Batata Movies – Crônica da Demolição. Construir E Destruir.

                                  Cartaz do Filme

Um bom documentário brasileiro em nossas telas. “Crônica da Demolição”, de Eduardo Ades, fala de um tema que é caro a muitas pessoas: o espaço urbano carioca. Mas vai falar desse espaço urbano de uma perspectiva nada romântica ou animadora. Aqui, o espaço urbano é tratado não como preservador de uma memória, mas sim o contrário: de como a nossa memória é sistematicamente apagada e simplesmente enterramos o nosso passado em escombros que são literalmente jogados no lixo, ou vendidos a preços de banana.

                             O Palácio Monroe

O apagamento da memória em questão se refere à destruição do Palácio Monroe, a sede do senado federal quando o Rio de Janeiro era a capital do país e, com a transferência da capital para Brasília, ficou ocioso. Durante o governo do presidente Ernesto Geisel, ou seja, em plena ditadura militar, decidiu-se demolir o palácio. A alegação inicial era de que a demolição era necessária para se realizar a obra do metrô, mas os trilhos passaram ao largo do terreno onde estava o palácio. Falou-se muito em especulação imobiliária, pois como o Rio de Janeiro é uma cidade espremida entre o mar e as montanhas, o preço dos terrenos aqui é muito alto. Mas nada de muito importante foi construído no lugar do palácio. Temos apenas um chafariz tristonho por lá e sem água, além de um estacionamento subterrâneo que só foi construído muitos anos depois da demolição. Assim, ficou a incógnita: por que o palácio foi destruído? Dizia-se, também, que, por ser uma obra eclética e antiga, ele era visto como um verdadeiro “trambolho” que tornava a cidade mais feia, indo na contramão de adeptos de uma arquitetura mais moderna como Le Corbusier e Lúcio Costa. Vemos aqui como também houve o discurso do embate entre a tradição e a modernidade na questão da demolição do palácio. De qualquer forma, fica bem evidente que a destruição do palácio foi uma decisão tomada de cima para baixo, sem qualquer preocupação com a preservação e o patrimônio. O próprio palácio, ao ser demolido, estava abandonado e empoeirado, numa mostra do descaso total com a memória de nosso país. Todas essas ideias são exibidas no documentário por vários especialistas em arquitetura e planejamento urbano, recheadas com muitas cenas de arquivo, que nos ajudavam a ter uma noção exata do que aconteceu do ponto de vista factual.

                                    A demolição

Mas o documentarista não optou por fazer um filme voltado a uma opinião própria e ele deu voz a pontos de vista contra e a favor da demolição. Talvez a maior prova disso (alerta de “spoiler”) seja a imagem final do documentário, onde vemos o espaço do antigo palácio tomado por um gramado cheio de pombos comendo milho, que foi estrategicamente espalhado formando um grande ponto de interrogação, espelhando a verdadeira incógnita por trás dos verdadeiros motivos pelos quais o palácio foi demolido.

                                 Um chafariz seco…

Assim, “Crônica da Demolição” é um documentário altamente recomendável para quem gosta da História da Cidade do Rio de Janeiro e de como seu espaço urbano e tratado ao longo do tempo. É um filme que aborda a delicada temática da preservação da memória, do embate entre a tradição e a modernidade e de como o autoritarismo latente de nossas autoridades simplesmente faz o que quer, pouco se importando com a opinião pública. Um filme muito importante, ainda mais para os tempos autoritários pelos quais nós temos passado.

Batata Movies – Clash. Do Camburão.

                  Cartaz do Filme

Um filme egípcio que é uma verdadeira porrada na cara passou em nossas telonas. “Clash” é um filme que fala de como a condição humana é testada até todos os seus limites. E de como o ser humano, ao fim das contas, tem apenas a si mesmo, por maior que sejam as discordâncias e adversidades entre os grupos sociais.

