Face to Face, Heart to Heart…
Autor: Carlos Lohse
Batata Arts – Tesouros da Batata (40)
Mais um tesouro
Batata Movies – Uma Mulher Fantástica. Homofobia À Chilena (Mas Poderia Ser Em Qualquer Lugar).
Um interessante filme chileno em nossas telonas. “Uma Mulher Fantástica” ganhou o Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim e é o representante do Chile que tenta ficar entre os cinco finalistas para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano que vem. Esse é mais um filme de temática LGBT que vai mostrar de forma nua e crua a questão da homofobia. Um tema que, apesar de já muito batido no cinema, torna-se ainda necessário de ser explorado, pois a intolerância continua muito grande por aí e sem data marcada para pelo menos arrefecer um pouco.
No que consiste a história do filme? Vemos aqui um casal formado por um respeitável senhor, Orlando (interpretado por Francisco Reyes), que possui uma tecelagem, e Marina Vidal (interpretado por Daniela Vega), um jovem travesti. A vida dos dois passa por brancas nuvens num amor bem sincero, até o dia em que Orlando acaba morrendo de um mal súbito, não antes sem rolar pelas escadas do prédio em que mora e ficar com um ferimento na cabeça. Marina, temerosa de que a morte de seu parceiro se tornaria um escândalo em virtude de sua presença, deixa o hospital às pressas depois de comunicar a morte ao irmão de Orlando. Esse será apenas o pontapé inicial de uma sucessão de situações em que Marina será vista com extremo preconceito pela polícia e pelos familiares de Orlando, sofrendo muitas humilhações por conta da homofobia de todos.
Pode-se dizer que, embora a homofobia seja o foco principal, sentimos que a mesma é alimentada por outras fontes de preconceito no filme. A questão do travesti ser o amante de Orlando coloca a família numa posição de guerra contra Marina, pois fica parecendo que ela pega um homem mais velho por pura questão de interesse financeiro, algo que poderia também acontecer com uma mulher. Mas a coisa fica bem mais pesada pelo fato de Marina ser um travesti, sendo vista como uma aberração pelos parentes de Orlando, que até a impedem de ir ao enterro do amado. É notável a posição de Marina em boa parte do desenrolar do filme, onde ela busca evitar os conflitos e poucas vezes afronta os preconceitos. Por isso mesmo, quando ela busca essa afronta, a situação fica bem tensa, pois o travesti sofre uma dura reação de seus algozes, mas também consegue ser bem duro contra esse tipo de reação em outros momentos.
A atuação de Daniela Vega, que interpretou Marina, é notável. Obviamente, todo o filme gira em torno dela. Por se tratar de um tema muito delicado e suscetível a muito preconceito, sentimos que a atriz optou por uma interpretação mais contida e serena, sendo mais explosiva pontualmente e nos momentos certos. A forma como a atriz humanizou seu personagem fez com que o público ganhe muita empatia com ela. E a gente compra a ideia de todas as dores e humilhações pelas quais Marina passa, como se doessem em nós mesmos. Mais do que uma discussão de questão de gênero ou de homofobia, esse filme explora o lado humano de um personagem literalmente caçado por uma sociedade homofóbica insana.
Assim, “Uma Mulher Fantástica” é um programa obrigatório e imperdível. Um filme que merece muito chegar entre os cinco finalistas a Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano que vem. E, mesmo que não chegue, isso não diminuirá em nada seu brilho, já reconhecido internacionalmente no Festival de Berlim. Um filme essencial em tempos de intolerâncias tão sombrias pelas quais nosso país passa.
Batata Antiqualhas – Jornada Nas Estrelas. Radiografando Um Longa: A Procura De Spock (Parte 2).
O terceiro longa da tripulação da série clássica retoma os debates filosóficos. Muito me impressiona a frase de McCoy após a explosão da Enterprise: “Você fez o que qualquer um faria, Jim: transformar a morte numa chance de vida”, ou seja, se o filme começou num tom mais pessimista, a explosão da Enterprise, um dos mais proeminentes ícones da série, traz, nas palavras de McCoy, a direção num futuro novamente esperançoso. Indo ainda na argumentação de um futuro de esperança, alguns veem a ressurreição de Spock carregada de simbologia religiosa, algo que praticamente não era visto na série clássica. Todo o ritual de transferência do Katra, o “fal tor pan”, realizado pela sacerdotisa T’Lar (magnificamente interpretada por Judith Anderson, de 87 anos na época e há 14 anos sem atuar, no alto de seus 1,42 m!!!!) nos remete a representações de profunda religiosidade, assim como o fato de se mencionar que Spock possuía um Katra (alma). Talvez o que mais tenha chegado próximo na série clássica tenha sido o ritual do Pon Farr de Spock, que todos os vulcanos homens têm de sete em sete anos, uma espécie de ritual de acasalamento. Logo, a ideia principal do filme, segundo Nimoy (o sacrifício de um amigo por outro) tem camufladas conotações religiosas, incomuns no universo de Jornada nas Estrelas até então.
