Autor: Carlos Lohse
Batata Movies – Jack Reacher, Sem Retorno. Mas Voltou, Não Voltou?
Tom Cruise está de volta com “Jack Reacher, Sem Retorno”. Esse filme não foge muito do que foi o primeiro “Jack Reacher”: um filme típico de ação, com direito a muita bomba, porrada e tiro. Mas há um detalhe também não menos conhecido: ele segue a consagrada maldição de que as sequências são piores do que os primeiros filmes. Se no primeiro “Jack Reacher”, ainda houve uma trama que prendia a atenção, independente das cenas de ação, nesta sequência a trama ficou mais fraca e as cenas de ação foram a atração principal. Como resultado, é um filme somente para distrair a cabeça, onde já sabemos que o mocinho vai matar o bandido no final, e a única coisa que interessa é pelo que o mocinho e o bandido brigam.
Nesta história, Jack Reacher (interpretado por Tom Cruise) vai ajudar sua amiga, a Major Susan Turner (interpretada por Cobie Smulders) a se livrar de uma acusação de espionagem e de uma tentativa de assassinato. Ainda, dois subordinados da major foram assassinados no Afeganistão. Reacher ainda foi acusado injustamente de assassinato e de ter uma suposta filha que não reconheceu, Samantha (interpretada por Danika Yarosh), que vai ser perseguida pelos vilões, dadas as suas ligações com Reacher. Aí é aquilo que já conhecemos. Reacher, Tuner e Samantha vão investigar toda a tramoia que foi criada para incriminá-los, além de ter que fugirem da perseguição de seus algozes. É claro que Reacher quebra algumas pernas e braços (quando não quebra pescoços) como sempre faz de hábito.
É uma pena que Cruise seja o único ator conhecido do filme. Se houvesse mais um medalhão, ainda haveria a graça de presenciarmos Cruise contracenando com outro ator que chamasse a atenção, mas isso não aconteceu. Sobrou apenas Cobie Smulders, que foi relativamente bem em seu papel, mas nada que empolgasse muito. Pelo menos, esse foi um filme de ação mais das antigas, onde os CGIs foram substituídos por cenas de luta bem coreografadas, já que a grande virtude de Jack Reacher é ser extremamente ágil e violento em suas surras. Só que isso não é suficiente para dizermos que o filme foi bom.
Dessa forma “Jack Reacher, Sem Retorno” mostra apenas o que já era esperado, sem empolgar muito e é apenas mais uma produção que Tom Cruise fez para esse personagem que ele parece gostar tanto. Só que o primeiro filme foi bem melhor. Uma pena que a continuação não tenha sido à altura. De qualquer forma, não deixe de ver o trailer abaixo.
Batata Movies – A Criada. Filme Em Camadas.
Ultimamente, muitos filmes da Coreia do Sul têm aparecido por aqui, sendo alguns bem interessantes, outros nem tanto. Desta vez, assisti em pré-estreia no Joia, lá em Copacabana, a película “A Criada”, dirigido por Chan-Wook Park, que foi um filme bem interessante. Sua principal característica é a de que ele conta a sua história em camadas que vão se interagindo no transcorrer da exibição.
Vemos aqui a história de Sook-Hee (interpretada pela belíssima Tae-ri Kim), uma moça de origem pobre, filha de uma lendária ladra, que juntamente com um colega de trapaças (interpretado por Jung-woo Ha) vai dar um golpe numa família rica composta por Kouzuki, um velho que era aficionado por histórias obscenas (interpretado por Jin-Woong Jo) e sua sobrinha, Hideko (interpretada por Min-Hee Kim). O plano é o comparsa de Sook-Hee vir como um conde que ensina Hideko a desenhar e pintar, seduzindo-a para casar com a moça e aproveitar sua instabilidade emocional para interná-la num hospício. Sook-Hee seria a criada de Hideko. Quanto ao tio depravado, ele seria convencido a viajar para o Japão, país pelo qual tinha muita admiração. Na primeira parte do filme, vemos o golpe sendo colocado em execução e a história é contada do ponto de vista de Sook-Hee. Só que o término da primeira parte não acaba como o planejado e tem um desfecho surpreendente. É hora de tomarmos conhecimento da segunda parte do filme, onde todos os acontecimentos da primeira parte são vistos agora pelo ângulo de Hideki. E a terceira parte do filme é vista mais em terceira pessoa.
