Batata Movies – De Volta. Em Busca De Um Passado Perdido.

                 Cartaz do Filme

Quando a gente fala da atriz iraniana Golshifteh Farahani, a gente baba. E muito, em virtude da beleza estonteante dessa atriz, que consegue expressar toda a sua beleza até quando lhe colocam uma maquiagem para lá de exótica como vimos em “Piratas do Caribe, A Vingança de Salazar”.  Mas é legal ver Farahani não em Hollywood, onde a cultura WASP a coloca como um bibelô para brancos desbotados verem, e sim em sua verdadeira área de atuação, que é o cinema lá do Oriente Médio, onde essa maravilhosa e bela atriz desabrocha em toda a sua plenitude. Só é de se lamentar que tais filmes às vezes demorem muito para chegar aqui. É o caso de “De Volta”, realizado no já longínquo ano de 2015 e que somente chega por aqui três anos depois.

                                   Uma moça em busca de identidade…

Vemos a história de Nada (interpretada por Farahani), uma moça que nasceu no Líbano e que tem apenas vagas memórias de sua infância. Ela saiu de seu país, ficando fora por muitos anos. Agora ela está de volta ao Líbano e a seu vilarejo de origem, onde a antiga casa da família está em ruínas. Nada passa a viver lá dentro e a reconstruir de alguma forma a casa, para espanto da vizinhança local. Mas esse não é apenas o único problema ali. Seu avô desapareceu misteriosamente e as vagas memórias de sua infância apontam que ele foi espancado pelos vizinhos. Eram os tempos difíceis da guerra civil e ela acreditava piamente que seu avô tinha sido injustamente assassinado e enterrado no quintal da própria casa. Mas, seria isso mesmo?

                              Irmão traz o conforto do seio familiar..

Esse é basicamente um filme que aborda a temática da memória e dos traumas do passado. Nada tinha abandonado o seu país e um passado de muitas turbulências, onde tudo havia ficado muito turvo em suas recordações. Retornar ao seu país, recuperar sua casa e o nome de sua família soavam como uma obrigação de ajustar as contas com seu passado e sua identidade. Mas nossa protagonista parece que vai ter a tarefa inglória de fazer tudo isso sozinha, já que nem o seu irmão compactua com os valores familiares exaltados pela moça e há muito perdidos.

Apesar de um elenco variado, esse é um filme que gira totalmente em torno de Farahani. A atriz consegue expressar desde uma angústia latente, provocada pelo inconformismo de ter o nome de sua família jogado ao lixo, até momentos bem íntimos e ternos com seu irmão, que a colocam um pouco de volta ao conforto do seio familiar. Mesmo com o semblante cansado e sofrido de sua personagem, Farahani continua arrancando suspiros com sua beleza magistral.

O único problema da película é que ela peca por seu ritmo muito lento e arrastado, tornando a coisa um pouco enfadonha e que dispersa nossa atenção. De qualquer forma, essa não é uma película em que você pode esperar ação. Talvez essa estivesse um pouco  nas muitas memórias em flash-back da personagem Nada, colocadas de forma suficientemente coerente ao longo da película.

                                  Exilada em sua própria cidade…

Assim, se “De Volta” é um filme de ritmo lento, ainda assim ele vale a pena ser visto, pois trata da questão do resgate da memória e da identidade, além de contar com a presença estonteante de Farahani, uma das mais belas atrizes do cinema mundial contemporâneo. Exaltemos a diva no seu melhor campo de atuação, que é o cinema do Oriente Médio.

 

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – Todo O Dinheiro Do Mundo. O Surreal Real.

                     Cartaz do Filme

Mais um filme indicado ao Oscar. Ridley Scott está de volta à direção em “Todo o Dinheiro do Mundo”. Esse filme ficou marcado por uma polêmica troca de atores no último momento, onde Kevin Spacey foi substituído por Christopher Plummer depois que o primeiro foi denunciado por assédio sexual. Escândalos à parte, parece que a substituição rendeu bons frutos, pois Plummer foi indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante. Foi a indicação dada ao ator de idade mais avançada, pois Plummer está no alto de seus 88 anos. Mas o filme tem outros atrativos além dessas pequenas curiosidades. Temos aqui uma história real, com alguns floreios, como foi denunciado no próprio final da película.