O torpedo Gênese retorna na discussão ética. Agora, o projeto de terraformação é mais visto como uma arma, consequência de um “mito de Frankenstein”, onde o homem, ao irresponsavelmente brincar de Deus e tentar criar vida, traz apenas desgraças e sofrimentos. O filho de Kirk, David, usa protomatéria instável para o torpedo gênese, o que cria um planeta de vida curta que logo se destruirá. Ou seja, o mesmo planeta que ressuscita e regenera o corpo de Spock, acelera seu envelhecimento e pode, inclusive, acabar com ele. Além disso, klingons e Federação disputam a posse do torpedo, que se torna uma verdadeira alegoria das armas nucleares da guerra fria. Assim, essa visão de Gênese alertada por McCoy no filme anterior indica limites ao possibilismo humano, que leva o homem, de forma arrogante, a crer que pode fazer qualquer coisa, brincando de Deus.
A morte de David também é algo importante no filme. Como vemos perdas aqui, não? Esse foi o primeiro longa de Jornada nas Estrelas que vi no cinema e muito me chamou a atenção de ver o Spock morto, o filho de Kirk sendo assassinado, a Enterprise explodindo! Eu, que acabara de chegar ao universo de Jornada nas Estrelas (antes disso, só tinha lembranças difusas de episódios da série clássica e elogios de meu pai a saga lá no início da década de 1970) fiquei chocado. Poxa, mal cheguei e estão acabando com tudo? Talvez a perda mais traumática de um mocinho que eu tenha presenciado antes tenha sido Obi Wan Kenobi, no episódio quatro, alguns anos antes. Mas eu nunca havia presenciado mocinhos sofrerem tantas perdas de uma vez! De qualquer forma, a perda de David, com Kirk caindo sentado no chão mostrou o duro golpe que o aparentemente indestrutível almirante sofrera. E mostra o surgimento de seu ódio mortal pelos klingons, somente superado em “A Terra Desconhecida”.
Os efeitos visuais merecem destaque. Além da já citada Ave de Rapina klingon, a doca espacial adicionou um elemento de grandiosidade, mostrando a Enterprise como parte integrante de algo maior, a Federação Unida de Planetas. A explosão da Enterprise também foi algo muito marcante, sendo um segredo escondido a sete chaves durante as filmagens, em virtude da previsibilidade da ressurreição de Spock, mas infelizmente tornou-se um spoiler mais tarde. A nova nave Excelsior também chama a atenção, com seu número de série NX-2000 (o X indica que ela ainda era um protótipo pronto para testes; vejam que na série “Enterprise”, o número de série é NX-01) e velocidade transdobra (transwarp), com o intuito de ser a nave mais rápida da Federação. Aliás, vamos aproveitar aqui para falar da origem do prefixo NCC 1701. Reza a lenda que esse prefixo foi inspirado em um dos registros internacionais de aviões dos Estados Unidos, NC (só para lembrarmos, a aviação foi uma das inúmeras coisas que Gene Roddenberry fez em vida). Um segundo C teria sido colocado para diferenciação. O 1701 significa que era o 17º desenho de cruzador espacial, sendo o primeiro daquela série.
