gente por aqui em nosso país.

Filme "Aspirantes" usa futebol para tratar de inveja e competição
A vida de Júnior vai passar por muitas turbulências…

Dessa forma, “Aspirantes” vale por seu choque de realidade, embora seu roteiro pareça demasiadamente simplório e plano, deixando muitas pontas soltas. Vale para o espectador trabalhar sua imaginação.

Batata Movies – E Então Nós Dançamos. Contra Tudo E Contra Todos.

E então nós dançamos – Infonet – O que é notícia em Sergipe
Cartaz do Filme…

Uma grata surpresa cinematográfica vinda da longínqua Geórgia. “E Então Nós Dançamos” é mais um filme de temática LGBT, mas que tem como pano de fundo a cultura local da ex-república soviética, que tem na sua dança uma verdadeira bandeira – ou, por que não dizer, essência – da cultura nacional. Uma dança onde a masculinidade é fortemente exigida. Para podermos falar do filme, vamos lançar mão dos spoilers.

E Então Nós Dançamos | Festival Mix Brasil
Merab. Conflitos entre o machismo de seu país e sua sexualidade…

O filme gira em torno de Merab (interpretado por Levan Gelbakhiani), um rapaz que faz parte de um grupo de dança georgiana, que recebe muitos pitos de seu professor por não ser másculo como as tradições nacionais exigem nos números de dança. Ele trabalha como garçom num restaurante, passando por muitas dificuldades, mas não esmorece. Seu irmão também participa do grupo, mas falta a seguidas aulas, levando uma vida completamente irresponsável. Um belo dia, chega um aluno novo a escola de dança: Irakli (interpretado por Bachi Valishvili), que é mais competente do que Merab e toma o seu lugar. Mas Merab, além de se sentir ameaçado, também tinha uma atração pelo rapaz, e os dois vão engatar um relacionamento. O problema é que Irakli some do mapa e deixa Merab completamente atônito, onde uma sucessão de acontecimentos vai detonando a vida do jovem. Ao mesmo tempo, o homossexualismo de Merab vem à tona na comunidade, e o rapaz começa a ser perseguido pelos seus colegas de dança. Irakli até retorna, mas seu pai está doente, à beira da morte, e ele precisa ficar com a mãe, engatando um noivado em sua cidade de origem. Resta a Merab juntar os cacos de sua vida e buscar novos horizontes, não sem antes corajosamente desafiar a cultura de seu país como uma resistência pela sua sexualidade.

E Então Nós Dançamos
Merab irá engatar um relacionamento com Irakli…

É um filme que apresenta a dança georgiana, uma grata surpresa, por ser muito bonita, vibrante e vigorosa. Merab conseguia imprimir à dança toda uma sensualidade que desafiava as tradições estabelecidas, sensualidade essa usada como resposta na sequência final do filme, onde ele desafia a tudo e todos com sua coreografia forte, mas ao mesmo tempo, muito esguia, o que ficou bonito de se ver. É claro que a temática LGBT também tem a sua importância no filme, pois ela invadia um espaço onde a masculinidade era muito exigida. E o filme foi muito corajoso, pois as diretas e tórridas cenas de amor entre Merab e Irakli pareciam uma resposta à altura contra a forte masculinidade que a cultura da Geórgia exigia. A forte reação de Merab usando a dança como linguagem ao final da película é uma resposta à situação de desalento total em que o personagem se encontrou, pois ele teve que enfrentar o preconceito de sua sociedade sozinho, já que ele fora abandonado por Irakli e perdeu todo o chão de sua vida no seu microcosmos. E aí a gente tem que bater muitas palmas para a atuação de Levan Gelbakhiani, que agüentou bem o tranco da situação complexa em que seu personagem se encontrava.

