Batata Movies – Missão Impossível, Efeito Fallout. Mais Um Bom Filme Da Franquia.

Cartaz do Filme

Sempre gostei muito de “Missão Impossível”. Nunca tive muita oportunidade de assistir a série antiga, mas gosto dos filmes do Tom Cruise, principalmente porque ele dispensa dublês para fazer as cenas de ação. Isso sem falar de que os roteiros sempre são bem escritos, não se apoiando somente nas espetaculares cenas de ação. E, desta vez, não foi diferente a meu ver. “Missão Impossível, Efeito Fallout” traz todos esses ingredientes de forma bem organizada e construída. Mais um bom “Missão Impossível”.

Eles estão de volta!!!

Nessa nova aventura de Ethan Hunt (interpretado por Cruise), ele precisa evitar que cargas de plutônio caiam nas mãos de um grupo terrorista. O problema é que, ao tentar fazer isso, ele acabou, como se diz no popular, “dando mole” e deixou justamente tal carga no colo de pessoas que podem vendê-la para terroristas. Tudo isso porque ele preferiu salvar a vida de seus dois fiéis escudeiros – Benji (interpretado por Simon Pegg) e Luther (interpretado por Ving Rhames) – ao invés de deixá-los ir para o sacrifício, como o protocolo exige em caso de falhas na missão. Assim, Hunt precisa, agora, correr atrás do prejuízo. Mas sua falha fará com que ele seja acompanhado pelo agente Walker (interpretado pelo “Superman” Henry Cavill que, além do bigode, agora está de barba também). E aí, tome cenas de ação mas também uma história muito bem elaborada, que precisa bastante da atenção do espectador e que os spoilers me impedem de entrar em maiores detalhes.

Hunt dá mole ao salvar os amigos…

Um dos grandes baratos desse filme é a presença de muitos “plot twists”, onde havia sequências com muitas reviravoltas. Isso já aconteceu em outras oportunidades e a coisa de se usar aquela máscara ajuda em muito nisso. Agora, parece que nesse filme tivemos a maior quantidade de reviravoltas em toda a franquia. A cada segundo, mocinho virava bandido e vice-versa.

Contracenando com Cavill (olha o bigode aí)…

Tudo que parecia ser uma coisa num momento era outra num momento seguinte, onde a narrativa fazia um verdadeiro jogo de gato e rato com a mente do espectador. A história também passou por situações muito extremas e impossíveis, onde o próprio Hunt não sabia se ia conseguir resolvê-las, dando como resposta um “não sei, eu dou um jeito”, cheio de dúvidas quando interpelado se ia conseguir dar cabo da situação ou não. E. claro, os plot twists também deram o ar de sua graça aqui.

O filme só tem mulherão…

Outra coisa muito boa no filme foram as locações. As sequências em Paris tiveram um charme todo especial, onde pontos turísticos como o Opera e o Arco do Triunfo tiveram seu dia de estrela de Hollywood. A sequência de perseguição em Londres teve adicionada uma componente de humor que caiu como uma luva.

Mais uma vez as motos nas cenas de ação…

Esse também é um filme de boas atuações e personagens. Além dos já citados, tivemos as gratas presenças de Alec Baldwin, Angela Bassett, Rebecca Ferguson e Sean Harris, na volta do terrorista Lane, um vilão usado de forma muito sábia ao longo da franquia.

Momentos de descontração nas filmagens…

Assim, “Missão Impossível, Efeito Fallout” é mais uma boa amostra dessa franquia que realmente deu certo, pois sempre apresenta bons filmes com boas cenas de ação, boas tramas, bons personagens e bons atores. Por hora, creio que há mais espaços para continuações, pois o modelo não parece mostrar sinais de desgaste. E um programa obrigatório para quem gosta de cinema como entretenimento, mas também como bom cinema.

Batata Movies – Sonata De Outono. Uma Experiência Arrebatadora.