                                     Sai Spacey…

E podemos dizer que tal história real beirou o surreal, pois fala do sequestro do jovem de 16 anos John Paul Getty III, neto de John Paul Getty, um dos homens mais ricos da História. O problema é que o magnata (interpretado por Plummer) não queria pagar o resgate, e incumbiu Fletcher Chase (interpretado por Mark Wahlberg) de conseguir efetuar o resgate a custo zero, para o desespero da mãe do jovem, Gail Harris (muito bem interpretada por Michelle Williams), que já havia se separado do marido e não tinha um tostão sequer. A partir daí, o filme mostra todo o processo do cativeiro, das negociações e do resgate do menino, onde tivemos alguns momentos um tanto quanto agonizantes, principalmente depois que sabemos que eles fazem parte de uma história real.

                                                … entra Plummer…

O filme tem dois trunfos principais: Plummer e Williams. O primeiro deu conta do recado, ao substituir Spacey de última hora. Também pudera, seu talento é tão inegável que, mesmo fazendo um filme às pressas, a indicação da Academia veio. O segundo grande trunfo foi Williams que, cá para nós, merecia pelo menos uma indicação a melhor atriz. Atriz jovem, ela parecia muitos anos envelhecida por interpretar muito bem uma mãe que padecia do desespero de ter seu filho no cativeiro. A atuação de Wahlberg também foi boa, embora ele tenha servido mais de escada para Williams, onde teve ótimos momentos contracenando com ela, assim como Plummer, onde ele teve uma atitude, digamos, mais independente com o magnata ao fim da película. Mas não soltemos spoilers por aqui.

                          Williams e Wahlberg em boas atuações…

Um detalhe interessante é a pão-durice do vovô Getty. Você fica o tempo todo achando que ele é um velho inescrupuloso e sem caráter, por se negar a pagar o resgate do neto. Mas essa atitude dele é justificada mais ao fim da película, embora não possamos chamá-la exatamente de justificativa.

                          Um jovem sequestrado…

Assim, “Todo o Dinheiro do Mundo” se configura em mais uma boa película de Ridley Scott (não tão boa quanto “Blade Runner”, mas certamente bem melhor que “Prometheus”), que tem boas atuações de seus atores protagonistas e que ainda rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante de última hora, com o detalhe de que sempre é muito bom ver Plummer atuando, principalmente quando sabemos que ele já está em idade bem avançada. Vale a pena prestigiar o trabalho de atores tão bem gabaritados.

https://www.youtube.com/watch?v=kxMvG3NuyZI

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – O Insulto. Sem Escolher Um Lado.

                  Cartaz do Filme

Dando sequência aos filmes indicados ao Oscar, falemos hoje da película libanesa “O Insulto”, que concorre à estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. Podemos dizer que, se a premiação primar pela qualidade e não pelos parâmetros de indústria, essa película é favoritíssima. Definitivamente, esse é um dos melhores filmes do ano até agora, sem qualquer tipo de exagero.

               Uma sacada semeará a discórdia…

O filme mostra para nós como uma pequena questão individual afeta todo um coletivo. Estamos no Líbano e um mecânico de automóveis, Tony Hanna (interpretado por Adel Karam), vive como um devotado cristão, numa região onde política e religião muito se misturam. Um belo dia, ele recebe a visita de um palestino, Yasser Salameh (interpretado por Kamel El Basha), que trabalha para o governo consertando irregularidades em edifícios. Yasser tinha sido molhado pela calha que estava construída irregularmente na sacada do apartamento de Tony, que se recusou que Yasser entrasse em seu apartamento. Yasser, então, tentou resolver o problema pelo lado de fora do prédio (o apartamento de Tony estava no primeiro andar), mas Tony quebrou toda a nova calha que Yasser tinha colocado. O palestino, revoltado, xingou Tony, que exigiu um pedido de desculpas que o palestino não deu. O patrão de Yasser tentou contornar a situação, mas Tony estava irredutível. Quando finalmente o patrão de Yasser o convenceu de ir à oficina de Tony pedir desculpas, este começou a fazer um discurso de ódio contra os palestinos, o que lhe custou um soco na barriga dado por Yasser. Esse seria o estopim de uma batalha judicial que levou todo o Líbano à beira de uma guerra civil.

