Mais um filme espetaculoso nesses tempos sombrios. “Godzilla Vs. Kong” traz de volta as duas criaturas juntinhas, mais habituadas a uma carreira solo. Houve um filme na década de 60 que também promoveu esse colossal encontro. Toda vez que a gente vê um filme em que o King Kong é protagonista, fica aquela vontade de dizer que a película foi o Mico do Ano. Mas será que foi isso que aconteceu agora nessa nova produção? Vamos precisar dos spoilers para discutir isso.
Bom, quem seria o grande vilão desse filme, já que a galera gosta dos dois monstros? Isso mesmo, um grande empresário inescrupuloso que descobriu que a Terra é oca (já ouvi isso em algum lugar) e quer sugar uma energia que existe lá dentro e que “alimenta” os dois protagonistas. Ele quer essa energia para alimentar um enorme Godzilla mecânico que ele construiu (só não ficou muito claro para que ele construiu esse bichão). As atividades da megaempresa desse executivo acabam atraindo Godzilla, já que elas provocaram alguns desequilíbrios na natureza que atiçam o bicho. Sabe-se lá por que Godzilla ficou tão estressado e foi atrás de Kong, que conversava com uma menininha surda-muda por linguagem de sinais (!!!). E aí, os dois saem na porrada, que é isso que todo mundo quer ver e estava curioso para saber quem vai vencer. O grande público até se dividiu em “Time Godzilla” e “Time Kong”, assim como o “Time Capitão América” e o “Time Homem de Ferro” em “Guerra Civil”. E quem ganhou essa luta? Pode-se dizer que houve um empate técnico, pois nas duas lutas entre eles, cada um ganhou uma delas. Quando ia sair o desempate, o monstro mecânico do grande empresário apareceu e os dois tiveram que se unir para derrotá-lo (juro que eu pensei que essa briga só ia acabar quando os dois descobrissem que suas mães se chamavam Martha). E eles só conseguiram derrotar o bichão porque um garoto gordinho derrubou whisky no computador que dominava a máquina, pifando a geringonça. O gordinho foi tratado como herói? Claro que não! E ainda tomou um esporro federal do pai da amiguinha que o meteu em toda essa confusão (ô gordofobia do demônio!!!). No final, cada macaco ficou literalmente no seu galho, com Godzilla voltando para o mar e Kong indo para a floresta dentro da Terra Oca. Aliás, essa história da Terra Oca me remete a uma lembrança ancestral. Quando eu era um reles estudante secundarista (hoje chamam de Ensino Médio), há um trilhão de anos, ficava às tardes com meus amigos fazendo trabalhos de escola na biblioteca de nosso bairro (pois é, não existia a internet e a gente fazia pesquisa em livros e enciclopédias, algo que as gerações atuais não conhecem muito). Terminadas as pesquisas, a gente ficava namorando os livros da biblioteca e a pérola “A Terra Oca” estava lá. E o Zé Preá (Raymond Bernard) que escreveu o livro tinha uma imaginação muito maior que a do roteirista de “Godzilla Vs. Kong”, pois haveria um buraco no pólo norte para onde a gente entrava para o interior da Terra, com um civilização vivendo nas paredes internas do planeta. Essas paredes internas eram iluminadas por um Sol interno, cuja luz dele era vista do lado de fora, sendo as auroras boreais, e os discos voadores na verdade não seriam vindos do espaço, mas sim dessa civilização que vivia dentro da Terra Oca. Eu e meus amigos, do alto de nossos quinze, dezesseis anos, ríamos daquele rosário de disparates escritos em “A Terra Oca”, onde o autor deve ter tomado um LSD muito legal. E qual a minha surpresa, décadas depois, de ver essa ideia sendo usada num filme de Godzilla e Kong. Não sei se o filme da década de 60 lançou mão dessa ideia (resenha em breve na Batata Espacial), mas que tudo isso é muita doideira, ah isso é.
Dessa forma, “Godzilla Vs. Kong” até não seria o Mico do Ano pelo filme em si, que só quer mostrar uma pancadaria entre um gorilão e um lagartão. O lagarto mecânico construído de forma despropositada pelo grande empresário do mal a gente pode até engolir e foi um bom argumento (melhor que Martha) para acabar com a briga entre os dois. Agora, Terra Oca realmente não dá, o que leva o filme definitivamente à categoria de Mico do Ano. Ainda, sempre eu sinto uma falta desgraçada do Ultraman quando vejo esses filmes.