Um outro detalhe importante nos efeitos especiais é a coerência científica da imagem da Enterprise em velocidade de dobra, algo que já havia aparecido em “A Ira de Khan”.. Vemos riscos luminosos vermelhos e azuis saindo dela. Aquilo tem uma motivação fisica, o efeito doppler. Quando um carro vem em nossa direção numa estrada, suas ondas sonoras são comprimidas entre ele e o nosso ouvido, tornando o comprimento de onda (a distância entre duas cristas) menor, fazendo o som mais agudo. Quando o carro passa por nós, a fonte de som (o carro) passa a se afastar e o comprimento de onda aumenta, tornando o som mais grave. É por isso que temos aquela distorção no som do carro quando ele passa por nós. No caso da Enterprise à velocidade da luz, algo semelhante ocorre, mas aí a diminuição do comprimento de onda da imagem da nave que se aproxima está mais próxima da cor azul, dando o aspecto azulado à dianteira da nave (as luzinhas azuis estão mais à frente), enquanto que o aumento do comprimento de onda quando ela se afasta está mais próximo da cor vermelha (as luzinhas vermelhas estão mais na parte traseira da nave). Esse fenômeno, chamado de desvio para o azul (aproximação) e desvio para o vermelho (afastamento) é utilizado em astronomia para calcular velocidades de afastamento e aproximação de corpos celestes (geralmente um sistema binário de estrelas) com relação a nós.
Alguns fãs não acham “A Procura de Spock” um bom filme (o próprio Roddenberry criticava a violência excessiva contida nele, contaminado pela febre de filmes violentos da década de 1980), mas como tudo o que existe na vida, há coisas boas e ruins, sem falar que o filme teve também boa recepção de público e crítica na época. De qualquer forma, esse longa manteve o fôlego da franquia e adicionou elementos novos como a religiosidade e uma visão mais detalhada dos klingons.
Batata Literária – Esperança
Ei você!
Você mesmo!
Que está acabrunhado, agoniado…
Que não vê o futuro no horizonte…
Que desistiu da vida…
Que não tem mais amor…
Que acha sua existência insignificante…
Que não tem mais alegrias…
Saia daí! Levante-se! A vida o espera!
Se não dá para ir de um lado,
vá por outro!
Busque novos caminhos!
Novas pessoas!
Novas perspectivas!
Você não tem o direito de se magoar!
Muitos já fazem isso com você!
A vida corre em suas veias.
Então, ainda dá para mudar!
Você errou, e não te perdoaram?
Primeiro se perdoe, então!
E busque alguém mais compreensível!
Todos são carentes no mundo!
Todos precisam de alguém!
Inicie sua busca já!
As pessoas têm qualidades e defeitos.
Desfrute as qualidades!
Esqueça os defeitos!
Olhe o melhor de cada um!
Olhe o melhor de si mesmo!
Torne a vida dos outros mais feliz…
Dê felicidade, busque felicidade…
Quem não aceitar a tua, azar…
Você tem tudo para ser feliz, meu amigo…
É só olhar o mundo de outro jeito…
Assim, as adversidades não te abaterão…
Divirta-se! Ame! Mesmo que você não seja amado…
Alguns, com certeza, gostarão de você…
Ria, traga alegria às pessoas…
E elas não te abandonarão…
Para finalizar essas linhas, só lembro:
“Só se leva dessa vida, a vida que se leva”.
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery – Episódio 3 Temporada 1 – Contexto É Para Os Reis. Uma Nave De Ciências Muito Militarista.
E chegamos ao terceiro episódio da já muito polêmica série “Jornada nas Estrelas Discovery”. Muito se falou sobre a série nos últimos dias, com várias opiniões a favor e contra. Falou-se muito de Michael Burnham, de como a série se aproxima e se afasta do Universo de Jornada nas Estrelas, de inconsistências no roteiro, etc. Ao chegarmos ao terceiro episódio, novos elementos foram introduzidos que são bem dignos de nota e que nos dão algumas pistas do rumo que a série irá tomar.