Qual é o cenário da história? Estamos aqui na famosa “Primavera Árabe”, quando vários países dessa etnia se levantaram contra seus governos autoritários. O maior ícone desse movimento é a sangrenta Guerra na Síria, que continua em curso e já matou milhares de pessoas, inclusive com ataques de armas químicas, que chegam a beirar o corriqueiro. Mas um dos primeiros países onde aconteceram as revoltas foi no Egito, que teve um longo governo militar. Depois de muitos levantes, o governo militar foi substituído por um governo civil liderado por um partido muçulmano. Dois anos depois, os militares retomaram o poder, não sem haver muita turbulência política, com o Egito dividido entre partidários da Irmandade Muçulmana, partido que foi demovido do poder, e partidários dos militares. O momento em que aconteceu esse golpe foi marcado por manifestações de rua de ambos os lados, regados a muita violência policial e um clima de guerra civil no país. É nesse contexto em que se passa o filme, cujo cenário é um… camburão de um caminhão da polícia (!). O filme começa com dois jornalistas sendo presos no tal camburão, que estava vazio. Mas aos poucos, o camburão vai enchendo. Partidários dos militares (!!) também são enfiados lá, confundidos com outra manifestação. Mais tarde, são os partidários da Irmandade Muçulmana que são presos dentro do caminhão. E aí temos um microcosmos da convulsão social do Egito dentro daquele camburão, com dois grupos que se odeiam vivendo dentro de um espaço ínfimo e aprendendo a se relacionar sem se matar. No início, a impressão é a de que haveria um verdadeiro massacre, mas todo mundo se acalmou quando a polícia ameaçou matar todo mundo (!!!). Situação bem pesada.

               Situações para lá de escabrosas

Esse é o tipo do filme que prende muito a atenção, dada a peculiaridade da situação e a denúncia que o filme faz do contexto da vida egípcia dos últimos anos, algo que beira o absurdo. Se ficamos escandalizados com o que acontece nas manifestações aqui no Brasil, no Egito a coisa é bem mais violenta, com direito a policiais alvejados por tiros de metralhadora de manifestantes ou a chuva de pedras de dezenas de manifestantes em viadutos, onde os morteiros também são muito comuns. Mas isso era o que acontecia fora do camburão. O mais importante no filme era justamente a situação de todos que estavam dentro do caminhão. A animosidade violenta do início foi dando lugar, aos poucos, a um sentimento de leve aproximação que depois chegou até a uma amizade, tudo isso ocorrendo em virtude da adversidade e opressão que assolava igualmente a todos. E, para sobreviver a tal pressão, a única saída ali era a solidariedade entre as pessoas, independentemente de qual segmento politico elas pertenciam. Um filme muito importante para se passar por aqui, que está num contexto de animosidade nem tão semelhante quanto ao do Egito, mas nem por isso menos grave.

            Diferentes grupos num microcosmos

Esse, também, é um filme que levanta uma dúvida e um medo com relação ao futuro de nosso país: até que ponto aquele clima de animosidade e de guerra civil que víamos na película pode se reproduzir por aqui? Ou será que isso já não está acontecendo e não é noticiado, dada a extensão do Brasil, e as inúmeras situações de conflito social? Vemos a violência nas ruas quando há manifestações? Mas, e nas comunidades urbanas menos favorecidas, onde o poder público (e a imprensa) não entram? Ou então, a violência no campo, que temos parcas notícias? Para onde toda essa convulsão social nos levará?

                       Muita violência nas ruas

Assim, “Clash” é um filme obrigatório, pois fala de violência, repressão, solidariedade. Um filme que nos faz refletir sobre o futuro que construímos para nós mesmos quando a intolerância e o autoritarismo imperam. Um filme que nos obriga a ficar frente a frente com problemas que não queremos encarar. Não deixe de ver.

 

Batata Movies – A Promessa. Triângulo Amoroso E Genocídio.