Sexo transborda de dançarino gay no filme 'E Então Nós Dançamos ...
O dançarino vai ter muita coragem para enfrentar os percalços de sua vida…

Dessa forma, “E Então Nós Dançamos” é um programa imperdível, pois mais uma vez chama a atenção para o preconceito contra a comunidade LGBT mas traz a grata surpresa de dar a nós contato com uma cultura tão distante quanto à da Geórgia. Vale muito a pena dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2020) – Indústria Americana. A Face Mais Cruel Do Capitalismo Travestida De Socialismo.

Indústria Americana (Filme na Netflix 2019) - Filmmelier: assistir ...
Cartaz do Filme

Um documentário perturbador na Netflix. “Indústria Americana” ganhou o Oscar de Melhor Documentário esse ano e revela uma das faces mais cruéis do capitalismo no mundo contemporâneo pós-guerra fria. Um filme que mostra os rumos perigosos que o mundo está tomando e que nos faz refletir, e muito. Esse documentário teve a participação de Barack Obama entre os produtores. Para podermos falar sobre esse filme, vamos lançar mão de spoilers.

Indústria Americana | Trailer oficial | Netflix - YouTube
Indústria americana de patrões chineses…

O filme começa com o fechamento de uma fábrica da GM em Ohio e a consequente demissão de todos os seus trabalhadores, ficando totalmente desguarnecidos em virtude da crise econômica que aflorou em 2008. Mas, alguns anos depois, um fio de esperança apareceu, pois uma empresa chinesa decidiu abrir uma fábrica de pára-brisas, empregando a mão-de-obra local. Até aí, tudo bem. Mas haveria um primeiro problema nesse aparente feliz casamento entre chineses e americanos: superar as barreiras culturais. O estranhamento se faz inevitável, pois as visões de mundo de americanos e chineses eram muito diferentes e logo entrariam em conflito. Os americanos, acostumados com os direitos trabalhistas e os altos salários motivados pelo “welfare state” não estavam acostumados com a disciplina milenar dos chineses, que pensavam mais no sucesso da empresa do que em ganhar salários. Os chineses achavam que os americanos estavam num patamar inferior, pois não se dedicavam a um maior ritmo de produção. E os americanos reclamavam que os chineses não cumpriam as leis trabalhistas básicas, como a segurança no trabalho. Para colocar um ingrediente nesse conflito, os chineses abominavam a presença do sindicato entre os trabalhadores e fizeram de tudo para dissuadi-los dessa presença. Numa queda de braço desigual, a gente já sabe muito bem quem sai perdendo nessa história e o desfecho do filme não tem nada de esperançoso ou promissor.

Crítica de Indústria Americana
Um relacionamento que pode ser difícil…

O mais irônico aqui é que os chineses, originariamente de um país socialista, agem como se estivessem no capitalismo mais selvagem dos anos iniciais da Revolução Industrial, onde não havia qualquer direito trabalhista. Na fábrica da China, por exemplo, os trabalhadores vão à fábrica aos sábados e domingos e praticamente vivem nela, vendo seus entes queridos uma ou duas vezes por ano, chegando a trabalhar doze horas por dia. No caso dos Estados Unidos, a diretoria da fábrica era dividida entre chineses e americanos. Mas, assim que as metas começaram a não ser cumpridas, os americanos da diretoria foram todos demitidos e os chineses passaram a controlar tudo, o que somente aumentou a exploração sobre os trabalhadores. Os americanos também reclamavam dos baixos salários e do tratamento que recebiam dos chineses. Já os chineses achavam que essa atitude dos americanos era uma consequência da criação  de pessoas que foram muito mimadas na infância. As ameaças com quem se ligava aos sindicatos também logo se concretizariam com demissões.