Por que o filme chama a atenção? Porque essa estrutura narrativa, contada em três capítulos, sendo que os dois primeiros capítulos contam a mesma história do ponto de vista de duas personagens diferentes, é algo que pode até não ser muito novo e original, mas não vemos todo dia por aí. E isso torna a trama mais interessante, sendo contada em camadas que, tais como as peças de um quebra-cabeça, acabam completando a narração da história, quando vamos para a terceira e última parte, que dá todo o desfecho da história. Esse detalhe ajuda a prender a atenção do espectador e torna a história mais deliciosa de se assistir.
O filme tem outras características que chamam a atenção, sobretudo nos temas de forte conteúdo erótico, com tórridas cenas de sexo entre Sook-Hee e Hideko. O caso amoroso entre as duas ajuda, inclusive, a colocar a história de pernas para o ar e deixar a trama mais imprevisível. É interessante perceber como a carga de erotismo do filme podia ser mais delicada e agradável em alguns momentos (como as cenas de sexo das amantes) e altamente agressivo em outros (como nas cenas onde Hideki narrava histórias de cunho masoquista para uma plateia masculina convidada por seu tio). O filme também primava por uma fotografia e figurino deslumbrantes. Mas, aliada a essa parte de maior plasticidade e sensualidade, o filme também mostrou um certo conteúdo de violência que, se não incomodou no transcorrer da película, ficou mais forte ao final. E, ainda, tivemos a oportunidade de ver algumas cenas engraçadas ao longo do filme, embora não possamos classificá-lo propriamente como uma comédia, mas serviram como bom alivio cômico.
Dessa forma, “A Criada” é um curioso filme da Coreia do Sul que já está em nossas telonas e que tem as características de mesclar de forma eficiente erotismo, violência e humor, além de possuir uma estrutura narrativa em camadas, diferente das narrações convencionais que vemos por aí. Definitivamente, é uma película que não vai te deixar indiferente e uma boa experiência cinematográfica. E não deixe de ver o trailer abaixo.
Batata Movies – Sete Minutos Depois Da Meia Noite. Um Monstro Para Uma Situação Monstruosa.
Um interessante filme com cara de blockbuster paira em nossas telonas. “Sete Minutos Depois da Meia Noite” (“A Monster Calls”), dirigido por J. A. Bayona e baseado no livro de Patrick Ness, que também é um dos roteiristas, parece um daqueles filmes juvenis com ares de fantasia. Mas ele consegue ser mais do que isso. É uma película que, acima de tudo, é uma lição de vida.
Vemos aqui a história de Conor (interpretado por Lewis MacDougall), um menino cuja realidade é altamente cruel. Sua mãe (interpretada por Felicity Jones) sofre de uma grave doença, o pai (interpretado por Toby Kebbell) vive em outro país e ele não tem um relacionamento bom com a sua avó (interpretada por Sigourney Weaver). Na escola, ele é o típico “outsider”, sofrendo constantes “bullyings” dos colegas. Um belo dia, um enorme monstro em forma de árvore (cuja voz é interpretada por Liam Neeson) invade seu quarto e lhe diz que vai contar três histórias e, depois, o próprio Conor terá que contar uma história à árvore monstro. O menino não entende nada e aquela árvore passa a ser uma presença constante em sua vida, enquanto ele precisa lidar com os muitos problemas de seu dia-a-dia.
Pois bem. Dá para perceber que a chave de toda a trama do filme está nessas três histórias contadas pela árvore ao garoto e que Conor desenvolverá a sua história a partir da relação entre as histórias da árvore e da sua vida. A princípio, o menino não entende muito qual o sentido das histórias que não seguem um padrão formal como, por exemplo, mocinhos totalmente bons ou vilões totalmente ruins, mas, pouco a pouco Conor vai percebendo como aquelas histórias se encaixam perfeitamente nas situações reais pelas quais ele passa e com seus dolorosos pesadelos, ajudando-o a encarar a dolorosa perda iminente da mãe. Entretanto, esse processo não será feito sem violentos percalços que surgem a partir da violenta reação do garoto às adversidades da vida, reações essas que aparecem quando ele está em contato com a árvore.
Mais do que uma fantasia para o público adolescente, o filme mais se aproxima de um pesado drama psicológico para o público adulto. Não é uma historinha bonitinha, cheia de magia, mas sim uma forte dor do inconsciente de um menino altamente atormentado, que atinge ao público em cheio.
