O mestre da fusion está de volta…
Autor: Carlos Lohse
Batata Arts – Tesouros da Batata (33)
Outra pequena jóia
Batata Movies – O Estranho Que Nós Amamos. Boas Anfitriãs!!!
Um remake na área. “O Estranho Que Nós Amamos”, escrito e dirigido por Sofia Coppola, traz de volta uma película de 1971, “Ritual de Guerra”, estrelada por Clint Eastwood. Me lembro de ter visto esse filme legendado na TV aberta numa Sessão de Gala da vida e muito me chamou a atenção a situação sui generis da história: um homem ferido sendo cuidado por várias mulheres de idades diferentes, onde houve um perigoso jogo de sedução com desfecho trágico. E tudo isso ambientado na Guerra Civil Americana. Foi um drama tenso e pesado e fiquei muito impressionado com o filme. Agora, Coppola reconta a história com muita fidelidade ao original, lançando mão de um grande elenco: Colin Farrel, Nicole Kidman, Kirsten Dunst, Elle Fanning.
Mas, como é a história exatamente? John McBurney (interpretado por Farrell) é um militar ianque que está ferido na Virgínia, ou seja, em território confederado. Ele é encontrado por uma garotinha que vive numa escola para moças. Ajudado pela menina, McBurney vai para a escola, dirigida por Miss Martha (interpretada por Kidman), uma senhora sulista extremamente recatada, religiosa e conservadora. Outra figura importante (e adulta) da escola é a professora Edwina (interpretada por Dunst). Há, ainda, um punhado de mocinhas menores de idade. Há um medo inicial nelas de se manter o inimigo dentro da escola. Mas a curiosidade e a tentação de uma presença masculina falaram bem mais alto e McBurney foi tratado às escondidas do exército confederado. À medida que o homem foi melhorando, ele percebeu o interesse da mulherada por sua pessoa e começou a seduzi-las para garantir um esconderijo enquanto se recuperava. O problema é que ele ainda era um inimigo na escola e qualquer passo em falso poderia levar à sérios problemas, como de fato acabou ocorrendo. Só que não darei mais spoilers aqui.
Bom, nem é preciso dizer que um remake traz à tona a inevitável comparação com o filme original. Infelizmente, faz muito tempo que vi o filme de 1971. Mesmo assim, a impressão que ficou é a de que o filme antigo pareceu mais tenso e pesado. Eastwood sempre teve uma cara muito menos amigável para um papel desse naipe. Deve ser algum estereótipo na minha cabeça provocado pelo Dirty Harry (Farrell, por sua vez, parece um ator mais adequado para o papel). Mas me lembro que a coisa tinha um quê mais rude. Como dessa vez tivemos muitas beldades de rostinhos de porcelana como a Kidman, Dunst e Fanning, a coisa transpareceu um pouco mais suave, embora isso não signifique que não tenha havido os momentos de tensão que essa história exige. Só que eles pareceram muito mais estanques dessa vez.
Para não se achar que essem filme ficou pior que o original, podemos dizer que a versão de 2017 tem um enorme trunfo: uma sensacional fotografia realizada em ambientes altamente escuros. A propriedade sulista mal cuidada e decadente era circundada por árvores frondosas e que pareciam invadir toda a tela, dando a sensação de que estavam em cima da gente. Esse ambiente externo claustrofóbico e escuro já chama a atenção no início do filme. Mas a coisa vai além, principalmente nas filmagens do interior da escola, já que uma parte do filme se passava à noite, onde a única iluminação era à luz de velas, tornando tudo ainda mais escuro. Pontaço para Sofia Coppola aqui, que nos levou direto ao século XIX nesse quesito. E esse ambiente enegrecido muito ajudou, pois parecia que ele contaminava as almas de todos, tornando as relações humanas de formais para soturnas, chegando à explosões de desespero. Todo o conservadorismo daquela sociedade sulista se mostrou num espectro amplo, indo do recatado ao diabólico, em todos os sentidos. Definitivamente, a hospitalidade sulista é algo totalmente dispensável se foi o que vimos na película. Só que os spoilers me impedem de entrar em mais detalhes.
Assim, “O Estranho Que Nós Amamos” é um interessante caso de remake que, se mostrou algumas deficiências com relação ao original, também mostrou virtudes. O filme atual me pareceu menos tenso que o antigo, mas também teve a virtude de ter uma fotografia excelente em ambientes muito escuros e angustiantes e trouxe uma boa interpretação de Farrel, que tem mais “jogo de cintura” que Eastwood para o papel de sedutor e interesseiro que era McBurney. Vale a pena dar uma conferida e procurar a versão antiga no You Tube.
Batata Movies – Valerian E A Cidade Dos Mil Planetas. Idílios E Distopias.