 

Cartaz do Filme

No ano do centenário do lendário cineasta sueco Ingmar Bergman, o Espaço Itaú de Cinema realizou, ao mês de setembro último, uma pequena mostra para homenagear esse importante nome do Cinema Mundial. E aí, pintou uma oportunidade para assistir a “Sonata de Outono”, um filme que sempre tive curiosidade de assistir. Confesso que vi poucos filmes do cineasta (ele tem cerca de setenta filmes, fora os trabalhos para teatro e para a TV sueca) e preciso preencher essa lacuna. Mas, por que o meu interesse especial por “Sonata de Outono”? Eu li, há alguns anos, o famoso livro de Liv Ullmann, “Mutações”. Ullmann foi um dos muitos casos de Bergman que, apesar de seu talento mundialmente reconhecido, não era lá uma figura muito fácil em termos de relacionamento humano, como o próprio cineasta reconhecia. E, quando vemos Ullmann se expressar, parece que ela é demasiadamente sensível perto do gélido temperamento nórdico, passando sempre para a gente uma sensação de fragilidade e de sentimentalismo muito grande. Pois bem, ao ler “Mutações”, a gente vê que Ullmann se lembra de forma muito especial de sua relação com Ingrid Bergman em “Sonata de Outono”, onde atores e personagens meio que se fundiram ali.

Eva, uma filha insegura…

Ou seja, as duas atrizes ficaram realmente marcadas por todo o sofrimento de suas personagens e ainda tinha o agravante de que Ingrid Bergman já padecia de um câncer no seio na ocasião. Ullmann falava de um sentimento maternal que nutria por Ingrid Bergman e de como vestiu a camisa da opressão maternal que sua personagem Eva sentia. Outro detalhe muito marcante de “Sonata de Outono” é que temos a oportunidade de ver Ingmar Bergman dirigir Ingrid Bergman, a mítica atriz de “Casablanca”. Confesso que lá nos idos de minha adolescência cheguei a confundir os dois artistas em um só.

Charlotte, a mãe determinada…

Mas, como é a história de “Sonata de Outono”? A trama é bem simples. Uma filha, Eva (interpretada por Ullmann), recebe em sua casa a mãe, uma renomada pianista, Charlotte (interpretada por Ingrid Bergman). Mas a artista não sabe que Eva também abriga a sua irmã, Helena (interpretada por Lena Nyman), que sofre de problemas motores, algo que angustia Charlotte. Pouco a pouco, Eva e Charlotte vão revolvendo o passado e o que parecia, num primeiro momento, uma relação cordial entre mãe e filha vai revelando camadas de muito ressentimento e até de ódio.

Helena, a filha adoecida…

É um filme pesado e assisti-lo torna-se uma experiência arrebatadora. Temos uma oposição inicial filha frágil e insegura X mãe autossuficiente e determinada onde, pouco a pouco, os papéis se invertem. Eva passa a ser implacável e cruel, não perdoando as constantes viagens da mãe nos tempos de infância e a aparente indiferença de seus sentimentos para com a filha. Ao mesmo tempo, Charlotte deixa de ser a mulher forte e determinada para revelar toda uma fragilidade que vinha também de um relacionamento mal resolvido com sua mãe, onde ela também padecia da indiferença. Ou seja, a gente tem repetições de uma mesma situação de loops de indiferenças maternas que assolavam psicologicamente as filhas. Só que no caso de Charlotte e Eva, temos o agravante de Helena, onde fica citado no filme que a doença da moça também é provocada, de uma certa forma, pelo comportamento da mãe. Aliás, é de Helena o mais terrível grito de angústia do filme, próximo ao seu desfecho que, ao contrário do que pode parecer em toda a película, traz um vento de esperança que substitui a letargia de uma melancolia que a gente vê ao longo da exibição, melancolia essa sacudida nos momentos mais tensos entre Eva e Charlotte.

Lágrimas, muitas lágrimas…

Do ponto de vista técnico, uma coisa chama muito a atenção: o uso dos closes como instrumento dramático. Ver Ullmann e Bergman e suas faces ocupando toda a tela com olhos que se marejavam nas frontes petrificadas (acho muito forte a interpretação onde o ator faz lágrimas brotarem de seus olhos sem qualquer desfiguração da face) era algo de grande impacto.