Crítica | Indústria Americana é necessário, mas tem tom quase ...
Apesar da animosidade entre americanos e chineses, houve casos de uma aproximação bem sincera…

Ao fim das contas, esse filme mostra uma situação que acontece em nível global e que já foi assinalada no bom documentário “Dedo na Ferida”, de Silvio Tendler. Enquanto ocorria a guerra fria e o antagonismo socialismo X capitalismo, as potências capitalistas ocidentais lançaram mão do famoso “welfare state” ou “estado de bem estar social”, ou seja, garantir direitos sociais e trabalhistas para sua população, já que isso acontecia nas potências socialistas, mesmo que houvesse ditaduras. O caso mais conhecido do “welfare state” estava nos países escandinavos, casos de Noruega, Finlândia e Suécia. Com o fim da guerra fria e dos países socialistas, as potências capitalistas não se viram mais obrigadas a garantir o “welfare state” e, consequentemente, os direitos trabalhistas começaram a cair por terra, enquanto grupos de direita avançavam ao poder. Para piorar a situação, as crises econômicas pelas quais o capitalismo passou nos últimos anos ajudaram a aumentar a instabilidade. Então, o que vemos hoje é uma progressiva derrubada dos direitos trabalhistas, do enfraquecimento dos sindicatos e da queda de salários, além do aumento de horas de trabalho. O mais irônico aqui é que é uma empresa chinesa, de um país teoricamente socialista, aplica o capitalismo mais selvagem em trabalhadores de um país que era a Meca do capitalismo, e eles vão precisar lutar por seus direitos e se sindicalizar, numa total inversão de papéis. Some-se a isso a mecanização do trabalho, que é mais um elemento a aumentar o desemprego e temos um cenário muito negativo para o futuro. Esse será um dos desafios que a humanidade vai ter que enfrentar nesse século.

Filme que venceu "Democracia em Vertigem" aborda sindicalismo e ...
Um patrão ao bom estilo do capitalismo selvagem…

Dessa forma, “Indústria Americana” é um documentário obrigatório, não somente pelo Oscar conquistado, mas pela forma como ele mostra os rumos bem crus que o sistema capitalista toma em todo mundo após o fim da guerra fria. Um filme que nos convida a uma reflexão profunda.

Batata Movies – Feliz Aniversário. Brigas E Mais Brigas Em Família.

Feliz Aniversário - Trailer Legendado HD - YouTube
Cartaz do Filme

Mais um filme com Catherine Deneuve. Mais um filme dirigido e estrelado por Cédric Kahn. “Feliz Aniversário” repete formulas antigas, sobretudo aquela em que a família se encontra na festa de aniversário da matriarca da família e, ao invés do clima de congraçamento, temos uma sucessão de arranca-rabos e resolução de diferenças e feridas antigas. Embora o filme tenha sido rotulado como comédia dramática e até tenha algumas cenas engraçadas, a coisa parece muito mais com um drama bem pesado.

Feliz Aniversário': Cédric Kahn encena 'barraco' com dureza ...
Uma matriarca recebendo sua família…

Andréa (interpretada por Deneuve) recebe seus filhos em casa, cada um com suas manias e se achando supostamente o dono da verdade. Mas o fator maior de desestabilização é Claire (interpretada por Emmanuelle Bercot), filha de Andrea e que estava sem contato com a família há quatro anos (ela estava nos Estados Unidos). Querelas do passado fizeram com que a família devesse a Claire duzentos mil euros e agora ela cobrava essa dívida, o que vai implicar na venda da casa onde mora Andréa. Mas essa é apenas uma das diferenças a serem encaradas por essa família em que tudo parecia ser desentendimento.

À flor da pele: Catherine Deneuve é a protagonista do drama 'Feliz ...
Tudo parecia bem…

Realmente, esse é um filme que não tem a menor graça. Vemos parentes se agredindo mutuamente o tempo todo, num espetáculo que até começa um tanto tragicômico mas que, gradualmente, se torna cada vez mais tenso e chega a um clímax angustiante, com um membro da família (Claire) chegando a explosões de paroxismo onde estava com claros problemas emocionais, o que não foi suficiente para sensibilizar alguns parentes próximos. E ficava até difícil tomar alguma posição, pois a multipolaridade de Claire a tornava, simultaneamente, digna de pena e odiosa.

