Mais um tesouro…
Autor: Carlos Lohse
Batata Movies – Homem Aranha, De Volta Ao Lar. Covardia Com A DC.
A Marvel ataca novamente lançando desta vez a terceira geração do Homem Aranha. Estrelado agora por Tom Holland, o aracnídeo retorna em grande estilo, pouco depois de Mulher Maravilha ter sido lançada pela DC. E pode-se dizer que, mais uma vez a Marvel deu um toco na concorrente. Já está chegando a dar pena.
O mais curioso é que a história das origens de Peter Parker não é contada, como já ocorrera nas versoes estreladas por Tobey Maguire e Andrew Garfield. Ja temos a referência direta a “Guerra Civil”, onde Parker tinha uma ligação com Tony Stark, que desenvolveu o super traje do Aranha. Sabemos que nos quadrinhos de “Guerra Civil”, esse traje era ainda mais irado que o do filme, mas podemos dizer que a roupa da pelicula também era rica em dispositivos, o que às vezes embananava nosso herói.
Por que esse novo Homem Aranha é tão bom? Em primeiro lugar, a Marvel lançou a receita de sempre, que é fazer um filme de ação com muito humor. Tem gente que não gosta muito disso. Mas eu devo confessar que adoro os filmes da Marvel, justamente por essa química muito bem feita (já tive a oportunidade de mencionar isso outras vezes). E o mais curioso é que fazer humor é algo muito difícil, sendo que é necessário, no mínimo, ser constantemente original. A Marvel consegue em seus filmes usar um gênero extremamente exigente e arriscado como o humor para justamente dar um novo frescor a cada história que conta na telona. E isso deu muito certo com um personagem engraçado e divertido como o Homem Aranha. Alías, devemos tirar também o chapéu para Tom Holland. A primeira impressão que ficou dele em “Guerra Civil” era a de que Holland não interpretava Peter Parker, mas sim interpretava Tobey Maguire interpretando Peter Parker. Nesse filme, o jovem ator consegue colocar um estilo todo seu, superando Andrew Garfield (que funciona muito melhor em filmes dramáticos) e, chegando perto de Tobey Maguire, ainda o melhor Homem Aranha em minha modestíssima opinião.
Uma grata surpresa foi a participação de Michael Keaton na película como o vilão Vulture (Abutre). Tem havido uma série de críticas aos vilões dos últimos filmes da Marvel (opinião que nem sempre eu compartilho). Mas agora parece que a Marvel trouxe um vilão à altura. Keaton term provado que ficou muito melhor com a idade, sobretudo quando vemos seus últimos trabalhos. E não foi diferente agora. Seu vilão se mostrou frio, calculista e, principalmente, com argumentos até certo ponto convincentes para ter se enveredado para o caminho do mal. Um homem que quer garantir o conforto da esposa e da filha e que diz uma grande verdade: “Os ricos não se importam com a gente”, ou seja, um cara que tinha empatado uma grana boa em reciclagem e que vai tomar uma rasteira (alerta de spoiler) justamente de quem? Isso mesmo, caro leitor! Tony Stark! Esse pequeno elemento faz a gente ter uma certa empatia com o bandido, apesar de tudo. E Keaton convencia em sua atuação, até nos momentos mais inusitados do filme. Mas não entrarei em detalhes.
Outra coisa que ficou ótima no filme foi a repaginada em Tia May. Agora ela é uma Marisa Tomei na meia idade, como já tínhamos visto em “Guerra Civil”. Entretanto, aqui a atriz teve mais espaço para trabalhar a personagem, conquistando o coração da galera, mesmo que ela tenha ficado excessivamente doce e melosa em alguns momentos, ficando até meio bobinha. Entretanto, Marisa Tomei nunca esteve tão sensual num papel e enche os olhos vê-la da forma mais adocicada possível.
Por fim, o desfecho. Apesar de eu não poder contá-lo, achei-o muito engraçado e deu uma chave de ouro digna ao filme. Cenas pós-créditos? Há duas, tem que ficar até o finzinho, sendo que a última é também uma zoação.
Assim, nem sei se “Homem Aranha, De Volta Ao Lar” conseguirá os recordes de bilheteria de “Mulher Maravilha”, mas ficou a impressão de um filme melhor e que, confesso, me divertiu como há muito tempo eu não me divertia no cinema. Vá sem medo, vale muito a pena.
https://www.youtube.com/watch?v=iuGDjaZOKuk
Batata Movies – Mulher Maravilha. O Melhor Da DC.
Há algum tempo atrás, estreou “Mulher Maravilha”, uma importante cartada da DC no combate com a Marvel. Gal Gadot e sua personagem já havia chamado muito a atenção em “Batman vs. Superman”, um filme que teve suas virtudes, mas também teve seus defeitos e não conseguiu fazer frente à “Guerra Civil”, lançado logo depois. A DC, então, apostou suas fichas na simpática Gadot e na sua aura de empoderamento feminino que arregimentou uma legião de mulheres (e homens) aos cinemas.
