Batata Movies – Moonlight, Sob A Luz Do Luar. O Grande Vencedor Do Oscar 2017.

Cartaz do Filme

O encerramento da cerimônia do Oscar esse ano deu o que falar em virtude da tremenda trapalhada que aconteceu justamente no momento de se anunciar a maior premiação da noite, a de melhor filme. Uma infeliz troca de envelopes provocou toda a confusão e, erroneamente, “La La Land” foi anunciado como o melhor filme. Os responsáveis pela película já faziam o discurso de agradecimento quando foi feita a retificação e “Moonlight, Sob A Luz Do Luar”, foi anunciado como o verdadeiro vencedor. Isso provocou uma onda de indignação, sobretudo para os fãs de “La La Land”. Mas, “Moonlight” realmente mereceu o prêmio? Eu estava num voo cego quanto a essa questão, pois assuntos de ordem carnavalesca não tinham me permitido assistir ao filme ainda. Passado o Carnaval, corri para o Espaço Itaú para assistir ao grande vencedor da noite. E aí, tenho alguma coisa a dizer agora.

Juan, um pai postiço

Mas, no que consiste a história? Numa comunidade negra e marginalizada de Miami, temos um menininho negro, Chiron, e vemos a sua vida dividida em três partes ao longo do filme (infância, adolescência e idade adulta). O garotinho vivia com a mãe, Paula (interpretada pela bela atriz Naomie Harris, indicada para melhor atriz coadjuvante no Oscar desse ano), que era viciada em crack. O menino era supertímido e vivia sendo perseguido pelos colegas da escola. Num belo dia, ele se escondeu numa casa abandonada para fugir de uma surra e foi encontrado por Juan (interpretado por Mahershala Ali, o vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante), um traficante local. Juan fica intrigado com a forma como Chiron é fechado e arredio, simpatizando com o menininho. Mas Paula não queria saber de Chiron perto do traficante. Mesmo assim, os dois desenvolvem uma grande amizade, já que Chiron não tem qualquer apoio afetivo (a mãe vive drogada e leva homens para casa o tempo todo, hostilizando o filho seguidamente). Assim, Juan vai ser uma espécie de pai para o menino. A partir daí,  vemos todo o desdobramento da vida de Chiron, onde seu amigo Kevin tem um destaque especial em todas as fases de sua vida. Mas, infelizmente, os “spoilers” não me permitem dizer.

Chiron, profundamente humilhado…

Vamos lá. O filme mereceu ganhar o prêmio máximo deste ano? Em primeiro lugar, é um bom filme, embora eu tenha achado o desfecho muito repentino. A película tem o grande mérito de envolver o espectador paulatinamente, mas o ritmo é demasiado lento. Só que o magnetismo do filme é tão grande em torno da vidinha de Chiron que o público compra a ideia e o segue o tempo todo. E, de repente, um desfecho abrupto, do estilo “Ué, já acabou?”. A única explicação para isso em minha cabeça é a de que a intenção da película é mostrar que a vida real nada tem de espetacular e que as coisas são assim mesmo, tudo vai permanecer como antes. No máximo, uma aventura fugaz aqui e ali. Mas ainda assim, fica a impressão de que a história poderia ser um pouco mais desenvolvida, que as longas partes anteriores poderiam ser um pouco mais sintetizadas para se dar um desfecho mais movimentado para a vida adulta de Chiron.

