Batata Literária – Formas Abstratas.

Somos as formas abstratas

Podemos ser todas poligonais

Podemos ser curvilíneas

Planas ou tridimensionais

Somos manifestações das almas

Sonhadas, atormentadas, lúdicas

Linhas, círculos e triângulos

Gotas de tinta num tecido branco

 

Esqueça o real e o concreto!

Dê asas à sua imaginação!

A forma do mundo é a que você deseja!

Desertos de telas!

Dunas de fractais!

Raízes de aglomerados de esferas!

Cachos de icosaedros!

Octógonos de vinte lados!

 

Quem é mais abstrato?

O surrealista?

O expressionista?

Com certeza, não é o realista

Nem o naturalista!

O abstrato é o que tem a maior coragem!

O abstrato é o que mais transgride!

O abstrato é o que menos se apega.

 

Seria o abstrato um revolucionário?

Talvez um iconoclasta…

Ou, aquele que destrói as convenções

Sem temer suas próprias pulsões

Os paladinos da mesmice

Montados em sua chatice

Acham os abstratos uns dementes

Mas, ao fim, eles são apenas diferentes

 

Batata Movies – Assassinato No Expresso Oriente. Kenneth Branagh Volta A Atacar!

Cartaz do Filme. Um detetive e um rosário de suspeitos

Um bom filme em nossas telonas. “Assassinato No Expresso Oriente” marca a volta de histórias da mestre Agatha Christie no cinema, sob a responsável chancela de ninguém mais, ninguém menos do que Kenneth Branagh. Um filme que tem como atrativo uma grande história, contada por um grande elenco. Além de Branagh, no óbvio papel de Hercule Poirot, com seu bigode de trinta quilômetros, tivemos nomes de peso como Judi Dench, Willem Dafoe, Johnny Depp, Penélope Cruz, Michelle Pfeiffer e a “Star Wars” Daisy Ridley. Mesmo que o filme tenha sido totalmente centrado em Branagh, somente a presença desse elenco é um belo cartão de visitas que já faz o filme ser ansiosamente aguardado.

                                   Poirot e seu bigodão. O cara!!!

A história não sai do lugar comum das tramas de Christie: um assassinato, onde Poirot precisa desvendar o mistério de quem é o assassino, dentre todo um rosário de suspeitos. No caso aqui, a vítima é um gângster magistralmente interpretado por Depp (sua face camaleônica novamente o torna irreconhecível e o fato dele ser o morto em questão torna a sua presença limitada na película, o que é uma pena). Poirot está cansado e já faz uma viagem para desvendar um caso. O detetive precisa de férias e recebe esse pepino para descascar em pleno trem, que fica preso numa avalanche. Assim, ele tem pouco tempo para descobrir o assassino, enquanto os funcionários da linha férrea desobstruem os trilhos cobertos pela neve. O filme dá a entender que esse é um dos casos mais difíceis que Poirot enfrentou, cujo desfecho é bem trágico, o que talvez tenha colocado essa história de Christie numa posição mais singular. Como eu somente li um livro da autora, não posso dar uma opinião segura quanto a isso, mas se agregarmos as histórias de “Morte Sobre o Nilo” e “Testemunha de Acusação”, ambas aproveitadas para o cinema, vemos que “Assassinato no Expresso Oriente” toma um caminho um tanto diferente dessas demais histórias no que se refere ao desfecho. De qualquer forma, o filme nos dá uma sensação de mortificação e aperto no coração em seu final, onde sentimos toda a dor de Poirot com o que ele presencia, o que dá margem para uma boa reflexão e discussão filosófica. Ou seja, é uma Agatha Christie que faz pensar não na forma da montagem de uma trama, mas sim faz pensar questões mais profundas. Até pelo fato de o filme terminar dessa forma mais inusitada, a atenção total que o espectador deve dar a uma história que reconstitui um assassinato como se fosse as peças de um quebra-cabeça não é tão necessária assim. E a cerebralidade policial da película é substituída por algo mais emotivo e que lança nossa alma numa lamentação incomensurável.