Mas, do que se trata a história? Temos aqui uma ilha somente de mulheres, amazonas guerreiras forjadas na antiga mitologia grega com o intuito de combater o Deus grego da Guerra, Ares. Só há mulheres adultas na ilha, exceto pelo fato de existir uma pequena menininha chamada Diana, filha de Hipólita (interpretada por Connie Nielsen), a rainha da ilha. Hipólita quer manter Diana afastada das sangrentas batalhas de outrora orquestradas por Ares, mas a garotinha desde cedo só queria saber de lutas e batalhas, sendo treinada secretamente por sua tia Antíope (interpretada por Robin Wright). Um belo dia, um avião rompe a barreira que protege a ilha do mundo exterior e cai no mar. Diana vê o acidente e salva o piloto, Steve Trevor (interpretado pelo “Capitão Kirk” Chris Pine). Vai ser aí que Diana perceberá que a Primeira Guerra Mundial está em curso e que isso só pode ser obra de Ares. Diana, então, irá com Trevor para Londres e de lá para o front de batalha, onde acredita que encontrará o Deus da Guerra.
Numa primeira análise, o filme é muito bom, salvo um pequeno defeito: ele foi um pouco arrastado na parte centrada em Londres logo após a chegada de Diana até o momento em que há a primeira grande cena de ação da personagem protagonista no front, quando a película realmente começa a esquentar. A parte inicial da ilha chegou a ser muito didática, explicando detalhadamente toda a mitologia grega envolvida na história, sendo muito atraente, pois construiu bem a personagem de Diana, algo do qual sentimos falta em “Batman vs. Superman”, embora devamos nos lembrar de que naquela película ela não tenha sido a personagem principal. Mesmo assim, ficou a impressão de que ela foi muito mal apresentada naquela ocasião. Outra virtude do presente filme foi a reconstituição da época da Primeira Guerra Mundial, feita com bons detalhes e ficando muito convincente.
O filme também não podia deixar de abordar a questão do empoderamento feminino, ainda mais numa época de machismo mais latente que o de hoje. Optou-se por trabalhar essa questão em alguns momentos com uma boa e precisa dose de humor sarcástico e, em outros momentos, de forma mais séria. Houve uma pequena imprecisão histórica (alerta de spoiler): lançou-se mão de um personagem real, o general Ludendorff, como um dos vilões do filme, e ele acabou sendo morto pela Mulher Maravilha ainda na Primeira Guerra Mundial. Mas é sabido que Ludendorff participou de uma tentativa fracassada de golpe na Alemanha em 1923, juntamente com Adolf Hitler, que ficou preso apenas um ano (Ludendorff nem para a cadeia foi). Essa situação um tanto incômoda de se ver um personagem real sendo morto num filme poderia ter sido evitada, simplesmente usando um personagem fictício. Mas o filme acertou na mosca ao abordar a questão da guerra e fazer uma ponte entre a Primeira Guerra Mundial e os dias atuais, quando mencionou o uso de armas químicas, presentes tanto no conflito do século passado quanto na atual Guerra da Síria. No mais, podemos dizer que a história foi muito bem construída, e Gadot arrasou, distribuindo carisma e sorrisos, sendo menos sisuda que a Mulher Maravilha de “Batman vs. Superman”. A se lamentar aqui foi a pieguice de se colocar uma fala para a protagonista do naipe de “Eu acredito no amor!”. Parecia que a gente via uma daquelas novelas mexicanas que o SBT passa de tarde. Diana Prince não merecia isso.
Fica aqui uma sugestão para os próximos filmes solo: continuar com a pegada histórica e da guerra. Poderíamos ver a moça na Segunda Guerra Mundial ou na Guerra do Vietnã. Isso a traria mais para o nosso mundo real e a afastaria a ilusão de que as guerras ocorrem por culpa de Ares. “Mulher Maravilha 2” não precisa ser nem nos dias atuais. Pode-se brincar um pouco mais com o tempo aqui, é o que eu creio.
Assim, “Mulher Maravilha” foi o melhor que a DC fez até hoje em termos de cinema. Uma personagem bem apresentada, uma boa reconstrução de época, uma história cativante e uma Gadot apaixonante, agradando a homens e mulheres. Desta vez, a DC acertou, apesar de algumas ressalvas. As mocinhas podem vestir a camisa e os mocinhos podem babar.
Batata Literária – Ilha das Ilusões Perdidas
Oh! O que vejo na praia?
Debaixo de coqueiros lilases
Bailarinas rosas, todas meninas, metendo os dedos
Dedos dos pés!