                                                      Um insulto…

Antes de mais nada, a gente precisa explicar por alto a geopolítica local. Com a invasão dos judeus à Palestina, fundando posteriormente o Estado de Israel, muitos palestinos se refugiaram no Líbano, o que levou a muitas tensões com os cristãos do país. Ficaram famosas as imagens, durante a década de 80, de Beirute, a capital do Líbano, sendo sistematicamente destruída pela guerra entre cristãos e muçulmanos. Depois de algum tempo, esses dois povos acabaram com a guerra, mas a tensão entre eles sempre viveu subliminarmente dentro do Líbano. Os libaneses que davam emprego aos palestinos eram acusados de traidores da nação, pois mantinham os palestinos em solo libanês. Havia, também, toda uma reclamação por parte dos cristãos de que a mídia internacional vitimizava demais os palestinos e não reconhecia as atrocidades feitas por eles no Líbano em guerras passadas.

                                    … e a coisa ficou muito difícil…

Com esse pequeno histórico, a gente pode compreender como uma pequena rusga doméstica e privada entre um libanês cristão e um palestino tomou tamanhas proporções. Infelizmente os spoilers me evitam de entrar em maiores detalhes, mas posso dizer aqui que a questão judicial entre os dois tomou caminhos tortuosos, com plot twists (ou a popular reviravolta) a todo instante. Esse, também, é um daqueles filmes para quem gosta de julgamentos e tribunais, onde havia um detalhe muito peculiar que ligava os advogados de acusação e de defesa.

Um detalhe chama muito a atenção no filme. Apesar de estarem politicamente em pólos totalmente antagônicos, há uma característica em comum entre Tony e Yasser: os dois são homens totalmente honrados e de caráter, cada um ao seu modo, e tinham traumas pregressos que ajudavam a tornar a questão ainda mais complexa. Esse ponto ajuda a humanizar demais os personagens, o que aponta para a escolha corretíssima de não se jogar na película um discurso maniqueísta, onde um lado é glorificado e outro é demonizado. O filme contemplou ambos os lados presentes no julgamento, sem julgamentos de valor. Claro que o veredicto final teve que dar a causa para um lado, mas, mesmo assim, o que estava em jogo naquele momento era algo muito maior, ou seja, a estabilidade politica de um país inteiro, algo que os dois lados perceberam claramente e passaram a torcer juntos para que a decisão dos juízes não tomasse proporções catastróficas. Tomando esse viés, o filme se torna um forte libelo pela tolerância e compreensão entre povos que outrora se mataram pelo ódio na guerra. E, principalmente, o filme aponta como uma situação particular pode perigosamente afetar o geral, sendo mais um importante ponto de reflexão.

                     Quem ganhará essa causa???

Assim, se tivermos uma noite de premiação justa, “O Insulto” merece, e muito o Oscar, pois consegue mostrar como uma guerra de gigantescas proporções pode surgir de uma situação pequena e banal. Ainda, esse é um filme que mostra de forma taxativa a importância da tolerância e do respeito às diferenças, principalmente quando se está sentado em cima de um barril de pólvora com um fósforo aceso. Esse é um daqueles filmes para se ver, ter e guardar, constituindo-se num programa imperdível.

 

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard, Dualidade que se Completa (Parte 13)

              Kirk, em desespero, ao ver o amigo à beira da morte.

Um momento engraçado das filmagens de “Jornada nas Estrelas II, A Ira de Khan” foi o fato de Nimoy salvar Walter Koenig (o russo Checov) de um grande vexame. Ele teve um verme alienígena inserido em seu ouvido por Khan, que se alojava no córtex cerebral e o deixava à mercê das ordens de Khan. Extraído o verme, Checov se apresenta a ponte com uma espécie de curativo no ouvido. Só que o curativo era um… sutiã!!! Nimoy, então, perguntou a Meyer por que Koenig estava com um sutiã no ouvido, o que provocou risadas gerais e o rápido convencimento de que a peça deveria ser descartada da filmagem.