Na longínqua década de 80, a gente tinha o hábito de ler todos os domingos no jornal “O Globo” um suplemento de quadrinhos chamado “Globinho”. Lá, podíamos ler várias tiras: Zé do Boné, Pinduca, Mickey, etc. Até o Incrível Hulk deu o ar de sua graça. Num daqueles domingos, provavelmente depois de uma vitória do Ayrton Senna na TV, abri um “Globinho” e me deparei com um tal de “Valerian, O Agente Espaço-Temporal”. Num primeiro momento, não dei muita bola para aquilo, pois as tiras contavam uma história em sequência todos os dias no jornal e não as acompanhei, pois a gente comprava o jornal somente aos domingos. Entretanto, a tira começou a contar uma nova história, até com o traço de um novo desenhista, e ela passou a ser semanal. Desse jeito, eu pude acompanhar a história. Lembro-me muito pouco dela, mas recordo-me que era muito instigante e aguardava sempre a tirinha da semana seguinte com grande ansiedade e expectativa. Qual não foi a minha surpresa quando vi o trailer de Valerian, ainda mais escrito e dirigido pelo ultra porra-louca Luc Besson? Confesso que fiquei com uma boa esperança de que a coisa fosse dar certo e aguerdei ansioso o filme desde o início do ano. Pois bem, vieram as primeiras exibições de cabine de imprensa e quem viu não teve uma boa impressão, muito pelo contrário até. O filme foi muito esculachado. Como eu queria muito ver essa película, fui assim mesmo.
Qual é a história de Valerian? O agente espaço-temporal e sua fiel escudeira/companheira/amante Laureline são agentes militares (Valerian é major e Laureline sargento) de uma espécie de Federação terrestre que administra uma gigantesca estação espacial conhecida como “A Cidade dos Mil Planetas”, contendo milhões de espécies de todo o Universo. Um setor dessa estação está radioativo e inacessível e Valerian, juntamente com Laureline, precisam investigá-lo. Mas esse setor abriga um segredo que confunde o papel de mocinhos e bandidos ao longo da história, só para fazermos uma sinopse bem rápida e não soltar muitos spoilers.
Qual foi a primeira grande coisa que a gente nota nesse filme? O impacto visual. Os efeitos especiais mostraram ao inicio um planeta alienígena altamente idílico e paradisíaco, supercolorido, dando um tom bem água com açúcar. Os nativos eram esguios e falavam quase sussurrando de forma bem doce, num forte contraste com a sociedade mecanizada e industrializada dos humanos da Cidade dos Mil Planetas. Apesar de muitos bichinhos alienígenas ao longo da película (e não é que Besson teve um surto de George Lucas?), o mundo paradisíaco inicial foi um belo cartão de visitas. Já a história, o enredo do filme em si, foi mediana e até um certo ponto entediante em alguns momentos, embora tivesse pitadas coerentes de distopia. A comunidade utópica da Cidade dos Mil Planetas tem seus problemas sociais e econômicos. E a escolha do grande vilão corroborava a distopia, bem ao estilo do “bandido mais próximo de si do que você imagina”, tomando um monte de atitudes politicamente incorretas, mesmo que a história esteja avançada cinco séculos no tempo.
O elenco teve algumas pérolas inusitadas, bem ao estilo doido de Luc Besson: um Rutger Hauer envelhecido, cuja aparição meteórica deu grande credibilidade ao início do filme, um Herbie Hancock (!) no papel de um militar de alta patente, passando uma visão muito austera, um Ethan Hawke todo iluminado (!!) como dono de casa de mulheres de fino trato, e uma Rihanna (!!!) no papel de uma sensual alienígena, cuja dança em pole dance assumiu uma plasticidade (e elasticidade) jamais vistas antes, graças ao bom e velho CGI. Agora, o grande problema do filme foi, sem a menor sombra de dúvida, a escolha dos atores do casal protagonista. Dane Dehaan, o Harry Osborne do Homem Aranha de Andrew Garfield, que interpretou Valerian, e Cara Delevingne, que interpretou Laureline, são muito fraquinhos. A voz de Dehaan parecia muito abobalhada e os trejeitos de Delevingne lembravam muito os de uma pré-adolescente malcriada. Sinceramente, eu não me lembro de Valerian e Laureline desssa forma. Ainda, apesar de minha experiência com os quadrinhos franceses de Valerian ter sido muito vaga, pode-se dizer que os atores aparentam ser relativamente novos para os personagens. Como a história é muito focada no casal protagonista, o filme acabou perdendo bastante.