Filme "Feliz Aniversário" serve torta de climão em reunião de ...
Mas a situação ficou bem tensa…

O elenco correspondeu bem. Além das boas atuações de Deneuve e Kahn, a gente tem que dar destaques para Bercot, que levou com muita competência o papel mais difícil de Claire, o bom ator Vincent Macaigne, que fez o filho Romain e a revelação Luàna Bajrami, que já havia brilhado em “O Professor Substituto” como Emma, a filha de Claire, que não a perdoava por ter ido embora para os Estados Unidos e a defendeu quando a mãe explodiu de forma totalmente descontrolada no jantar da família.  É realmente um filme que vale a pena pelas atuações dos atores.

Superação, redenção e fé: tudo cabe no engajado cinema de Cédric ...
O diretor e ator Cédric Kahn…

Assim, “Feliz Aniversário”, apesar de ser um clichezão já meio batido, é um filme que se ampara num bom elenco e transita do tragicômico para o angustiante. Uma experiência um tanto dolorosa, mas que vale a pena pelos diálogos e pelas atuações dos atores.

Batata Movies – O Paraíso Deve Ser Aqui. Rodando O Mundo.

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Cartaz do Filme

Mais um filme que concorreu ao posto de finalista entre os candidatos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “O Paraíso Deve Ser Aqui” é o representante da Palestina e traz a questão palestina sob a ótica do humor. Escrito, dirigido e estrelado por Elia Suleiman, o filme tem sido comparado às películas de Jacques Tati e Charlie Chaplin, já que Suleiman nos traz situações engraçadas e seu personagem é mudo por durante quase toda a película. Para podermos falar desse filme, vamos lançar mão de spoilers.

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Um palestino procurando o seu lugar no mundo…

Do que se trata o plot? Suleiman vive em Nazaré e tem um relacionamento um tanto instável com o seu país. Um dos vizinhos se mete com o limoeiro de outro, a vizinhança não interage muito bem, a polícia israelense achaca os palestinos e por aí vai. Cansado do que vê no seu dia-a-dia em seu país, Suleiman decide sair de lá e tentar a vida, primeiro em Paris, depois em Nova York. O problema é que as metrópoles desenvolvidas também têm seus vícios. Paris está tomada pelo medo do terrorismo, com tanques andando pelas ruas e vários policiais perseguindo velhinhas com bolsas no metrô. Já nos Estados Unidos, o medo do terrorismo também se faz presente, mas a sociedade americana é retratada de forma muito mais irônica, com direito a zoação até com o Actor’s Studio. Mas uma coisa é certa: nosso Suleiman não consegue apoio para fazer seu filme nas duas cidades. Em Paris, seu projeto é delicadamente rejeitado pois ele não se encaixa nos estereótipos da questão palestina pela ótica européia ocidental, ou seja, uma comédia que poderia ser feita na Palestina ou em qualquer outro lugar (como vemos ironicamente no filme). Já em Nova York, a produtora de filmes nem dá confiança para nosso diretor, mesmo com o pistolão de Gael Garcia Bernal (que faz uma ponta na película). Sem perspectivas de encontrar um outro local no mundo para viver, resta a Suleiman retornar à Palestina.

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Medo do terrorismo na França é um personagem…

A estratégia da comédia para abordar a questão palestina não é novidade na obra de Suleiman, que já havia lançado mão do ato de fazer rir no ótimo “Intervenção Divina”, de 2002, que segue uma linha bem semelhante, onde o personagem protagonista também nada diz e fica estupefato com a verdadeira ópera do absurdo, onde a arte imita a vida. O medo do terrorismo nas duas grandes metrópoles ocidentais, assim como o choque cultural, seja em Paris, seja em Nova York, são as grandes vedetes do filme. Se o palestino estranha os absurdos do mundo ocidental, o estranhamento do mundo ocidental para com o palestino é também motivo de risos, sobretudo no caso do taxista que leva Suleiman em seu carro e fica maravilhado por ver um palestino pela primeira vez na vida e simpatizar com a causa. Dessa forma, “O Paraíso Deve Estar Aqui” é um filme onde o humorismo se mostra uma arma muito eficaz para chamar a atenção para a causa palestina, onde o estranhamento cultural é o combustível para a comédia. Foi uma boa aposta da Palestina para os finalistas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e é um programa imperdível

Batata Movies (Especial Oscar 2020) – Os Miseráveis. Intolerância À Flor Da Pele.

