Batata News – Por Que Hécuba? Um Grito Feminino Contra O Ódio.

Cartaz da Peça

A Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, a mais antiga da América Latina, e que teve Procópio Ferreira, Tereza Rachel, Denise Fraga, Joana Fomm e Aderbal Freire Filho entre seus alunos, apresenta mais uma peça teatral de seus formandos. A turma da noite apresenta a boa peça “Por Que Hécuba?”, escrita por Matei Visniec.

Ensaios…

O tema da peça é muito curioso: na Guerra de Troia, Hécuba, a mãe de todos os filhos de Troia, precisa amargar a morte dos mesmos na guerra contra os gregos micênicos, por pura vontade e capricho dos deuses. Quando a mesma esconde um de seus filhos num reino vizinho, ela também o perde, pois o rei temia a fúria dos deuses sobre ele caso mantivesse o filho vivo. E, ainda: quando os deuses decidem que Hécuba sofrera demais e concluem que ela deve receber uma compensação, preparam uma surpresa para ela, surpresa essa que consiste em dar a mão de sua filha em casamento para Aquiles, o carrasco grego dos troianos, que havia morrido em batalha. Isso significa que sua filha terá que ser sacrificada para se encontrar com Aquiles na outra vida. Ou seja, Hécuba, a mulher, a mãe, tem que se submeter ao capricho altamente machista de deuses que se ancoram nas tradições para justificar todo o estado de belicismo, guerra e violência entre os povos da Grécia.

Os atores em ação…

A temática da história, apesar de se passar na Antiguidade, nunca pareceu tão atual, sobretudo quando nos lembramos da violência insuportável a qual somos obrigados a nos submeter e, dentro disso, da frágil posição da mulher numa sociedade cada vez mais preconceituosa e misógina. Assim como Hécuba era obrigada a sofrer todo o tipo de martírio dos deuses em nome de uma tradição, as mulheres de hoje são violentamente atacadas em seus direitos por grupos que também se acham guardiões de tradições que eles acham que todos são obrigados a se sujeitar. Ainda, o choro de Hécuba que perde seus filhos na guerra é o mesmo choro das mães de comunidades que perdem seus filhos para a nossa guerra cotidiana. E a mulher não tem sequer direito a levantar a sua voz contra isso, como a nossa protagonista, que gritava a plenos pulmões contra as injustiças, sendo desvalorizada e ridicularizada de todos os lados com relação a isso.

O grito de dor de uma mãe e mulher frente à violência dos homens…

O mais curioso é que, durante o transcorrer do espetáculo, todas as atrizes da turma interpretaram Hécuba em algum momento, dando uma mensagem de que Hécuba é uma alegoria do que todas as mulheres passam nessa sociedade tão profundamente machista, ainda mais em terras tupiniquins. Ao fim do espetáculo, todas se perfilam diante a plateia e falam de seus desejos com relação ao nosso cotidiano. O direito a um amor livre e a repulsa ao feminicídio foram lembrados.

A filha que se vai em nome da tradição…

Foi muito interessante também perceber como a areia foi utilizada no espetáculo. Todo o interior do teatro estava revestido da mesma. E os atores o tempo todo interagiam com ela, como se a própria areia acabasse sendo uma espécie de personagem. Somente para citar, os filhos mortos de Hécuba viraram cinzas, e estavam misturados lá entre toda aquela areia.

A areia, uma personagem…

Assim, “Por Que Hécuba?” consegue ser mais uma grande realização dos sempre talentosos alunos da Escola Técnica de Teatro Martins Penna; Uma peça que busca na Grécia Antiga, alegorias para criticar o autoritarismo latente da nossa sociedade contemporânea e a frágil posição da mulher. Cabe dizer aqui que, por se tratar de uma Escola de Teatro do Estado, a situação continua grave. Dois processos seletivos de formação de turmas foram cancelados. E a nossa cultura segue sendo estrangulada. Esperamos que se chame a atenção para a resolução de tal problema, pois um povo sem cultura não é absolutamente nada. Se você quer dar uma prestigiada, a peça está em cartaz até o próximo dia 3 de setembro, de quinta a sábado, às oito da noite e domingo, às sete da noite. A Escola de Teatro Martins Penna fica na Rua Vinte de Abril, pertinho do Campo de Santana.

