E já estreou em nossas telonas o grande vencedor do Globo de Ouro este ano. “La La Land: Cantando Estações”, escrito e dirigido por Damien Chazelle (o mesmo que escreveu e dirigiu o fantástico “Whiplash”) ganhou sete prêmios: melhor filme (musical ou comédia); melhor ator (musical ou comédia), para Ryan Gosling; melhor atriz (musical ou comédia), para Emma Stone; melhor diretor para Damien Chazelle; melhor roteiro, também para Damien Chazelle; melhor canção; e melhor trilha sonora. “La La Land: Cantando Estações” ganhou todas as sete categorias que disputou no Globo de Ouro e deve vir forte no Oscar. Mas, o que esse filme tem de tão bom? Em primeiro lugar, trata-se de um musical, um gênero que raramente dá as suas caras no cinema hoje em dia. Só isso já faz aumentar a atenção e interesse pelo filme. E, como foi feito esse musical? Pudemos presenciar aqui uma grande homenagem aos antigos musicais da RKO e da Metro, com toda uma estética altamente retrô e que homenageava os grandes filmes da Hollywood de outrora. Isso foi um deleite para qualquer cinéfilo de plantão, constituindo-se numa espécie de um rosário formado por “Easter Eggs”. Para todos os lados, havia sempre um cartaz de filme antigo ou fotos de divas da Hollywood antiga. Mas esse ambiente saudosista era mesclado com nossos dias atuais, o que deu um efeito interessante.
Assim, podíamos ver um número musical com tremenda cara de “Cantando na Chuva” sendo interrompido por um toque de celular, por exemplo. Ou carrões antigos andando na rua junto com os carros de hoje em dia, promovendo uma verdadeira mesclagem entre tradição e modernidade. Tal mistura também é vista na narrativa do filme. Sabemos que os antigos musicais surgiram mais como uma espécie de distração para o grande público se esquecer das mazelas da crise econômica iniciada em 1929. O que mais importava nesses filmes eram os imponentes números musicais. As histórias desses filmes eram muito simplórias e até bem bobinhas, apenas um pretexto para podermos presenciar figuras eternamente amadas como Fred Astaire, Gene Kelly, Frank Sinatra, Cyd Charisse, Donald O’Connor, Ginger Rogers ou Debbie Reynolds cantarolando e dançando. Em “La La Land”, a película começou com a mesma cara desses musicais antigos: uma moça, Mia (interpretada por Stone), tentando a carreira de atriz em Los Angeles, e um rapaz, Sebastian (interpretado por Gosling), amante do jazz e que quer abrir sua casa de shows para apenas tocar jazz antigo e tradicional, para não deixar essa arte morrer. Os dois se conhecem num desentendimento e gradativamente se apaixonam. E os muitos números musicais ocorrendo enquanto o casal se tornava mais íntimo. Mas, a partir da segunda metade do filme, houve um foco maior na história dos dois, e curiosamente, os números musicais desapareceram, dando origem a um drama convencional, mais antenado com o cinema dos dias atuais. Ou seja, o toque de magia e fantasia dos musicais desaparece numa certa parte do filme, e o choque de realidade nos atinge em cheio, para uma volta maior do lúdico mais ao final da película. Alguns podem achar isso uma descontinuidade no roteiro do filme. Mas eu prefiro acreditar que tivemos um roteiro excepcional aqui, mostrando que o debate entre a tradição e a modernidade não se dava apenas no campo estético, mas também no campo narrativo.
E os atores que fizeram os protagonistas? Ryan Gosling deve estar elevando as mãos aos céus até agora. Depois de aparecer bem em alguns filmes, o ator decidiu dirigir um filme e a crítica foi impiedosa com ele, colocando-o em baixa. Podemos dizer que “La La Land” o ajudou a dar uma monumental volta por cima. Entretanto, mesmo ganhando o prêmio de melhor ator no Globo de Ouro, sua boa presença era meio que ofuscada por Emma Stone, essa sim muito bem no filme. Ela cantava bem mais que Gosling, por exemplo. E foi bem melhor na parte mais dramática da película, quando os números musicais desapareceram. Gosling, por sua vez, ficou mais com aquela cara meio abatida de quem parece que acabou de tomar um fora. Mais melancolia e menos expressividade. Já Stone parecia estar com os nervos à flor da pele nos momentos dramáticos mais intensos. Agora, vamos combinar: no número de sapateado, os dois eram bem ruinzinhos. Deu para sentir que fizeram uma coreografia bem simplória para os dois não se enrolarem muito. De qualquer forma, valeu pelo esforço. E não dá para se exigir dos dois um padrão Fred & Ginger.
Assim, se você é fã da Hollywood antiga, mais precisamente da fase dos grandes musicais, “La La Land: Cantando Estações” é simplesmente um programa imperdível e o filme pelo qual você irá torcer no Oscar esse ano. Alguns números musicais são claras homenagens a números que já foram vistos em filmes como “Cantando na Chuva” ou “Sinfonia de Paris”, levando os mais sensíveis às lágrimas (como foi meu caso). Mas também é um filme que faz um divertido jogo entre tradição e modernidade, seja do ponto de vista estético, seja do ponto de vista narrativo. É um filme para se ver, ter e guardar.
Eu gostei muito do filme e o que mais me surpreendeu foi justamente o choque de realidade que nos tira completamente daquela zona de conforto dos filmes água com açúcar e sim eu chorei e muito com o final.
A cena do Observatório, onde os dois dançam entre as estrelas, é inesquecível e uma grande homenagem aos musicais antigos…