Um trio da pesada…

E, cá para nós, o close de Ullmann olhando a mãe tocando piano talvez seja um dos mais icônicos e definitivos da História do Cinema, onde a jovem atriz dá a sua personagem toda uma insegurança e fragilidade perante a figura monumentalizada da mãe, que toca a peça com uma indiferença de frieza muito intensa.

Um dos maiores closes da História do Cinema…

Assim, “Sonata de Outono” é um grande momento da História do Cinema, pois traz um excelente roteiro interpretado de forma magistral por uma jovem atriz e uma diva do Cinema Mundial, tudo isso sob a batuta de um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos. É um clássico para ver, ter e guardar.

Batata Literária – Fada Safada E A Promoção Do Supermercado.

– Fadinha! Fadinha!

– O que foi, amozinho?

– Vamos dar uma saída!

– Para onde?

– Tem promoção de aniversário no supermercado!

– Ai, amozinho! De novo aquela loucura?

– Vamos lá! Vamos lá!

– Justamente agora que eu tava fazendo a unha?

– Entra aqui no bolso da minha camisa! Vamos!

 

*          *          *

 

– Nossa, amo!

– O que foi?

– O estacionamento tá muito cheio!

– Tem uma vaga lá, ó!

– Lá não pode, é de deficiente

– Ah, a gente para rapidinho!

– Amooooo…

– Tá, tá. E aquela ali?

– É de idoso…

– Caramba.

– Olha lá! Tem uma moça saindo ali…

– Vamos lá

– Ih, um moço tá indo para lá também…

– Eu vi primeiro…

– Amozinho, não vai brigar…

 

*          *          *

 

– Filha da puta! Eu vi a vaga primeiro!

– Vai tomar no cu!!!

– Vai se fuder, caralho! Vou te dar porrada!!!

– Ai, minha Nossa Senhora das Fadas Aflitas!!! Quanta testosterona boba!!!

PLOFT!

 

*          *          *

 

– Amozinho, eu falei para você não brigar…

– E não briguei, fofinha… só estava falando amorosamente com o rapaz usando palavras chulazinhas…

– Será que ele achou uma vaga na rua?

– Achou sim, meu amor! Ele estacionou lá do outro lado da rua e pagou ao flanelinhazinho…

– Ai, você está meloso demais até para mim! Eu trouxe as bombas nível 13. Deixa eu cortar esse efeito um pouco (splect!)

– Ufff, mas a bomba nível treze não é para guerra internacional severa?

– Essa mesma

– E por que você trouxe essa tão forte?

– Você acha que promoção de supermercado é o que?

– Tá bom, vamos comprar as coisas logo, Deixa eu ver a lista aqui…

 

*          *          *

 

– Detergente, desodorante, Dermacyd, Carefree…

– O Carefree é tamanho mínimo, tá?

– Você não gosta de Sempre Livre proteção tripla? É mais garantido…

– Só se eu estiver num navio afundando e eu precisar de um bote salva vidas, né? Olha o meu tamanho…

– Você está malcriada, fadinha!

– Você sabe que o proteção tripla não cabe nas minhas perninhas, mesmo quando eu o diminuo ao nível mínimo…

– Tá bom, tá bom…

– GRANDE PROMOÇÃO DE NUTELLA 500g A APENAS UM E NOVENTA E NOVE!!! VAI LÁÁÁÁÁÁÁ!!!

– Oba! Escutou isso, fadinha???

– Mas amo, Nutella não tem na lista. A gente ainda tem um pouco em casa…

– Vamu lá! Vamu lá!

– Amozinho!!!

 

*          *          *

 

– Amozinho! Tem gente demais!!!

– Eu vou entrar no bolo!

– Não, amozinho! Tem aquelas velhinhas lá batendo em todo mundo!

– Fui!!!

– Não, amozinho!!!

