Batata Literária – Fundo do Mar

Glub, Glub, Glub!

Lá vêm os peixinhos!

Eles passam, todos rapidinhos!

Zás! E lá vai o cardume!

Desço cada vez mais

O azul vai se tornando mais escuro

A luz do Sol diminui

O que será que encontrarei lá embaixo?

 

Que mundo estranho!

Mortal para os navegadores de antanho!

Paraíso de antigos monstros marinhos

Hoje, campo de pesquisa dos biólogos

Ih! Olha lá! Um polvo!

Pintando o mar com o seu espesso nanquim

Seus tentáculos são véus, pode se dizer assim

Causando profunda impressão em mim

 

Mas, o que realmente me aterroriza

É o grande tubarão que desliza

Na imensidão de salmoura

O bichão parece estar à toa

Mas ele é um predador perfeito

Caçando sangue alheio

Desde tempos pré-históricos

Época dos dinossauros heroicos

 

Chego, finalmente, lá embaixo

A pressão da água é descomunal

E não há qualquer luz, afinal

Um breu total

Mas, eis que surgem luzes

Tais como vaga-lumes

São seres marinhos de luz própria

A natureza tem estranhos costumes

 

Batata Séries – Jornada nas Estrelas, A Série Clássica. Um Gosto de Armageddon. Guerra Limpa.

Apresentação do episódio.
A seção Batata Séries está de volta e hoje vamos falar do vigésimo-terceiro episódio da primeira temporada da série clássica de Jornada nas Estrelas. “Um Gosto de Armageddon” fala de leis e dos horrores da guerra, novamente abordando (de forma velada) a questão da quebra da Primeiras o Embaixador Fox insiste em ir ao planeta para estabelecer relações diplomáticas. Como o Embaixador tem mais autoridade que o capitão nessa situação, a Enterprise se dirige ao planeta e estabelece órbita padrão. Ao entrar em contato com os habitantes, o capitão fica sabendo que Eminiar VII está em guerra com o planeta vizinho Vendikar, mas não se presencia qualquer sinal de guerra. Tudo está no lugar, não há destruição e mortes. Aos poucos, Kirk e seus comandados descobrem que esta é uma guerra limpa, onde ataques simulados provocam uma espécie de destruição virtual onde mortos são contabilizados. Quem morre nesses ataques simulados precisa se apresentar voluntariamente às câmaras de desintegração. Durante a estadia do capitão no planeta, há um ataque bem onde ele está e a própria Enterprise foi destruída. Kirk agora terá que convencer os habitantes do planeta Eminiar VII a se desfazer dessa visão peculiar de guerra usando meios, digamos, pouco ortodoxos para isso (se é que há alguma ortodoxia para tal ação).
Kirk e Spock, ao bom estilo “Diplomacia de Cowboy”

Esse é um típico episódio de quebra da Primeira Diretriz, como foi dito acima. Curiosamente, ela nem é citada em todo o desenrolar do episódio. Sua única lembrança é o questionamento de Kirk (justamente ele, acusado de violar a Primeira Diretriz seguidas vezes) contra as ordens do Embaixador Fox de se aproximar de Eminiar VII mesmo com uma mensagem do planeta proibindo estritamente essa aproximação. No mais, quando a Enterprise é posta em perigo, até Kirk chuta a Primeira Diretriz para escanteio, usando a típica “diplomacia de cowboy”, que Spock mencionará décadas mais tarde no episódio “Unification” de Nova Geração. E aí, tome aquelas brigas tacanhas que a gente vê na série clássica, e que não eram exclusividade dela na década de 60 (eu assistia a “Viagem Ao Fundo Do Mar” quando era criança e a gente via uma coisa parecida por lá). De qualquer forma, elas sempre são muito bem vindas por serem extremamente divertidas.

Um embaixador a princípio ridicularizado, mas depois útil

Uma coisa que chama muito a atenção é a definição de guerra com a qual o episódio trabalha, onde ela é vista como uma coisa selvagem, bárbara e destrutiva, não podendo durar muito tempo, e obrigando as partes em conflito a estabelecer negociações. Com a visão de “Guerra Limpa” de Eminiar VII, o conflito passou a se arrastar por 500 anos, mas não houve destruição da civilização e da cultura, desde que a cota de mortos fosse cumprida. Caso não houvesse essa autoimolação, o acordo seria violado e os horrores da guerra voltariam. Assim, Kirk, num risco calculado, toma a posição do “bárbaro” (ao seu melhor estilo de chutar o pau da barraca) e faz de tudo para que os dois planetas mergulhem numa guerra de verdade. Ele acredita que, em tal situação, as partes em litígio preferirão discutir a paz. Mas será que isso mesmo vai acontecer? Assim, a grande moral da história é “não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje” ou, em algo mais próximo à nossa cultura, “vamos parar de empurrar os problemas com a barriga”.

