Estreou “Planeta dos Macacos, A Guerra”, encerrando a saga de César e de seus companheiros símios. Confesso que conheço pouco dos filmes originais e séries lá das décadas de 60 e 70 mas, depois de ver todos os filmes da nova safra, pode-se dizer que as películas referentes à história de César são muito instigantes e, acima de um mero filme de ação, trazem também um convite à reflexão, algo pouco usual para um blockbuster, mostrando que a história pode ser encarada como uma ficção científica bem respeitável.
Mas, no que consiste a trama? César (interpretado por Andy Serkis) e seu grupo estão escondidos nas matas e rechaçam qualquer ataque do coronel que lidera os humanos (interpretado por Woody Harrelson). Entretanto, os símios estão submetidos a uma pressão cada vez maior dos humanos até que, num ataque surpresa, o coronel mata a esposa e o filho mais velho de César. O líder dos macacos decide retirar o grupo da floresta mas ele não o lidera, buscando vingança contra o coronel, não sem ser seguido por alguns de seus amigos.
Infelizmente, para fazer uma análise mais razoável do filme, alguns spoilers serão necessários aqui. Antes de mais nada, a película ensina a velha lição de que a vingança não leva a lugar nenhum, muito pelo contrário. Ao procurar caçar o coronal e esquecer o seu povo, César é severamente punido pelas circunstâncias, chegando a ser acusado de emotivo pelo coronel (no qual o humano está coberto de razão). É muito interessante notar as referências ao personagem Koba, que no filme anterior (“Planeta dos Macacos, A Revolta”) nutria um ódio sem fim pelos humanos e queria destruí-los, ao contrário de César que, apesar de sua profunda bronca contra os humanos, ainda tinha alguma esperança de coexistência pacífica. No presente filme, César é mais tomado pelo ódio e faz movimentos cíclicos de aproximação e afastamento de Koba que o assombra em visões e pesadelos, ora com ódio extremo aos humanos e, principalmente, ao coronel, ora com algum sentimento de compaixão e noção de que a vingança não leva a nada, já que seu amigo Maurice, interpretado por Karin Konoval (!), adotou uma menininha humana que havia ficado sozinha. Essa garotinha, Nova (interpretada por Amiah Miller), vai despertar surpresa em um César tomado pelo ódio ao cair em prantos perante a morte de um integrante do grupo de macacos. Assim, o personagem principal do filme oscila entre esses dois pólos: o da guerra e o da paz, o do ódio e o da compaixão.
Lamentavelmente, a tão prometida guerra final entre humanos e macacos não acontece. Houve muitas batalhas sangrentas, mas não houve um desfecho épico de guerra entre humanos e macacos. Nesse ponto, o filme pareceu tropeçar no próprio título e trocar gato por lebre. Mesmo assim, tivemos uma boa sequência final de ação, muito empolgante.
A arrogância humana em se querer brincar de Deus é também lembrada, por incrível que pareça, pelo próprio coronel. Houve uma preocupação em se justificar algo que acontecia nos filmes mais antigos. No “Planeta dos Macacos” original, os humanos nao falavam e se comportavam como animais irracionais. Na nossa presente película, esse estado animal dos humanos é provocado pela mutação do vírus que já atacou a raça humana nos filmes anteriores do século 21, o que fez o coronel “pirar na batatinha” e exterminar também os humanos infectados. Essa mutação seria um castigo à arrogância humana, nas palavras do próprio coronel.
Assim, “Planeta dos Macacos, a Guerra”, nos dá um digno desfecho à saga de César e de seus companheiros, pois é um interessante filme de ação que lançou reflexões sobre o sentimento de vingança e a arrogância humana. Apesar de não haver um conflito final propriamente dito entre humanos e macacos, a história optou por outras direções que não deixaram o desfecho menos interessante. E, além disso, tivemos boas atuações de Andy Serkis, (mesmo “virtualizado” pelo CGI) e Woody Harrelson. Vale a pena dar uma conferida.