                               Spock e Kirk, no momento derradeiro…

As filmagens avançavam dentro do cronograma e de forma muito confortável para todos. Nimoy dizia que parecia que eles filmavam um velho episódio da série clássica. E a grande mensagem do filme, o efeito destrutivo da vingança, era passada com maestria. Até que chegou o dia da grande contribuição do vulcano, que sacrificaria a sua vida. Na sua sede de vingança, Khan arma o torpedo Gênese para destruir a Enterprise. Kirk precisa de velocidade de dobra em três minutos. Mas somente manipulando um material radioativo muito letal a nave teria velocidade de dobra. Para um humano, tal manipulação era impossível. Mas para um vulcano, três vezes mais forte que um humano, talvez fosse possível tal manipulação antes da morte inevitável. E lá vai Spock cumprir a máxima de que “a carência da maioria sobrepuja a carência da minoria… ou a de um só”. A cena no fim do filme ficou muito mais antenada com o desenrolar do roteiro. Mas, no dia em que Nimoy teve que gravá-la, uma angústia tomou conta não só dele, como de todos. Nimoy se sentia em direção à câmara de gás. E o ambiente do estúdio onde Spock morreria estava silencioso e sombrio. Nimoy, então, se concentrou em seu trabalho. Ele entraria na câmara de radiação, mas seria impedido por McCoy. Para não perder tempo, fez o toque neural no médico para deixá-lo inconsciente. Depois que ensaiou com De Forest Kelley a cena várias vezes, Nimoy foi chamado por Bennett, que perguntou se ele não poderia acrescentar algo à cena que desse um gancho para um novo filme. Nimoy, muito concentrado em fazer seu trabalho naquele momento, não percebia que Bennett queria dar algum futuro para a continuidade de Spock, e não teve sugestões para dar. Bennett sugeriu então que Spock fizesse um elo mental com McCoy desacordado. Nimoy aceitou. E Bennett perguntou o que Spock poderia dizer a McCoy. Nimoy acenou com um “Lembre-se”, algo que era vago o suficiente para abrir grandes possibilidades dramáticas. E assim a cena foi gravada, com um certo contragosto de Meyer, que queria uma definitiva e bem feita morte de Spock.

                                          Lembre-se…

A cena seguinte, a da morte de Spock, causou muito mal-estar em Nimoy. Além do sofrimento com a morte do personagem, houve o agravante da câmara de radiação ser de um vidro hermeticamente fechado, que a tornava muito quente e que provocava dificuldade em respirar. Apesar da câmara ter sido perfurada e ar ser bombeado lá para dentro, as bombas faziam tanto barulho que tiveram que ser desligadas nos diálogos entre Kirk e Spock, excessivamente longos para a situação. O ensaio da cena foi feito. Spock entra na câmara e fez o reparo no equipamento. Logo após, ele ficava caído, e quando Kirk chegava para falar com ele, Spock se levantava, mostrava estar cego e se aproximava do vidro. Enquanto falava com o almirante, escorregava gradativamente pela parede de vidro, até estar novamente no chão e morrer. Concluído o ensaio, Nimoy foi fazer a maquiagem das queimaduras de radiação. O tom do “set” e da sala de maquiagem era silencioso. Apesar de ter certeza de que a cena e o drama ficariam sensacionais, Nimoy estava arrasado, pois Spock iria morrer. De volta ao “set”, todos estavam sombrios e calados. Nem Shatner fazia suas piadinhas habituais. Nicholas Meyer chegou ao estúdio com traje de gala, pois iria assistir a uma apresentação da ópera “Carmen” depois da gravação. Tal atitude magoou Nimoy. Meyer também insistiu que Spock ficasse com as mãos totalmente sujas de seu sangue verde. Mas Nimoy achou aquilo demais e pediu para tirar todo aquele sangue das mãos, sendo atendido por Meyer. Na gravação da cena, Nimoy, ao se levantar, ajeita conscientemente a sua jaqueta, que como já foi dito, repuxava. Esse gesto foi de grande ajuda à cena, pois Nimoy queria que Spock, apesar da agonia física, tivesse a vontade de  aparecer de maneira apropriada e digna ao seu almirante pela última vez. Uma grande dificuldade foi manter a respiração presa depois de morto. A câmara já estava quente demais e a câmara do filme se afastava lentamente, o que obrigou nosso artista a prender a respiração por longo tempo.

Era o fim de mais um dia de trabalho. Mas Nimoy, voltando de carro para casa, só se fazia uma pergunta: “O que foi que eu fiz?”.

No próximo artigo, vamos ver como Spock foi “ressuscitado”. Até lá!

                                                    O funeral de Spock…

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – A Forma Da Água. Tendo Seu Peixe De Estimação.

                 Cartaz do Filme

E estreou o tão esperado “A Forma da Água”, o recordista de indicações ao Oscar esse ano, sendo treze no total (Melhor Direção para Guillermo del Toro, Melhor Filme, Melhor Atriz para Sally Hawkins, Melhor Ator Coadjuvante para Richard Jenkins, Melhor Atriz Coadjuvante para Octavia Spencer, Melhor Música, Melhor Roteiro Original para Guillermo del Toro e Vanessa Taylor, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Montagem e Melhor Design de Produção). Esse filme também foi vencedor do Globo de Ouro de Melhor Diretor e Melhor História Original para filme. Ou seja, toda a cara de que era um filmaço desde as premiações e indicações até a exibição do trailer e um dos grandes favoritos a levar muitas premiações na noite do Oscar.

