Dando sequência às análises de episódios da primeira temporada de “The Orville”, falemos do quarto episódio, intitulado “Se as Estrelas Surgirem”. Vamos lançar mão de spoilers aqui.
Qual é o plot? Bortus tem problemas com seu companheiro (ele é muito ocupado com a nave e não consegue dar atenção a ele) e vai para seu turno mais cedo. A Orville detecta uma grande massa artificial à frente. Ela é uma gigantesca nave. O mapeamento diz que ela está à deriva e tem cerca de dois mil anos. Se ela continuar à deriva, ela vai se colidir com uma estrela. Não se sabe se há formas de vida, pois o casco não deixa fazer uma varredura. Eles vão tentar entrar na nave usando uma nave auxiliar. Um grupo avançado composto do capitão Ed, a primeira oficial Kelly, a Dra. Claire, o andróide Isaac e Alara vão para a nave que tem 790 quilômetros quadrados (do tamanho da cidade de Nova York). Há uma atmosfera respirável dentro dela. Eles entram na nave e encontram uma ponte passando por uma gigantesca estrutura muito funda. Ao passarem pela ponte e abrirem outra porta, eles se deparam com uma paisagem. É uma bionave com milhões de formas de vida. Eles não conseguem se comunicar com a Orville. Mas precisam falar com os habitantes do planeta simulado na nave, já que ela vai se colidir com o Sol.
O grupo se divide. Ed, Claire e Isaac encontram uma casa e tentam falar com os moradores que atiram neles. Isaac atordoa o homem armado e conversa com uma mulher em casa. Ele tenta explicar a situação da nave, mas a mulher nada entende. Ela parece não saber que está dentro de uma nave e diz que aceita a palavra de Doral. O filho da mulher também parece não saber que está dentro de uma nave. Já Kelly e Alara são perseguidas por um carro negro. Dois homens descem e pedem a identidade delas, empunhando suas armas. Depois que elas falam algumas gracinhas, Alara é alvejada e Kelly recebe uma coronhada, caindo desacordada.
O garoto da casa leva Ed, Claire e Isaac para fora da casa e diz que algumas pessoas questionam as escrituras. Ainda diz que Doral é o criador. O rapaz ainda fala de reformistas, que são pessoas que questionam a fé em Doral. Remelek é o guardião da palavra de Doral e não vi aceitar o argumento de que eles estão dentro de uma nave à deriva, que vai colidir com o Sol. Alara entra em contato com Ed e diz que levou um tiro, transmitindo um sinal localizador para a equipe de Ed resgatá-la.
Enquanto isso, a Orville recebe um pedido de socorro. Uma nave está sendo atacada pelos krills. Ela precisa ir embora, mas deixa uma bóia.
Numa cidade próxima, o tal Remelek acusa um reformista de heresia perante uma multidão fanática e o entrega para a massa enfurecida que o lincha. Kelly é levada para dentro de uma espécie de palácio para falar com Remelek. Ela pergunta por que ele incitou a população a matar o rapaz. Remelek diz que o povo faz o que deseja e ele deseja cumprir a palavra de Doral. Kelly diz a Remelek que, se ela não for libertada, vai haver encrenca. Remelek diz que ela ficará ali por um tempo.
Ed, Claire e Isaac, juntamente com o menino, encontram Alara e Claire presta os socorros médicos, recuperando a moça. Alara fala que Kelly foi levada por dois homens e o garoto diz que eles são agentes que devem tê-la levado para a cidade próxima. Ed ordena a Isaac retornar à nave auxiliar e pedir apoio para a Orville. Mas a Orville não está lá, somente a bóia de sinalização que avisou que a Orville atende a um pedido de socorro. No combate com os krills, o motor da Orville ficou avariado e será necessária uma hora para consertá-lo.
Kelly é espancada e interrogada, falando sobre o fato deles estarem dentro de uma grande nave. Ed e os outros chegam à cidade e entram no palácio depois de imobilizar o guarda. Remelek injeta em Kelly um soro que provoca muitas dores nos nervos. E só vai dar o antídoto se ela falar onde estão os companheiros dela. Ed invade a sala e Alara suspende Remelek perguntando o que ele faz com Kelly. Remelek entrega o soro e eles aplicam em Kelly. A moça para de sentir dores. Ed conta novamente a história da nave que vai em direção ao Sol, mas Remelek não quer abrir mão de seu sistema medieval de religião que manteve por muitos anos a ordem na sua sociedade. Ed decide ir embora e tonteia Remelek.
Os reformistas mostram a Ed e os outros uma porta parecida com a que eles atravessaram. Isaac a abre e eles estão novamente dentro da grande nave, atravessando mais uma ponte. Eles entram num elevador e apertam o botão de subir. O elevador chega a uma grande sala, que é a ponte de comando da nave. Isaac encontra uma gravação cuja voz é de um tal capitão Doral (interpretado por ninguém mais, ninguém menos que Liam Neeson). Doral diz que a nave foi projetada para longas viagens para alcançar outros planetas. Como o planeta natal de Doral ficava numa área muito erma do Universo, uma viagem a outro planeta demoraria mais de um século. Três gerações viveriam na bionave, sendo a terceira a que alcançaria o destino. Mas uma tempestade iônica avariou a nave, que ficou à deriva no espaço. A nave passaria a ser o lar da civilização de Doral. A civilização que vive na bionave esqueceu, com o passar dos séculos, que estava fazendo uma viagem e passou a considerar a bionave como seu mundo real. Alara pergunta como isso é possível e Kelly diz que nem a Terra conhece direito sua própria História. Isaac encontra uma forma de consertar a nave em 24 horas. A nave tem um teto retrátil para simular a noite. Ed ordena que Isaac abra o teto retrátil e a civilização vê a noite e as estrelas pela primeira vez.
A Orville chega. Ed promete a um reformista que vai consertar a nave e que eles terão seu próprio futuro. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episódio de The Orville, “Se as Estrelas Surgirem”? Em primeiro lugar, é um episódio que conta uma boa história de ficção científica. A ideia de termos uma nave onde várias gerações existem para fazer uma longa viagem nem é algo tão original assim, mas é uma alternativa inteligente para a questão de viagens que podem durar séculos, até milênios. Também foi muito pertinente a questão das gerações que viveram na nave ao longo dos séculos se esquecerem da missão e desenvolver uma sociedade. Como disse Kelly, nem as pessoas da Terra conhecem sua própria História. Hoje, precisamos fazer verdadeiros estudos arqueológicos para ter uma ideia de como algumas civilizações viviam há milênios.
Mas o grande escopo do episódio foi o desenvolvimento do Estado Teocrático dentro da bionave onde uma divindade chamada Doral era adorada. Lembremos que Doral era o capitão da nave e foi tomado como divindade pelas gerações futuras. O grande problema é que esse Estado Teocrático se aproximou muito do que víamos na Idade Media, onde uma religião com práticas inquisitoriais controlavam todos pelo medo e pela tortura, dentro de um espírito de intolerância. Lembrando sempre que a intolerância religiosa ainda é um tema muito atual, decidindo até o rumo de eleições e práticas de líderes mundiais. Ou seja, uma discussão altamente pertinente e reflexiva que “The Orvlle” traz.
Dessa forma, “Se as Estrelas Surgirem” é mais um bom episódio de “The Orville”, onde temos uma ficção científica que, se não é muito original, traz uma solução pertinente para a questão de longas viagens pelo espaço e ainda discute o tema atualíssimo da intolerância religiosa. Vale muito a visita.