Paula. Uma mãe que não dá suporte afetivo ao filho

Entretanto, é tudo uma questão de opção de quem escreve e dirige o filme, no caso Barry Jenkins, e devemos respeitar seu ponto de vista. Outro detalhe interessante é que esse é um filme sobre uma comunidade negra relativamente pobre, mas o tema da questão racial é somente levemente abordado, principalmente nos apelidos que Kevin dá a Chiron. Fica a impressão de que a Academia premiou esse filme neste ano em virtude das severas críticas que recebeu nos últimos dois anos, onde até acusações de racismo foram feitas. Esse ano, atores negros e filmes com temática negra foram indicados (“Moonlight” recebeu cinco indicações e recebeu três Oscars) mas, paradoxalmente, “Moonlight”, que recebeu o maior prêmio da noite, é muito mais um filme sobre a condição humana do que a questão racial. Será que isso foi uma estratégia da Academia? Ou seja, premiar um filme “negro” (ou afro-americano, como queiram) que fale o mínimo possível das questões raciais? Todas essas questões colocam em dúvida se “Moonlight” recebeu a premiação pela sua qualidade ou por apenas uma mera questão politica, embora não possamos negar que foi um filme muito bom. Quanto ao fato de se “La La Land” merecia ser o melhor filme, em primeiro lugar, ele recebeu seis Oscars, e isso já é algo muito bom, diga-se de passagem. Esse foi o ano em que se homenageou os musicais, assim como o cinema mudo já havia sido homenageado (lembram-se de “O Artista” e “A Invenção de Hugo Cabret”?) e “La La Land” foi tudo de bom. Mas fica difícil de comparar com “Moonlight” por serem dois gêneros completamente diferentes, coisa do tipo querer comparar sapato com maçaneta. Talvez “La La Land” pudesse receber o prêmio em virtude dos problemas do roteiro de “Moonlight”. Mas é difícil de se falar sobre isso, até porque havia muitos outros bons filmes. Não seria surpresa se “Manchester à Beira Mar” ganhasse o prêmio de melhor filme por exemplo. Mas o vencedor foi “Moonlight” e ponto final. Mereceu? Se considerarmos o final abrupto, creio que não. Mas nem sempre o critério de qualidade é o único que importa nessas escolhas.

Kevin e Chiron. Amizade com peculiares detalhes

Quanto aos outros dois Oscars que “Moonlight” ganhou, um foi bem merecido. Que grande atuação essa de Mahershala Ali, digna de receber o prêmio de ator coadjuvante! O ator conseguiu dar um alto grau de empatia ao seu personagem, mostrando um lado terno e afetivo de um tipo imerso num meio rude e violento. A ideia de se fazer de um traficante de drogas uma espécie de pai e vínculo afetivo para Chiron foi simplesmente genial, ajudando ao público a rever alguns estereótipos e preconceitos que rondam sua mente. Já o prêmio de roteiro adaptado, bom, eu não gostei muito do desfecho do filme, como já disse. Mas devemos nos lembrar de que esse filme também ganhou o Globo de Ouro de melhor filme de drama. É realmente tudo uma questão de gosto.

Chiron adulto. A história poderia ser mais bem trabalhada aqui…

De qualquer forma, não deixe de assistir “Moonlight”, pois é um filme, acima de tudo, que fala da condição humana e que mostra como o ser humano somente consegue se construir como indivíduo, para o bem ou para o mal, com as lições e vínculos que estabelece com outros seres humanos. É o tipo de película que vai te deixar comovido.

https://youtu.be/I9Si4dQw9-E

Batata Movies – Logan. Um Digno Desfecho.

Cartaz do Filme

E finalmente chegou a primeira boa estreia cinematográfica do ano para quem gosta de super heróis, sobretudo os da Marvel. “Logan” é o último filme de Wolverine interpretado por Hugh Jackman, o único ator que participou de todos os filmes dos X-Men e ainda teve uma carreira solo com seu personagem. E podemos dizer que este foi, disparado, o melhor filme de Wolverine e um dos melhores do Universo de X-Men, pois “Primeira Classe” foi também muito bom. Um digno desfecho a um super herói muito cultuado. Faremos, agora, uma pequena sinopse que vai conter alguns “spoilers”.

