Por Carlos Lohse
Pegue um bom diretor (Tim Burton), um bom elenco (Terence Stramp, Samuel L. Jackson, Judi Dench, Eva Green) e uma surreal história de fantasia. Pronto. Você tem a receita para um bom filme. “O Lar das Crianças Peculiares” é peculiar até no título. Essa história baseada no romance de Ransom Riggs lida com crianças com superpoderes e fendas temporais onde o tempo se repete. Ou seja, é uma doideira só, mas que, por incrível que possa parecer, dá certo e vende o seu peixe muito bem.
A história fala de um rapaz de nome Jack (interpretado por Asa Butterfield), que tem um avô, Abe (interpretado por Terence Stramp), que sofre de demência. Um dia, depois de voltar do emprego no supermercado, ele encontra a casa do avô revirada e o vê moribundo e sem os olhos. O avô lhe passa algumas informações nas quais ele deve encontrar uma mulher de nome Peregrine (interpretada por Eva Green), que lhe contará a causa estranha da morte dele. Jack consegue convencer o pai a ir ao País de Gales depois de receber uma carta de Peregrine. Uma vez no país europeu, Jack descobre que o orfanato que o avô vivia quando era jovem estava em ruínas depois de um bombardeio nazista na Segunda Guerra Mundial. Mas, ao penetrar mais profundamente no orfanato, Jack descobre que Peregrine vive por lá com várias crianças e adolescentes dotados de poderes especiais. Na verdade, Jack atravessou uma fenda temporal e encontrou o orfanato inteiro. Peregrine tem o poder de controlar o tempo e, para proteger as crianças, faz com que elas vivam sempre o mesmo dia no ano de 1943 que antecedeu ao bombardeio. Assim, elas nunca envelhecem, mas também ficam presas naquela fenda temporal.
Dá para perceber que o enredo da história é bem interessante. Vemos aqui uma espécie de mistura de conto de fadas com uma ficção cientifica um tanto primária, mas que não deixa de ser simpática. É claro que há vilões na história, muito arrepiantes por sinal, mas não vou entrar em maiores detalhes por causa dos “spoilers”. Aliás, essa mistura de uma certa dose de terror com um quê lúdico é outra curiosidade do filme. Podemos ter menininhas lindas fazendo as coisas mais escabrosas, por exemplo. Elas podem incendiar as coisas, ter bocarras horrendas na nuca ou uma força descomunal que move coisas muito pesadas. Ou então, dar vida a objetos inanimados para depois se deleitar vendo-os destruindo uns aos outros em batalhas homéricas.
Se os literalmente mocinhos e mocinhas já provocam situações indigestas, imaginem o que não fazem os vilões da história, na busca pela vida eterna.
Dessa forma, “O Lar das Crianças Peculiares” é mais uma daquelas películas que foi feita para ser um blockbuster, mas precisa contar com a aceitação do grande público, mais acostumado com continuações de franquias do que com novas ideias para histórias se manifestando nas telonas. Pela forma cativante como a história é contada, pelos paradoxos entre o muito fofinho e o muito horrendo, pelo grande elenco envolvido, pela originalidade e surrealismo do tema, esse filme tem tudo para ter uma continuação e potencial para gerar uma nova franquia. Vale a pena dar uma chegadinha ao cinema e se divertir.