                                   Atores de peso…

Com relação aos atores? Branagh simplesmente arrebentou. Ele deixou bem clara a meticulosidade do personagem ao exigir dois ovos cozidos rigorosamente iguais e em ser um observador rigoroso, sendo possível identificar cada detalhe de seu interlocutor. Suas gargalhadas ao ler Dickens também foram dignas de atenção, já que o escritor é famoso por contar histórias não tão alegres assim. Todos esses detalhes atraíam o espectador que nada conhece sobre Poirot ou ajudavam a ressuscitar uma figura há muito tempo esquecida (o que foi o meu caso). Do elenco estelar, devo confessar que lamentei o pouco tempo de tela a alguns medalhões do naipe de Dafoe, Dench e Cruz. Michelle Pfeiffer estava magnífica no filme e, mesmo com os sinais da idade já despontando em sua face, ela não deixa de ser uma mulher charmosa. Ainda contribui para a atuação dela o fato de sua personagem ter uma certa centralidade na história. Só é de se lamentar que, com tantos craques de atuação aqui, Daisy Ridley tenha ficado tão ofuscada. Bom, se ela quer ser grande, ela precisa estar entre os grandes. E se ela foi chamada para isso, eu considero tal situação um bom sinal. Ela fez o que podia fazer de melhor ali. Mas teve um baixo tempo de tela, também, até por motivos óbvios.

                                … e uma diva…

Dessa forma, “Assassinato No Expresso Oriente” pode até ser mais uma adaptação de Agatha Christie para o cinema, mas não deixa de ser simpática e atraente, pois é conduzida por alguém muito competente como Branagh. Pela boa história, pelo elenco e, principalmente, pela reflexão gerada por um desfecho um tanto inusitado, vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Vazante. Cenas De Um Passado Não Tão Distante.

                                  Cartaz do Filme

A competente cineasta brasileira Daniela Thomas nos brinda com mais um de seus bons filmes. “Vazante” é um filme inquietante por si só. Parecendo muito afastado no tempo e descolado de nossa realidade, a película consegue nos mostrar de que ela pode se aproximar mais de nosso tempo presente do que imaginamos. Um filme que consegue fazer refletir e fazer chocar.

                                   Um casamento…

Vemos aqui a história de Antônio (interpretado por Adriano Carvalho), um dono de fazenda que vive em Minas Gerais no início do século XIX. Ele perde tragicamente a esposa e filho quando a mulher estava em trabalho de parto. Desesperado, o homem se lança no mato e lá fica deitado, tentando de alguma forma aplacar a sua dor. Mas como não há nada melhor do que um dia após o outro, a família do irmão da falecida vai morar numa fazenda vizinha. Com a família virá Beatriz (interpretada por Luana Nastas), uma jovem praticamente na pré-adolescência, que acaba casando com Antônio, em virtude das rígidas condições sociais da época. O homem precisa passar uns dias fora de casa para tratar de seus negócios com gado. Enquanto isso, Beatriz passa os dias sozinha, interagindo com os escravos da fazenda. Paro com aqui com os spoilers, mas o leitor um pouco mais atento já está percebendo, ao ler estas linhas, para qual rumo a história irá, assim como o desfecho.

                       A escravidão retratada…

Bom, se a trama não é algo tão inédito assim, isso também não significa que o filme não tenha virtudes. Muito pelo contrário até, pois a película é cheia de lances muito atraentes. A começar pelo notório preto e branco que leva o público a um contraste em claro e escuro muito marcante. Tal contraste já ajuda a alimentar o ambiente opressor do filme, já que as relações sociais numa fazenda no interior de Minas Gerais na primeira metade do século XIX não será exatamente o melhor exemplo de candura e leveza.

Aliás, a grande vedete do filme está justamente na questão das relações sociais. Numa sociedade patriarcal e com muitas heranças de um Antigo Regime ainda próximo (onde as relações pessoais e de troca de favores suplantavam as práticas impessoais e competitivas da sociedade capitalista), atrelada ao fator complicador gerado pela escravidão, vemos aqui como a hierarquização se fazia de forma extremamente presente. Os homens brancos praticamente são os senhores de tudo, indo desde os escravos, tratados como objetos que satisfazem todas as suas necessidades (até sexuais), chegando até a figura da esposa branca Beatriz, que em sua inocência adolescente, acabava se juntando aos escravos e de uma certa forma se igualava a eles, se virmos isso do ponto de vista das propriedades que os patriarcas brancos têm. Essa visão de superioridade do homem branco sobre a mulher, branca ou não, e sobre o próprio negro, ainda se faz presente nos dias de hoje. É só verificarmos que estrato da sociedade compõe a casta de grandes executivos, quem são os empregados, como a mulher é vista no mercado de trabalho e como há a óbvia manutenção do racismo e da ideologia dominante de uma elite que faz de tudo para restringir os direitos sociais. Nesses pontos, podemos dizer que “Vazante” é até bem atual. A única coisa que incomodou um pouco foi o fato de, a uma certa altura do filme, as relações pessoais foram colocadas um pouco de lado em virtude de um maior destaque dado ao relacionamento do casal protagonista. O problema é que, cedo ou tarde, isso teria que acontecer, até para que o filme tivesse um quê maior de dramaticidade. Outro problema aqui foi a qualidade do som, creio também que um pouco por culpa do sistema de som da sala do Estação Botafogo 2, que não está lá essas coisas. Em alguns trechos, os atores pareciam sussurrar bem baixo, o que atrapalhava a compreensão.