Um Wolverine envelhecido

O ano é 2029 e Logan está envelhecido e doente, trabalhando como motorista de aluguel, numa espécie de “Uber”. Seu corpo não se regenera tão bem como antes e toda pancadaria em que se envolve lhe deixa umas sequelas pesadas. Charles Xavier (interpretado por Patrick Stewart, o eterno capitão Picard de “Jornada nas Estrelas”) ainda está vivo e tem cerca de noventa anos. Ele precisa viver à base de medicamentos, pois agora tem convulsões e cada convulsão sua é uma espécie de arma de destruição em massa que provoca muitos estragos. As coisas realmente não iam bem e os heróis de outrora definhavam. Até que, um belo dia, uma enfermeira mexicana aparece com uma menininha, Laura (interpretada por Dafne Keen), pedindo uma desesperada ajuda a Logan, que não quer saber de se envolver mais em confusão. Laura é uma criação de laboratório, uma mutante do projeto X, que pretende fazer mutantes artificiais para combater os mutantes já existentes e extingui-los. Há poucos mutantes no mundo e eles são caçados impiedosamente pelos responsáveis do projeto X. Várias crianças além de Laura faziam parte desse projeto e desenvolveram vontade própria, saindo do controle. Os responsáveis pelo projeto X decidiram exterminá-las e a tal enfermeira conseguiu salvar Laura, que acaba nas mãos de Wolverine e de Xavier. Agora, os dois terão que proteger a menininha dos cruéis vilões (embora ela não precise tanto de proteção assim) e levá-la para uma espécie de “Éden” que somente existe nas revistas em quadrinhos dos X-Men. Complicado.

Precisando salvar a filhinha…

Bom, o filme tem todas as cenas de ação, violência e pancadaria do mundo que qualquer fã gosta. São cenas excelentes e que despertam muita adrenalina, como todo bom filme do Wolverine deve ter. Mas esse filme teve algo a mais. Um futuro totalmente distópico para os mutantes, por exemplo. Ver os antigos heróis velhos e doentes foi uma coisa que realmente pesou na alma. Xavier meio gagá, meio confuso e sem domínio de seus poderes, uma caricatura do cientista brilhante de tempos mais antigos. Um Logan deprimido, rabugento e debilitado. E um grupo de caçadores de mutantes jovem e violento, que nossos envelhecidos heróis não conseguiam dar conta. E aí, é dado todo o espaço para Laura, a X-23, que toca um terror geral. Essa atriz, a Dafne Keen, foi muito bem em seu debut no cinema. A menina tinha uma cara de má e era o catiço puro!!! Ela foi responsável por muitos dos “fucks” e “shits” soltados por Logan ao longo do filme. Aliás, lanço desde já o desafio: quantos “shits” e “fucks” o Logan falou no filme inteiro? Quem tiver paciência para contar… mas voltando a Dafne Keen, a mocinha arrasou. Só esperemos que isso não prejudique a carreira dela e a atriz mirim fique rotulada como X-23 e filha de Logan, já que seu papel teve muito destaque na película.

… e Charles Xavier

Assim, “Logan” é um filme obrigatório para todos os fãs de super heróis. Foi um desfecho digno e honrado para o personagem de Wolverine e para a participação de Hugh Jackman em toda essa verdadeira saga (o termo franquia é muito pequeno para ser usado nesse caso). Um filme que nos leva às lágrimas no final. E um daqueles filmes do Universo X-Men que vale a pena você ter o DVD, ao contrário de alguns outros. É um programa imperdível!

 

Batata Movies – A Bailarina. À Francesa

Cartaz do Filme

Uma interessante animação passou em nossas telonas. “A Bailarina” é um filme ambientado num cenário que não estamos muito acostumados a ver em animações: A Paris da virada do século XIX para o XX, numa época em que a Torre Eiffel ainda estava em construção e que a Estátua da Liberdade era construída em solo francês para ser depois transportada para os Estados Unidos. Somente esses detalhes já chamam a atenção para a película. Mas essa animação não é só isso. Nós temos outras virtudes.