Assim, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” não é de se jogar fora, mas também não empolga. Vá ao cinema, mas não espere muito. Uma pena…
Batata Literária – Noite Pensada (Christine Córdula Dantas)
A Batata Literária tem mais uma colaboradora. Minha amiga, astrônoma e poetisa Christine Córdula Dantas, nos traz hoje uma reflexão sobre a noite…
Noite pensada
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A faixa branca diluída
no espaço
Poupa-me desse vento
obscuro do tempo
Flutua e dispersa
seu próprio ato
na transparência
de um evento
Faixa branca da vida
que assim, insólita,
desvenda meus mundos,
assalta meus sonhos,
cura meus limites
Que existem, sim,
bem escuros,
na noite que penso
inventar.
CCD 15/08/17
Batata News – A Fábrica Dos Cem Mil. Distopia e Tecnologia.
A Escola Estadual de Teatro Martins Penna apresenta a sua nova turma de formandos. Ainda vítima da violenta crise econômica e moral que assola o Estado, a Escola enfrenta com muita coragem as dificuldades do cotidiano e consegue se manter em funcionamento.E agora apresenta a peça “A Fábrica dos Cem Mil”, livremente inspirada na peça “A Fábrica de Robôs”, de Karél Tchapék. Uma história que é um convite à reflexão sobre o que a raça humana faz consigo própria e quais os rumos que ela dá para si mesma para tempos futuros.
Mas, no que consiste essa ficção científica de tons sociais? Temos aqui uma fábrica de robôs cujo objetivo é produzir a maior quantidade possível de seres artificiais. Isso é feito com a meta de livrar o ser humano da escravidão do trabalho. Entretanto, a visão otimista de futuro não se concretizará e o que vamos ter são tempos vindouros altamente distópicos onde, além do óbvio caso do desemprego, também teremos uma raça humana que se inutilizou totalmente, pois passou a depender da força de trabalho dos robôs para tudo. Tal situação adversa levou a contextos de guerra entre os humanos e os robôs. E os cientistas da fábrica, ao invés de pararem com a produção para estancarem toda a violência e caos, pensavam somente em produzir ainda mais robôs em outras circunstâncias que poderiam (ou não) amenizar toda a crise.
A peça levanta questões muito interessantes. Em primeiro lugar, a monstruosidade do ser humano quando ele brinca de ser Deus e cria novas vidas (podemos ver isso quando ele cria geneticamente novas raças de animais por aí), sem dar importância a todas as implicações morais e éticas disso. Tal situação se manifesta no início da peça, onde robôs totalmente angustiados e descontrolados agem como loucos por vários e vários minutos, já ditando toda a agonicidade envolvida na história. O conflito na mente dos robôs de encontrarem a si mesmos num choque contra a sua individualidade dá o tom desse desespero com explosões de paroxismo. Tudo isso provoca um forte sensação de desconforto no espectador. Outra questão a ser levantada é a da crítica à tecnologia e ciência. Num ambiente distópicoo onde o ser humano é antiético e imoral, o mito do cientista louco vem com força total. Mas se a visão caricata do homem de ciências desiquilibrado poderia, num primeiro momento, provocar risos, num segundo momento ela corrobora o desespero mostrado no início da peça, principalmente na figura da mulher que é aprisionada por dez anos na fábrica, inclusive em laços matrimoniais com um dos cientistas, e que sofre com o cotidiano insano da produção dos seres artificiais. Ou seja, apesar do alívio cômico de alguns personagens, o tom de toda a narrativa é altamente sombrio e dramático. Toda essa falta de moral e de ética não fica impune e os humanos e robôs acabam entrando em guerra, com os primeiros ficando realmente ameaçados de extinção. Mesmo assim, o homem não aprende e mantém sua linha insana de produção de mais e mais robôs, somente piorando o problema À despeito de todo um pessimismo envolvido na peça, o final feliz não foi abolido, já que um último (e único) gesto de sensatez salvou o dia. Mas sem mais spoilers por aqui.
A montagem da peça foi extremamente criativa, algo que muito se manifesta quando se tem poucos recursos. O palco foi ornamentado com espelhos e molduras de quadros, num ambiente perfeito para expressar as crises de identidade dos robôs. Foi usada uma trilha sonora futurista, onde o grupo alemão Kraftwerk deu o tom, com batidas um tanto tensas em alguns momentos. O mais curioso é que algumas dessas músicas de tom futurista já têm cerca de quarenta anos.
Um detalhe muito interessante foi a troca, durante a peça, de personagens pelos atores. A tal mulher aprisionada na fábrica foi inicialmente interpretada por uma atriz, mas depois foi interpretada por um dos atores, que passou batom em pleno palco e usou uma espécie de crachá improvisado com o nome da personagem. Isso exigiu a atenção do espectador.