A simpática turma de formandos da Martins Penna…

Batata News (Especial Nouvelle Vague Soviética) – Palestra O Cinema Moderno Soviético. Radiografando a Nouvelle Vague Soviética.

Hernani Heffner

Na Mostra “Nouvelle Vague Soviética”, realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, em fins de maio e início de junho, a coisa não ficou restrita a apenas a exibição dos filmes da era pós-Stalin. Houve, também, ciclos de palestras, cursos e debates. Tivemos, por exemplo, a palestra “O Cinema Moderno Soviético”, ministrada por Hernani Heffner (chefe de preservação da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) e Luiz Carlos Oliveira Jr. (ex-editor da Revista Contracampo e autor do livro “A mise-en-scène no cinema”). Essa palestra muito ajudou o público a identificar elementos dos filmes exibidos em consonância com o período histórico em que foram produzidos. Nas falas dos pesquisadores, tivemos a oportunidade de conhecer informações muito preciosas. Em primeiro lugar, após a morte de Stalin, o novo Secretário Geral do Partido Comunista, Nikita Kruschev, denuncia os crimes e arbitrariedades de seu antecessor e seu governo é denominado “Era do Degelo”, onde há uma espécie de distensão entre o Estado Soviético e sua classe artística. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a produção de filmes soviéticos havia caído muito. Também pudera, o povo russo foi o que mais sofrera nas duas guerras mundiais e a recuperação do cinema no pós-guerra foi muito lenta. Com Kruschev, a produção de cinema recebeu um estímulo e chegou a se produzir uma média de cem filmes por ano. Em trinta anos, produziu-se cerca de quatro mil filmes, muitos deles ainda inéditos no Brasil. Em 1985, a União Soviética atingiu a histórica marca de 4,5 bilhões de ingressos vendidos, numa prova de que a exibição se expandiu e se manteve. Mas, na década de 80, o governo Brejnev voltou a lançar mão da censura com carga total. De qualquer forma, a alta frequência de público manteve uma indústria cinematográfica altamente diversificada. Dentre os filmes que foram produzidos, tivemos, por exemplo, adaptações de autores clássicos da literatura, como Tolstoi e Dostoievsky, além de um estilo que ficou conhecido como “faroeste vermelho”.

Por incrível que possa parecer, alguns desses filmes soviéticos chegaram por aqui, através de uma distribuidora chamada Tabajara Filmes (!) e foram exibidos em circuito comercial, caso de “Quando Voam as Cegonhas”. Com a ditadura militar, a Tabajara Filmes foi fechada e esses filmes foram parar no acervo da cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM). Por iniciativa de Cosme Alves Netto, do MAM, houve uma parceria com o consulado russo e, de 1965 a 1991, muitos filmes soviéticos foram para o acervo do Museu. O mais interessante é que a exibição de filmes soviéticos no circuito comercial brasileiro permaneceu mesmo com a ditadura militar.

E o que mais podemos dizer dessa produção soviética pós-stalinista? Vemos aqui novas práticas nesse cinema mais antenadas com as práticas que aconteciam no resto do mundo. Em 1959, filmes estrangeiros começam a chegar a União Soviética, e a Escola Superior de Cinema Soviético chegou a ter filmes estrangeiros em seu interior sendo assistidos e debatidos, embora essa não fosse uma prática corriqueira. Curioso é notar que os tempos turbulentos da Guerra Fria não influenciaram a produção russa. Os filmes tinham uma preocupação muito maior com o sujeito, com questões mais amplas como o que é a vida, onde personagens jovens se desvencilham do fardo do stalinismo e da guerra, se importando com questões mais subjetivas e com uma vida comunal mais solidária, que talvez se aproximasse de uma ideia matriz mais utópica da revolução, embora tenha ficado muito claro na palestra de que essa ideia de comunidade não seguia nenhuma ideologia de Estado. Foi também assinalado que tal estilo de se contar histórias não se arrefeceu nem com a ditadura de Brejnev e artifícios para se driblar a censura foram utilizados. O eu se confrontava com o Estado e não cedeu perante a repressão. Ainda, devemos nos lembrar de que o orçamento era limitado, ao contrário dos filmes hollywoodianos, e muita imaginação foi usada para se contar histórias. É notável perceber que os filmes resistem ao tempo e permanecem atuais. E uma película como “Vá e Veja” resistiu abertamente à censura de Brejnev, começando a ser realizada em meados de 1976 e sendo apenas concluída na década de 80, mesmo com todas as dificuldades impostas pelo regime.