Cartaz do Filme

Um bom filme passou em nossas telonas. “A Promessa” é um daqueles filmes que você vai para ver atores. Mas atores que fizeram fama em blockbusters e agora mostram o seu talento em películas de cunho um pouco mais dramático, ou seja, é um espaço onde os atores podem se desenvolver mais sem o amparo dos espetaculosos efeitos especiais. Isso volta e meia acontece (vimos isso em “Paterson” outro dia com Adam Driver) e merece nossa atenção, pois só nos ajuda mais a gostar (ou não) dos atores que vemos pelos cinemas da vida. Os atores aqui em questão são Oscar Isaac (o Poe Dameron de “Guerra nas Estrelas”) e Christian Bale (que se imortalizou com “Batman”).

No que consiste a trama? Temos aqui um jovem rapaz armênio que mora numa pequena vila em território turco, Mikael (interpretado por Isaac) que quer ir a Constantinopla (atual Istambul) para estudar medicina. Para isso, ele se casa com uma moça de sua comunidade para obter o dote e, assim, ter dinheiro para fazer sua viagem e seus estudos. Mikael irá se abrigar na casa de um parente onde uma jovem moça, Ana (interpretada por Charlotte Le Bon) é um misto de babá e professora particular das crianças da casa. Os dois rapidamente se apaixonam. Mas Ana namora Chris (interpretado por Bale) um repórter americano que está de olho na situação do Império Turco Otomano. Estamos à beira da Primeira Guerra Mundial e a Turquia fez uma aliança militar com a Alemanha, aproveitando o momento para começar uma limpeza étnica que pretende riscar os armênios do mapa. Assim, vamos ver esse triângulo amoroso passar por muitas turbulências provocadas pelo primeiro genocídio do século XX, que é muito pouco conhecido.

Mikael terá uma vida muito sofrida

Após essa breve sinopse, nem é preciso dizer que o filme é muito mais que uma história de drama e romance. Se fosse somente isso, já seria uma película interessante. Mas aqui o cinema também cumpre sua famosa função social de denúncia, já citada em outros textos meus. Ainda mais porque o genocídio dos armênios cometido pelos turcos é algo muito pouco falado e até hoje os turcos não reconhecem publicamente esse fato. Esse elemento faz o filme crescer em grande importância, pois ele consegue expor a situação com uma grande dose de dramaticidade, não nos deixando indiferentes ao que se passa na tela. Presenciamos na película um verdadeiro massacre totalmente injustificado por maiores que sejam as causas que o provoquem, com vilas inteiras desarmadas sendo dizimadas sistematicamente, numa verdadeira política de extermínio.

Ana e Chris, um casal idealista

E os atores? Bom, foi dito acima que a gente vai ao cinema ver esse filme principalmente por eles. E nossos artistas não decepcionaram. É verdade que o filme gira em torno do personagem de Oscar Isaac, dando a esse ator maiores oportunidades de atuação e de se demonstrar seu talento. E podemos dizer que ele foi muito bem. Se no início do filme, ficou uma certa desconfiança com relação ao seu sotaque armênio relativamente exagerado que poderia beirar até o caricato, com o tempo Isaac vai nos conquistando com sua atuação, sobretudo nos momentos mais dramáticos, onde ele atuou de forma muito forte. A gente compra realmente o personagem com ele.  Christian Bale, apesar de ter tido menos tempo na tela, também foi muito bem. Ele passou uma figura mais rude e austera, um homem inconformado com a situação social pela qual os armênios passavam e, ao mesmo tempo, atormentado pela traição da namorada. Sentíamos um peso negativo em seu personagem, mas ao mesmo tempo ele nos atraía por lutar contra as injustiças que via. Um personagem complexo que é difícil de fazer, mais até do que o personagem de Isaac, mais simplório por ser o mocinho clássico. Já Charlotte Le Bon, a atriz que fez a doce Ana, não comprometeu, sendo a mulher que brincava com as crianças, a heroína que lutava por seu povo e a amante que era a pivô do triângulo amoroso que era interrompido a todo momento pelo motivo maior do genocídio e da necessidade extrema de se salvar os armênios.