Na areia fofa, a saltitar
Elas são as melhores do mundo!
Todos os êxitos, nenhum fracasso!
E uma multidão a aplaudir
Olho para outro lado
E vejo meninos a jogar bola
Que craques maravilhosos eles são!
Dribladores inveterados!
Passam um, dois, três… e é gol!
Campeões do Mundo!
Taças, títulos e sucessos!
O Universo a seus pés!
Adentro a ilha
A floresta fica densa, escura
Tenho muito medo!
Quando o breu é total
Vejo um pequeno ponto de luz
Me aproximo e acho uma gruta
Cuja luz vem de dentro
Estou com receio, mas entro
Ali, encontro um mundo urbano
Só com adultos…
Um mundo cinza, de gente normal
Fazendo coisas normais
Motoristas, porteiros, professores
Bancários, farmacêuticos, médicos
Engenheiros, comerciantes, faxineiros
Todos com semblantes sisudos
Só aí é que me dei conta
Eles deram as costas para o mar
Abandonaram a infância
Voltaram-se para o real
Assumiram suas responsabilidades
Amadureceram e endureceram
Esqueceram os seus sonhos
E perderam as suas ilusões.
Batata Movies – Eva Não dorme. Cadáver E Fragmentos.
Uma co-produção França, Argentina e Espanha paira em nossas telonas. “Eva Não Dorme” é um filme que busca desmistificar um mito. E quanto mais ele tanta fazê-lo, mais o mito fica forte. É a história de um corpo, muitas vezes amado e violado, que passou décadas a fio numa jornada de martírio até encontrar o seu merecido descanso eterno.
E qual é o corpo em questão? O leitor mais atento já deve ter verificado no título que se trata de Eva Perón, uma espécie de mãe dos menos favorecidos na Argentina e verdadeiro símbolo nacional. Até hoje, quando passeamos nas ruas de Buenos Aires, sentimos a sua presença muito forte e viva, nos prédios, bancas de jornal e em qualquer lugar que você vá, sobretudo no cemitério da Recoleta, ponto turístico e cuja sepultura é muito visitada. O filme é muito bem dividido em três atos. O primeiro mostra a morte de Evita, o funeral e o embalsamamento. Se num primeiro momento, há uma enorme morbidez envolvida, a coisa descamba posteriormente para um certo momento de placidez, sobretudo quando o médico responsável pela preservação do corpo da ex-primeira dama modela o rosto do cadáver a seu bel-prazer, retirando-lhe a tensão e restaurando parcialmente seu sorriso. O segundo ato mostra um coronel trasladando o corpo para a Europa, numa operação altamente secreta e que conta com a ajuda de um soldado novato que não sabe o que o caminhão em que estão transporta. Aqui há todo um duelo psicológico entre os dois personagens que atinge as raias do altamente angustiante. Já a terceira história avança ainda mais no tempo e mostra o sequestro de um general por um grupo guerrilheiro de esquerda que pretende repatriar o corpo de Evita, obrigando o general a dar informações de como recuperar o cadáver sob a pena de matar o militar. As tentativas mal sucedidas do general em obter informações também são muito tensas.
A escolha em se dividir o filme em três pequenas histórias fragmenta a narrativa, tirando o espectador de sua zona de conforto. Mas o filme tem uma característica ainda mais forte. Ele é altamente soturno e claustrofóbico, tal como se todo o sofrimento infringido ao cadáver jogasse uma espécie de maldição sobre todos. Os cenários das três histórias são apertados e escuros (uma sala onde ocorre o embalsamamento, o interior da caçamba de um caminhão, uma prisão num aparelho de um grupo guerrilheiro). As frontes dos personagens são fantasmagóricas, onde cada história (talvez com exceção da primeira) exibe uma tensão crescente que termina numa explosão de violência. A escuridão da tela se irmana com a escuridão da sala de cinema e traz para o espectador uma sensação de sufocamento. Não dá para ficar indiferente a essa película.
E os atores? Gael Garcia Bernal, o grande medalhão do elenco apenas “passeia” no início e fim do filme, aparecendo pouquíssimo e, talvez, demasiadamente jovem para interpretar um militar golpista. Daniel Fanego, o general Aramburu, sequestrado pelos guerrilheiros, surpreendeu colocando frieza num personagem que estava numa situação desesperadora à beira da morte. Mas o grande nome do filme, sem a menor sombra de dúvida, foi Denis Lavant, interpretando o coronel da segunda história. O homem arrasou com sua interpretação de um militar rude e grosseiro, um cara que dava medo, principalmente por sua face altamente rugosa e cavernosa que a iluminação muito débil hipervalorizou em tons de claro e escuro assustadores. Nem lembrava o personagem (ou personagens) que interpretou no filme super doido Holy Motors. Sua atuação já vale o preço do ingresso.