Ainda foi assinalado na palestra que tais filmes mostravam uma espécie de displicência na montagem, afrouxando a sintaxe e dando pouca importância à linguagem cinematográfica. Se o cinema soviético em sua fase inicial ficou muito marcado pela inovação na montagem, onde Sergei Eisenstein foi um de seus grandes nomes, o cinema soviético pós-Stalin, por sua vez, mostra filmes com planos longos e até planos sequência, com poucos cortes. Isso se afasta um pouco do cinema moderno feito no ocidente, cuja montagem é mais fragmentada, tornando os filmes mais dinâmicos e despojados. No caso do bloco socialista, os filmes mais se aproximavam do cinema moderno ocidental estavam no cinema tcheco e polonês.

Fazendo uma análise do que foi dito na palestra e do que foi visto em doze dos vinte e um filmes da mostra, posso dizer que o ponto mais polêmico acima foi a fala que se refere a questão do eu e da vida comunitária totalmente descolada de qualquer ideologia de Estado. É verdade que vários filmes foram colocados dentro dessas premissas. Mas creio que um pouco da ideologia socialista entra no discurso de algumas películas. Em alguns filmes da Segunda Guerra Mundial como “Vá e Veja” a gente até vê uma crítica velada ao autoritarismo soviético numa convocação forçada do protagonista pelos partisans, mas depois de todo um rosário de atrocidades nazistas, vemos o nazista capturado proferindo um discurso de ódio psicótico contra os socialistas, sendo devidamente fuzilado. No caso de “A Comissária”, a protagonista abandona a vida comunitária e seu filho para voltar a se engajar na guerra civil. Em “O Primeiro Professor”, o aldeão abandona muito rapidamente a sua tradição para ajudar o professor a derrubar a árvore para fazer uma nova escola e ensinar a pedagogia do partido. E em “Soy Cuba”, o soviético vê no cubano um paradigma de seu passado de luta contra as injustiças do modelo capitalista. Ou seja, o cinema subjetivo, comunal, destacado da ideologia do Estado aparece mais quando se aborda a vida soviética mais contemporânea, ao passo que em filmes que abordam contextos de guerra ou veem outras culturas diferentes, uma ideologia mais socialista pode se fazer presente em algumas ocasiões. Pelo menos essa é a impressão que temos de apenas doze filmes de uma mostra de vinte e uma películas, lembrando que esse é um mapeamento muito pequeno se compararmos com a produção total do período, que é de cerca de quatro mil filmes, com muitos deles nem tendo chegado por aqui.

De qualquer forma, as informações dadas na palestra sobre a filmografia do período abordado foram de grande utilidade para entendermos um pouco melhor o que aconteceu nos filmes dessa época muito prolífica da cinematografia soviética.

Luiz Carlos Oliveira Jr.

Batata News – Homenagem a Roberto Farias

E depois de perdermos Nelson Pereira dos Santos, nosso cinema sofre outro grande baque. Faleceu Roberto Farias, mais um importante nome de nossa cinematografia, aos 86 anos, depois de uma luta contra um câncer. Ele fez várias chanchadas da Atlântida, assim como o filme “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa” e “O Fabuloso Fittipaldi”. Mas vai ser lembrado por “Pra Frente Brasil”, um filme que denunciava a tortura da ditadura militar e o seu conhecido “O Assalto ao Trem Pagador”, talvez o seu melhor filme. A Batata Espacial se solidariza com os que sofrem com mais essa grande perda e faz aqui uma pequena homenagem, exibindo “O Assalto ao Trem Pagador”. A Roberto Farias, nossa gratidão eterna pelo tanto que fez pelo cinema do Brasil. E a nós, restam os bons filmes e a saudade…

