Eu não creio em Deus,
repudio todas as religiões.
Repudio a fé.
Nego o sacrifício de Cristo.
Não vejo diferença entre o Salvador e Lúcifer.
Abomino o clero e sua ostentação.
Me revolto com a pompa dos cardeais
e o ouro dos papas ancestrais.
Por que todo o meu ódio contra a fé?
Porque a fé emburrece.
A fé reprime!
A fé diminui!
A fé aliena!
Vejam, meus caros, que paradoxo!
Como o fato de se acreditar em algo tão amplo
estreita a visão de mundo dos mortais desde Eudoxo!
A vida delimitada por regras rígidas,
por dogmas frios e irracionais,
por homens de batina que dizem o que você deve fazer,
a quem você deve obedecer,
a quem você deve desmerecer.
A palavra religião não significa religar?
Por que, então, semeia tanta discórdia?
Tanta intolerância que não se pode suportar?
Por isso, sou o herege.
Odeio do fundo do meu coração os fiéis e os crentes,
cegos e intolerantes,
espalham a violência com fortes ditos entre os dentes.
Dizem que amam o próximo,
mas desde que o próximo concorde com suas palavras eternas,
pois, caso contrário,
condenam o pobre indivíduo às trevas.
A Editora Aleph publicou ao final do ano passado o livro “Marcas da Guerra”. Escrito por Chuck Wendig, esse livro é o primeiro volume da trilogia “Aftermath” e narra acontecimentos ocorridos pouco depois da explosão da segunda Estrela da Morte no Episódio VI (“O Retorno de Jedi”). Essa é uma história que cria um novo grupo de personagens que interage esporadicamente com personagens da trilogia clássica.
Mas, no que consiste a história? Wedge Antilles vai investigar possíveis atividades imperiais no planeta Akiva e acaba sendo capturado pela Almirante Rae Sloane, que patrulha o planeta. As preocupações da Nova República com relação a este planeta têm fundamento, pois um grupo de remanescentes do Império se reunirá para traçar as futuras ações depois da morte do Imperador Palpatine. Enquanto isso, Norra Wexley, uma piloto que esteve na Batalha de Endor, retorna à Akiva para reencontrar seu filho Temmin, ao qual havia abandonado para acompanhar os rebeldes. A história ainda conta com uma caçadora de recompensas, Jas Emari, e um antigo agente imperial, Sinjir. O acaso e o sabor dos acontecimentos vão unir esses personagens numa missão para resgatar Wedge Antilles e dar cabo da reunião com os imperiais, libertando, de quebra, Akiva da dominação imperial.
O enredo parece interessante, não? Houve até umas boas cenas de ação, só que a história acabou não empolgando muito, e pareceu mal aproveitada. O que atrapalhou um pouco o desenvolvimento da trama foram os inúmeros interlúdios que colocavam pequenas historinhas paralelas que nada pareciam ter a ver com a história principal. Isso acabava desviando a atenção da história dos personagens principais e fazia a gente se perder um pouco quando da retomada das leituras. Como essa história vai ser uma trilogia, acredito que todas essas pontas serão amarradas nos próximos dois livros. O problema é que Wendig está criando tantas historinhas paralelas que creio que não será muito trivial amarrá-las todas depois. Vamos ver o que vai acontecer.
Outro problema do livro é o número excessivo de personagens na trama principal. Era outra coisa que fazia a gente se perder na leitura. Talvez uma quantidade menor de personagens fizesse a leitura fluir mais facilmente. Somente no núcleo dos protagonistas e dos “mocinhos” temos cerca de cinco personagens, se contarmos com o senhor Ossudo, o dróide de Temmin construído com sucatas e ossos. É muita coisa, a meu ver. E a reunião dos imperiais tinha mais um monte de personagens. Isso tornava a leitura um tanto cansativa. Outra coisa muito recorrente no livro foram umas comparações estapafúrdias que cansaram demais, do tipo: “Oh, a expressão de medo que surge no rosto da pobre garota… É como o sol sendo coberto por nuvens”. E isso porque essa comparação ainda é compreensível. O problema é quando o autor comparava algo com uma espécie alienígena que ele inventava da própria cabeça e que provavelmente nunca foi mencionada no Universo de Star Wars ou era obscura demais. Aí ficava difícil.
Agora, se alguém acha que esse livro tem alguma ligação com o Episódio VII do cinema, elas são muito poucas. Houve uma menção muito rápida a Jakku num dos interlúdios ao fim do livro, e o detalhe de que Temmin Wexley, filho de Norra Wexley, seria um dos pilotos de X-Wing do Episódio VII. Nada mais que isso existiria de comum entre esse livro e o filme, a não ser pelo fato de que a história de “Marcas da Guerra” se passa entre os acontecimentos dos Episódios VI e VII, mais próximos ao Episódio VI.