                                       Elisa, uma faxineira muda…

Mas, do que se trata a história? Falando em linhas gerais, para não se dar muitos spoilers, o filme fala de uma faxineira muda, mas não surda, chamada Elisa Esposito (interpretada por Hawkins). A moça trabalha numa espécie de instalação militar, daquelas onde são guardados muitos segredos confidenciais. Um belo dia, chega uma espécie de tanque com um misterioso ser vivo dentro. Com esse tanque, vem Richard Strickland (interpretado pelo “General Zod” Michael Shannon). Elisa fica muito curiosa com aquilo e começa a se aproximar do tanque onde está o ser vivo. Ela descobre que, apesar da fama de violento (ele arrancou dois dedos de Richard), a criatura é extremamente dócil, se é estabelecido um contato amistoso com ela. E Elisa começa uma amizade com o tal ser, que é uma espécie de anfíbio humanoide (interpretado por Doug Jones). O problema é que essa amizade está ameaçada, já que os militares decidem matar o ser para dissecá-lo e estudá-lo melhor.

                  Um ser anfíbio simpático, apesar de aterrorizante…

Essa história, bem inusitada por sinal (se a gente fala a sinopse desse filme de forma bem resumida, ele pode parecer muito ruim), acabou sendo um verdadeiro sucesso. Por que isso ocorreu? Em primeiro lugar, creio que pela interpretação de Hawkins. A faxineira muda foi uma atração à parte, onde sua forma de se comunicar com as pessoas chamava muito a atenção. Usando a linguagem de sinais e amando os filmes musicais (todos da Fox, obviamente, pois foi esse estúdio que produziu a película), a personagem Elisa cativa o público imediatamente. E ela ainda fez uma boa dobradinha com a sempre fofíssima Octavia Spencer, que era sua colega de faxina na tal instalação militar. Só é uma pena que Spencer não tenha tido tanto destaque nesse filme. Sua personalidade magnética exigia uma participação muito maior de sua personagem na história. Ainda, falando sobre os musicais, pudemos ver no filme trechos de filmes consagrados com atrizes divas do porte de uma Alice Faye e até de nossa Carmen Miranda, com direito a um “tica bum” praticamente completo num ponto chave do filme, o que foi muito legal para fãs de túmulo como minha pessoa. Essa paixão de Elisa pelos musicais antigos, nutrida pelo seu amigo Giles (interpretado por Richard Jenkins) foi um dos pontos altos do filme e um contraponto à deficiência da personagem principal. Michael Shannon foi bem novamente, mas sua fisionomia meio caveirona mais uma vez o colocou como um cruel vilão da história. Sei não, mas seria muito interessante um ator que é o estereótipo perfeito do vilão volta e meia fazer um mocinho no cinema. Acho que isso poderia muito bem acontecer com Shannon num blockbuster da vida.

                                              Amor à primeira vista…

Outro bom motivo para o sucesso do filme foi a interpretação de Doug Jones como a criatura anfíbia. Especializado em fazer criaturas com toneladas de maquiagens e muita, muita borracha, Jones foi de uma delicadeza sensacional ao interagir com Elisa, fazendo uma fera que pode te partir ao meio, mas com muita ternura. Mas os trekkers de plantão já conhecem o trabalho desse bom ator como o personagem Saru, de Jornada nas Estrelas Discovery, creio eu uma das poucas coisas que é vista com bons olhos por admiradores e detratores da série.

                                  Octavia Spencer bem como sempre…

É interessante também perceber como essa película tem um personagem que se sobrepõe a todos os outros: a água. Para onde quer que você olhe, ela está lá, encharcando tudo. Desde o banheiro de Elisa, passando pelos corredores e tanques da instalação militar, chegando até ao rio que corta a cidade. Essa presença tão marcante da água no filme meio que dá uma dica do seu desfecho.