No mais, podemos falar um pouco dos atores. O garoto Lewis MacDougall, que interpreta Conor, foi muito bem e segurou o rojão de fazer um papel muito complicado onde o choro, o desespero e a raiva eram constantes. Felicity Jones, depois do sucesso de “Rogue One”, aparece menos no filme, mas proporcionou ternos momentos com o MacDougall. Foi um barato ver Sigourney Weaver de volta às telas, agora como avó. O desentendimento com Conor proporcionou boas sequências onde a atriz mostrou bastante carga dramática, sobretudo no momento em que Conor destrói um quarto inteiro, motivado pelo monstro. Ali foi um dos melhores momentos do filme. Weaver olhava estarrecida para toda aquela destruição com um misto de dor, ódio, tristeza, surpresa, decepção, não dizendo uma palavra sequer, o que somente mostra o grande talento dessa atriz.
Assim, “Sete Minutos Depois da Meia Noite” pode até não ser um filme que, a princípio chame muito a atenção, por parecer mais um filminho adolescente de férias. Mas com certeza, essa película tem mais conteúdo do que isso. Ela nos remete a um forte drama psicológico recheado de metáforas, que se unem como as peças de um quebra-cabeças à vida de Conor ao longo do filme. E o desfecho tem um ar lúdico, que consegue compensar um pouco a forte carga negativa que vemos ao longo da exibição. É uma experiência curiosa ver essa película. E não deixe de ver o trailer abaixo.
Batata Movies – Assim Que Abro Meus Olhos. Liberdade E Censura.
Uma co-produção Tunísia, França, Bélgica e Emirados Árabes estreou em nossas telonas. “Assim Que Abro Meus Olhos”, uma produção de 2015 dirigida por Leyla Bouzid, é um grande filme sobre a perda da inocência, liberdade e repressão. Um filme que consegue te deslumbrar e, ao mesmo tempo, chocar. Um filme que exerce a função social do cinema de denúncia em toda a sua plenitude.
Vemos aqui a história da jovem Farah (interpretada pela fofíssima Baya Medhaffer), uma menininha tunisiana muito sapeca que leva uma vida regada à muita liberdade. Ela namora intensamente, perde sua virgindade, faz parte de uma banda que canta desde músicas mais tradicionais até um rock pesado, cujas letras são uma reflexão com relação à situação autoritária pela qual seu país passa. Seu sonho é ser cantora e fazer musicologia na faculdade. Mas ela também passou pelos exames para medicina, algo que dá mais futuro que a música, ideia geral essa seja na Tunísia, seja por aqui. A moça tem muitos conflitos com a mãe, que reprova sua vida boêmia e musical e, ao mesmo tempo, quer que ela faça medicina, para ter um futuro mais garantido. Seu pai é obrigado a trabalhar longe de casa e somente conseguirá uma transferência se ele se filiar ao partido do governo, que exerce uma ditadura com mão de ferro, algo que ele rechaça completamente. Outro problema é que a polícia está de olho no grupo de jovens que faz música de contestação, e eles podem ser presos a qualquer momento.
Nem é preciso dizer que tal filme é um produto cultural da já não tão recente Primavera Árabe, quando vários países questionaram seus regimes autoritários, cujo exemplo mais dramático ainda é a guerra civil da Síria. O filme empolga muito pelas belas músicas e letras do grupo de jovens que tem muito a dizer de seu país. Mas os ranços do governo ditatorial estão sempre próximos, ameaçando o grupo de pós-adolescentes e retirando-os paulatinamente de um estilo de vida mais sonhador e utópico, mergulhando-os nas amarguras do mundo real. Amarguras que os pais de Farah já conhecem de longa data e cuja juventude foi também de muita contestação. O mais interessante foi perceber como a mãe, pautada nas tradições da cultura árabe e muçulmana, inicialmente age de forma repressora com a filha, algo que nada adianta, mas com o passar do tempo, o autoritarismo do Estado inverte completamente o papel da mãe que se torna compreensiva e acolhedora com a moça. O personagem do pai também é muito curioso, pois sua natureza pacata vai contra a representação do homem no filme, que é a do ser machista e opressor. O pai, em virtude de seu passado libertário, é muito compreensivo, mas não sem saber ser firme nas horas certas, talvez para que o personagem não caísse no ridículo perante o próprio público. Ou seja, o homem nesse tipo de sociedade pode até ser doce e compreensivo, mas não muito.