Mas, qual é a história desse episódio? Seis meses depois de Burnham começar a cumprir sua pena de prisão perpétua por motim, ela é transferida de prisão, estando numa nave de transporte com outros detentos. Só que uns “bichinhos” passam a ocupar a parte externa da nave, bichinhos esses que são esporos e que sugam energia elétrica. A piloto da nave de transporte vai lá fora para retirar as criaturinhas do casco, mas ela acaba sendo arremessada. Desesperados, os prisioneiros tentam se livrar das algemas para tomar o controle da nave, exceto Burnham, que parece resignada com seu destino (é forte a sensação de arrependimento na nossa protagonista pela morte de sua capitã). Porém, um raio trator pega a nave transporte. Esse raio trator é proveniente da Discovery, que finalmente estreia na série. Dentro da nave, Burnham é vista com hostilidade por todos (também pudera, ela foi a primeira amotinada da Frota Estelar e provocou uma guerra que está causando a morte de milhares de pessoas), mas, mesmo assim, ela é intimada pelo misterioso capitão Gabriel Lorca (interpretado por Jason Isaacs) a fazer parte da tripulação. Sem ter muito o que fazer a respeito, Burnham acaba interagindo com a tripulação. Sua companheira de quarto é a cadete Sylvia Tilly (interpretada por Mary Wiseman), uma moça falante e muito insegura, que tem a ambição de alcançar postos maiores, não sem se embananar por causa disso (ela apareceu meio como um alívio cômico). Saru (interpretado por Doug Jones) é o primeiro oficial da Discovery e já havia aparecido nos dois primeiros episódios como tenente da Shinzhou. Sua espécie é extremamente cautelosa (as más línguas diriam até covarde) e ele foi hostilizado por Burnham nos dois primeiros episódios. Agora, a ex-primeira oficial precisa ter uma postura mais humilde perante seu novo superior, que a acolhe, lamentando muito que o motim de Burnham a tenha desvirtuado. Um novo personagem interessante é o tenente Paul Stamets (interpretado por Anthony Rapp), que trabalha na engenharia e coordena um projeto secreto que trabalha com os tais esporos. Ele é extremamente grosseiro e arrogante, muito revoltado com o fato de seu projeto estar sendo usado para fins militares e não pacíficos pelo capitão Lorca. Pois bem, a tripulação da Discovery recebe a informação de que a tripulação da Glenn foi toda morta e um grupo avançado é enviado para lá, composto por Burnham, Stamets, Tilly, a chefe de segurança comandante Landry (interpretada por Reika Sharma) e por um camisa vermelha (aqui não tão vermelha assim) que, cumprindo a tradição, irá morrer. Na Glenn, eles encontram os cadáveres da tripulação todos mutilados e distorcidos, mas também encontram corpos de klingons mais intactos. E muitas marcas de destruição num casco de nave duplamente reforçado. Um klingon vivo é encontrado, mas ele logo é morto por um bichão que persegue nossos personagens que fugirão da nave. De volta à Discovery, Lorca convida Burnham para fazer parte definitivamente da tripulação da nave e revela a moça o segredo dos esporos. Eles formam uma cadeia de seres vivos que permeia a galáxia e que pode transportar naves a grandes distâncias em pouquíssimos segundos. Além disso, Lorca é da opinião de que Burnham estava correta em todas as suas ações na Shinzhou, e justificou as atitudes dela com a singular e polêmica frase “a lei universal é para os lacaios, o contexto é para os reis”. Burnham aceita o convite. O episódio termina com a destruição da Glenn pela Discovery (a Glenn está em espaço klingon, portanto não deve ser deixada inteira para trás), não sem o bichão que estava na nave destruída ser transportado para uma jaula do sinistro escritório de Lorca.
Dá para perceber como a coisa mudou dos dois episódios para cá. Quais são os pontos que podemos discutir aqui? Em primeiro lugar, o enorme mistério envolto na verdadeira função da Discovery. Ela é oficialmente uma nave de ciências, mas com aparência muito mais militarizada do que qualquer coisa (lembrem-se, por exemplo, do distintivo negro no uniforme do soldado). Vimos aqui que ela toca um projeto científico ultrassecreto com fins militares, num primeiro passo para justificar esse mistério de para que a nave e sua tripulação estão orientadas a fazer. Mas parece que falta mais uma peça nesse quebra-cabeças. Será que os trezentos projetos científicos simultâneos que a nave mantém descritos por Saru podem trazer algum elemento novo? Vamos ver isso depois.
E já que falamos de Saru, fica aqui uma reflexão. Nos dois primeiros episódios, ele era extremamente medroso e subserviente. Já no terceiro episódio, o personagem aparenta uma outra roupagem. Apesar de compreensivo e até afetuoso em alguns momentos com Burnham, ele deixa bem claro que a acha perigosa e que não deixará a moça ser uma ameaça para o seu capitão. Tal mudança no personagem é até positiva, pois lhe dá mais complexidade e profundidade, ainda mais porque ele pareceu muito plano nos dois primeiros episódios, sendo somente um alienígena muito covarde.
Já que falamos de personagens, Paul Stametz lembra, de uma forma um pouco distante, Leonard McCoy, não pela arrogância, mas pela rabugice e pelo senso ético. Responsável pelo desenvolvimento do projeto dos esporos, Stametz tem rusgas sérias com Lorca, que quer dar um destino mais bélico para a coisa. Impossível não fazer a comparação com as reservas de McCoy ao Projeto Gênese, inicialmente um grande avanço científico que traria enormes benefícios à humanidade, mas que poderia também se transformar uma arma letal.