Ana se envolverá com Mikael, dando início a um triângulo amoroso

Assim, “A Promessa” é um filme que chegou por aqui sem muito alarde e se prova ser uma película de boa qualidade pela interpretação de seus atores e pela séria questão social que aborda. Essa é uma grande pedida. Vale a pena dar uma conferida em DVD.

Batata News – Jedicon 2017. “Guerra Nas Estrelas” Retorna Ao Rio.

Palco do Auditório George Lucas

Aconteceu no Hotel Windsor da Barra da Tijuca nos últimos dias 8 e 9 de julho a Jedicon Rio de Janeiro 2017. Por dois dias, fãs de “Guerra nas Estrelas” de nossa cidade e de outros estados se encontraram num clima de grande confraternização. Também pudera. Esse é o ano em que “Guerra nas Estrelas” comemora quarenta anos e o Conselho Jedi Rio de Janeiro comemora vinte anos. Logo, essas datas não poderiam passar em branco e, depois dos esforços hercúleos de Brian Moura e Henrique Granado, e a contribuição dos benfeitores, que conseguiram tornar o evento possível, tivemos a nossa merecida convenção.

O humorista Fernando Caruso e o dublador Philippe Maia, atrações do evento, juntamente com Adriana Guedes, esposa desse humilde articulista

E o que rolou por lá? Cerca de quatro mil pessoas puderam presenciar na abertura, um divertido vídeo produzido pela Escaravelho Filmes e a Voltorama, onde Fernando Caruso, no papel de fã, é “abduzido” pelos personagens de “Guerra nas Estrelas” e levado para a Jedicon. Vimos, também, vários depoimentos de antigos e novos fãs que nos contaram como “Guerra nas Estrelas” entraram em suas vidas. Os amigos dos Conselhos Jedi de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia se fizeram presentes num grande clima de congraçamento e emoção. Outra atração foi a série de painéis onde tivemos excelentes palestras, sempre com um público concorrido no auditório George Lucas. Figuras já conhecidas como Eduardo Miranda, André Gordirro, o grupo de podcast Os Podcrastinadores, o grupo Jovem Nerd e muitos outros fizeram várias reflexões sobre a apaixonante saga e debateram com o público suas impressões em conversas altamente produtivas. Do lado de fora do auditório, stands de vendas atendiam a vários gostos do público: livros, action figures, camisas, pôsteres eram alguns dos itens à venda, que fizeram a festa dos fãs. Uma linda réplica da Millenium Falcon, rica em detalhes, deu o ar de sua graça, ao lado do já conhecido Yoda do Henrique Granado e do R2D2 do Felipe Trota. Em frente aos stands de vendas, um minipalco foi montado para que os palestrantes pudessem ter uma interação maior com o público, assim como houve algumas gincanas, onde prêmios eram distribuídos para quem acertava perguntas sobre a saga. Havia, também, um espaço separado para os fãs poderem tirar fotos com os palestrantes. Tivemos, também, atrações musicais no auditório George Lucas: as bandas The Screeners e Stormtroopers do Sucesso tocaram músicas que têm tudo a ver com a memória afetiva de todos os nerds.

Débora Otero (como Mara Jade) e este humilde articulista. Universo Expandido com presença garantida

Havia um segundo auditório, o Timothy Zahn. Lá houve também palestras sobre o Universo Expandido, apresentadas por Débora Otero e Nadja Lírio, além da exibição de Fan Films e duas sessões do documentário “Jedi Carioca”, que conta a história do Conselho Jedi Rio de Janeiro, dirigido por Helvécio Parente e produzido pela Escaravelho Filmes.

Notável cosplay de Chirrut Imwe, produzido por Roberto Tateishi

Um momento foi especial: a presença de dubladores de filmes de Star Wars. Pudemos ver figuras como Philippe Maia, o fundador do Conselho Jedi Rio de Janeiro e atual dublador de Poe Dameron, Adriana Torres, a dubladora de Rey, Renan Freitas, o dublador de Finn, Fernando Caruso, o dublador do Agente Kallus em “Rebels” e Mário Jorge Andrade, o antigo dublador de Luke Skywalker, também conhecido por dublar John Travolta e Eddie Murphy. Essa, definitivamente, foi a grande atração da Jedicon depois do cancelamento da vinda de Billy Dee Williams. Mas esperamos que o Lando Calrissian possa aparecer em outras oportunidades.