 

*          *          *

 

– Ai, minha deusa Faduxita! O amo tá lá dentro apanhando muito!!! Eu não tenho força para tirar ele de lá! Nem as bombas nível treze resolvem essa ânsia por Nutella barata!!! O que eu vou fazer??? Ah, já sei!!! Preciso de reforços!!!

 

*          *          *

 

– Ah, eu sabia que na parte infantil eu ia encontrar o que precisava!!! Unicórnios nas embalagens de fraldas e pastas de dente!!! Vão ser eles mesmos!!!

PLOFT!!!

 

*          *          *

 

– Soldadinhos do amor!!!! Sentido!!!!

– Rinch! Rinch!

– Vão até a baia de Nutella e lambam os rostos de todos aqueles bobos!

– Rinch! Rinch!

 

*         *          *

 

– Ai, ui, ai…

– Tá melhor, amozinho?

– Acho… que… sim…

– Eu te falei que isso aqui é uma loucura. Mas você não me escuta…

– O que aconteceu???

– Lembra das velhinhas?

– Lembro…

– Cinco vieram para cima de você… três te ergueram no ar e duas batiam em você com uma bolsa cheia de latas de leite condensado e uma bolsa cheia de batatas…

– Elma Chips???

– Não, amozinho!!! Cruas! Cruas!

– E como você me tirou de lá?

– O ódio estava muito forte. Precisei chamar reforços…

– Mas, quem… aaarrrrrggghhhhhhh!!!!!

– Rinch!

– Fiz um exército de unicórnios para te tirar da confusão! Eles lamberam a cara de todo mundo e as pessoas ficaram calminhas…

– Como você fez isso?

– Rinch!

– Eu tirei eles das embalagens de fraldas e pastas de dentes da seção infantil

– E agora todos eles ficarão espalhados pelo supermercado???

– Rinch!

– Quando o efeito da magia passar, vai ficar um monte de pasta de dente e de fralda espalhadas por aí…

– Ai, me ajuda a levantar…

– Vamos direto para o caixa agora e sem conversa!!!

– Mas, e a lista?

– Os unicórnios já pegaram tudo! Só vamos comprar muita pilha agora que estou começando a ficar com raiva aqui e isso não é bom…

– Rinch!

 

*          *          *

 

– Aqui, fadinha!!! Pilhas à milanesa!!!

– Oba! Obrigado, amozinho! Chomp, chomp!

– Eu… quero te pedir desculpas…

– Tem que pedir mesmo…

– Eu… fui muito burro hoje…

– Foi mesmo…

– Ah, fadinha… é porque eu gosto muito de Nutella e tava baratinho…

– Eu sei, amozinho, mas tava muito perigoso lá. Aquelas velhinhas…

– Tá bom, tá bom… foi mal…

– Eu… tenho uma surpresa para você…

– O que? Nossa!!! Dez potes de Nutella! Oba!!!

– Gostou?

– Adorei! Obrigado, fadinha! CHUAC!!! CHUAC!!! Mas, como você conseguiu?

– Enquanto os unicórnios lambiam todo mundo, eu peguei e coloquei no meu decotinho mágico…

– Mas, você… furtou?

– Claro que não, amozinho!!! Eu paguei!!!

– Mas, como, se o cartão tava comigo?

– Bitcoins…

– Bit… o que?

– Deixa para lá, amozinho, depois te explico!!!

– Só uma coisa, fadinha…

– O que foi, amozinho?

– Acho que você se esqueceu da pasta de dente…

– RINCH! RINCH! RINCH! RINCH! RINCH!

– Não me esqueci não…

Batata Movies – O Amante Duplo. E Uma Doidona Tripla.

Cartaz do Filme

Mais um curioso filme francês (em co-produção com a Bélgica). “O Amante Duplo”, de François Ozon, é um daqueles filmes onde temos vários plots twists de gêneros. Se a coisa inicialmente parece um dramalhão psicológico, com o tempo a película toma contornos de um thriller pesado, voltando a algo mais psicológico num final um tanto óbvio.