McCoy e Scott ponderando o que fazer da nave para solucionar a crise

O episódio tem uma tiradas inesquecíveis, como as de Spock. Primeiro, o Vulcano, dentro da prisão, usa sua sonda mental para sugestionar à distância o guarda do lado de fora. Mais uma vez vemos Nimoy com seu gestual lento e calculado, usando magnificamente a ponta dos dedos contra a porta e a parede, de uma forma muito suave. Num segundo momento, ele fala para um guarda do planeta que há uma criatura artrópode em seu ombro. Quando o coitado olha para seu corpo, Spock mete a sua mãozona com contornos de aranha no ombro do guarda, provocando o desmaio. Há, ainda, um terceiro momento, onde Spock dizia que entendia as atitudes de Eminiar VII e Vendikar, mas que não concordava com isso (ou seja, entender nem sempre significa concordar). O diálogo do final do episódio, onde havia a reflexão de tudo o que havia acontecido, foi genial. Ao Spock ficar impressionado com o risco que Kirk assumiu, ele disse ao seu capitão: “O senhor quase me fez acreditar em sorte”, ao que Kirk retrucou “E o senhor quase me fez acreditar em milagres”, reconhecendo a contribuição de Spock na crise, mas também não perdendo a oportunidade de dar uma zoadinha em seu lógico Primeiro Oficial.

Um gabinete de guerra virtual…

Outro detalhe curioso foi a figura do Embaixador Fox. Tomado na maioria do episódio como uma espécie de idiota que não conseguia enxergar as artimanhas dos habitantes de Eminiar VII, sendo um peixe fora d’água em situações de guerra e de crise extrema, o Embaixador se revelou extremamente útil ao fim do episódio, quando ofereceu seus serviços para estabelecer relações diplomáticas e de paz entre os planetas litigantes. Ou seja, o episódio acabou tendo uma diplomacia de cowboy, ma non troppo.

E uma destruição provocada por um capitão bárbaro…

Assim, “Um Gosto de Armageddon” é um típico episódio de Jornada nas Estrelas, a Série Clássica. Uma inteligente reflexão, acima de tudo, chutes na Primeira Diretriz, Kirk sendo Kirk (mas também Kirk sendo hippie ao defender a paz), lutas tacanhas e Spock tocando o horror com seus dedos longilíneos e delgados, tudo isso regado a uma boa dose de humor muito inteligente. Como amo essa série!

Batata Movies – Jogador Número 1. Easter Eggs Em Tempos de Páscoa.

Cartaz do Filme

Estreou, no último dia 29 de março, “Jogador Número 1”, dirigido por Steven Spielberg. Baseado na obra de Ernst Kline, esse filme somente poderia estrear numa quinta-feira santa, pois ele é um Easter Egg por excelência, é o grande filme das referências de todos os tempos, um prato cheio para a cultura nerd, pop e geek.

Wade, fugindo do mundo real com o Oasis…

Mas, no que consiste a história do filme? Estamos no ano de 2045, onde as pessoas mais pobres vivem em favelas construídas com trailers e andaimes amontoados. Tudo é distópico, feio e sujo. Mas há uma luz no fim do túnel: o grande programa de realidade virtual Oasis, uma espécie de videogame onde as pessoas se relacionam com outras através de seus avatares. Wade Watts (interpretado por Tye Sheridan) é uma dessas pessoas, tendo uma vida simultaneamente idílica e desafiadora naquele ambiente virtual. Mas, um belo dia, é anunciada a morte do criador do Oasis, James Halliday (interpretado por Mark Rylance), o grande responsável por esse mundo irreal em que todos se escondem de suas vidinhas reais miseráveis. Mas Halliday deixa uma pequena mensagem gravada, onde desafia todas as pessoas a procurarem três chaves escondidas no Oasis, que abrirão uma espécie de portal que dará todo o controle desse mundo virtual (e muita riqueza) ao vencedor. Todos começam a procura ensandecida pelas chaves, inclusive a poderosa empresa IOI, liderada por Sorrento (interpretado pelo “Diretor Krennic” Ben Mendelsohn). Assim, Wade e seus amigos reais/virtuais irão lutar contra Sorrento e toda a sua ganância pelo controle do Oasis.