                   Mulher negra. Duplo objeto…

A questão da escravidão é muito bem trabalhada na película. Vemos um capataz negro controlando os escravos africanos. Devemos nos lembrar de que havia muitos conflitos envolvidos entre os africanos recém-chegados ao Brasil (que haviam se tornado escravos há pouco tempo e que lutavam para sair dessa condição) e os chamados crioulos, que eram negros nascidos no Brasil já na condição de escravos, que encaravam com mais “naturalidade” a sua condição. O filme mostra muito bem a postura bem mais rebelde dos africanos e de como a barreira linguística podia complicar muito as coisas, pois até os próprios escravos não entendiam uns aos outros, dependendo de sua procedência. Ainda, foi apresentado na película o escravo liberto (ou forro), esse nem livre, nem escravo, que tinha a promessa de uma carta de alforria caso trabalhasse mais alguns anos para o senhor. O forro tinha então o projeto ambicioso de recuperar a propriedade falida em troca da liberdade. E a sua função de administrador que precisava fazer a propriedade funcionar direitinho acabava o aproximando de um capataz que tratava os escravos da mesma forma que um branco o faria. Quando vemos esses momentos polêmicos do filme, onde negros maltratam negros, devemos nos lembrar que a escravidão no Brasil foi um fenômeno altamente complexo onde muitas situações ocorreram. O filme buscou trilhar um pouco por esse caminho mais complexo, saindo do lugar comum da escravidão somente como uma manifestação de violência do branco opressor contra o negro.

       A senhora convivendo com os escravos…

Dessa forma, “Vazante” é um daqueles filmes fundamentais que aparecem por aí, pois não é todo dia que vemos uma película abordar questões históricas de grande complexidade com eficiência e maestria. É um programa imperdível como produto cinematográfico e de análise histórica.

Batata Movies – Mãe. Parece, Mas Não É.

                Cartaz do Filme

Um filme inusitado passou em nossas telonas. “Mãe”, dirigido por Darren Aronofsky (o mesmo diretor de “Cisne Negro”) é uma daquelas películas que seguem uma linha narrativa que, de repente, se modifica completamente, bem ao estilo do “parece, mas não é”. Com isso, o espectador fatalmente tem a impressão de que vê um certo gênero quando, na verdade, acaba sendo outro. Um filme que gosta de brincar de gato e rato com o espectador.

                      Uma mulher atormentada

Mas, no que consiste a história? Vemos aqui um casal bem unido (interpretado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem). O marido é escritor e tem um bloqueio criativo que o impede de seguir a sua carreira adiante. Já a esposa é devotada ao casamento e ajuda o cônjuge a reconstruir a sua vida depois de uma tragédia pregressa. Tudo parecia às mil maravilhas com aquele casal. Até que, um dia, o marido leva um homem estranho para sua casa (interpretado por Ed Harris) e o acolhe, para espanto da esposa, que não entende a atitude do esposo a princípio, mas a acata, pois vê que o seu companheiro tem uma postura altamente solidária. Entretanto, com o tempo, aquele acolhimento dado àquele homem revela-se uma tremenda furada. O cara é extremamente inconveniente, fuma dentro de casa, e tem uma doença que provoca nele tosses insuportáveis não somente para ele como também para quem presencia aquilo tudo. E, como se não bastasse, ele tem uma esposa (interpretada por Michelle Pfeiffer), que se revela muito cínica e ácida. Todo esse rosário de situações inusitadas vai transformando a vida da esposa da casa num inferno e o marido não toma qualquer atitude para reverter isso, já que os intrusos se declaram fãs incondicionais de sua produção literária.