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Cartaz do Filme

Um filme traumático, que chegou aos finalistas do Oscar e do Globo de Ouro a Melhor Filme Estrangeiro. “Os Miseráveis”, de Ladj Ly, mostra o explosivo ambiente das periferias de Paris de uma forma extremamente crua e sem qualquer filtro para os mais sensíveis. Um filme absolutamente necessário. Para podermos falar desse filme, vamos lançar mão de spoilers.

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Três policiais num barril de pólvora…

A película mostra a rotina de três policiais: Ruiz (interpretado por Damien Bonnard), Chris (interpretado por Alexis Manenti) e Gwada (interpretado por Djibril Zonga). Eles são da divisão anticrime e patrulham as periferias de Paris, um verdadeiro barril de pólvora, onde várias etnias vivem numa situação de conflito constante: africanos, muçulmanos, ciganos. Ruiz está no seu primeiro dia de trabalho e veio do interior. Chris e Gwada já têm dez anos de serviço, sendo o primeiro branco e altamente violento, enquanto que Gwada tem descendência imigrante, sendo menos violento, mas igualmente temido. Um menino chamado Issa acaba roubando um filhote de leão de um circo de ciganos, o que provoca a fúria dos mesmos e uma guerra étnica iminente na periferia. Os policiais vão tentar solucionar o caso e conseguem, pela internet, identificar Issa. Eles vão apreender o menino, que estava jogando futebol e os demais garotos começam a apedrejar os policiais. Issa consegue se desvencilhar mesmo algemado e Gwada acerta o seu rosto com uma bala de borracha. O grande problema é que um drone de um garoto apelidado singelamente de Bzz filmou toda a ação policial, o que vai ferrar com a vida de nossos protagonistas. Os três policiais irão, então, correr atrás do menino com o drone e ainda ter que acobertar a besteira que fizeram com Issa, que fica com o rosto desfigurado em virtude da bala de borracha. Para isso, os policiais farão alguns acordos com as lideranças locais do submundo, o que vai despertar a revolta das crianças, que vão reagir de forma extremamente violenta e explosiva.

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Um drone detona uma crise…

O que mais chama a atenção no início do filme é que ele começa com o povo comemorando a vitória da França na Copa do Mundo, e o que vemos nas ruas é uma população massivamente mestiça, negra e estrangeira cantando a Marselhesa, com camisas da seleção da França e com bandeiras francesas comemorando nas ruas de Paris. Até o principal jogador da seleção francesa é mestiço. Ou seja, fica bem claro nas intenções do diretor mostrar que a realidade da França agora é, além de branca, também mestiça.

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Negociações tensas…

E aí, dentro desse contexto, toda a tensão social da periferia parece ainda mais injustificada. Mas Ladj Ly também faz questão de mostrar a natureza fragmentada dessa periferia, onde o ódio é uma via de múltiplas mãos. Todas as etnias se odeiam profundamente, esperando um pretexto, por mínimo que seja, para explodir tudo e começar uma guerra, numa situação que parece cada vez mais ser um beco sem saída. É assustador perceber como essa realidade se aproxima da realidade das nossas periferias brasileiras, onde a fragmentação também ocorre, dentro de outras perspectivas, e a violência também é muito latente. O mais curioso aqui é que uma das poucas vozes coerentes do filme é justamente a do líder religioso muçulmano, ele mesmo com um passado de crimes e tráfico, mas que agora professa a fé e busca agir dentro de uma ética. Essa é uma atitude muito corajosa de Ladj Ly, ainda mais numa época de muito preconceito contra o islamismo em virtude da onda recente de atentados terroristas na França.