Uma mulher que encontra um grande amor…

Vemos aqui a história de Chloé (interpretada por Marine Vacth), uma moça atormentada que tem problemas de saúde por se alimentar mal. A ginecologista que a atende indica um psicólogo e Chloé vai se consultar nele. Seu nome é Paul (interpretado por Jérémie Renier) e, depois de algumas sessões, os dois se apaixonam e vão morar juntos. O que parecia ser a realização de um sonho de um relacionamento estável acaba se tornando uma rotina tediosa para Chloé, que vê o seu amado na rua com outra. Depois de interpelar Paul, Chloé, tomada pelo ciúme, escuta dele que ela somente viu alguém parecido. A moça vai ao local e descobre que há outro psicólogo trabalhando lá, com o mesmo sobrenome de Paul. Ela marca uma consulta e descobre que esse psicólogo é irmão gêmeo de Paul, Louis, e se comporta de forma completamente diferente. Enquanto Paul é pacato e doce, Louis é agressivo e arrogante, tendo um maior apetite sexual e satisfazendo Chloé nesse quesito, o que provoca o envolvimento da moça com Louis. Vai começar aqui um jogo de gato e rato, onde a vida pregressa desses dois irmãos tem várias surpresas, a imensa maioria delas totalmente desagradável.

Mas há um irmão gêmeo bem mordaz…

O grande lance desse filme é o quebra-cabeça que Chloé busca desvendar, gerado pelo relacionamento dela com esses dois irmãos. Além do fato que a moça está fortemente abalada psicologicamente, a forma agressiva e pouco cortês de Louis assusta Chloé que, entretanto, não age como uma vítima frágil e entra de cabeça em toda essa turbulência. À medida que essa história vai se tornando mais e mais complexa, fica mais claro como o filme terminará e algumas sequências dão o tom disso quando analisamos as imagens. Mas não vou entrar em maiores detalhes sobre isso, pois seria não um spoiler do filme, mas o spoiler do filme.

Uma conversa bem à vontade…

É uma película um pouco difícil de assimilar em virtude da agressividade e crueza de algumas cenas dentre elas, cenas de sexo não consentido (leia-se estupro) tapas, socos, um feto saindo da barriga de Chloé como um alien (argh!) ou a história (sinistra, por sinal) do corpo de uma pessoa assimilar o feto do que poderia ter sido o seu irmão gêmeo, além de uma moça em estado vegetativo em cima de uma cama. Todas essas cenas estão mais na fase de suspense da película, quando a narrativa fica muito pesada.

Momentos de delicadeza…

Os atores foram muito bem. Marine Vacth, a atriz que interpretou Chloé, conseguiu passar fragilidade, mas também uma boa dose de animosidade quando se relacionava com Louis. Tivemos a grata surpresa de ver, em alguns poucos momentos, Jacqueline Bisset de volta, como a mãe de Chloé. Mas o grande nome do filme foi Jérémie Renier, que teve que fazer dois irmãos de comportamentos totalmente diferentes, sendo, com certeza, o ator mais exigido no filme.

… e tudo parecia ir bem, entretanto…

Assim, “O Amante Duplo” é uma história que combina um drama psicológico leve com um pesado thriller e que tem um final óbvio. É um filme onde as atuações dos atores têm um papel fundamental e eles corresponderam, sobretudo Jérémie Renier. E um filme que, na sua fase inicial e mais leve, trabalhou bem os closes, para dar um tom mais intimista aos bem construídos personagens. Vale a pena você se encucar com essa película.

Batata Movies – Uma Noite De Doze Anos. Vamos Juntos Para A Prisão?

Cartaz do Filme

Uma co-produção Uruguai/Argentina/Espanha. “Uma Noite de Doze Anos”, de Álvaro Brechner, é mais um filme que aborda o período das ditaduras militares latino-americanas, tendo agora como foco o que aconteceu no Uruguai. A temática é muito simples. Depois de uma tentativa de ataque do movimento Tupamaro, onde figuras importantes do governo uruguaio foram mortas, o exército partiu com tudo para cima dos guerrilheiros, desbaratando o movimento com mortes violentas e prisões.