Outro detalhe que chama a atenção é que, apesar de ser um filme feito numa sociedade muçulmana e extremamente machista, não vemos mulheres com burkas e a influência da cultura ocidental, com jovens se vestindo como roqueiros e cenas de nudez, é muito presente. Isso ajuda a mostrar que os países islâmicos não possuem uma cultura uniforme, imposta de cima para baixo pela religião. Se há países onde o fundamentalismo é mais presente em várias áreas, ao mesmo tempo, existem países com um grau de secularização um pouco maior, onde a religião nem sempre dita totalmente o dia-a-dia das pessoas.
Assim, “Assim Que Abro Meus Olhos” é um daqueles excelentes filmes que cumprem a função social de denúncia do cinema. Um filme que fala de liberdade e autoritarismo. Mas, sobretudo, um filme que fala da perda da inocência. Programa imperdível! E não deixe de ver o trailer abaixo.
Batata Movies – O Homem Que Caiu Na Terra. Um Alienígena Afogado Em Agonia.
David Bowie nos deixou em janeiro do ano passado. E para se fazer a recordação de um ano de sua morte, os cinemas exibem “O Homem Que Caiu Na Terra”, um filme muito louco, mas que aborda questões muito pertinentes. Confesso que nunca achei David Bowie um grande ator. Para mim, sua melhor performance foi em “Furyo”. Em “O Homem Que Caiu Na Terra”, sua fala mansa e jeitão bem pacato (como ele era, realmente), fizeram com que sua atuação fosse um contínuo de inexpressividade, intercalado com raros momentos de explosão dramática, que acabaram soando artificiais. O ambiente esquisitão do filme, dirigido por Nicolas Roeg em 1976, também não ajudou muito nas coisas. A única certeza era a de que Bowie realmente parecia um alienígena… um alienígena muito delicado, por sinal.
Mas, no que consiste a história? O tal alienígena interpretado por Bowie chega a Terra, pois seu planeta natal passa por uma enorme carência de água, tanto que o extraterrestre sempre está bebendo um copinho do precioso líquido. Não fica claro no filme se ele vai levar água para seu planeta, mas ele consegue enriquecer através do registro de muitas patentes que irão torná-lo o empresário da mais importante multinacional do mundo, que controla todos os setores que existem. Com esse dinheiro, ele quer construir uma nave para retornar ao seu planeta, mas é enganado pelos humanos e mantido como uma espécie de cobaia pelo resto da vida. Ao mesmo tempo, mantém um relacionamento um tanto destrutivo com uma mulher que o ama perdidamente. Por se tratar de um alienígena, ele não envelhece na mesma velocidade dos humanos e vê todos à sua volta passando pelo peso da idade, enquanto que ele permanece jovem, o que dá uma sensação de infinitude ao seu cárcere na Terra e aumenta a impressão de agonia. E o extraterrestre só reage com falas altamente melancólicas e inexpressivas, dizendo que não guarda mágoas ou que não sabe odiar, que se um terráqueo fosse para seu planeta o mesmo aconteceria, etc., tudo com uma fala mansa que é letargia pura. Eu estaria muito revoltado em seu lugar. Cadê a pistola de raios desse extraterrestre para sair desintegrando quem o sacaneou?
O relacionamento do alienígena com a camareira que se apaixona perdidamente por ele é igualmente agônico. Candy Clark, a atriz que fez a camareira, foi muito bem no filme e pudemos sentir toda a sua dor com o sofrimento que sentia ao não se relacionar bem com o alienígena que tinha planos mais amplos em mente do que levar uma vida amorosa a dois aqui em nosso planeta. Seu temperamento hermético fazia com que a moça sofresse bastante. Como se não bastasse, a descoberta de que o amor de sua vida era um alienígena foi algo bastante traumático, sendo esses momentos os de maior carga dramática do filme.
Uma forte sexualidade e erotismo também permeiam o filme. Muitas cenas de nu frontal e de sexo devem ter sido muito agressivas para um filme inglês da década de 70, embora não choquem tanto hoje em dia. Talvez a parte mais agressiva tenha sido a cena de sexo entre o alienígena e sua esposa, onde eles estão cobertos de fluidos corporais por todo o lado, algo que aconteceu também com nossa camareira ao fazer sexo com Bowie no estado totalmente alienígena, sendo que nem todo o amor do mundo foi suficiente para ela aguentar todos aqueles fluidos. Argh!!!