Assim, “Eva Não Dorme” é um filme que, apesar de falar um pouco do que aconteceu com o corpo de Evita, e de acabar reforçando o seu mito ao invés de desmistificá-lo (muitas imagens de arquivo e sons de seus discursos são usados), traz outros elementos, como a construção das três histórias num clima altamente angustiante e sufocante, e ainda traz a soberba atuação de Denis Lavant como a cereja do bolo. Vale a pena dar uma conferida neste.
Batata Movies – Planeta Dos Macacos, A Guerra. Um Digno Desfecho.
Estreou “Planeta dos Macacos, A Guerra”, encerrando a saga de César e de seus companheiros símios. Confesso que conheço pouco dos filmes originais e séries lá das décadas de 60 e 70 mas, depois de ver todos os filmes da nova safra, pode-se dizer que as películas referentes à história de César são muito instigantes e, acima de um mero filme de ação, trazem também um convite à reflexão, algo pouco usual para um blockbuster, mostrando que a história pode ser encarada como uma ficção científica bem respeitável.
Mas, no que consiste a trama? César (interpretado por Andy Serkis) e seu grupo estão escondidos nas matas e rechaçam qualquer ataque do coronel que lidera os humanos (interpretado por Woody Harrelson). Entretanto, os símios estão submetidos a uma pressão cada vez maior dos humanos até que, num ataque surpresa, o coronel mata a esposa e o filho mais velho de César. O líder dos macacos decide retirar o grupo da floresta mas ele não o lidera, buscando vingança contra o coronel, não sem ser seguido por alguns de seus amigos.
Infelizmente, para fazer uma análise mais razoável do filme, alguns spoilers serão necessários aqui. Antes de mais nada, a película ensina a velha lição de que a vingança não leva a lugar nenhum, muito pelo contrário. Ao procurar caçar o coronal e esquecer o seu povo, César é severamente punido pelas circunstâncias, chegando a ser acusado de emotivo pelo coronel (no qual o humano está coberto de razão). É muito interessante notar as referências ao personagem Koba, que no filme anterior (“Planeta dos Macacos, A Revolta”) nutria um ódio sem fim pelos humanos e queria destruí-los, ao contrário de César que, apesar de sua profunda bronca contra os humanos, ainda tinha alguma esperança de coexistência pacífica. No presente filme, César é mais tomado pelo ódio e faz movimentos cíclicos de aproximação e afastamento de Koba que o assombra em visões e pesadelos, ora com ódio extremo aos humanos e, principalmente, ao coronel, ora com algum sentimento de compaixão e noção de que a vingança não leva a nada, já que seu amigo Maurice, interpretado por Karin Konoval (!), adotou uma menininha humana que havia ficado sozinha. Essa garotinha, Nova (interpretada por Amiah Miller), vai despertar surpresa em um César tomado pelo ódio ao cair em prantos perante a morte de um integrante do grupo de macacos. Assim, o personagem principal do filme oscila entre esses dois pólos: o da guerra e o da paz, o do ódio e o da compaixão.
Lamentavelmente, a tão prometida guerra final entre humanos e macacos não acontece. Houve muitas batalhas sangrentas, mas não houve um desfecho épico de guerra entre humanos e macacos. Nesse ponto, o filme pareceu tropeçar no próprio título e trocar gato por lebre. Mesmo assim, tivemos uma boa sequência final de ação, muito empolgante.
A arrogância humana em se querer brincar de Deus é também lembrada, por incrível que pareça, pelo próprio coronel. Houve uma preocupação em se justificar algo que acontecia nos filmes mais antigos. No “Planeta dos Macacos” original, os humanos nao falavam e se comportavam como animais irracionais. Na nossa presente película, esse estado animal dos humanos é provocado pela mutação do vírus que já atacou a raça humana nos filmes anteriores do século 21, o que fez o coronel “pirar na batatinha” e exterminar também os humanos infectados. Essa mutação seria um castigo à arrogância humana, nas palavras do próprio coronel.
Assim, “Planeta dos Macacos, a Guerra”, nos dá um digno desfecho à saga de César e de seus companheiros, pois é um interessante filme de ação que lançou reflexões sobre o sentimento de vingança e a arrogância humana. Apesar de não haver um conflito final propriamente dito entre humanos e macacos, a história optou por outras direções que não deixaram o desfecho menos interessante. E, além disso, tivemos boas atuações de Andy Serkis, (mesmo “virtualizado” pelo CGI) e Woody Harrelson. Vale a pena dar uma conferida.
Batata Jukebox – Zoolokologie (Jean Michel Jarre)
Uma música instrumental muito louca lá de 1984…
Batata Arts – Tesouros da Batata
Outro tesouro que não saiu na data correta e agora vem aí