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Intimidação sobre os moradores locais…

O desfecho do filme é surpreendente, pois a violentíssima revolta das crianças é um reflexo da violência das inúmeras facções mas, principalmente, uma reação à união das facções e dos policiais em acobertar o caso da bala de borracha disparada no rosto de Issa. Não somente a polícia é atacada, mas também o líder comunitário e os traficantes. A cena final, desesperadora toda a vida, e que fica em aberto, é acompanhada por uma citação de Victor Hugo em sua obra “Os Miseráveis”, deixando-nos uma sensação de desalento e, principalmente, desesperança.

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O diretor Ladj Ly

Assim, “Os Miseráveis” é um filme que poderia muito bem abiscoitar esse Oscar ao qual concorre, embora pareça que já está tudo engatilhado para o coreano “Parasita” ganhar. Seria uma grata surpresa ver “Os Miseráveis” ser premiado, em virtude de sua gritante denúncia do ódio e intolerância nas periferias, onde países desenvolvidos e subdesenvolvidos se igualam tragicamente. Um filme obrigatório.

Batata Movies – Uma Mulher Alta. Busca Por Um Filho.

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Cartaz do Filme

Um filme russo que representa o seu país na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “Uma Mulher Alta” é uma história sobre o pós-Segunda Guerra Mundial e de como o conflito conseguiu transformar de forma radical a vida das pessoas. Um filme forte e doloroso. Para podermos compreender melhor a película, vamos ter que lançar mão de spoilers.

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Iya, uma enfermeira que “sai do ar”…

Vemos aqui a história de um hospital na Leningrado de 1945 que cuida dos soldados feridos da guerra. A enfermeira Iya (interpretada por Viktoria Miroshnichenko) é a tal mulher alta, que combatia na linha de frente e ficou com um trauma de guerra onde ela temporariamente “sai do ar”, ficando imóvel e travada (ela não escuta, não consegue se mexer e mal consegue respirar). Iya cuida de Paschka, o filho pequeno de sua amiga (e amante) de front Masha (interpretada por Vasilisa Perelygina), mas ao brincar com o menino, ela tem uma de suas crises e cai sobre o garotinho, matando-o sufocado. Masha volta do front para se reencontrar com Iya e descobre que ela matou seu filho involuntariamente. Mas Masha não liga muito para a situação e decide que outro filho deve ser feito. O problema é que Masha volta do front com ferimentos e cirurgias que retiraram a sua capacidade de ter filhos. Assim, ela combina com Iya que esta deve engravidar para lhe dar um filho, algo que será muito difícil para a mulher alta fazer.

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Masha, uma muher que também sofreu com a guerra…

É um filme angustiante, onde o grande vilão é a guerra, que traumatizou Iya, que tirou de Masha a capacidade de ter filhos e a transformou na verdade num objeto sexual dos militares, já que a moça na verdade não atuou no front, mas sim na parte de logística, onde teve que entregar seu corpo para sobreviver num meio tão adverso. Masha chega a lançar mão da paixão de um rapaz para obter comida, como ela fazia nos tempos de guerra, mas seus planos de casar com o rapaz por interesse são rechaçados pela família do jovem e por Iya morta de ciúmes. Ou seja, todas essas situações provocadas pela guerra e com efeitos na vida de todos até após do conflito.

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As duas estabelecem um difícil pacto…

Dessa forma, “Uma Mulher Alta” é um grande filme russo que não é nenhuma surpresa sua presença entre os finalistas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Apesar de ser uma história de ficção, ela muito bem poderia ser real, já que mostra como a guerra provocou sequelas profundas na vida das pessoas, podendo se manter até depois do conflito. Vale muito a pena dar uma conferida nesse programa imperdível.  

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