                         Michael Shannon, o eterno vilão…

Assim, o filme “A Forma da Água” justifica todas as expectativas criadas em cima dele. Pode ir ao cinema sem medo que ele não é menos do que se esperava, muito pelo contrário até. É uma história inusitada e muito terna, recheada de excelentes atuações que cativam de imediato o espectador. Programa imperdível e, com certeza, muitas pessoas estarão torcendo por essa película na noite do Oscar.

https://www.youtube.com/watch?v=xKKfWm5xUCY

 

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery. (Temporada 1, Episódio 13). O Passado É O Prólogo. O Fim Do Arco Do Universo Espelho.

                               Lorca põe as manguinhas de fora…

E lá vamos nós para o décimo-terceiro episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”. Intitulado “O Passado é o Prólogo”, este episódio resolve o arco do Universo Espelho, marcando a volta da Discovery para o Universo Prime. Mas, antes disso, tivemos um episódio em que as cenas de ação deram o tom, parecendo mais um filme blockbuster do que a série Jornada nas Estrelas em si. Vamos ver inicialmente Lorca libertando seus comandados e liderando um ataque contra a sala do trono, onde ele conta com a ajuda do Stamets do Universo Espelho, com direito a bioarmas e granadas de luz. Já a Imperatriz contava com escudos e transportes de emergência. Aqui, podemos dizer que as batalhas de pistolas de raios deram a tônica da coisa, com muita gente sendo desintegrada. Lorca conseguiu tomar a sala do trono e passou a tentar localizar Burnham.

                           Laundry está viva no Universo Espelho

Uma coisa que destoou dos episódios anteriores foi a tal da orbe da Charon, que drenava energia micelial da rede e a corrompia, levando-a a uma lenta destruição que acabaria com a vida no multiverso. Confesso que eu achei todo esse argumento para salvar a rede micelial um pouco exagerado demais. E por que isso destoa dos episódios anteriores? Vimos há uns poucos episódios que a Imperatriz não tinha conhecimento da tecnologia do motor de esporos. Entretanto, o núcleo de energia principal da Charon era uma orbe formada de esporos que respondia pela energia da nave inteira. Aí fica a pergunta: a Imperatriz não conhecia o motor de esporos, mas já sabia da existência deles, ou nem conhecia os esporos? Isso não ficou muito claro, cá para nós. De qualquer forma, era então necessária a destruição da orbe, mas ela era protegida por um campo de contenção que teria que ser desligado pela Burnham na Charon. Entretanto, a destruição da orbe destruirá a Discovery.  Depois foi visto que não era bem assim e que a nave poderia fugir com uma combinação entre o motor de dobra (cuja bolha de dobra protegeria a nave) e o motor de esporos. Ou seja, se o episódio foi marcado por uma ação blockbuster, houve também espaço para uma tecnobabble um tanto inocente, mas que salvou (infelizmente) a famigerada rede micelial. Há, ainda, dois episódios para se desistir dela, até para que isso tudo se encaixe no cânon. Será que vai acontecer?

                                         Lorca e uma tripulação livre…

Pelo menos o episódio teve um lance bem legal que foi o discurso de Saru para a tripulação. Ele começa seu discurso falando que sua espécie sente a presença da morte e ele não a sente naquele momento. Ele disse ainda que confia na tripulação e que Lorca abusou de seu idealismo. A tripulação não é mais de Lorca e sim ela é nossa e hoje começa uma nova jornada. Ele não aceita um cenário sem vitória e todos têm um dever a cumprir. Foi a melhor coisa que Saru fez na série até agora e fez a tripulação se libertar dos grilhões da neurastenia de Lorca. Alguns membros mudos da ponte já começaram até a se manifestar, sendo esse um indício bom para a segunda temporada. Confesso a vocês que prefiro muito mais Saru como capitão e Burnham como primeira oficial (um mal necessário, já que ela é a protagonista da série, um tanto xoxa, mas ainda sim a protagonista) do que o contrário. E, ainda me arrisco a dizer que esse discurso redimiu todas as trapalhadas que os roteiristas fizeram com esse personagem que, realmente, não merece isso.

                       Burnham e a Imperatriz farão uma aliança…

Bom, como era um episódio de fechamento de arco regado à muita ação, e não havia batalhas espaciais, salvo os tiros da Discovery na orbe da Charon, as batalhas de pistolas vieram complementadas muita porrada na sequência final. Confesso que todo esse exagero nas cenas de ação incomodou um pouco. Mas, cá para nós, a gente também viu muita porrada na Série Clássica, em Deep Space Nine, Nova Geração, etc. Pelo menos, Lorca teve um grand finale, se desmanchando na orbe. E já pudemos ver a tripulação da Discovery trabalhando em equipe no ato da destruição da Charon.