Que tal uma voltinha de De Lorean?

Eu disse que o filme é uma espécie de Easter Egg por excelência, já que a película está apinhada de elementos da cultura pop, nerd e geek. Podemos ver, por exemplo, o De Lorean de “De Volta Para o Futuro”, o batmóvel da série “Batman” da década de 60 com o Adam West, a motocicleta do Kaneda de “Akira”, o King Kong como obstáculo intransponível numa corrida cheia de automóveis, e muitas outras referências, inclusive musicais, das décadas de 70 e 80, como “1984”, de Van Halen, ou músicas do Blondie e de Cindy Lauper. Só isso já faz o filme ser um deleite para qualquer marmanjo pré-cinquentão. No mais, parece que temos um imenso videogame rodando um jogo inspirado em RPG, onde algumas questões como o fato de ser melhor você não conhecer pessoalmente o dono do avatar com o qual você interage, são discutidas. O filme também não deixa de ter o seu quê de ação e diversão juvenil, com situações hilárias provocadas pela interação entre o mundo real e virtual.

O avatar de Wade, Parzival, encontra Halliday no mundo virtual…

Uma boa presença no elenco foi a de Simon Pegg, onde ele interpretou Ogden Morrow, um antigo amigo de Halliday com quem acabou tendo alguns problemas de relacionamento. Aliás, esse é um detalhe bastante interessante do filme, pois para resolver o enigma das três chaves, Wade tinha que estudar detalhes da vida pessoal de Halliday, onde a vida do criador do Oasis ocupava uma parte central do RPG eletrônico, numa mostra do real invadindo o virtual (geralmente vemos o oposto).

Spielberg em ação!!!

Assim, “Jogador Número 1” é mais um divertido filme de Spielberg, que busca fazer projeções para o futuro. Só não sei dizer ainda se essas projeções são utópicas ou distópicas, pois há argumentos suficientes no filme para validar as duas hipóteses. De qualquer forma, o filme é um bom entretenimento e vale a pena dar uma conferida.

 

Batata Mangá – Pluto. Matando Robôs.

Capa do mangá com Gesicht

A Editora Panini (Planet Mangá) fez um interessante lançamento para quem gosta de mangás de Sci Fi. “Pluto”, escrito por Naoki Urasawa, é livremente inspirado em “O Maior Robô da Terra” da série “Astroboy” de Osamu Tezuka, e é uma história sobre robôs. Já conhecemos bom a literatura de robôs de Isaac Asimov aqui no Ocidente. E agora, um mangá volta a abordar esse Universo, com uma pegada, digamos, mais policial.

Lembram do Astroboy???

É uma época no futuro onde robôs e humanos coexistem. Haverá toda uma série de assassinatos cujas vítimas serão robôs ou humanos simpatizantes de direitos de robôs. A primeira vítima é Mont Blanc, uma espécie de herói local da Suíça. A segunda vítima é Bernard Lanke, membro da Sociedade Protetora dos Direitos dos Robôs. Em seus corpos, chifres são improvisados em suas cabeças pelo assassino. Quem conduzirá as investigações dos homicídios será Gesicht, um inspetor da Europol, que também é um robô, sendo um dos mais desenvolvidos do planeta. Logo, mais robôs com grande potencial são assassinados e Gesicht percebe que ele também está entre as potenciais vítimas. Ao fim do primeiro número, ele encontra Atom, um jovem garoto robô que era o personagem principal da saga de Tezuka.

