Batata Movies – Fragmentado. X-24

Cartaz do Filme

E estreou o novo filme de M. Night Shyamalan. “Fragmentado” faz jus ao seu título, pois tem também uma narrativa fragmentada, embora isso não signifique que o filme tenha uma má qualidade. Altos e baixos, entretanto, aparecem na trama. E uma brilhante atuação de James McAvoy.

Um homem atormentado

“Fragmentado” é a história de um homem atormentado pelas suas vinte e três personalidades (interpretado por McAvoy). Ele consegue lidar com todo esse imaginário coletivo de um homem só graças à ajuda de sua terapeuta, Karen Fletcher (interpretada por Betty Buckley), o que deu ao filme um interessante contorno de drama psicológico. As sessões de análise entre a psicóloga e seu paciente constituíam as melhores partes do filme, sem sombra de dúvida, e o espaço onde McAvoy foi melhor em toda a película. Mas nosso amigo n-polar fez uma coisa muito errada: sequestrou três garotinhas adolescentes e as manteve confinadas.

Hedwig. Excessivamente caricato

Na cabeça atormentada de nosso protagonista, as menininhas nunca tinham tido uma vida de privações e sofrimentos e deveriam agora passar por uma espécie de ritual de iniciação, enquanto que os demais membros de seu círculo esperavam a vigésima-quarta personalidade que estava para chegar, intitulada “a Fera”, que era altamente violenta e uma grande ameaça.

Patricia. Excessivamente contido

Bom, é desnecessário dizer novamente que essa foi a melhor atuação da carreira de McAvoy, até porque o filme deu ao ator uma oportunidade ímpar de interpretar simultaneamente vários papéis, onde podíamos testemunhar todas as suas nuances, do complexo ao simplório e caricato. No ambiente onde ele estava com as meninas, até pelo tom de dramaticidade da coisa, suas atuações eram mais extremas, principalmente quando ele fazia Hedwig, o menino de nove anos. Ao interpretar Patricia, estava excessivamente contido e delicado. O ponto de equilíbrio estava em Dennis, o sequestrador cheio de sobriedade e serenidade. Já na casa da psicóloga, suas atuações estavam muito mais espontâneas e ali McAvoy mostrou o que tem de melhor em termos de atuação (os closes nele ajudaram bastante), embora não devamos nos esquecer de que ele fez Barry, um “estilista” muito caricato e efeminado por lá. De qualquer forma, somente por apresentar todas essas facetas, já podemos perceber como McAvoy realmente fez o melhor trabalho de sua carreira, embora ele se apresentasse com a cabeça raspada e estivesse a cara do Professor Xavier.

Dennis, o mais sóbrio

Fragmentada, também, foi a narrativa. No início, tivemos três tramas paralelas: o sequestro em si, as sessões de análise do protagonista com a terapeuta e detalhes da infância de Casey (interpretada por Anya Taylor-Joy), uma das moças sequestradas, a mais “outsider” de todas. Nas três tramas, com maior ou menor intensidade, houve um gosto de drama psicológico que no início prende a atenção, mas que, com o tempo, foi cansando um pouco. Num segundo momento, o filme descambou para um forte suspense com arroubos de terror, numa violência banalizada com cara de fita B. Quando parecia tudo perdido, veio um notável desfecho que salvou o filme e que os “spoilers” me impedem de dizer.

A Fera!!!

É muito importante mencionar aqui que a temática “outsider” ajudou muito a cimentar e a dar valor à película. Casey era a menina deslocada e pouco popular que mais lidou bem com a situação do sequestro e de interagir com um homem também deslocado e atormentado pelas suas múltiplas personalidades. Não é à toa que essa moça foi a única a ter a sua vida pregressa esmiuçada ao longo do filme (embora isso não tenha sido feito de forma uniforme ao longo da película e isso tenha incomodado um pouco). Essa pitada “outsider” ao filme lhe rendeu um sabor todo especial e acabou sendo a razão de ser de toda a história.

Casey, a “outsider”

Dessa forma, se “Fragmentado” tem altos e baixos em sua estrutura narrativa, ainda assim é um filme que vale muito a pena, em primeiro lugar pelo excelente trabalho de James McAvoy, em segundo lugar pelo interessante drama psicológico, e em terceiro lugar (mas principalmente) pelo quê “outsider” da película. Engraçado que, nesse ponto, o filme se aproxima de “A Bela e a Fera” da Disney, lançado recentemente. Temos até a “Bela” Casey e a “Fera” vigésima-quarta personalidade. Devaneios à parte,vale a pena dar uma conferida nessa película.

https://youtu.be/0gvYypHN_uo

Batata Movies – Fome De Poder. Motherfucker’s

Cartaz do Filme

E chegou às telonas o filme sobre o McDonald’s, estrelado por Michael Keaton. Mais exatamente, esse é um filme sobre Ray Kroc (interpretado por Keaton), um vendedor de máquinas de milk-shake que não parecia ter muito futuro, até o dia em que ele vendeu oito máquinas de milk-shake para os irmãos Mac e Dick McDonald, quando conheceu o sistema de produção de hambúrgueres que ficavam prontos em apenas 30 segundos, numa época em que as lanchonetes demoravam muito para fazerem comida e trocavam os pedidos.