Eduardo Miranda também esteve presente, sempre com suas palestras cheias de informação e humor

Uma grande atração foi o concurso de cosplayers. Houve muitos concorrentes que representaram não somente o Universo dos filmes, mas também o Universo Literário, o que despertou bastante atenção. E os cosplayers capricharam. Além da presença do nosso já conhecido e amigo João Paulo Nogueira, de Rio das Ostras, que é a cara do Anakin Skywalker e que estava com uma lente de contato amarela de dar medo, tivemos como destaques, Felipe D’Almeida Ribeiro, o grande vencedor do concurso de sábado, com seu incrível cosplay do General Grievous, e Roberto Tateishi, que ganhou o prêmio do público com o cosplay de Chirrut Imwe, também no sábado. O homem foi tão perfeito que até falou no mesmo tom de voz do original. Era de arrepiar.

Felipe D’Almeida Ribeiro, com o impressionante cosplay do General Grievous

Pois bem, essas foram algumas das impressões da Jedicon esse ano. Se não tivemos um público como os que vimos no Planetário da Gávea em outros anos, ainda assim tivemos um público considerado muito bom para um evento na Barra, que ainda é vista de forma preconceituosa como uma galáxia muito distante (devemos nos lembrar de que o metrô já faz uns bons saltos no hiperespaço que deixam a Barra muito mais perto da gente agora). O Windsor tem uma excelente estrutura fora um ou outro problema que pode sofrer ajustes. E o saldo do evento foi muito positivo. Apesar de ser citado aqui somente os nomes de Brian e Henrique, muitos outros fãs ajudaram desta vez. Mas vou me reservar não mencionar o nome deles, pois posso cometer a injustiça de esquecer de alguém. De qualquer forma, todos eles estão em nossos corações e temos muita gratidão por eles. A gente sabe lá no fundo quem são. Verdadeiros amigos que se integraram à família jedi mais recentemente ou há mais tempo. Pessoas que me despertaram muita admiração quando eu fui ao primeiro Cineclube Sci Fi assistir à Blade Runner e descobri como ainda existe gente que se trata com carinho e consideração neste mundo cada vez mais violento e agressivo. A essas pessoas que dedicaram parte de suas vidas a organizar a Jedicon deste ano o nosso muito obrigado e a gratidão eterna. E que venham outras Jedicons por aí.

Uma sensacional réplica da Millenium Falcon

Batata Movies – Neve Negra. Drama Psicológico Com Verniz De Suspense.

Cartaz do filme

Ricardo Darín apareceu novamente no cinema argentino. Entretanto, a gente acaba lamentando aqui a sua pouca presença em sua nova película, mesmo que seu nome puxe os créditos. Uma pena, pois “Neve Negra” se revela um bom filme de drama psicológico, com uma pitada de suspense, embora o filme tenha sido vendido da forma completamente oposta.

Vemos aqui a história de Salvador (interpretado por Darín), um homem que vive recluso nas gélidas florestas da Patagônia. Ele vive de sua caça, pois está a quilômetros e quilômetros de distância de qualquer coisa civilizada. Salvador tem um irmão, Marcos (interpretado por Leonardo Sbaraglia), que vem a sua cabana com a esposa Laura (interpretada por Laia Costa). O assunto que levam os dois à casa de Salvador é a venda da propriedade da família e a consequente retirada de Salvador do terreno. Mas isso não é o único motivo de conflito entre os irmãos. O irmão caçula havia sido morto no passado por um tiro numa saída para a caça e a culpa de tudo ficou atribuída a Salvador, o que teria sido um “acidente”. Mas essa história estava muito mal contada e, aos poucos vamos descobrindo que a verdade é muito diferente do que foi mostrado no início da película.