Felícia tem um grande sonho

Vemos aqui a história de Felícia e Victor, duas crianças que vivem em um orfanato na França e querem fugir para Paris. O sonho de Felícia é ser bailarina do Opera de Paris e o de Victor, ser um grande inventor. Os dois conseguem fugir do orfanato e chegar à cidade-luz. Mas um acidente faz as crianças se separarem, não sem antes eles marcarem um ponto de encontro e um horário. Felícia entra escondida no Opera de Paris e foi encontrada por um funcionário, mas foi protegida pela faxineira. A mocinha, então, vai ficar ao lado da faxineira, que inicialmente a repudiou, mas que depois aceitou a ajuda dela para fazer a limpeza do prédio de uma senhora muito má que era a sua patroa. Essa senhora tinha uma filha que havia recebido uma chance para um teste no corpo de bailarinas do Opera, mais por questões financeiras, o que irritou o professor das bailarinas, muito rigoroso com as meninas por sinal. A carta que dava acesso ao teste acabou parando nas mãos de Felícia, que se apresentou no lugar da filha rica. Mas Felícia, que estava se destacando nas aulas, onde somente uma bailarina seria escolhida, foi descoberta. Entretanto, ela não foi eliminada pelo professor, que a manteve na disputa, sendo que a órfã precisava ganhar a todo custo ou seria expulsa do Opera e retornaria ao seu orfanato. Para isso, Felícia contaria com a ajuda da faxineira, que era uma antiga bailarina do Opera e a treinaria.

Junto com seu amigo Victor, Felícia irá a Paris

É uma historinha simples, mas bonitinha. O grande barato é que alguns personagens que, aparentemente, eram extremamente rudes, aos poucos vão mostrando seu coração mais mole e ficam amigos da órfãzinha que quer ser bailarina, casos da faxineira, do professor, da filha da vilã e até do vigia do orfanato, numa mostra de que nem sempre uma pessoa é totalmente boa ou má. Somente a vilã era ruim toda a vida e não teve jeito, esse personagem caiu no estereótipo. A amizade entre Felícia e Victor foi outro fator interessante, pois à medida que ela ficava mais íntima do Opera, mais ela se afastava de seu antigo amigo, o que gerou turbulências entre os dois. Falar como foi o desfecho dessa amizade talvez nem seria um “spoiler” de tão óbvio que ele é. Ou seja, “A Bailarina” é diversão pura, não trazendo nada de novo em termos narrativos. Mas, mesmo assim, é uma animação atraente e instigante, pela determinação da menininha órfã em dançar o “Quebra Nozes”, de Tchaikovsky com a primeira bailarina do Opera.

Treinando muito para conseguir seu objetivo

Assim, vale a pena se divertir com “A Bailarina”, pelo ambiente envolvido na história, que difere um pouco do que vemos nas animações da Disney, por exemplo. Se é uma história que nada apresenta de novo, ainda assim ela é muito divertida e entretém. As menininhas que estavam na sala adoraram, pois ao final do filme, elas rodopiavam e rodopiavam em direção à saída. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Literária – A Ingratidão (Série Obscura)

Nota do autor: Farei uma pequena série de poesias conhecida como “obscura”, que abordará alguns defeitos humanos. Serão quatro poesias. Não tenho uma intenção inicial de ampliar essa série, embora ninguém sabe o que nos reserva o amanhã. A primeira poesia vai falar de um dos piores defeitos humanos, a ingratidão…
Eu gosto de tudo dos meus amigos ganhar
para nada em troca dar.
Sou mesquinha, egoísta e insensível.
A ternura eu acho algo risível.
A afeição é uma dama horrível.
O carinho é coisa de bobinho.
O companheirismo eu vejo com cinismo.
Minha virtude é só pensar em minha atitude.
Alguns vão me condenar.
Mas eu não estou nem aí para quem quer me criticar.
Faço pouco daqueles que pensam em mim.
Que idiotas! Penso eu, como quem manipula um arlequim.
Minha intenção é eu me aproveitar das pessoas.
Tirar mais delas quanto mais forem tolas.
Porque o mundo é dos espertos
e não de quem comete atos incertos.
Qual é a minha estratégia?
Fingir-me de boazinha e te conquistar, para a tua miséria.
Então, tu cais como um patinho.
Me presenteias com todo o seu carinho.
Finalmente, quando estou farta de ti,
te descarto como algo que nunca vi.
Sem qualquer peso na minha alma,
a ruindade é o meu amálgama.
Esse é o meu estilo de vida.
Não me importo com a mente sofrida.
Só penso em mim mesmo.
Escolho minhas vítimas a esmo.
Para não parecer que tenho alvos escolhidos.
Você sabe, dissimulada eu sou para cobrir indícios.
Dos imbecis, tudo tirarei
e com remorso jamais ficarei.