Batata News – Homenagem a Nelson Pereira dos Santos

Nós, brasileiros, perdemos este fim de semana um de nossos grandes cineastas. Nelson Pereira dos Santos, um dos fundadores do Cinema Novo, levou o Brasil que ninguém conhecia ao exterior. Um Brasil assolado pela injustiça e pela desigualdade social. Um Brasil contado pelos grandes clássicos de nossa literatura. Toda vez que se fala de Nelson Pereira dos Santos, a primeira coisa que me vem à cabeça é a cachorrinha Baleia, de “Vidas Secas”, que precisa ser sacrificada por seus donos, uma família de retirantes que mal tem o que comer para si próprios. A morte de Baleia dói no fundo da alma até hoje. O filme impressionou tanto que os brasileiros que o realizaram foram acusados no estrangeiro de maus tratos ao bichinho, ao que eles precisaram levar a cachorrinha no ano seguinte para provar que ela estava viva e bem de saúde. É por isso mesmo que não há melhor forma de homenagear Nelson Pereira dos Santos recordando de Vidas Secas. Conheçam e emocionem-se não somente com Baleia, mas também com os problemas sociais profundos de nosso povo. E a Nelson Pereira dos Santos, nossa gratidão eterna…

Batata News – Impressões Sobre O Oscar 2018

Foi a nonagésima edição!!!

Pois é. Tivemos mais uma cerimônia do Oscar. E o que podemos dizer do que vimos esse ano? Houve uma espécie de repetição de algumas atitudes dos anos passados. Ainda no clima de dar uma resposta às severas críticas que a Academia sofreu por não ter colocado negros entre os indicados por dois anos consecutivos, a Cerimônia abraçou mais uma vez a bandeira da diversidade. No ano passado, a indicação e premiação a negros já havia acontecido. Agora, em 2018, as indicações retornaram, com as premiações a negros numa menor intensidade, mas ficou bem claro que todos na Academia primam por abraçar o respeito às diferenças. Essa, talvez, também tenha sido uma espécie de resposta às estripulias altamente desrespeitosas e etnocêntricas do governo Trump, que não se nega a chutar o balde e o bom senso quando abre a boca (ou o twitter). Outra tendência, essa sim, uma espécie de constante nos últimos anos, foi a de distribuir a premiação, sem um filme que abiscoite muitas estatuetas.

Guillermo del Toro discursa após “A Forma da Água” receber o Oscar de Melhor Filme

Assim, “A Forma da Água”, a recordista de indicações sendo treze no total, ganhou quatro Oscars (filme, direção, design de produção e trilha sonora). “Dunkirk” foi uma grata surpresa, apesar de ter ganho mais prêmios técnicos, sendo três estatuetas (edição de som, mixagem de som e montagem). Houve, também, os prêmios óbvios, ou seja, aqueles que a gente já sabia quem ganharia. Foi o caso de Melhor Ator para Gary Oldman em “O Destino de Uma Nação”, Sam Rockwell para ator coadjuvante e Frances McDormand para atriz em “Três Anúncios Para Um Crime”, e Allison Janney  para atriz coadjuvante “Eu, Tonya”. Outra grata surpresa foram as duas estatuetas para “Blade Runner 2049” (Fotografia e Efeitos Visuais). Já nos roteiros, tivemos um prêmio merecido para Jordan Peele pelo inusitado “Corra!” de roteiro original (e bota original nisso!) e James Ivory por “Me Chame Pelo Seu Nome” de roteiro adaptado.

Melhores atores e atrizes todos juntos… prêmios óbvios!!!