Uma coisa que foi um tanto complicada foi essa vibe tecnobabell de que o espaço sideral tem formas de vida de esporos que compõem a tessitura do Universo e que podem ser usados como vias para um meio de transporte praticamente instantâneo. Quando nos lembramos das condições de vida totalmente inóspitas que o espaço nos fornece, fica difícil de comprar tal ideia. Excessiva licença poética? Pode ser. Outra coisa poderia ser usada como matéria escura, por exemplo, algo muito mais plausível cientificamente.
Outro problema desse episódio foi a sequência da Glenn, que lembrava mais um filme de terror com bichões do que uma série de ficção científica. A gente sabe que é muito fácil a imbricação desses dois gêneros, mas, na minha modesta opinião, isso torna toda a coisa mais boba (não sou muito fã de filmes de terror).
Agora, qual foi o grande trunfo desse episódio que poderá trazer muitas possibilidades para a série? Isso mesmo, o capitão Gabriel Lorca! Sua característica soturna e o escritório com baixíssima iluminação lembrou demais uma estética expressionista com contrastes de claro/escuro. O discurso altamente belicista do capitão e a polêmica frase “a lei universal é para os lacaios, o contexto é para os reis”, foram acusados por alguns fãs de irem na contramão de tudo o que “Jornada nas Estrelas” representa. Mas isso se nos lembrarmos do discurso otimista e utópico da “Jornada nas Estrelas” da década de 60. Os primeiros episódios nos parecem que essa nova “Jornada nas Estrelas” é bem mais distópica do que utópica. O problema é que, por se tratar de uma prequel, fica mais difícil de encaixar a distopia, ao invés de uma utopia. A resposta pode estar na característica toda singular da Discovery na frota, o que pode permitir um ambiente mais sombrio e pessimista. Se nos lembramos de “Deep Space Nine”, a distopia também foi trabalhada, além de um cinismo latente, e até então essas características não eram vistas como parte do cânone de “Jornada nas Estrelas”. Hoje, alguns fãs consideram “Deep Space Nine” a melhor série de “Jornada nas Estrelas”. De qualquer forma, é sempre importante a gente recordar que o cânone de “Jornada nas Estrelas” já tem cinquenta anos e é muito difícil manter uma fidelidade muito rigorosa quanto à isso. Pressões de público e de mercado podem alterar as diretrizes básicas do cânone com muita facilidade, dentre outras coisas. Ainda com relação ao capitão Lorca, é impressionante como seu gabinete lembra muito o gabinete do grão almirante Thrawn, notável personagem de Timothy Zahn, o autor mais conhecido do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”. Entretanto, devemos fazer uma ressalva aqui. Enquanto que o gabinete de Thrawn era composto de obras e artes e artefatos arqueológicos das civilizações que ele conquistava (Thrawn era um estudioso das culturas dos povos que ele queria conquistar), o gabinete de Lorca é uma espécie de coleção de várias espécies alienígenas, com direito a um esqueleto Gorn e a um pingo dissecado, além do que já fica em sua mesa, o que dá a esse capitão um aspecto muito mais macabro. Definitivamente, deposito mais minhas fichas nesse personagem e em seu desenvolvimento. Lorca é tão misterioso quanto a própria função da Discovery na série. E algo bom pode sair daí se os roteiros dos próximos episódios forem bem trabalhados.
Assim, se alguns fãs já estão jogando a toalha quanto a um bom futuro para Discovery, eu ainda tenho minhas esperanças de que a coisa pode ficar melhor. Se vai ser fiel a “Jornada nas Estrelas” ou não, confesso que não me preocupa muito, dada a extensão já citada do cânone ao longo do tempo, sujeito a chuvas, trovoadas e muitas oscilações. Uma coisa é certa: Discovery é muito mais “Jornada nas Estrelas” que a Kelvin Time Line, embora toda a estética dos efeitos especiais da Kelvin Time Line esteja em Discovery. Vamos aguardar os próximos episódios com otimismo.
E se você quiser ler a análise dos episódios anteriores, clique aqui
Batata Jukebox – Music Non Stop (Kraftwerk)
Kraftwerk não podia faltar aqui…
Batata Arts – Tesouros da Batata (39)
Mais um tesouro…