As conversas sobre o quinto filme de “Jornada nas Estrelas” surgiram ainda durante as filmagens de “A Volta Para Casa”, quando Shatner confidenciou a Nimoy que queria dirigir o próximo longa. Nimoy o encorajou a fazer isso, principalmente enquanto todos estivessem empolgados com os sucessos dos longas de “Jornada nas Estrelas”. Mas o processo de produção do filme foi tumultuado. As negociações com a Paramount não foram assim tão triviais e houve uma greve do sindicato dos roteiristas para complicar as coisas. A história também não ajudava: um grupo de fanáticos religiosos sequestrando a Enterprise para se encontrar com Deus. Nimoy disse a Shatner que o público não ia engolir esse tal encontro com Deus, além dele ser comparado com “The God Thing”, que foi a primeira sugestão de Roddenberry para “Jornada nas Estrelas, o Filme”, totalmente descartada pela Paramount. Mas Shatner só falava para Nimoy confiar nele que as coisas dariam certo. Depois de muita insistência, Shatner foi convencido que seria mais aceitável uma história em que a Enterprise se encontrava com um alienígena que dizia ser Deus, ao invés de se encontrar com Deus em pessoa. A greve dos roteiristas adiou o início da confecção do projeto em quase um ano. Nicholas Meyer não estava disponível e o roteiro ficou a cargo de Bennett e David Loughery (que escrevera o roteiro de “Flashdance”). Nimoy não gostou nem um pouco do esboço do roteiro, onde a tripulação da Enterprise (inclusive Spock), trai Kirk e apoia o líder religioso que sequestra a nave, o tal do irmão desaparecido de Spock, Sybok. A questão da traição de Spock e McCoy mais a falta de uma função específica para Spock na história quase fizeram com que Nimoy desistisse do projeto. A cena da “dor” de Spock revelada (o desprezo do pai por ele parecer humano no dia de seu nascimento) também inquietou Nimoy. O roteiro foi reescrito. Spock não trai Kirk, mas também não consegue atirar em Sybok no momento certo. Não foi uma solução que agradou Nimoy de todo. Já a cena do nascimento de Spock foi mantida sem alterações, para desgosto ainda maior do nosso ator.
O filme foi um fracasso de bilheteria e Nimoy atribui a culpa disso principalmente ao fraco roteiro, isentando Shatner de qualquer culpa no que se refere à direção pois, como diretor, Nimoy tinha plena consciência de todas as dificuldades e prazos envolvidos a que um diretor está submetido.
As filmagens tiveram algumas cenas de ação que incluíam um voo de cabeça para baixo de Spock com um par de botas antigravitacionais. Os cavalos, tão amados por Shatner, também não faltaram. As filmagens terminaram em dezembro de 1988.
Em 1989, outro projeto interessante foi oferecido a Nimoy, sobre a história de um judeu húngaro, Mel Mermelstein, que sobreviveu a Auschwitz e lá perdeu toda a sua família. O pai, antes de morrer, o fez jurar que, caso Mel sobrevivesse, ele diria ao mundo todo o sofrimento e crime que os judeus passaram no campo de concentração e não puderam falar porque morreram. Mel migrou para os Estados Unidos e fez sua vida, iniciando negócios próprios, casando-se e tendo filhos. Mas ele não se esqueceu da promessa feita ao pai e inaugurou um museu do holocausto, além de fazer palestras em escolas se lembrando de sua própria experiência em Auschwitz.
Um dia, Mel recebeu uma carta de um grupo chamado Instituto de Revisão Histórica, oferecendo-o cinquenta mil dólares se ele provasse que os judeus morreram nos campos de concentração por obra dos alemães. Eles defendiam a ideia de que os nazistas não haviam matado os judeus e que eram os judeus que morriam por causa do tifo e não de câmaras de gás, que eles chamavam de “salas para tirar piolhos”. Mel levou a carta para organizações judaicas que o aconselharam a simplesmente ignorar o tal desafio que era, na verdade, de um grupo neonazista que queria ridicularizá-lo. Mas Mel queria ir adiante com a coisa e pensou em processar o tal Instituto. Ao consultar um advogado, ele ficou sabendo que não tinha como fazer isso. Entretanto, um procurador, Bill Cox, alegou que o oferecimento de cinquenta mil dólares pela prova de que os nazistas mataram os judeus configurava um contrato. Caso Mel aceitasse, os neonazistas teriam que dar uma resposta em trinta dias, e se não fizessem isso Mel poderia alegar quebra de contrato e exigir na justiça o reconhecimento da existência do holocausto. Tudo aconteceu como foi descrito e Mel conseguiu que uma corte norte-americana reconhecesse a existência do holocausto, honrando a promessa feita a seu pai, não sem sofrer muitas ameaças dos neonazistas. Nimoy ficou encantado com a história e uniu forças para produzir “Never Forget”, onde ele interpretaria o papel de Mel e o próprio faria participações especiais com sua filha. Foi um projeto do qual Nimoy muito se orgulhou de fazer, embora ele lembre que muitos grupos neonazistas ainda divulgassem em textos na época a história da alta mortalidade de judeus por epidemias de tifo, como se os nazistas não tivessem praticado o genocídio, e tais textos chegavam até a circular em bibliotecas de universidades americanas.
No próximo artigo, vamos falar de “Jornada nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida”. Até lá!