Vítimas com chifres…

Com o primeiro volume dessa história lançado, a impressão que se dá é a de que teremos um grande mangá pela frente. O único problema, inerente a todos os mangás aqui no Brasil, e extremamente grave, é a continuidade da disponibilização dessa série nas bancas e livrarias, já que a entrega dos volumes é altamente instável. A gente pode esperar meses por aqui por um novo número. E quando ele chega às nossas mãos, já nos esquecemos da história do volume anterior há muito tempo, o que faz com que a leitura de um mangá se torne por aqui um grande exercício de paciência. Mas, após esse pequeno desabafo, voltemos a “Pluto”. Existe uma coisa que chama a atenção logo de cara: a história não se passa no Japão e sim na Europa, onde Gesicht se encontra em solo alemão. Ainda, vemos algumas insinuações de Asimov na história, como em leis onde robôs não devem ferir seres humanos (tal como nas Três Leis da Robótica de Asimov) e situações onde robôs são amados como heróis, como no caso de Mont Blanc, aqui já contrastando com a visão de preconceito total que os humanos tinham com os robôs nas histórias de Asimov. Ainda assim, os assassinatos em série de robôs voltam a aproximar a história do Universo Asimoviano, sobretudo quando nos lembramos de seu romance policial “Caça aos Robôs”. É curioso também perceber nesse primeiro número, a presença de um robô que foi enclausurado por ter matado uma pessoa, robô esse que recebe a visita de Gesicht para tentar algum avanço nas investigações. Outro detalhe intrigante é uma tal de 39ª Guerra na Ásia Central, onde ela apenas é citada, mas não foi bem explicada ainda. Espera-se que vejamos isso nos próximos números. No mais, há também outro elemento: o de como alguns robôs procuram ter uma vida, digamos, mais humana. Gesicht, por exemplo, tenta planejar uma viagem com sua esposa, também robô, para se curar de uma suposta fadiga provocada pelo excesso de trabalho, assim como temos um casal de robôs que adota crianças, dada a sua impossibilidade de terem filhos.

Comunicando à esposa robô a morte de seu marido robô…

Assim, “Pluto” é um instigante mangá que vale a pena a atenção do leitor, pois ele combina romance policial com ficção científica, tudo isso com um tempero de Tezuka, pois Atom, o conhecido Astroboy, foi incluído na trama bem ao final do mangá. Lamento pelos spoilers, mas acho que eles foram um bom cartão de visitas para chamar a atenção para os volumes vindouros. Que eles não demorem muito para chegar às nossas mãos.

Um robô veterano de guerra que quer ser pianista…

Batata Literária – Cicatrizes

São marcas

Mais conhecidas na pele

Mas que também são da alma

E ficam a vida inteira

Umas curam

Mas outras não

Elas sangram, sangram, sangram

Você se esvai nelas

 

As cicatrizes te mudam

Você nunca mais é o mesmo

Tornam-te mais experiente

Você aprende com o sofrimento

Torna-te mais arredio

Mais amargo

Menos otimista

Mais pessimista

 

As cicatrizes doem

Coçam, te incomodam

Você vive com elas

E elas sempre te  lembram que existem

São uma coceira que você não pode coçar

Uma dor que não pode diminuir

Elas te envenenam

Elas te subjugam

 

Pelo menos, todos têm cicatrizes

Cada um carrega sua dor

Isso é que dá a chance

De nós respeitarmos a dor do outro

Montar os alicerces da vida

Usando como base as fundações da tristeza

Fundações fortes e cada vez mais fortes

Se fizermos da tristeza uma lição para a vida

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 21)

Spock da era J. J. Abrams

Após o sexto filme,  mais uma vez ficou uma sensação de encerramento de “Jornada nas Estrelas” por Nimoy. Mas ele foi convidado a participar do sétimo filme, onde Kirk morreria. Ao ler o roteiro, Nimoy percebeu que Spock apenas teria uma aparição rápida, sem qualquer função na história. Ao discutir isso com o produtor Rick Berman, ele simplesmente alegou que não tinha tempo para mexer no roteiro. Nimoy, então, declinou do convite. De Forest Kelley se recusou a trabalhar no filme, pois Nimoy não trabalharia. E o intérprete do Dr. McCoy ainda falou que teve uma boa despedida em “Jornada nas Estrelas 6”. Para que estragar isso?

Passando o bastão para Zachary Quinto…

Nimoy não se arrependeu de sua decisão, desejou boa sorte à sua equipe de produção e seguiu sua vida adiante. Participou de mais séries de tv, interpretando e dirigindo. Nimoy também fez incursões na fotografia (onde fez um belo ensaio fotográfico feminino inspirado em “Shekkinah”, a versão feminina de Deus na tradição judaica) e na poesia. Nimoy manteve uma vida muito ativa e produtiva.

As orelhas pontudas sempre fizeram parte de sua imagem…

Em 2009, foi chamado para novamente interpretar Spock na versão de J.J. Abrams de “Jornada nas Estrelas”, agora na figura de um embaixador, como seu pai o fora (na verdade, Spock já tinha sido embaixador no episódio “Unifcação”). Em abril de 2010, Nimoy anunciou que não faria mais o papel de Spock, passando o bastão para Zachary Quinto. Nimoy ainda participou com sua voz em alguns filmes, como “Transformers”, documentários científicos, séries de tv como “The Big Bang Theory”, onde ele dá voz a um “action figure” de Spock e até jogos de vídeo game. Nimoy ainda faria uma derradeira interpretação de Spock, numa rápida participação em “Jornada nas Estrelas, Além da Escuridão”, de J. J. Abrams. Em fevereiro de 2014, foi diagnosticada sua doença pulmonar obstrutiva crônica, provocada pelo cigarro. Depois disso, ele se internou em hospitais várias vezes, até se internar definitivamente, no dia 19 de fevereiro de 2015, no UCLA Medical Center, para aliviar suas dores.