Uma coisa que deve ser falada aqui é novamente uma atitude impensada de Burnham, que conseguiu levar a Imperatriz para o Universo Prime, naquele arroubo meio que desesperado de não perder sua Phillipa novamente. Para que isso não fique configurado como mais uma das doideiras de Burnham, a gente só pode esperar que a Imperatriz tenha um papel decisivo na guerra contra os klingons no quadrante alfa, que é a única coisa que pode justificar a presença de Phillipa no Universo Prime e cuja guerra agora parece perdida. Mas, falando em klingons, alguém sentiu a falta do Tyler e da L’Rell nesse episódio? Os caras simplesmente desapareceram sem deixar satisfações, algo muito estranho, diga-se de passagem.

Pois bem. Agora estamos na reta final, com mais dois episódios para definirmos a primeira temporada. Me arrisco a dizer que Discovery melhorou no seu sprint final mas ainda assim há a impressão da violação da essência de Jornada nas Estrelas. Como as primeiras temporadas das séries de Jornada nas Estrelas nem sempre foram sucesso de público e de crítica, quero permanecer otimista e acreditar que a segunda temporada vá ser menos estranha ao cânone do que a primeira. A torcida é sempre para que a série dê certo e vá adiante. Mas algumas coisas tem que ser corrigidas, a começar por sua alta previsibilidade, por exemplo, passando por um remodelamento da protagonista e chegando até a (complicada) questão da rede micelial. E menos borracha na cara dos klingons também. E, uma última coisa: Saru para capitão! Espero que não melem isso, como meio que já apareceu no trailer do episódio 14. Mas, vamos que vamos…

https://www.youtube.com/watch?v=A5wLH5_12ow

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Batata Movies (Especial Oscar 2018) – O Touro Ferdinando. Dando Um Olé Na Farra Do Boi.

                                    Cartaz do Filme

Dando sequência à nossa cobertura dos filmes indicados ao Oscar, vamos falar hoje da boa animação da Fox, “O Touro Ferdinando”, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha (o mesmo de “Rio”). Essa película concorre ao Oscar de Melhor Animação e é uma história, acima de tudo, de bichinhos, que se passa na Espanha, mais exatamente, de touros que são preparados para o sacrifício nas Plazas de Toros.

       Ferdinando é um touro muito simpático…

Tudo começa com Ferdinando ainda um bezerro, que fica vendo com os outros bezerros seus pais sendo preparados para as touradas, sem saber do destino que os aguarda. Todos os touros são preparados para serem agressivos e violentos. Mas Ferdinando não quer saber de brigas e ainda gosta de florzinhas, o que provoca risadas gerais entre os demais bezerros, que o tratam com rispidez. Cansado de toda aquela neurose, Ferdinando foge e acaba parando na fazenda de Nina, uma menininha que trata o bezerro como um animal de estimação, ou seja, com muito amor e carinho. Para tudo ficar perfeito, a fazenda ainda tem muitas flores, do jeito que Ferdinando gosta. Ele cresce e se torna um forte e gigantesco touro, só que com coração de ouro.

     Com Nina, que o trata como um “animalzinho” de estimação…

Mas, ao ir para uma festa das flores na cidade, foi confundido com um touro violento depois de destruir toda a cidade sem querer, só na base das trapalhadas. E aí ele volta para a antiga fazenda, onde ele encontra seus colegas bezerros já touros crescidos, brigando para ir para as touradas. Quem fracassa, acaba indo para o matadouro. Assim, Ferdinando vai ter que lutar também, com a ajuda de uma cabra, que se torna a sua amiga.

             A animação prima pelo inusitado…

Esse é um filme muito divertido, engraçado e com lances para lá de inusitados, já que estamos falando de grandes touros como os personagens da película. O mais legal aqui é ver a natureza delicada de Ferdinando, agindo como um animal de estimação de uma frágil garotinha, assim como a sua relação com outros animaizinhos menores. O filme também passa uma mensagem que todos nós já conhecemos: de como essas touradas são algo totalmente revoltante e uma covardia com animais irracionais. O simples fato de se ensinar ao público infantil que não é correto um ser racional como o homem agir de uma forma tão covarde e irracional com um bicho que não pensa já vale o filme.