Um vendedor de máquinas de milk-shake, digamos, mal sucedido

Não havia pratos ou talheres. A comida era colocada em sacos e copos de papel e as pessoas comiam onde quisessem. O ano era 1954 e Kroc viu um grande futuro nisso, com o sonho de abrir muitas franquias das lojas pelos Estados Unidos inteiros. Mas, antes disso, ele teria que fazer uma sociedade com os irmãos e, ainda por cima, entrar em conflito com os mesmos que não queriam fazer a rede de fast food crescer muito em nome da qualidade da comida que vendiam (os irmãos temiam que com o aumento de franquias, cada loja desse uma qualidade e um tratamento diferente para a comida que vendiam, piorando o serviço).

Dois irmãos que serão passados para trás

Bom, para não dar tantos mais spoilers, esse aqui é um dos filmes onde se fala de capitalismo, obviamente. Mas se fala de um jeito dúbio. Cá para nós, esse Ray Kroc foi um tremendo de um motherfucker, e passou para trás os dois irmãos que tiveram toda a ideia que concebeu originalmente o que o McDonald’s é hoje. Assim, o filme carrega o nosso protagonista nas tintas da vilania. Mas também carrega nas tintas do grande herói americano empreendedor, que tem na sua visão e persistência as grandes virtudes. Se o McDonald’s ficasse na filosofia dos dois irmãos fundadores, ele seria uma lanchonetezinha de interior e nada mais.

Descobrindo uma lanchonete

Foi Kroc quem deu uma dimensão mundial à marca. Assim, Keaton teve a dupla tarefa de encenar o ideal de empresário de sucesso na Meca do capitalismo e, ao mesmo tempo, ser o cara filho da mãe inescrupuloso que passa por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos. Nem é preciso dizer que o ator veterano foi muito bem. E, por isso mesmo, sua presença tem sido cada vez maior nos últimos filmes que temos visto por aqui. Laura Dern, como a esposa abandonada de Kroc, que mais flertava com sua ambição, também foi muito bem. O peso da idade já atinge o semblante da atriz que, entretanto, não perdeu sua beleza e doçura. E dava dó da mulher ser tão abandonada pelo marido, o que significa que sua atuação convenceu bastante.

Fundando um Império

Assim, “Fome de Poder” é um interessante filme que fala de um Império que está muito presente na vida de muitas pessoas hoje em dia, que é a cadeia de lanchonetes McDonald’s. Esse é um filme dos heróis dúbios do capitalismo empreendedor, que são um exemplo de sucesso e persistência, mas também um paradigma clássico da ambição e falta de escrúpulos de quem busca o lucro e o sucesso à qualquer custo. Um bom papel dado a um grande ator que é Michael Keaton e parece estar mais em forma agora do que nos anos 80, quando era mais jovem. Vale a pena dar uma conferida.

https://youtu.be/hpSRzLUFkN4

Batata Literária -A Autopiedade (Série Obscura)

Encerro hoje a minha série obscura de quatro poesias sobre os defeitos humanos. Falemos hoje da autopiedade…

Pobre de mim!
Sou um coitado!
A vida é uma crueldade sem fim!
E sou sempre vitimado!
Sou perseguido por todos!
Vejo conspiração em toda a parte!
Minha existência nada tem de arte.
É apenas um fluxo interminável de enjoos.
Por que o mundo me odeia?
O que fiz de mal contra quem me cerceia?
Assim que vi a perseguição, apenas fugi
e aí mais atrás de mim correram, nunca vi.
Dando explicações injustificadas,
falando coisas erradas.
Eu juntava um pouco de coragem e, grosseiro, retrucava,
e a pessoa fechava a cara e se afastava.
Desde então, a mim próximo fica
em estado de revolta explícita.
Será que falei algo de errado?
Por que todo esse estado?
A vítima aqui sou eu!
Ninguém sabe quem mais sofreu.
Portanto, tenho o direito de temer
e a quem eu quiser desmerecer.
Concluindo essas linhas, continuo sem uma coisa entender:
por que não gostam de minha pessoa e me fazem padecer.
Será que é verdade aquele negócio
de que o medo gera a mentira e o ódio?
Será que a culpa não é minha,
dessa trajetória tão sem linha?
Não, isso ser não pode,
pois a autopiedade é a minha ode.