O desespero de se estar na prisão…

Alguns desses presos ficaram na condição de reféns do Estado, sendo transferidos para lá e para cá, num período de doze anos (de 1973 a 1985). O filme mostra a trajetória de três desses reféns no cárcere: José Pepe Mujica (interpretado por Antonio de la Torre), que seria no futuro o presidente do Uruguai; Mauricio Rosencof (interpretado por Chino Darín, o filho de Ricardo Darín), jornalista e escritor; e Eleuterio Fernández Huidobro (interpretado por Alfonso Tort), ex-ministro da defesa. Por durante os 122 minutos da película, esses três prisioneiros são continuamente transferidos de um quartel para outro, ficando nas mais diferentes prisões, sempre em condições subumanas e sempre muito maltratados pelos militares.

Poucos momentos juntos…

Era clara a intenção dos militares de colocar os presos na situação mais degradante possível, com o objetivo de levá-los à loucura, o que quase aconteceu justamente com Pepe Mujica, não fosse a intervenção de sua mãe em uma das visitas, que chamou a atenção para o plano dos militares e pediu ao filho que resistisse a qualquer custo. A propósito da situação de quase loucura de Mujica, deve-se abrir aqui um pequeno parênteses: quando vemos um filme que fala dos horrores da ditadura militar, a gente espera uma narrativa um pouco mais precisa, no sentido de que relate de forma objetiva todos os horrores aos quais os presos políticos foram submetidos.

Poucos sopros de liberdade…

O filme até começa dessa forma, mas quando se chegou ao momento com Mujica, seus devaneios e delírios tornaram a narrativa surreal, o que tirou um pouco da objetividade de se contar a história. Pelo menos, tais delírios nos deram a oportunidade de resgatar algumas passagens anteriores em flash-back. Se bem que o flash-back também foi utilizado quando o personagem Eleuterio estava em foco na história. Já Rosencof teve uma característica interessante: por ser escritor, ele consegue ficar amigo de um sargento que quer escrever uma carta para a mulher pela qual ele está apaixonado e passa a ter (poucas) regalias.

Eleuterio Huidobro

De qualquer forma, o isolamento dos personagens é notório e eles ficam anos sem se ver, se comunicando volta e meia dando pequenos socos nas paredes da prisão quando estavam encarcerados perto uns dos outros. Creio que os socos reproduziam código morse.

Mauricio Rosencof

Ao se mostrar a rotina dos presos, o espectador experimenta a rotina de também estar enclausurado e incomunicável, alheio às mudanças que ocorreram ao longo dos doze anos de prisão, salvo em situações muito peculiares, onde nossos três personagens tiveram pouquíssimo acesso ao mundo exterior e a o que acontecia. O próprio Mujica reclamava não ver uma mulher ou ler um livro há anos.

José Pepe Mujica, o presidente mais fofo do mundo!!!

Outro detalhe deve ser mencionado aqui: a participação especial de César Troncoso, astro do cinema uruguaio, como o militar que mantém os protagonistas na prisão. Infelizmente, sua participação foi muito pouca, atuando mais como um coadjuvante de luxo, sempre nos lembrando de seu talento nas poucas vezes em que aparecia.

O diretor Álvaro Brechner orienta seu elenco…

Assim, “Uma Noite Em Doze Anos” é mais um filme importantíssimo para os tempos nebulosos em que vivemos, devendo ser muito divulgado e, principalmente, visto. Ao se analisar a rotina de três presos políticos, o espectador se vê na situação claustrofóbica de ficar isolado do mundo e ser sujeito seguidamente a humilhações e violações de seus direitos humanos. Ou seja, o filme realmente te coloca na situação para você experimentá-la. Daí a sua força e seu poder de denúncia, fazendo o cinema cumprir sua função social. Um programa imperdível que traz um convite à reflexão.