Seu conhecido livro de fotografias…

Leonard Nimoy morreu no dia 27 de fevereiro de 2015, com a idade de 83 anos, em sua casa, de nome Bel Air. Seu corpo foi cremado a 1 de março, com a presença de trezentas pessoas, dentre elas, seus familiares, colegas da série clássica, as filhas de Shatner, J. J. Abrams, Zachary Quinto e Chris Pine. Ele deixou esposa, dois filhos, seis netos, um bisneto e seu irmão Melvin.

Sua última aparição como Spock…

E assim, chegamos à fronteira final. Quero só me desculpar a todos os leitores por ter escrito todo esse monte de artigos sobre Leonard Nimoy e Spock. Mas houve alguns motivos para isso. Um motivo foi o fato de que quis mostrar que Leonard Nimoy era um artista muito talentoso, não ficando restrito a somente o papel do vulcano Spock. Ele aceitou vários desafios em sua carreira, como por exemplo, sua carreira no teatro, na tv e no cinema, seja como ator, seja como diretor.

Um inesquecível cavanhaque…

Sua preocupação com a cultura judaica, da qual faz parte, é outro elemento marcante de sua versatilidade como artista, isso sem falar de suas incursões na fotografia e na poesia. Em segundo lugar, aqui é um espaço para se escrever sobre aquilo que se gosta. E, confesso que gosto muito desse personagem vulcano de orelhas pontudas. E tenho certeza que ainda há muita gente por aí que gosta dele, dentre as gerações mais antigas. Essa coluna é chamada de Batata Antiqualhas  justamente para falar de cultura pop-nerd mais antiga, para os mais velhos matarem a saudade e os mais novos a conhecerem um pouco melhor. Impossível não falar da morte de Nimoy nestas circunstâncias. Fui até convidado para uma palestra organizada pelo hoje extinto site Abacaxi Voador para isso. Mas aí, soube da morte de minha mãe na hora em que ia para o evento. E toda a pesquisa tinha ido por água abaixo. Eu tive duas fortes dores num intervalo de três semanas. E aí, decidi expurgá-las escrevendo. Como uma espécie de “articulista” de “Jornada nas Estrelas” no Abacaxi, não poderia deixar que essa pesquisa fosse em vão. E aí vieram os artigos, sobre um personagem com o qual todos nós nos identificamos. Spock é o “outsider” que é mal compreendido e sofre perseguições e preconceitos, aquele que tem sentimentos mas deve escondê-los para não se tornar vulnerável, tem suas contradições e dramas internos, a necessidade de pensar de forma mais serena e racional para escapar das más situações. Ora bolas, quem nunca passou por uma dessas situações na vida? Spock não é apenas um personagem de uma série de ficção científica de tv, mas um verdadeiro espelho da condição humana. Daí a sua universalidade e popularidade. Sua seriedade, humor, cinismo, alegrias e tristezas jamais serão esquecidos e residem em nossos corações para todo o sempre, nos ajudando a encarar esse mundo cada vez mais difícil de se viver, onde a desumanidade simplesmente impera. E, segundo seu amigo Kirk, durante o funeral de Spock em “A Ira de Khan”, “…de todas as almas que eu conheci a de meu amigo foi a mais… humana”. Shatner dizia isso com a voz visivelmente embargada sentindo a morte do personagem de forma bem sincera. Esse é o sentimento que os fãs de “Jornada nas Estrelas” ainda possuem, mesmo três anos depois da morte de Leonard Nimoy. Mas fica o legado de Spock. Esse sim, nunca morre. É só colocar o DVD no aparelho e ele está lá de volta, com todos os seus ensinamentos para nossas vidas, o que alivia um pouco a dor provocada pela ausência física. Peço mais uma vez desculpas em terminar essas linhas da forma mais óbvia, mas esse é o principal ensinamento desse personagem tão marcante e importante, sendo uma eterna mensagem otimista (e precisamos de muito otimismo hoje em dia): “Vida longa e próspera!”.

Vida longa e próspera, sempre!!!