É interessante notar como o magnetismo do alienígena em apaixonar a camareira e o sexo explícito no filme lembram muito detalhes da biografia do próprio Bowie que, apesar de sua bissexualidade e androginia, conseguia fazer com que muitas mulheres se apaixonassem por ele, com seu jeito delicado e doce, o que lhe rendeu muitas mulheres em sua cama. Mas o filme também é uma crítica ao (mau) caráter humano, onde uma empresa pode controlar tudo e apunhalar pelas costas seu próprio dono, a ponto de transformá-lo numa cobaia para experiências. Era humilhante e degradante ver o alienígena ser submetido a toda uma bateria de exames para encontrar semelhanças e diferenças entre ele e os humanos.
Dessa forma, “O Homem Que Caiu Na Terra” é um daqueles filmes que chamam a atenção por conter várias curiosidades. Em primeiro lugar, é um filme estrelado por David Bowie que, mesmo não sendo lá um grande ator, chama muito a atenção. É, também, um filme que agride muito por sua sexualidade exacerbada e situações agônicas. E, por esses motivos, uma película pouco convencional e transgressora para a sua época, que é a década de 70. Sem dúvida, uma boa curiosidade e uma homenagem a David Bowie. E não deixe de ver o trailer abaixo.
Batata Movies – Assassin’s Creed. Credo!
Quando você vê um grande blockbuster inspirado num livro ou num jogo de videogame do qual você não sabe nada, sua visão obviamente vai ser diferente de quem é fissurado naquele livro ou jogo de videogame. Foi mais ou menos o que aconteceu comigo ao assistir “Assassin’s Creed”. Confesso que o trailer não me atraiu muito e talvez eu nem fosse ver a película se não houvesse um detalhe todo especial: eu simplesmente adorei o elenco. Michael Fassbender contracenando com a fofíssima Marion Cotillard e Jeremy Irons. E, ainda por cima com uma participação toda especial de Charlotte Rampling que eu descobri ao longo da exibição do filme, com Brendan Gleeson de brinde. Realmente, somente atores de quem gosto muito. Esse fator, mais a curiosidade do que se trata essa trama, que é baseada em História da Idade Moderna, com direito a templários, Inquisição e Reconquista da Península Ibérica, me deram esperanças de que eu fosse ver esse filme com bons olhos. Infelizmente, me enganei. Talvez, se eu tivesse algum contato com o game, teria uma opinião diferente. Talvez…
Bom, no que consiste a história para os neófitos em Assassin’s Creed? No ano de 1492, os muçulmanos haviam sido praticamente todos expulsos da Península Ibérica pelos cristãos. A Igreja Católica é uma organização dominada pelos templários, que acham que o livre arbítrio é a causa de todas as mazelas da humanidade. Ou seja, os católicos agora querem agora dominar mais do que nunca os corações e mentes das pessoas. Para isso, eles querem dominar a maçã do éden, uma espécie de dispositivo que é fonte de toda a discórdia humana. Mas o grupo de assassinos, que defendia o último sultão ainda presente na Espanha, vai evitar que os templários fiquem com a tal maçã em seu domínio. Um dos assassinos, Aguilar (interpretado por Fassbender), vai deixar uma linhagem cujo seu descendente, Cal Lynch, será condenado à morte por homicídio. Mas ele será falsamente executado e inserido num programa que busca procurar uma solução para a violência humana. Esse programa é dirigido por Sofia (interpretada por Cotillard), na empresa do pai, Rikkin (interpretado por Irons) e consiste em procurar memórias genéticas em Lynch, onde uma máquina irá reproduzir nele tudo o que aconteceu com Aguilar. Mas, na verdade, tanto Rikkin quanto Sofia são templários do século 20, que ainda querem acabar com o livre arbítrio da sociedade, acreditando que isso é a cura para a violência humana. Vai caber a Lynch lutar contra isso.
Devo confessar que o enredo é até bom, mas a forma como ele foi apresentado no filme não ficou muito boa. Em primeiro lugar, sabemos que esse é um típico filme de porrada, bomba e tiro regado a muitos CGIs. Até aí, tudo bem. Mas o problema é que a fotografia da película (ou pelo menos da cópia que eu vi) ficou um tanto escura, o que comprometeu um pouco a materialidade visual da coisa. Os assassinos eram caras muito ágeis que pulavam prédios, saltavam em telhados, andavam em cima de cordas e muito pouco podia ser visto naquelas imagens mal iluminadas. Isso já faz com que o filme não fique com uma cara muito simpática, pois sua principal atração está praticamente às escuras. Outra coisa foi a forma como a trama foi apresentada. A narrativa foi meio enrolada e confesso que me perdi um pouco. O desfecho também foi um grande problema, pois apesar de ter acontecido algo de grande efeito, ainda assim ficou um jeitão enorme de anticlímax, do tipo “Ué, já acabou?”. Um gancho para continuação, talvez? Sei não, mas do jeito que ficou, eu não veria a segunda parte desse filme.