                         Um marido sem noção…

Esse é o tipo de filme que incomoda muito o espectador, já que ele bate de frente com um valor primordial da sociedade liberal: a ideia de propriedade como sinônimo de liberdade. Desde os tempos da Revolução Inglesa e do pensador John Locke, que cunhou as bases do liberalismo político, a ideia de propriedade como liberdade, cunhada pelo mesmo pensador, impera na sociedade liberal capitalista contemporânea. E, de repente, vemos o direito à propriedade sendo sistematicamente violado na película, provocando um enorme desconforto e uma empatia cada vez maior entre o espectador e a esposa interpretada por Lawrence, que recebe a agressão direta do desrespeito a esse direito fundamental. E a coisa é feita numa torrente cada vez mais crescente em intensidade, com a nítida intenção de incomodar. Por ser tão agressivo, o espectador vê a película nesse momento como uma história de suspense que pode até descambar para o terror, achando que o filme irá cair no lugar comum de um clichê. O problema é que a coisa vai se tornando cada vez mais surreal com o andamento da história, e o inusitado fica tão agressivo que rompe até os limites da liberdade poética, deixando a pessoa que assiste um tanto perdida com o que vai acontecer com o desfecho. E aí, quando chega o clímax, há uma violenta virada, onde o filme assume outra cara, não fechando um ciclo, por mais paradoxal que isso possa parecer. Infelizmente, os spoilers não me permitem ir mais a fundo na análise, mas uma coisa é certa aqui: a violenta virada que esse filme sofre em sua estrutura narrativa não é algo que a gente vê todo o dia e acaba nos surpreendendo um pouco, como se a violação da propriedade prendesse tanto a nossa atenção que a gente não consegue perceber as pequenas pistas que essa virada nos deixa antes do clímax (a capa de surreal é outro fator que ajuda a omitir um pouco tal virada, embora as pistas residam justamente no surreal).

          Ed Harris, um homem inconveniente

Bom, apesar desse estado de confusão que o filme provoca no espectador, visto por uns como virtude e por outros como defeito, temos um grande atrativo que é o elenco. Foi muito bom rever Ed Harris e Michelle Pfeiffer, que andavam meio sumidos de nossas telonas. Só é uma pena que tenham aparecido pouco. Eles poderiam ter tido uma participação um pouco maior na história, sobretudo Pfeiffer, com uma personagem bem mais interessante e agressiva. Harris foi perfeito em sua inconveniência, embora o personagem exibisse uma fragilidade latente que não combinava muito, mas ajudava a aumentar a tensão. Bardem foi primoroso como o marido amável, que podia ser muito complacente em alguns momentos, mas extremamente agressivo em outros. Agora, a mais fraquinha ali talvez tenha sido justamente Jennifer Lawrence. Embora suas sequências de desespero explícito tenham sido bem convincentes, sua atuação meio que se apagou em meio a tantos craques ali envolvidos. Foi até uma covardia com a moça, ouso dizer, mesmo que ela tenha melhorado muito nos últimos anos. Talvez a personagem não ajudasse muito, sei lá, embora não devamos nos esquecer (alerta de spoiler) de que ela chegou a uma situação limite no filme, onde ela acabou saindo do lugar comum de vítima que constituía a sua personagem.

Michelle Pfeiffer, numa personagem ácida e cínica

Assim, “Mãe” é um filme que merece ser visto, primeiro porque ele incomoda e agride o espectador a um ponto de que o mesmo não sabe mais qual será o desfecho da história. E, em segundo lugar, porque o filme revela uma grande virada em seu desfecho, até certo ponto inesperada, pois a estrutura narrativa consegue camuflar bem as pistas de que essa virada irá acontecer. Além disso, temos um ótimo elenco que comprou a ideia do filme e topou destilar todo o seu talento. Vale a pena dar uma conferida. Uma coisa é certa: o filme despertou muita polêmica, sendo amado e odiado pelas pessoas por aí. Ninguém ficou indiferente a essa película.

 

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade Que Se Completa (Parte 5)

           Tempo de Nudez. Spock chora e as cartas aumentam…

“Tempo de Nudez” foi outro episódio decisivo para a formação do vulcano. Um vírus infecta a Enterprise, revelando o “eu oculto” da tripulação. Como isso afetou Spock? Na cena original, um tripulante pintaria um bigodinho no rosto de Spock, que se debulharia em lágrimas em público. Nimoy não aceitou isso, pois para ele o personagem, na sua obstinação em esconder as emoções, se controlaria e procuraria um lugar mais reservado para extravasar seus sentimentos. Nimoy levou o problema a Roddenberry e a sequência foi reescrita com Spock chorando num ambiente reservado, arrependido de nunca ter dito à sua mãe que a amava. Faltavam poucos minutos para os fatídicos 18h18min que religiosamente encerravam as atividades diárias do estúdio e Nimoy fez a cena numa tomada só. Esse episódio hipermultiplicou as cartas que Nimoy recebia dos fãs. De uma dúzia de cartas no primeiro episódio, passando para umas quarenta ou cinquenta após duas semanas e chegando a centenas, colocadas em sacos de lavanderia após “Tempo de Nudez”.