Salvador, um verdadeiro eremita

Como a história é demasiadamente cativante, vou parar aqui com os “spoilers”. Além do roteiro bem escrito, a gente também pode mencionar uma primorosa montagem, pois a tensão do tempo presente no filme precisa ser alimentada por uma sucessão de “flash-backs” que devem entrar nos momentos certos, numa constante interação entre presente e passado. Isso tem que ser feito de forma bem engenhosa para não criar confusão na mente do espectador, assim como a narrativa não pode ficar mais concentrada no presente ou no passado, precisando ficar bem distribuída, como aconteceu no filme. Outra virtude da película foi o clima altamente soturno que permeia toda a história, que foi vendida mais como um filme de suspense. A fotografia e a música da película sufocam o espectador com essa impressão de suspense e o clima pesado não arreda o pé da história um instante sequer. Mas creio que a principal característica do filme é a do drama psicológico, pois o passado dos irmãos foi manchado por violentos traumas, onde o isolamento dos filhos feito por um pai opressor provoca uma sucessão de pequenas tragédias que culminam na morte do filho caçula.

Marcos terá que convencer o irmão a sair da propriedade da família

Com relação aos personagens, essa é uma história mais centrada no casal Marcos e Laura. Salvador fica numa posição mais periférica e sua natureza rude e introspectiva causava uma má impressão inicial em seu personagem. Sua pouca participação no filme foi outro problema, pois não deu voz ao personagem ao longo da trama e tempo para desenvolver sua história, o que é um desperdício em se tratando de Darín e de um filme onde ele encabeça o elenco nos créditos. Ficou uma má impressão de que o ator ficou muito mal aproveitado.

Uma coisa que ficou um pouco complicada foi o desfecho, onde apareceu uma situação meio “Mandrake”, ou seja, mesmo que o cinema possa lançar mão de toda uma licença poética, a solução de todo mistério e de todo o passado nebuloso veio de forma extremamente fácil, já ao apagar das luzes da história. Teria sido muito mais saboroso se esse mistério tivesse sido desvelado aos poucos (e até o foi), mas sem um desfecho tão abrupto e pouco plausível. De qualquer forma, a história de “Neve Negra” ainda pode ser considerada muito boa e com notáveis reviravoltas.

Laura. Participação importante na trama

Assim, vale muito a pena ver Darín novamente atuando, embora tenha sido muito pouco para quem é fã de verdade desse grande ator argentino. Que bom que, pelo menos as atuações de Leonardo Sbaraglia e Laia Costa também tenham sido boas, já que o filme foi mais centrado nesses atores. Apesar de algumas situações inusitadas, “Neve Negra” é um bom filme de drama psicológico, regado a um clima soturno de suspense. Vale muito a pena dar uma conferida quando sair nas locadoras.

Batata Books – Darth Bane, Caminho De Destruição. A Criação Da Regra De Dois Dos Sith.

 

                                    Capa do Livro

A Editora Universo Geek é mais uma que investiu na franquia “Guerra nas Estrelas”. Ela tinha se notabilizado em enfocar a trajetória de personagens já conhecidos da trilogia original como Obi Wan Kenobi, Luke Skywalker e Darth Vader. Mas, recentemente, a editora deu um tiro certíssimo: publicou “Darth Bane, Caminho de Destruição”, escrito por Drew Karpyshyn, com o selo “Legends”. Esta é uma obra da Velha República, ou seja, se passa mil anos antes da ascensão de Palpatine ao poder e do surgimento do Império Galáctico. Confesso que sou um pouco suspeito para falar desse livro, pois a época da Velha República me atrai muito, já que é lá que está a gênese dos sith. E, como a literatura de “Guerra nas Estrelas” tem se mostrado muito melhor que os filmes em si, sobretudo o Universo Expandido da série “Legends”, o anúncio da versão em português de “Darth Bane” me cercou de muitas expectativas. E, agora com o livro lido, posso dizer que ele foi muito à altura do que eu esperava, se não foi mais do que isso.