Assim, “Assassin’s Creed” acabou não sendo uma boa experiência para uma pessoa que não conhece o jogo, como eu. Embora o enredo do filme seja bem interessante, ainda assim ele poderia ter sido melhor apresentado. E, de preferência, com uma fotografia mais clara para a gente curtir melhor as cenas de ação e efeitos especiais. Uma pena. de qualquer forma, não deixe de ver o trailer abaixo.
Batata Movies – Passageiros. Ficção Científica E Drama Amoroso Como Panos De Fundo.
A nova queridinha da América, Jennifer Lawrence, está de volta em uma ficção científica um tanto híbrida com um drama amoroso. “Passageiros”, também estrelado por Chris Pratt (de “Guardiões da Galáxia”), é um filme que trabalha um tema um tanto batido em ficção científica: o das hibernações em viagens espaciais que duram muitos anos. Só que procurou-se dar um molho especial à história, abordando-a por um outro viés que mais se aproxima de uma questão moral.
A viagem em questão dura cerca de 120 anos e é realizada pela espaçonave Avalon para um planeta colônia chamado Homestead II, pertencente a uma empresa privada. Cerca de cinco mil pessoas viajam em hibernação, quando a nave atravessa uma nuvem de asteroides, colidindo com um bem grande, o que vai provocar um defeitinho na nave que, inicialmente, apenas desligará uma das câmaras de hibernação e vai despertar seu ocupante, Jim Preston (interpretado por Pratt), que acordou noventa anos antes de a nave chegar a seu destino, ou seja, ele foi condenado a passar o resto de sua vida sozinho pela nave, embora tivesse uma única companhia, o robô Arthur (interpretado por Michael Sheen, que nada tem a ver com Martin ou Charlie Sheen). Nem é preciso dizer que Jim pirou na batatinha. Depois de cerca de um ano, ele reparou numa moça em hibernação e se sentiu atraído por ela. Ao checar seus dados no sistema, ele descobriu que ela se chamava Aurora Lane (interpretada por Lawrence) e era escritora. Quanto mais Jim conhecia a vida e a personalidade de Aurora, mais ele se apaixonava por ela. Até que ele tomou a decisão de tirá-la da hibernação para iniciar um relacionamento amoroso com a moça, algo de sérias implicações morais. A partir daí, vemos uma linda história de amor que pode sofrer uma terrível reviravolta, mas chega de “spoilers”.
Pois é, ficou a impressão de que a ficção científica aqui foi o pano de fundo para uma história de amor que, por sua vez, serviu como pano de fundo para discutir uma questão de ordem ética. A ficção científica até retorna com mais força ao fim do filme, mas para novamente servir de escada à historinha de amor que podia ser um pouco menos trivial. Mas como é Hollywood e não é cinema europeu, sobretudo o francês, que é mais realista e menos sonhador, somos obrigados a engolir obviedades, o que é uma pena.
Uma coisa que foi meio inquietante foi a variação de sentimentos da personagem Aurora. Eu sei que o cinema é a arte do ilusório, que na tela grande o amor vence todas as adversidades (quando na vida real é justamente o contrário), mas o comportamento de Aurora me pareceu pouco digno para algo tão imperdoável. E foram dadas chances de redenção para toda a complexidade da questão que foram simplesmente descartadas, o que foi uma pena, pois seria um desfecho pelo menos mais honroso para os personagens. Esse era o tipo do filme que se tornaria muito mais interessante se o “happy end” fosse abolido e seria algo totalmente compreensível, dado o contexto da trama.
Além das aparições de Lawrence e Pratt como protagonistas, tivemos uma rápida, mas muito boa presença de Laurence Fishburne como Gus Mancuso, um membro da tripulação que também é retirado da hibernação, e uma meteórica aparição de Andy Garcia bem ao final do filme. Sempre acho muito lamentável essas aparições muito rápidas de atores consagrados. Fica uma impressão muito amarga de decadência para com artistas de que gostamos muito.
Dessa forma, “Passageiros” é um filme que, acima de tudo, trabalha mais uma questão moral, mas todo esse discurso foi jogado no lixo em prol de um final feliz hollywoodiano. A ficção científica e o drama amoroso? Apenas panos de fundo. Uma pena. Mais uma impressão de boa ideia que foi desperdiçada.