O sucesso de Spock fez com que os executivos da emissora NBC, que já haviam rechaçado o vulcano em outras oportunidades, agora quisessem mais a presença dele nos episódios. Nimoy desenvolveu mais o personagem e ele idealizou que a cultura vulcana interagia através de toques com os dedos e as mãos. Daí veio o famoso “toque neural”, onde Spock fazia uma pessoa desmaiar com uma pressão dos dedos de sua mão em algum lugar entre o ombro e o pescoço. Isso aconteceu pela primeira vez no episódio “O Inimigo Interior”, onde o capitão Kirk foi dividido em sua parte “boa” e calma e sua parte impetuosa e má. Como o Kirk “mau” iria matar o Kirk “bom”, estava no roteiro que Spock deveria provocar um desmaio no Kirk mau, aplicando-lhe uma coronhada com a arma de phaser. Nimoy, abalado com a violência da sequência, sugeriu então o toque neural vulcano, que era igualmente eficiente sem ser violento, e convenceu o diretor Leo Penn a usá-lo, principalmente quando Nimoy ensaiou o toque em Shatner e esse desmaiou de forma muito convincente. Às vezes, esse toque era usado com um certo senso de humor. Spock, em determinado episódio, chegou perto de sua vítima e disse: “Senhor, há um artrópode (aranha) bem em cima de seu ombro”. E, antes que o coitado se desse conta, lá estava a mãozona de Spock (o artrópode em questão) fazendo o cara desmaiar. O fundo musical cheio de tensão do toque neural também é inesquecível, provocando muito mais graça do que suspense.

                    O antológico toque neural

Já o elo mental vulcano surgiu no episódio “O Punhal Imaginário” e foi uma invenção de Roddenberry. Um foragido de uma colônia penal, aparentemente louco, seria interrogado lentamente para se saber o que acontecia na tal colônia. Ao invés de um longo e maçante interrogatório, se criou o elo mental, onde Spock unia sua mente à do foragido, tocando a face do mesmo com a ponta dos dedos, exercendo uma espécie de atividade telepática. Isso deu muito mais dramaticidade à cena. Outro episódio marcante onde o elo mental vulcano é usado foi “O Demônio da Escuridão”, onde um monstro de pedra matava os mineiros de um planeta. Mas o monstro fazia isso porque os mineiros destruíam seus ovos sem querer, sem saber o que estavam fazendo. Spock faz o elo mental com a criatura e salva o dia, pois o monstro passa inclusive a ajudar os mineiros. Nimoy muito se orgulha desse episódio, pois ele mostra um conflito intercultural e um posterior entendimento, ratificando a posição pacifista do vulcano, ao contrário do Spock de “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”, que propôs matar um tripulante tomado por uma força alienígena.

No próximo artigo, vamos falar de mais três episódios marcantes para a formação do personagem Spock. Até lá!

        Elo mental com um monstro de pedra…

Batata Literária – As Duas Faces

A vida é como uma moeda

Pois possui duas faces

Num dia, você está feliz

Noutro, você está triste

Às vezes, se tem dinheiro

Noutras vezes, você está na penúria

Posso uma vez estar andando na rua

E, em outra, se estar internado no hospital

 

Tudo passa, meu caro!

Para o bem e para o mal!

A vida é uma montanha russa

De altos e baixos

O negócio é se centrar

Nada de euforias tresloucadas

Nem de profundos desesperos

Busque seu ponto médio!

 

Pois as duas faces se manifestam de outras formas

O amigo de hoje pode ser o traidor de amanhã

Seu prazer pode se tornar um vício destruidor

Vida se transforma em morte num piscar de olhos

Andamos, o tempo todo, no fio da navalha

Podendo cair para cá ou para lá

Podendo se machucar violentamente

Podendo carregar eternas marcas

 

Esse é o jogo duplo da vida

Saber estar entre a cara e a coroa

Entre o sim e o não

Entre o bem e o mal

Entre a alegria e a tristeza

Entre a saúde e a doença

E saber, acima de tudo, sobreviver

Ante à pressão de fortes extremos