Melhor Figurino para “Trama Fantasma” era algo óbvio, embora eu achasse que esse filme merecesse também a trilha sonora. Nas animações, nada de novo no horizonte. A Disney continua ganhando com “Viva” (mais uma vez merecido, diga-se de passagem), além de ganhar o Oscar de Melhor Canção. Somente lamentei duas coisas na premiação: eles poderiam variar e dar a estatueta de animação para “O Touro Ferdinando”, pois esse foi um excelente trabalho de nosso Carlos Saldanha. E numa categoria que eu gosto muito de acompanhar, a de Melhor Filme Estrangeiro, queria muito que o prêmio fosse para “O Insulto”, mas ganhou “Uma Mulher Fantástica”, pois esse filme rezava pela cartilha da diversidade, diga-se de passagem, também uma boa película que veio aqui da América Latina, já que se trata de uma produção chilena.

Jordan Peele, um prêmio merecido para roteiro original…

Pois é. Distribuídos os prêmios, resta a quem ainda não viu todas as produções dar uma conferida, além da gente torcer bastante para que cheguem mais filmes indicados por aqui, justamente para podermos apreciar nas telonas e não nas telinhas do PC ou do celular…

Segue, abaixo, a lista dos premiados, copiada da postagem da minha poderosa amiga, a Princesa Larissa Rezende Leia… Os vencedores estão em negrito…

Dessa vez, eles acertaram…

MELHOR FILME

– Me Chame Pelo Seu Nome
– O Destino de Uma Nação
– Dunkirk
– Corra!
– Lady Bird – É hora de voar
– Trama Fantasma
– The Post – A Guerra Secreta
– A Forma da Água
– Três Anúncios Para Um Crime

MELHOR DIRETOR

– Christopher Nolan (Dunkirk)
– Jordan Peele (Corra!)
– Greta Gerwig (Lady Bird: É hora de voar)
– Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)
– Guillermo del Toro (A Forma da Água)

MELHOR ATOR

– Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)
– Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma)
– Daniel Kaluuya (Corra!)
– Gary Oldman (O Destino de Uma Nação)
– Denzel Washington (Roman J. Israel, Esq.)

Gary Oldman arrebentou!!!

MELHOR ATRIZ

– Sally Hawkins (A Forma da Água)
– Frances McDormand (Três Anúncios Para Um Crime)
– Margot Robbie (Eu, Tonya)
– Saoirse Ronan (Lady Bird: É hora de voar)
– Meryl Streep (The Post – A Guerra Secreta)

Frances McDormand, outro prêmio esperado…

MELHOR ATOR COADJUVANTE

– Willem Dafoe (Projeto Flórida)
– Woody Harrelson (Três Anúncios Para Um Crime)
– Richard Jenkins (A Forma da Água)
– Christopher Plummer (Todo o Dinheiro do Mundo)
– Sam Rockwell (Três Anúncios Para Um Crime)

Sam Rockwell, prêmio merecido

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

– Mary J. Blige (Mudbound)
– Allison Janney (Eu, Tonya)
– Lesley Manville (Trama Fantasma)
– Laurie Metcalf (Lady Bird: É hora de voar)
– Octavia Spencer (A Forma da Água)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

– Me Chame Pelo Seu Nome (James Ivory)
– Artista do Desastre (Scott Neustadter e Michael H. Weber)
– Logan (Scott Frank, James Mangold e Michael Green)
– A Grande Jogada (Aaron Sorkin)
– Mudbound (Virgil Williams and Dee Rees)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

– Doentes de Amor (Emily V. Gordon e Kumail Nanjiani)
– Corra! (Jordan Peele)
– Lady Bird: É hora de voar (Greta Gerwig)
– A Forma da Água (Guillermo del Toro)
– Três Anúncios Para Um Crime (Martin McDonagh)

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

– A Bela e a Fera
– Blade Runner 2049
– O Destino de Uma Nação
– Dunkirk
– A Forma da Água

MELHOR FOTOGRAFIA

– Blade Runner 2049 (Roger Deakins)
– O Destino de Uma Nação (Bruno Delbonnel)
– Dunkirk (Hoyte van Hoytema)
– Mudbound (Rachel Morrison)
– A Forma da Água (Dan Laustsen)

MELHOR FIGURINO

– A Bela e a Fera
– O Destino de Uma Nação
– Trama Fantasma
– A Forma da Água
– Victória e Abdul

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

– Em Ritmo de Fuga
– Blade Runner 2049
– Dunkirk
– A Forma da Água
– Star Wars: Os Últimos Jedi