                           Ninguém resiste ao “Flower Power”…

Assim, “O Touro Ferdinando” é mais uma boa animação que concorre ao Oscar com um DNA brasileiro, embora quebrar o favoritismo da Disney, que veio com “Viva, a Vida é uma Festa”, sempre é algo muito complicado. De qualquer forma, vale a pena dar uma passada no cinema, com crianças ou não, para dar uma conferida. Eu garanto, pelo menos, que você vai rir muito com bichinhos, o que, creio, muita gente já fez isso (ou ainda faz) quando assiste aos bons e velhos desenhos animados da televisão. Não deixe de conferir, pois você não vai se arrepender e vai se emocionar com o tourão de bom coração.

 

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – Viva, A Vida É Uma Festa. Visitando O Mundo Dos Mortos.

                   Cartaz do Filme

Vamos falar hoje de mais um filme candidato ao Oscar. A animação da Disney Pixar “Viva, a Vida é uma Festa” concorre a duas estatuetas (animação e canção original) e segue a tradição das animações da Disney dos últimos anos de abordar culturas locais. Este ano, foi escolhida uma cultura ali do ladinho dos Estados Unidos, a mexicana, talvez até com um pensamento de abiscoitar o público latino na bilheteria. O aspecto da cultura mexicana mencionado no filme é, talvez, o mais fascinante deles, que é o culto aos mortos, onde o dia dois de novembro é uma data de muita celebração, com oferendas sendo dadas aos seus mortos, que vêm comemorar a data junto de suas famílias. Explorando tal cosmogonia, a animação criou uma história muito divertida e curiosa, onde a gente só mergulhou mais e mais nesse Universo.

                                         Miguel queria ser músico…

A história fala do menino Miguel, que adora música, mas que é proibido pela família de ter qualquer ligação com ela, pois sua antepassada foi abandonada pelo marido que era músico. Miguel cismou que ele era descendente direto de um grande músico do passado, Ernesto de la Cruz, e queria ser como ele. Para participar de um concurso musical, Miguel precisava de um instrumento e ele decidiu tomar emprestado o violão que estava na sepultura de Ernesto.

                       … e tinha um cachorrinho muito simpático…

Mas isso acabou provocando um encanto que o levou ao mundo dos mortos. Lá, ele tentava procurar o seu ídolo, mas também se encontrou com sua antepassada que odiava música. Ele lentamente se transformava numa caveirinha (assim como eram todos os outros mortos) e queria porque queria encontrar Ernesto antes de voltar ao mundo dos vivos. O problema é que, para retornar, ele precisava da bênção de um parente e estava brigado com a família.

                                Os parentes de Miguel do lado de lá…

Esse é um daqueles filmes que mais uma vez promovem um diálogo entre a tradição e a modernidade. Só que, desta vez, a tradição é que é vista como algo positivo. Ao ver a família rechaçando seu gosto por música, Miguel repudia a tradição e, ao buscar o seu sonho, inevitavelmente recai na tradição, onde ele vai perceber toda a importância da família e de seus rituais. Tal abordagem visa novamente o discurso de respeito às diferenças que a Disney tem apregoado em suas animações nos últimos anos, o que tem sido algo muito positivo, já que vivemos em tempos de intolerância extrema e os Estados Unidos, por sua posição hegemônica no mundo, muitas vezes recebe acusações (justas, por sinal) de intolerância, ainda mais com o ambiente propício para isso, provocado pelo avanço de grupos conservadores em todo o mundo. Logo, a inciativa da Disney Pixar de exaltar as culturas locais e ensinar isso ao público infantil, seu verdadeiro público alvo, sempre deve ser muito celebrada.

                                  Sua bisavó é que sabia das coisas…

Uma coisa muito legal na película foi mostrar na cultura mexicana como os animais são encarados como uma espécie de guias espirituais. Quando Miguel passa do mundo dos vivos para o mundo dos mortos, ele passa por uma espécie de barreira, onde ocorre uma espécie de transformação, só que seu cãozinho cruza essa barreira para lá e para cá sem que nada aconteça com ele. Assim, na cultura mexicana, os animais também têm uma importância no lado de lá da vida.

                       Corrida contra o tempo…

Assim, “Viva, a Vida é uma Festa” é mais uma grande animação da Disney Pixar que veio para celebrar uma cultura local, fazendo um grande serviço de divulgar a tolerância entre o público infantil, fazendo isso sempre de uma forma muito divertida. Um filme que é grande favorito ao Oscar.

https://www.youtube.com/watch?v=-Af1mAec0LA