Bane, o criador da regra de dois dos Sith

Mas, do que consiste a história? Vemos aqui a vida de Dessel, um minerador que tem uma vida para lá de dura no planeta Apatros, pois ele extrai cortosis, um metal que é usado para fazer blindagens de naves e armaduras, sendo muito difícil de extraí-lo da rocha. Assim, Dessel é submetido a uma cansativa rotina diária de trabalho. Para piorar a situação, a mineradora era controlada pela Companhia de Mineração da Orla Exterior, que explorava os seus mineradores de forma extremamente violenta, impondo-os praticamente a uma escravidão por dívidas. O passado de Dessel também foi marcado por muita dificuldade, pois ele tinha um relacionamento altamente turbulento com o pai, outro minerador. A República estava em guerra com o exército Sith e o cortosis era indispensável para a luta. Depois da chegada de alguns membros do exército da República, Dessel acabou entrando em conflito com eles e matou um dos soldados, sendo obrigado a fugir do planeta minerador. Procurado pela República, Des opta por procurar se alistar no exército Sith, trocando seu nome para Bane. Será a partir daí que o ex-minerador se lançará para um mundo totalmente novo.

Githany, uma relação perigosa

O livro tem uma história muito cativante que prende o leitor do início ao fim, sendo de leitura bem rápida. Há um ambiente soturno que permeia todas as páginas, fazendo jus a toda a ideologia do lado sombrio da Força. Algumas passagens são marcadas por momentos de violência extrema, que chocam não somente pela violência em si, mas também pela indiferença de Bane aos crimes que cometia. O desfecho tem pesados tons apocalípticos, premeditadamente calculados.

Agora, o livro chama a atenção para uma fórmula que, se já está um pouco gasta de ser tanto usada, ainda assim nos leva a uma boa lição: o ser humano é produto do meio em que vive, ou seja, o mal não vem apenas do lado sombrio ou ele é inerente ao personagem. Um pai violento, uma rotina exaustiva de trabalho com colegas de profissão agressivos e uma empresa que explorava seus empregados de forma selvagem, tudo isso amparado por uma República em guerra complacente com o mau tratamento dado aos mineradores, já que necessita do cortosis para as lutas contra os inimigos Sith  ajudaram a formar a má índole de Dessel. A entrada para o exército Sith foi somente a cereja do bolo do mal que se tornou Bane, que aliou o treinamento de seus mestres com os escritos sith antigos e milenares, algo desprezado pela Academia Sith da qual fazia parte. Foi através de seus estudos dos antigos textos Sith que Bane chegou à conclusão da famosa Regra de Dois, onde devem existir apenas dois Siths: o mestre e o aprendiz que cobiça o poder do mestre. Buscar um comportamento militarista e coletivo afastava os Sith da essência do lado sombrio da Força. O verdadeiro Sith deve se aproximar do lado sombrio em toda a sua plenitude. Ele não deve se apoiar em poderio militar, mas sim na sua capacidade insidiosa de manipular e ser traiçoeiro. O sentimento de companheirismo e a glória da vitória e do sacrifício obstruem a jornada para a verdadeira essência do lado sombrio. Com essa explicação bem convincente, Bane faz a sua jornada em busca do lado sombrio, passando por cima de todos, sendo mais mau do que um Pica-Pau. E a boa notícia é a de que este livro é apenas o primeiro de uma trilogia sobre esse importante senhor sombrio que rechaça o título de Lorde e faz questão do título de Darth. A diferença entre esses dois títulos? Procure no livro! Você não vai se arrepender.

Kopecz descobrirá Bane

Dessa forma, “Darth Bane, Caminho de Destruição” é mais uma grande história da literatura de “Guerra nas Estrelas”, do selo “Legends”. Mais um grande ponto para o Universo Expandido, que traz histórias de alta qualidade para a franquia. Dando mais conteúdo para a Velha República e para a história dos Sith, esse livro dá uma explicação bem embasada para a famosa regra de dois dos Sith. Um livro imperdível!