Dessa forma, “Marcas da Guerra” até chega a ser um bom livro de ação, mas a história foi muito superficial e não empolga. As comparações excessivas, assim como a grande quantidade de personagens e muitos interlúdios contando historinhas paralelas também desagradam. É mais uma obra para entretenimento do que para qualquer outra coisa. Descartável demais. Há coisa bem melhor na série Legends. Esperemos que os próximos livros da trilogia resgatem a história.
A Editora Aleph, dentro de sua proposta de publicar muitas histórias de “Guerra nas Estrelas”, nos traz uma nova obra, considerada parte do novo cânone. Escrita por Paul S. Kemp, “Lordes dos Sith” pode ser considerada uma história muito instigante, com lances sensacionais de ação, mas também extremamente sinistra, com nossos Darths Sidious e Vader tocando um terror como poucas vezes visto em outras histórias. É um livro que vai agradar muito aos fãs.
A história aqui se concentra em torno do movimento Ryloth Livre, um pequeno grupo de resistência do planeta Ryloth, berço da espécie Twi’lek. Estamos entre os Episódios III e IV e o Império ainda consolida seu poder pela Galáxia. Mas pequenos focos de resistência já surgem contra a arbitrariedade sith e os rebeldes de Ryloth tomam as atitudes mais ousadas. Liderados por Cham Syndulla, pai de Hera Syndulla da série “Rebels”, e por Isval, os rebeldes tinham, a princípio, o plano de libertar Ryloth das garras do Império, mas não derrubar todo o Império em si. A ideia era dar alguma autonomia a seu planeta natal para ter uma maior margem de negociação com o Império, já que era muito difícil derrotá-lo. Como a revolta dos Twi’leks estava provocando estragos, o Imperador decidiu pessoalmente ir com Vader a bordo do destroier estelar Imperial “Perigo” para Ryloth. Essa era a oportunidade para os rebeldes enfraquecerem de vez o Império, destruindo a “Perigo” e matando, de uma vez, o Imperador e Vader.
A história merece dois destaques muito especiais. Em primeiro lugar, o plano dos rebeldes para atacar a “Perigo”, que foi feito com muita engenhosidade e com várias alusões a coisas que vemos nos filmes, constituindo-se num ótimo “fan service”. Esse é o trecho mais instigante e marcante do livro e, por si só, já valem os reais investidos nele. A gente lê toda a coisa num fôlego só, e fica louco por mais. Em segundo lugar, o Imperador aproveita essa viagem a Ryloth e todos os acontecimentos que, segundo Sidious, sempre foram previstos por ele, para submeter Vader a vários testes. Devemos nos lembrar que os eventos do Epísódio III ainda estão muito recentes e que os medos e angústias de Anakin Skywalker ainda permeiam a mente do Lorde Sombrio. As situações adversas impostas pelo Movimento Ryloth Livre aos dois será uma boa oportunidade para colocar a lealdade de Vader à prova e inseri-lo ainda mais na filosofia Sith, sobretudo a “Regra de Dois”. E aí, podíamos ver toda a maldade pura de Sidious, colocando Vader nas situações mais escabrosas, sempre com aquele risinho sádico.
Essa é uma história também muito violenta, como poucas vezes vemos em “Guerra nas Estrelas”. Só para dar um pequeno “spoiler” muito rápido, posso dizer que, antes da página 40, Vader já havia matado mais de trinta pessoas de uma vez. Aliás, esse livro descreve como poucos o poder de Vader imerso no lado sombrio da Força. Ele consegue proezas sobre-humanas, como correr a velocidades incríveis ou destruir exércitos e grupos de animais selvagens inteiros (a longa sequência da perseguição dos insetóides lyleks é altamente angustiante), dando uma sensação de que Vader e Sidious são totalmente indestrutíveis. E o livro também nos dá uma chance de ouro de testemunhar o Imperador usando todo o seu poder não somente com os raios, mas também com suas técnicas de sabre de luz. E, como ele não quer que as pessoas presenciem isso, para manter sua identidade sith não revelada, já dá para adivinhar o que acontece com elas.
Assim, o livro “Lordes dos Sith” é uma obra obrigatória para quem ama o Universo de “Guerra nas Estrelas”, pois foi escrita com uma engenhosidade fora do comum, tanto nas estratégias rebeldes como nas maldades e poderes sobre-humanos dos sith. É o tipo de livro que consegue, simultaneamente, nos dar uma leitura instigante e angustiante. Um livro que consegue despertar sentimentos tão díspares só pode ser muito bom. E ele realmente o é. Tanto que, na minha iniciação como leitor dos romances de “Guerra nas Estrelas”, sejam eles Cânone ou Universo Expandido, já coloco Paul S. Kemp como um nome digno de estar ao lado de Timothy Zahn e James Luceno. Definitivamente, uma leitura que vale muito a pena
E a Batata Arts está de volta! Já pensou em passear por uma praia cheia de conchinhas? O mar e seu som tranquilizante, a espuma da arrebentação e conchinhas das mais variadas cores numa areia dourada. Pois é…