MELHOR MIXAGEM DE SOM

– Em ritmo de fuga
– Blade Runner 2049
– Dunkirk
– A Forma da Água
– Star Wars: Os Últimos Jedi

MEHOR CURTA DE ANIMAÇÃO

– Dear Basketball
– Garden Park
– Lou
– Negative Space
– Revolting Rhymes

MELHOR CURTA-METRAGEM

– Dekalb Elementary
– The Eleven o’Clock
– My Nephew Emmett
– The Silent Child
– Waty Wote/All of Us

MELHOR TRILHA SONORA

– Dunkirk
– Trama Fantasma
– A Forma da Água
– Star Wars: Os Últimos Jedi
– Três Anúncios Para Um Crime

MELHORES EFEITOS VISUAIS

– Blade Runner 2049
– Guardiões da Galáxia Vol. 2
– Kong: A Ilha da Caveira
– Star Wars: Os Últimos Jedi
– Planeta dos Macacos: A Guerra

MELHOR EDIÇÃO

– Em Ritmo de Fuga
– Dunkirk
– Eu, Tonya
– A Forma da Água
– Três Anúncios Para Um Crime

MELHOR MAQUIAGEM E CABELO

– O Destino de Uma Nação
– Victoria e Abdul
– Extraordinário

MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

– Uma Mulher Fantástica (Chile)
– O Insulto (Líbano)
– Sem amor (Rússia)
– Corpo e Alma (Hungria)
– The Square: A arte da discórdia (Suécia)

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM

– Edith and Eddie
– Heaven Is A Traffic Jam On The 405
– Heroin(e)
– Knife Skills
– Traffic Stop

MELHOR DOCUMENTÁRIO

– Abacus: Pequeno o Bastante Para Condenar
– Visages Villages
– Ícaro
– Últimos Homens em Aleppo
– Strong Island

MELHOR CANÇÃO

– Mighty River (Mudbound)
– Mystery of Love (Me Chame Pelo Seu Nome)
– Remember Me (Viva – A Vida é Uma Festa)
– Stand Up For Something (Marshall)
– This is Me (O Rei do Show)

MELHOR ANIMAÇÃO

– O Poderoso Chefinho
– The Breadwinner
– Viva: A Vida é Uma Festa
– O Touro Ferdinando
– Com Amor, Van Gogh

Batata News – Josephine Baker, a Vênus Negra

 

                                                                                 Cartaz da Peça

O Cineteatro Maison de France apresenta a peça “Josephine Baker, A Vênus Negra”. Estrelada pela versátil Aline Deluna e com o acompanhamento dos músicos Dany Roland (Bateria e Percussão), Christiano Sauer (Contrabaixo, Violão e Guitarra) e Jonathan Ferr (piano e escoleta), que também se revelaram versáteis atores,  e com direção de Otávio Muller e texto de Walter Daguerre.

                                                             Deluna, uma grande atriz!!!

Esse notável musical conseguiu traçar de forma muito eficiente a não menos notável trajetória dessa artista nascida nos Estados Unidos, mas que acabou se radicando na França em virtude do racismo latente do primeiro país e de uma maior receptividade do segundo.