Assim, “A Fábrica dos Cem Mil” é mais outra peça de qualidade que a Escola Estadual de Teatro Martins Penna exibiu para o público, como parte do trabalho de conclusão de curso de sua turma mais recente. Uma peça distópica, crítica da tecnologia e altamente reflexiva. Um drama psicológico com fortes tons de paroxismo. E a certeza de que essa Escola merece ter todas as condições de funcionamento por parte do poder público, pois é uma grande fábrica não de robôs, mas sim de talentos.
Batata Books – Battlefront. Finalmente A Guerra Chega Às Estrelas.
Mais um lançamento da Editora Aleph. “Battlefront”, escrito por AlexanderFreed, traz finalmente um clima real de guerra ao Universo de “Guerra nas Estrelas”. Se a saga de George Lucas sempre nos mostrou um lado mais fantasioso e de aventura, com a guerra em si se expressando mais como um pano de fundo, “Battlefront” vem corrigir essa impressão até certo ponto incômoda e traz em cores vivas todos os horrores da guerra. Ao ler as páginas do livro, parece que assistimos a um filme do naipe de um “Platoon” ou “O Resgate do Soldado Ryan”, ou seja, com cenas violentas e sensações de perdas arrebatadoras. Conhecido mais como um jogo de videogame, “Battlefront” em seu formato de livro é mais uma grata surpresa que enriquece a franquia de “Guerra nas Estrelas”.
Mas, no que consiste a história? Ela se passa entre os Episódios IV (“Uma Nova Esperança”) e V (“O Império Contra Ataca”) e vai enfocar as ações da 61ª Infantaria Móvel, também conhecida como Companhia do Crepúsculo, um destacamento de leais e corajosos soldados da Aliança Rebelde. Situados na Orla Média, eles são obrigados a se retirar após uma violenta investida do Império. Como a Companhia sofre muitas baixas, ela precisa fazer constantemente recrutamentos nos vários mundos pelos quais ela passsa. Num desses mundos, eles conseguem capturar uma governadora imperial local que mostrou seu desejo de desertar e ajudar a Aliança com informações estratégicas. Mas, até onde a Companhia pode confiar nela? Quais serão os próximos passos após a retirada? E como sobreviver aos ferozes ataques do Império, que caça a Companhia pela galáxia, ainda mais agora que ela tem a posse da governadora?
O livro é, basicamente, uma sucessão de combates efetuados pela Companhia e de defesas contra ataques do Império. Cabe frisar aqui que (alerta de spoiler) a Companhia está em Hoth combatendo os walkers imperiais, tal como vemos em “O Império Contra Ataca”, onde o protagonista do livro, o soldado Hazram Namir, chega a inclusive bater um papinho com um simpático dono de cargueiro. Falando no protagonista, o livro tem um fio narrativo condutor que é a história da Companhia, mas também tem duas histórias paralelas que aparecem em capítulos esporádicos que tratam da vida pregressa de Namir e da vida de uma stormtrooper. Essas três histórias acabam se amarrando bem ao final do livro. Cabe dizer aqui que as histórias ocorrem em espaços e tempos diferentes, o que muito bem sinalizado ao início de cada capítulo, para que o leitor não se perca em todas essas histórias paralelas.
Outra virtude do livro é que, como ele apresenta muitos personagens inéditos, fazendo praticamente apenas menção aos personagens consagrados da saga, o autor teve toda uma preocupação em construir muito bem esses personagens, dando-lhes um passado bem estruturado, seja para os mocinhos, seja para os vilões. Isso ajudou o leitor a desenvolver todo um grau de empatia e intimidade com os personagens e não seria nada demais se essse livro tivesse uma continuação. Freed conseguiu cativar muito o leitor com uma descrição detalhada dos personagens.
Agora, a grande atração do livro e o seu diferencial com relação a outras obras literárias de “Guerra nas Estrelas” é o já citado clima real de guerra. O autor descreve com riqueza de detalhes tudo o que acontece nos “fronts” de batalha, assim como as mortes violentas dos camaradas da 61ª Infantaria Móvel. Além do que já vemos de costumeiro nos bons filmes de guerra que assumem um tom mais realista, o livro traz questões de guerra bem atuais como o severo ataque de armas químicas que a Companhia do Crepúsculo sofreu, sendo essa a parte mais pesada de um livro cheio de trechos muito sombrios e traumatizantes, algo nunca visto em “Guerra nas Estrelas”. Trazer esse tipo de gênero à franquia somente a amadurece e a engrandece cada vez mais.
Assim, “Battlefront” é mais um feliz lançamento da Aleph não por trazer uma história relacionada a um jogo de videogame, mas por trazer uma história que acrescenta à “Guerra nas Estrelas” os verdadeiros horrores da guerra e, ainda por cima, traz personagens muito bem construídos e que dependem muito pouco de personagens consagrados. Vale muito a pena ler!
Batata Jukebox – We Built This City (Starship)
Uma música e um vídeo com a cara dos anos 80…