Falemos hoje de mais um livro que A Editora Aleph lançou do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”. “Provação”, de Troy Denning, cuja história traz de volta os bons e velhos heróis Han Solo, Princesa Leia Organa Solo e Luke Skywalker. Uma história emocionante que é regada à muita ação e que incrementa ainda mais a saga de “Guerra nas Estrelas”, que deve muito a essas histórias “não oficiais”. Vamos falar um pouco desse bom livro, lembrando que vamos esbarrar em alguns “spoilers” aqui.
Os acontecimentos de “Provação” se passam quarenta anos depois de “O Retorno de Jedi”, quando o Império finalmente fora totalmente derrotado e a Ordem Jedi estava reconstituída. Han, Leia e Luke já estavam mais aplacados pelo peso da idade, mas não tinham saído da ativa. As forças do mal ainda azucrinavam a galáxia distante. Dessa vez, o vilão é uma empresa chamada Tecnologias de Exploração Galáctica (TEG), comandadas por dois irmãos da espécie Columi, Marvid e Craitheus Qreph. Eles tinham grandes crânios que eram dotados de uma inteligência muito pronunciada, somente não maior que suas ambições de controlar economicamente toda a galáxia. Os irmãos Qreph tentavam dominar uma região rica em minérios dentro de uma espessa nebulosa, onde Lando Calrissian tinha uma mineradora. Assim, os Qreph tentavam de todo modo pressionar Lando para que ele vendesse seu negócio. Para fazer suas sabotagens e artimanhas, os Qreph mantinham exércitos mandalorianos, e seres reptilóides conhecidos como Nargons. Como Lando está em maus lençóis com os Qreph, Han, Leia e Luke vão à nebulosa investigar. Mas o imbróglio parece ser muito maior que a ambição desenfreada dos Qreph. Um imbróglio que cheira a Siths.
Essa rápida sinopse nos dá uma ideia de como a história é cativante. Ao contrário da Trilogia Thrawn, onde as querelas políticas se fazem mais presentes, em “Provação”, as fortes cenas de ação são praticamente uma constante na história. Cabe frisar aqui que, em vários momentos, presenciamos uma violência extrema, e o autor judiou muito de nossos protagonistas, enchendo-os de torturas, explosões e ferimentos. Denning chega às fronteiras do sadismo ao descrever com detalhes os ferimentos nos corpos de Luke, Leia e Solo à cada ação mal sucedida, numa violência ao meu ver, um tanto desnecessária, justamente por ser desmedida.
Um problema na história é o excesso de personagens, sendo que alguns deles praticamente são apenas citados e não voltam mais à história, enquanto que outros permaneceram ao longo da trama. Outro problema no livro é que, como se passaram quarenta anos desde o “Retorno de Jedi”, muitas coisas aconteceram nesse meio tempo e são superficialmente contadas pelo autor, parecendo totalmente descoladas da história principal. Faladas tão rapidamente, esses pequenos detalhes nos dão a impressão de que temos várias pontas soltas que pouco ou quase nada acrescentam à trama.
A presença dos Sith na história também é errática e confusa. Denning acrescenta uma série de elementos aos Sith que poderiam ter sido bem explorados nos últimos 25% de texto, mas foram subaproveitados, como se o autor simplesmente não soubesse amarrar bem as pontas soltas (olha elas aí de novo!) para fazer um bom desfecho para a história. Será que isso foi feito intencionalmente como gancho para uma continuação do livro? Pode ser. Mas a verdade é que a coisa ficou um tanto confusa e com aparência de mal escrita. Ainda, a grande vilã Sith, Savara Raine, uma pós-adolescente muito invocada e maligna, foi mal aproveitada na história. A impressão é a de que ela poderia ter sido mais presente na trama. E não empolgou tanto como o Grão Almirante Thrawn da trilogia de Timothy Zahn, por exemplo.
Apesar desses pequenos problemas na estrutura narrativa da história, o livro ainda nos traz interessantes reflexões. A violência dos métodos dos irmãos Qreph levava Leia a explosões de ódio, rechaçadas pelo argumento de Luke de que a raiva e o medo são um caminho para o lado sombrio. Tal discurso aparece recorrentemente no texto. Mas o mais interessante foi uma série de argumentações que o autor fez com o conceito de Força, dando-lha adjetivos altamente antagônicos, levando a coisa a um certo ar, digamos barroco, que também prima pelo jogo com as antíteses. Não vou entrar em detalhes aqui para não dar mais “spoilers”.
Concluindo, se “Provação” nos deu um texto com alguns problemas, por outro lado tivemos uma boa história de ação. Sua leitura é empolgante, embora menos do que a Trilogia Thrawn. Mas ainda assim, vale a pena e é mais uma contribuição interessante ao Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”