Deluna começa a peça vindo do fundo da plateia para o palco, com o pano caído. Ela dá a boa noite, se senta no palco e começa a conversar com a plateia. Inicialmente, fala dela mesma, de como conheceu Josephine Baker e de sua identificação imediata com a artista. Pouco a pouco, ela sai de sua vida e entra na infância de Baker nos Estados Unidos, narrando detalhes de sua vida em terceira pessoa. É de chocar o trecho de sua infância, em que foi tratada com violência e assédio sexual quando era faxineira nas casas dos brancos americanos. E muito mais chocante foi saber que todo o seu bairro foi destruído e assassinado por brancos racistas. Pouco a pouco, foi entrando na carreira musical, embora fosse mais chamada para trabalhar como camareira, até que consegue seu primeiro palco e número musical. Sua forma simultaneamente sensual e cômica, dançando propositalmente de forma desengonçada, chamou a atenção de um empresário que a levou à Paris, onde ela se espantou com o tratamento totalmente diferente de seu país de origem. A partir daí, a peça toma ares de musical onde Deluna destila todo o seu talento, seminua em muitos números, tal como era Baker. Foi muito legal também ver os músicos na peça. Eles, além de tocarem seus instrumentos com maestria, interagiam com a atriz, fazendo papéis de pessoas que passaram pela vida de Baker: empresários e amantes, além de alguns maridos de seus cinco casamentos. Lances da vida de Baker eram contados alternados pelos números musicais, o que ajudou a peça a fluir com naturalidade, não saturando o público de informações. A plateia também participou de forma ativa, quando o elenco descia à ela e trazia pessoas para subirem ao palco, onde até um trenzinho foi feito durante o número musical. Outro trecho marcante da peça foi a ligação de Baker com o Brasil. A artista veio ao Rio de Janeiro várias vezes, se encantou com um menininho muito talentoso que mais tarde contracenaria com ela em alguns shows no Brasil, sendo esse menininho o futuro multimídia Grande Otelo. Conheceu Le Corbusier (teve até um affair com ele), arquiteto francês que teria um papel fundamental na modernização do Rio de Janeiro, e ficou hospedada na casa de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Só para arrematar, ficou maravilhada com o show dos Dzi Croquettes e inclusive pediu ao dono da casa de shows em que atuava que contratasse o grupo brasileiro como atração efetiva depois que ela saísse de lá e abandonasse a vida artística.

Os músicos da peça com Deluna e Cédric, o responsável pelo teatro Maison de France (de azul)

Outros detalhes da vida de Baker foram enfocados: sua revolta com os americanos ao, já consagrada na Europa, fazer um show nos Estados Unidos e ser tratada com desrespeito pela crítica em virtude do racismo; sua participação como espiã na Segunda Guerra Mundial, onde a emissão de documentos falsos por ela salvou muitas vidas; o problema no útero que quase a matou e a impediu de ter filhos; e a sua famosa “tribo arco-íris”, onde adotou muitas crianças de várias origens diferentes para provar que a diversidade pode perfeitamente viver em harmonia.

Um vídeo com Baker no saguão

Outro detalhe interessante foi o repertório musical da peça. Além das músicas mais antigas cantadas por Baker, buscou-se músicas mais recentes e ouvimos de Madonna a até funk, passando pelas músicas cantadas por Carmen Miranda, promovendo uma ida e volta entre passado e presente na narrativa. Essa ida e volta também aconteceu de uma forma muito feliz na peça ao se comparar o conservadorismo e radicalismo da época de Baker com o conservadorismo e radicalismo autoritário dos dias de hoje, um ponto da peça que fez refletir muito.

Esse humilde articulista com o músico Jonathan Ferr

Após o final do espetáculo, o público teve ainda a oportunidade de trocar algumas ideias e tirar fotos com o elenco no saguão do teatro, ou admirar um vídeo com vários momentos da própria Josephine Baker, algo que ajudava a confirmar o grande trabalho de Deluna na peça.

Esse humilde articulista com a sensacional Aline Deluna

Assim, “Josephine Baker, A Vênus Negra” é uma grande peça de nosso teatro em cartaz no Maison de France até 17 de dezembro. Um excelente musical com atores talentosíssimos, uma ótima reconstituição de uma instigante história de vida, um aguçado senso crítico sobre os dias de hoje e uma simpática interação entre palco e plateia. Espetáculo imperdível!!!

Josephine Baker, tudo de bom!!!

Batata News – A Fábrica Dos Cem Mil. Distopia e Tecnologia.

Cartaz da Peça

A Escola Estadual de Teatro Martins Penna apresenta a sua nova turma de formandos. Ainda vítima da violenta crise econômica e moral que assola o Estado, a Escola enfrenta com muita coragem as dificuldades do cotidiano e consegue se manter em funcionamento.E agora apresenta a peça “A Fábrica dos Cem Mil”, livremente inspirada na peça “A Fábrica de Robôs”, de Karél Tchapék. Uma história que é um convite à reflexão sobre o que a raça humana faz consigo própria e quais os rumos que ela dá para si mesma para tempos futuros.

O elenco

Mas, no que consiste essa ficção científica de tons sociais? Temos aqui uma fábrica de robôs cujo objetivo é produzir a maior quantidade possível de seres artificiais. Isso é feito com a meta de livrar o ser humano da escravidão do trabalho. Entretanto, a visão otimista de futuro não se concretizará e o que vamos ter são tempos vindouros altamente distópicos onde, além do óbvio caso do desemprego, também teremos uma raça humana que se inutilizou totalmente, pois passou a depender da força de trabalho dos robôs para tudo. Tal situação adversa levou a contextos de guerra entre os humanos e os robôs. E os cientistas da fábrica, ao invés de pararem com a produção para estancarem toda a violência e caos, pensavam somente em produzir ainda mais robôs em outras circunstâncias que poderiam (ou não) amenizar toda a crise.

Um matrimônio

A peça levanta questões muito interessantes. Em primeiro lugar, a monstruosidade do ser humano quando ele brinca de ser Deus e cria novas vidas (podemos ver isso quando ele cria geneticamente novas raças de animais por aí), sem dar importância a todas as implicações morais e éticas disso. Tal situação se manifesta no início da peça, onde robôs totalmente angustiados e descontrolados agem como loucos por vários e vários minutos, já ditando toda a agonicidade envolvida na história. O conflito na mente dos robôs de encontrarem a si mesmos num choque contra a sua individualidade dá o tom desse desespero com explosões de paroxismo. Tudo isso provoca um forte sensação de desconforto no espectador. Outra questão a ser levantada é a da crítica à tecnologia e ciência. Num ambiente distópicoo onde o ser humano é antiético e imoral, o mito do cientista louco vem com força total. Mas se a visão caricata do homem de ciências desiquilibrado poderia, num primeiro momento, provocar risos, num segundo momento ela corrobora o desespero mostrado no início da peça, principalmente na figura da mulher que é aprisionada por dez anos na fábrica, inclusive em laços matrimoniais com um dos cientistas, e que sofre com o cotidiano insano da produção dos seres artificiais. Ou seja, apesar do alívio cômico de alguns personagens, o tom de toda a narrativa é altamente sombrio e dramático. Toda essa falta de moral e de ética não fica impune e os humanos e robôs acabam entrando em guerra, com os primeiros ficando realmente ameaçados de extinção. Mesmo assim, o homem não aprende e mantém sua linha insana de produção de mais e mais robôs, somente piorando o problema À despeito de todo um pessimismo envolvido na peça, o final feliz não foi abolido, já que um último (e único) gesto de sensatez salvou o dia. Mas sem mais spoilers por aqui.

Cientistas loucos

A montagem da peça foi extremamente criativa, algo que muito se manifesta quando se tem poucos recursos. O palco foi ornamentado com espelhos e molduras de quadros, num ambiente perfeito para expressar as crises de identidade dos robôs. Foi usada uma trilha sonora futurista, onde o grupo alemão Kraftwerk deu o tom, com batidas um tanto tensas em alguns momentos. O mais curioso é que algumas dessas músicas de tom futurista já têm cerca de quarenta anos.

Cenário construído de forma criativa

Um detalhe muito interessante foi a troca, durante a peça, de personagens pelos atores. A tal mulher aprisionada na fábrica foi inicialmente interpretada por uma atriz, mas depois foi interpretada por um dos atores, que passou batom em pleno palco e usou uma espécie de crachá improvisado com o nome da personagem. Isso exigiu a atenção do espectador.

Atores trocando personagens

Assim, “A Fábrica dos Cem Mil” é mais outra peça de qualidade que a Escola Estadual de Teatro Martins Penna exibiu para o público, como parte do trabalho de conclusão de curso de sua turma mais recente. Uma peça distópica, crítica da tecnologia e altamente reflexiva. Um drama psicológico com fortes tons de paroxismo. E a certeza de que essa Escola merece ter todas as condições de funcionamento por parte do poder público, pois é uma grande fábrica não de robôs, mas sim de talentos.

Detalhes da iluminação, muito bem feita
%d blogueiros gostam disto: