A Batata Séries, depois de ouvir especialistas renomados em Jornada nas Estrelas, decidiu dar atenção para um seriado que mistura ficção científica e comédia chamado The Orville, que conta com pessoas que pertenceram à produção de Jornada nas Estrelas nas décadas de 90 e 2000, do quilate de um Branon Braga, Andre Bormanis e que conta com direções de Robert Duncan McNeil, Jonathan Frakes e participações de Robert Picardo, Charlize Theron e Liam Neeson. Ou seja, somente por esses nomes podemos perceber como a coisa é gabaritada. Exibida paralelamente à Jornada nas Estrelas Discovery, The Orville ficou conhecida como muito mais fiel ao espírito de Jornada nas Estrelas que a própria Discovery. Vamos aqui fazer um esforço para analisar os doze episódios da primeira temporada, já de olho na segunda temporada em tempos futuros. Seus episódios têm uma média de 45 minutos e o primeiro é intitulado “Feridas Antigas”.
Do que se trata o plot? Estamos no século 25. Um homem chamado Ed encontra sua mulher na cama com um alienígena azul que expele um líquido da mesma cor. Um ano depois, esse mesmo homem recebe a missão de capitanear uma nave espacial média exploratória chamada Orville. Ed ainda não se recuperou da traição e o comando da Orville será a sua última chance. Falta um piloto e um primeiro oficial para a sua nave. Ed pensa no amigo Gordon, que é um brincalhão de primeira, para piloto. Gordon aceita, mas quando os dois vão para Orville na nave auxiliar, ele está bebendo cerveja. Ed pede que pare e Gordon quase bate numa nave. A chefe de segurança se chama Catan e parece ser uma menininha frágil, mas ela tem uma força descomunal. O outro piloto é o tenente John Lamarr e será amigo de Gordon na série. O Tenente Borthos é o segundo oficial e é de uma espécie onde só há machos. A Doutora Claire Finn, que foi namorada de Sisko em DS9, é uma excelente médica. E, finalmente, Isaac é um robô oficial de ciências e engenharia que se acha melhor que os humanos e está aproveitando essa oportunidade para conhecer os humanos melhor.
A Orville parte em sua primeira missão. Um primeiro-oficial é selecionado para a Orville, que é Kelly, justamente a ex-esposa de Ed, o que deixa o capitão transtornado. Mas a ficha dele está cheia de problemas e Ed vai ter que engolir. Ed também sabe que a própria Kelly pediu para servir na Orville. O encontro entre os dois será tenso. Kelly pede desculpas, mas Ed ainda não superou o passado. Kelly quis pedir transferência para ajudar em algo. Kelly disse que o traiu porque Ed não era um marido presente. E a discussão começa. Ela vai terminar com Kelly dizendo que, assim que puder, pedirá uma transferência.
Ao chegar ao planeta da missão para o qual a nave levou suprimentos, o responsável pelo planeta disse que não precisava desses suprimentos e pediu para que um grupo avançado descesse ao planeta. O responsável pelo planeta disse que chamou a Orville porque o planeta precisa de proteção contra os krills, uma espécie de povo klingon. O responsável pelo planeta, que dirige uma instalação científica, mostra uma descoberta: uma bolha quântica que pode acelerar o ritmo do tempo para a frente. Essa invenção pode produzir comida rapidamente, assim como sarar ferimentos rapidamente, mas também pode ser uma arma que envelheça soldados. O cientista disse que chamou a Orville para lá, pois se enviasse uma comunicação da descoberta, os krills poderiam interceptar. Um dos cientistas do laboratório saca uma arma e rende todos. Ele é um agente Krill. Os Krills aparecem num destróier e mandam duas naves para a superfície. Catan rende o cientista e eles pegam o dispositivo que produz a bolha quântica para evitar que os Krills o peguem. Começa uma batalha entre a nave Krill e a Orville e entre o grupo avançado e os Krills. O grupo avançado consegue fugir com o dispositivo na nave auxiliar. Mas um Krill se escondeu dentro da nave auxiliar e rende o grupo avançado. Ed freia a nave repentinamente e o Krill se choca contra o para-brisa. A nave auxiliar perde o controle gravitacional e Gordon vai ter que fazer umas manobras especiais na Orville para a nave auxiliar atracar. Dois dos três motores da Orville foram destruídos. O comandante da nave Krill exige a entrega do dispositivo e Ed e Kelly começam a conversar a natureza das DRs para ganhar tempo. Mas o comandante Krill não engole por muito tempo a conversa e atira na Orville. Eles decidem entregar o dispositivo, mas com uma semente de sequóia juntamente. Como o dispositivo acelera o tempo, a sequóia cresce dentro da nave Krill, quando o dispositivo é acionado dentro da nave Krill e a destrói.
Kelly diz que pintou uma chance de outro primeiro-oficial chegar à Orville e ela ir embora. Mas Ed decide ficar com Kelly, pois foi a ideia dela de mandar a semente para a nave Krill e salvar a Orville. O episódio termina com Kelly falando com o almirante e descobrimos que foi ela que recomendou que Ed fosse ser o capitão da Orville (o almirante é amigo da família de Kelly). Fim do episódio.
O que podemos falar desse primeiro episódio, “Feridas Antigas”? Em primeiro lugar, é um episódio mais para apresentar esse novo Universo. Vemos a apresentação dos personagens principais e, em destaque, como Orville se assemelha a Jornada nas Estrelas: há uma União ao invés de Federação, motor quântico ao invés de motor de dobra, Krills ao invés de klingons, e por aí vai. Foi um episódio para apresentar os Krills como inimigos, mas principalmente, um roteiro com uma narrativa muito enxuta, permeada por muitas falas cômicas para ficar bem claro de que a série se trata de uma comédia espacial. Algumas dessas piadas pareceram, num primeiro momento, inconvenientes, já que estamos nos adaptando a uma espécie de Jornada nas Estrelas cômica, mas com piadas um tanto chulas em alguns momentos. Entretanto, isso não prejudica o andamento do episódio que é bom e simpático. No mais, ver que Ed e Kelly conseguem se entender ao final do primeiro episódio faz a série como um todo parecer promissora. Apesar de algum estranhamento incial, a gente sente que The Orville é uma série que tem como dar certo depois que vemos esse primeiro episódio.
Assim, The Orville é uma série que chama a atenção por sua semelhança com Jornada nas Estrelas em tom de galhofa. Há um estranhamento com as piadas, mas o episódio não é só uma gozação e há os seus momentos sérios e até ternos. Uma boa perspectiva de futuro para a série.
E finalmente chegamos ao último episódio da terceira temporada de Jornada nas Estrelas Discovery, com o título “Minha Esperança É Você, Parte 2”, que confirmou algo que sempre ficou perambulando ali pelo ar, mas que alguns queriam que não acontecesse até pelo bem da série: Michael Burnham se torna a capitã da Discovery. Por que isso não foi bom para a série, a meu ver? Porque confirmou a sacralização da personagem, e a certeza absoluta de tudo o que ela faz é certo, dando-lhe uma aura de onipotência e infalibilidade, estando muito acima dos demais personagens. Seria mais crível e interessante que seus defeitos (que existem) fossem mais explorados, como o foram ao longo dessa terceira temporada, em comparação com as demais temporadas de Discovery. Mas vamos analisar o plot do episódio, com os spoilers de sempre, episódio esse escrito por Michelle Paradise.
O plot começa na História B, onde Saru ainda tenta convencer Su’Kal de que ele deve sair de seu mundo imaginário do holodeck e encarar o mundo lá fora. Culber diz que a radiação deve ter aumentado, pois o casco da nave deve ter sido rompido depois de um ataque de medo de Su’Kal. Saru não sabe mais o que dizer sem amedrontar Su’Kal e provocar uma nova Combustão. Culber, sempre mandando os outros dizerem o que deve ser dito (e ele nunca faz isso, justamente o cara que tem mais jeito ali), fala que Saru deve dizer que é kelpiano para buscar uma identificação com Su’Kal e aí falar que existem outras perspectivas. De repente, surge Adira, com seu rosto todo modificado pelo holodeck, parecendo um destaque de escola de samba. Ela dá os remédios aos dois,o que vai dar mais algumas horas para eles. O namoradinho do cabelo azul aparece também nesse mundo de holodeck, com cara de vulcano. Saru e Culber podem ver o menino, por causa do holodeck e Culber dá um abraço fraterno nele, no momento fofo do episódio final (a aparição do menino foi para que esse abraço acontecesse, num momento de melodrama).
Já na História A, a Viridian ataca a sede da Federação. Vence organiza um contraataque, inclusive contra a Discovery. A Federação estará acabada se Osyraa conseguir o motor de esporos. Osyraa ordena que Aurelio use o soro da verdade em Book. Enquanto isso, a tripulação da Discovery avança contra a ponte sob tiroteio cerrado. O problema é que Osyraa ordena o desligamento do suporte de vida onde a tripulação da Discovery está. Na sede da Federação, Stamets pede a Vence que a Discovery não seja destruída e ele quer ir com a nave para a nebulosa salvar Culber, Adira e Saru. Mas Vence diz que Michael fez a coisa certa afastando Stamets da Discovery e ordena que o Chefe de Engenharia fique bem longe dali para o motor de esporos não ser acionado, para o desespero de Stamets. A Discovery consegue abrir uma brecha nos escudos da sede da Federação, mas os vulcanos mandam naves para ajudar a Federação contra a Corrente Esmeralda. Osyraa ordena que se use pesticidas nas naves vulcanas. Mas Michael convence Osyraa a entrar em contato com a Federação e deixar a Discovery e Viridian irem embora, com o objetivo de evitar a matança dos vulcanos. Vence aceita, meio contrariado. A Discovery, Viridian e as naves vulcanas entram em dobra. Na Enfermaria, o efeito do soro da verdade demora para acontecer em Book, mas Osyraa não quer esperar e pretende torturá-lo, a menos que Michael o faça falar a verdade. Aurelio não quer que se use de violência, mas Osyraa finalmente mostra seu lado perverso a ele, estrangulando-o até fazê-lo dormir e começa a torturar Book. Depois de ver Book sendo muito torturado, Michael finalmente cede e vai pedir a Book para entregar o caminho para o dilítio da nebulosa. Mas num movimento mirabolante, Michael liga um conveniente campo de força de quarentena dentro da Enfermaria que a isola de Osyraa e Zareh e a moça foge com Book por uma porta lateral. Michael passa uma mensagem em código para Tilly (ela também teve tempo de roubar um comunicador), que diz que a tripulação deve tentar danificar uma nacele para tirar a Discovery da dobra. Mas a tripulação já não consegue respirar com a exceção de Owo, que consegue manter a respiração presa por mais tempo que os demais. Já Michael e Book se trancam num turbo elevador sob fogo cruzado. Zareh e seus capangas abrem a porta do elevador, mas Book e Michael estão do lado de fora do elevador com aquela visão ridícula do interior da Discovery, que parece fazer a nave ter três vezes o seu tamanho. O tiroteio recomeça. Michael se joga em outro elevador e vai até o núcleo de dados da nave, onde está Osyraa. As duas trocam tiros e porradas ao mesmo tempo. Já Book sai no braço com Zareh no elevador. Owo consegue danificar a nacele e a Discovery sai de dobra. Um robozinho vai salvá-la, pois ela já está quase que totalmente sufocada. Osyraa ordena que a Viridian puxe a Discovery para dentro de si. No elevador, Zareh sacaneia a gata de Book e ele fica puto da vida, jogando Zareh lá embaixo (inacreditável). Osyraa enfia Michael numa parece cheia de cubinhos, mas a heroína sai e, com dois tiros bestas, mata a vilã (eu esperava algo mais apoteótico aqui). Burnham dá um boot na Discovery e recupera os sistemas de suporte de vida, além de, literalmente, mandar os capangas de Osyraa para o espaço. E pede que, quem estiver ouvindo, se apresente a ponte (já age como capitã). Owo acorda e percebe que foi salva pelo robozinho, que pifa. Os demais tripulantes estão vivos e vão para a ponte se encontrar com Michael, onde Tilly praticamente entrega o posto de capitão de mãos beijadas para a protagonista. Burnham pretende ejetar o núcleo de dobra para explodir a Viridian e libertar a Discovery. Mas, como fazer com que a Discovery não exploda junto? Seria acionando o motor de esporos. E aí, num passe de mágica para a conveniência do roteiro, Aurelio diz que Book é de uma espécie empática e que ele poderia acionar o motor de esporos como Stamets. O núcleo de dobra é ejetado, mas a Discovery não salta com o motor de esporos. O reator de dobra, sobrecarregado, na iminência de explodir, e a Discovery não salta. De repente, vemos a Viridian explodir.
Na História B, Saru começa a conversar de seu passado em Kaminar com Su’Kal. E abre o jogo, dizendo que é kelpiano como Su’Kal. Saru volta a mencionar o mundo exterior, mas Su’Kal não gosta disso porque ele menciona que os hologramas falaram a ele que a Federação o iria buscar, mas isso nunca aconteceu. Saru então fala que isso não aconteceu por causa da Combustão, que incapacitou as naves. Mas o importante é que a Federação está lá agora, graças à mãe de Su’Kal que fez contato e que criou esse mundo para proteger o filho. Su’Kal pede para Saru esperar e atravessa uma porta onde estaria o mundo dos kelpianos na simulação. Depois de algum tempo, Su’Kal retorna e diz que Kaminar não mais está lá. Saru, com muito jeito, continua a explicar que Su’Kal deve sair daquele mundo holográfico e encarar o mundo exterior, mas a criatura holográfica que o persegue aparece e ele fica cheio de medo. Saru diz que essa criatura o está ajudando a encarar seus medos. Já Culber, Adira e seu namoradinho estão procurando uma forma de contato e chegaram a um ponto onde a radiação é crítica. Como o namoradinho não é corpóreo ele vai até esse ponto e atravessa os limites do holograma, vendo que há mesmo um rombo no casco por onde entra a radiação, com a nave se desfazendo perigosamente. Aí, fica a pergunta: com esse rombo, a radiação não invadiria todo o holodeck e o tornaria crítico em todo o seu interior? Por que a radiação fica mais concentrada perto do rombo? Bom, como a série parece não ter consultor científico e seus roteiristas parecem estar mais preocupados com a fantasia ao invés da ficção científica… Falando nisso, Culber explica para Adira como Su’Kal foi responsável pela Combustão, confirmando o que vimos há dois episódios, só que desta vez a tecnobabble ficou ainda mais viajante. Ou seja, para dar algum arremedo de ficção científica a essa situação fantasiosa, a explicação ficou tão esdrúxula que é melhor a série se assumir como de fantasia de uma vez. Voltando a Saru e Su’Kal, o primeiro, finalmente com a ajuda de Culber, convence o kelpiano medroso a atravessar a porta que sempre foi vista como algo perigoso para Su’Kal. Essa porta dá para a nave. Su’Kal diz que não vai nesse lugar desde criança. O namoradinho fica chateado porque quando o holograma desligar, ele vai ficar somente visível para Adira novamente. Mas Culber diz que eles vão procurar um jeito de tornar o menino visível para todos novamente. Su’Kal desliga a holografia e agora a nave se mostra toda, com corpos cobertos por plásticos e um corpo decomposto descoberto. É sua mãe. Su’Kal pede ao computador para mostrar o que ele viu ali quando criança, para que ele possa se libertar de seu trauma. Vemos um Su’Kal ainda criança conversando com sua mãe agonizante. Ela cai morta na frente do filho, que grita e provoca a Combustão. O Su’Kal adulto olha para o corpo decomposto da mãe. Saru, já como kelpiano, fala que a mãe de Su’Kal não gostaria de vê-la morta. Su’Kal diz que estava sozinho. Saru responde dizendo que ele não mais está sozinho. Su’Kal se vira e vê Saru como kelpiano. Eles tentam se comunicar com a Discovery, sem sucesso. A mãe de Su’Kal ainda deixa uma mensagem de agradecimento para os que resgataram seu filho e pede que ele seja levado para sua família em Kaminar. Su’Kal percebe que foi ele que causou a Combustão e quer reparar o erro. Saru diz que não foi culpa dele, que Su’Kal não tinha como saber que foi ele. Saru ainda diz que vai ajudar Su’Kal, ou seja, são os roteiristas encontrando uma saída muito conveniente para tirar Saru do caminho de Michael para essa assumir a Discovery como capitã. E isso, pois lembramos o quanto Saru era comprometido com a tripulação, a nave e os ideais da Federação. Mas bastou um kelpiano assustado para ele jogar tudo isso no lixo. Uma conveniência de roteiro forçadíssima para favorecer a Michael.
A nave em que estão tem falha estrutural iminente. Culber ainda tenta, sem sucesso, contactar a Discovery. Mas eis que Michael surge com a cavalaria e salva todo mundo.
Michael faz um discurso exaltando a conexão entre as pessoas, num século 32 onde todos não estavam muito conectados. No meio do discurso, fica clara a frieza de Stamets para com Michael, algo que pode dar um bom gancho para uma quarta temporada, embora já possamos até especular o que vai acontecer, dado o grau de previsibilidade da série. A Corrente Esmeralda, que tinha um parlamento, institutos de pesquisa e toda uma estrutura como vimos no episódio anterior, num passe de mágica acabou sem Osyraa e a Federação está se reconstruindo. Os trills voltaram e os vulcanos cogitam voltar. Vence pede para conversar com Burnham e começa uma conversa mole de como a filha dele não queria obedecê-lo, sendo que depois ele concluiu que ela estava certa. É a deixa para ele dizer o mesmo de Burnham e querer que ela seja a capitã da Discovery. O episódio termina com uma Michael apoteótica comandando a Enterprise, uma citação de Gene Roddenberry (que foi sacaneado na temporada) sobre comunicação e a música original de Jornada nas Estrelas, depois da temporada apagar vários elementos de Jornada nas Estrelas, e, volta e meia, lançar uns easter eggs para manter a atenção dos fãs mais antigos.
O que podemos dizer do episódio final “Minha Esperança É Você, Parte 2”? Em primeiro lugar, Discovery se mostrou cada vez mais Discovery, sendo uma série já com três temporadas e formando todo um Universo próprio, se desligando cada vez mais da ficção científica e de Jornada nas Estrelas. Tudo bem, é um direito que os produtores têm. Só me soa um pouco desonesto eles lançarem mão da marca de Jornada nas Estrelas para buscarem audiência dos fãs. Tivemos uma História A que foi regada a muitas cenas de ação, onde Burnham tomou mais as rédeas da coisa, se compararmos com o episódio anterior, enquanto a participação da tripulação na resolução da crise ficou um pouco mais ofuscada, ou seja, eles somente agiram por uma sugestão de Burnham e somente Owo chegou à nacele para danificá-la. Eu ainda acho que gostaria de ver uma participação maior da tripulação (por exemplo, ao invés de Zareh ser morto por um Book que ficou revoltado porque o vilão falou mal da gata dele – isso foi ridículo, caramba, que infantilidade da Paradise!!! – eu preferia que Zareh fosse morto por Tilly com um diálogo bem escrito). O uso dos elevadores da Discovery deslizando numa nave que internamente parece ter o tamanho da Estrela da Morte também foi algo complicado, que já havia sido criticado em temporadas anteriores. A luta entre Osyraa e Michael, onde elas não sabiam se davam tiro uma na outra ou porrada mesmo, foi também uma forçada de barra, não menor que a morte de Osyraa, uma vilã que até teve uma boa atuação ao longo da temporada, que morreu com dois tirinhos muito bestas. Até a morte de Zareh foi melhor. Por fim, o desfecho óbvio de Michael como capitã, já mencionado aqui. Foi uma pena esse desfecho, pois finalmente tivemos uma temporada em que as atitudes de Michael foram questionadas, o que soava como algo bom para o desenvolvimento da personagem. Só que, ao fim, todo mundo disse que ela estava certa de novo e ainda foi agraciada com o posto de capitã. Uma pena. Eu achava que a série teria a ganhar mais com esse conflito interno de Burnham. Quando isso foi trabalhado nessa temporada, tivemos bons momentos, e com a Michael. Já a História B me parece até mais interessante que a História A, pois teve duas coisas que Discovery gosta de trabalhar bem, embora isso a afaste muito da ficção científica e de Jornada nas Estrelas: o melodrama e a fantasia. Se os roteiristas querem associar a Combustão a um desespero de ordem familiar de Su’Kal, tudo bem, se considerarmos isso fantasia. O que não dá é passar um verniz de ficção científica nisso, criando uma tecnobabble mirabolante demais. Que se desse uma explicação científica bem rasa (os cromossomos prejudicados na gestação de Su’Kal em favor de uma ligação com o dilítio) e se parasse por aí, abraçando de vez a fantasia, que é o que os roteiristas de Discovery querem fazer. Que assumam o que eles estão fazendo e não encontrem desculpas para enjambrar isso em Jornada nas Estrelas. A parte do melodrama, quando não exagerada, é outra coisa que cai bem em Discovery, embora também a afaste de Jornada nas Estrelas, sobretudo no núcleo Stamets-Culber-Adira-Menininho do Cabelo Azul. Repito: a fantasia e o melodrama são os rumos que os roteiristas querem tomar e até o fazem bem. Só não me associe isso a Jornada nas Estrelas, por favor, que é algo muito diferente. É melhor assumir o que fazem. A questão do envolvimento entre Saru e Su’Kal foi até interessante, mas infelizmente foi usada como uma faca de dois gumes, pois tirou de forma muito conveniente o kelpiano do caminho para colocar Michael como capitã da Discovery.
E um balanço da terceira temporada? A série ainda tem problemas como a continuação do protagonismo excessivo de Michael, emburrecendo os demais personagens. Tivemos diálogos sofríveis em todos os episódios, escritos por diferentes roteiristas, numa prova de que isso é mais uma coisa dos showrunners. Jornada nas Estrelas foi sendo sistematicamente apagada da série (até agora não engulo essa coisa de Ni’Var, o delta no peito se transformar numa elipse com um delta quase apagado desenhado nela). A zoação com Gene, o processo de tornar o Saru menos importante e muito relutante. As agressividades de Philippa Georgiou. O chorômetro de Michael. Histórias excessivamente mirabolantes que podiam ser contadas de forma um pouco mais simples. Um século 32 excessivamente com cara de século 21, mesmo que a ficção científica seja um reflexo de nosso tempo. Uns quatro episódios onde a Discovery tinha que provar a um grupo ou civilização que era confiável (a Terra, os Trills, A Federação, os Vulcanos). Ou seja, Discovery ainda tem muito a melhorar. Mas eu também vi algumas melhoras. O questionamento da onipotência de Michael até por ela mesma. O ato de Michael perceber que ela não pode fazer tudo o que quer o tempo todo, principalmente na querela entre vulcanos e romulanos, onde ela desistiu de seus objetivos ao perceber que se poderia levar a um novo desentendimento no seu planeta natal (só foi sofrível os vulcanos terem cedido a Michael através de um argumento emocional). A zoação com Michael no primeiro episódio, onde a gente ri do personagem, que o deixa mais simpático para nós. Os episódios onde a tripulação era mais focada que a Michael, dando espaço para o desenvolvimento de mais personagens. As mensagens de cunho ecológico ou críticas ao sistema capitalista, algo que Jornada nas Estrelas sempre fez e nunca foi considerado lacração, o sendo considerado por alguns somente em Discovery. O surgimento do núcleo fofinho Stamets-Culber-Adira-Menino do Cabelo Zaul, dentro do que Discovery se propõe a fazer. A carregação nas tintas do Universo Espelho, que eu realmente vi mais como um alívio cômico, com uma surpreendente Michael tresloucada e uma Tilly contida. Os episódios em arcos fechados, com a questão da Combustão correndo em paralelo (embora às vezes a história da Combustão parecesse se desenvolver muito lentamente), com um arco final de três episódios elucidando o problema da Combustão. E, principalmente, o Guardião da Eternidade, materializado num velhinho sacana que falava por metáforas, irritando as “milleniuns” Michael e Phillipa, que queriam respostas claras e rápidas para tudo, com o velhinho falando a Michael que ela estava nervosa. Confesso que vi ali um embate entre os fãs mais antigos e os mais novos na série. Carl me representa (até porque eu também me chamo Carlos)!!!
Encerrada a terceira temporada, vamos ver o que rola na quarta, onde as filmagens já foram iniciadas. Concordo com os que falam que a série poderia muito bem encerrar aqui. Mas já que a quarta temporada está sendo filmada e a série ainda tem muito o que melhorar, fica a expectativa se os showrunners vão escutar um pouco mais os fãs ou se vão bater o pé feito crianças mimizentas e vão repetir os mesmos erros. Escutem um pouquinho mais os fãs como vocês ate fizeram um pouco na terceira temporada! É o que pedimos. Isso sempre deu certo em Jornada nas Estrelas.
E chegamos ao penúltimo episódio da terceira temporada de Jornada nas Estrelas Discovery, intitulado “Há Uma Maré…”. Esse episódio, escrito por Kenneth Lin e dirigido por Jonathan Frakes, confirma o arco final triplo iniciado em “Su’Kal”, com uma suficientemente boa ação e uma negociação no mínimo curiosa. Para podermos falar do episódio, os “spoilers” estão liberados.
O episódio começa com Osyraa dentro da Discovery e seus capangas simulando um ataque da nave Viridian contra a Discovery, com o objetivo da Federação abrir suas portas para a Discovery. Na estação da Federação, Vence, sem comunicações com a Discovery, hesita em deixar a nave entrar e mantém levantados os escudos do QG da Federação. A tripulação da ponte está confinada a uma sala e aquele vilão do segundo episódio que mais parecia um Al Pacino genérico (Zareh) aparece dizendo aos capangas que Osyraa não quer que se mate ninguém. É claro que ele também zoou a incompetência de Tilly no posto de capitã, com a nave sendo tomada muito facilmente. Ryn é colocado junto ao grupo. Enquanto isso, Book e Michael estão em dobra com a nave do primeiro, correndo para chegar ao QG da Federação, mas precisam passar pelos destroços de muitas naves sem colidir.
A Discovery se aproxima dos escudos do QG e de um poço gravitacional. Para a nave não ser esmigalhada, Vence manda abaixar os escudos para a Discovery passar. A nave de Book também chega. Book e Michael jogam a nave onde estão dentro do hangar da Discovery antes dessa entrar no QG.
Osyraa vai até a Engenharia onde Stamets ainda está subjugado por uma espécie de máquina neural em sua cabeça. Ela fala com um cientista conhecido como Vigilante Aurélio, de sua confiança, que é paraplégico e estuda o motor de esporos, assim como Stamets. Osyraa e Aurélio parecem ser muito próximos. Ela bota uma operazinha andoriana para o cientista poder trabalhar melhor.
Michael vai atrás de Stamets para poder neutralizar o motor de esporos. Book coloca um aparelho de camuflagem dos sinais de Michael em seu braço. Como ele só tem um, não pode andar junto com ela, que vai sozinha “salvar o dia” nas palavras do próprio Book. Vence, depois de pensar um pouquinho com seus botões, percebe que Osyraa está na Discovery e manda cercar a nave com outras da Federação a postos para atirar. Mas Osyraa entra em contato e quer, diplomaticamente, conversar. Os dois começam uma longa conversa na presença de um holograma que é um detector de mentiras. Osyraa busca negociar uma aliança entre a Corrente Esmeralda e a Federação. Na ausência de dilítio, a Corrente tem uma estrutura capitalista bem montada de comércio, enquanto que a Federação é um símbolo de esperança, algo que a Corrente não tem. Os dois comem umas frutas, Osyraa uma maçã, que Vence diz que é sintética e feita das fezes da estação (literalmente uma maçã de merda), que Osyraa cospe. Vence resiste à visão capitalista de Osyraa alegando que a Corrente mantém a escravidão. A oriana diz que gastou capital político para abolir a escravidão na Corrente Esmeralda. O problema aqui é que a Corrente Esmeralda deixa de ser vista como uma facção criminosa e parece ser um órgão com governo próprio, parlamento, detentora de instituições científicas, etc. sendo mostrada nesse episódio de forma diferente do que entendemos no resto da série. Vence diz que, para fazer acordo, a Corrente Esmeralda precisa se afastar de civilizações pré-dobra como Kwejian. Osyraa, depois de saber que uma capanga de Zareh foi ejetada para o espaço, abre um texto sobre o armistício e propõe a retirada das civilizações pré-dobra por quinze anos, além de não violar a Primeira Diretriz. Vence pede um tempo para ler o armistício. Depois de ler, Vence acha o armistício um bom acordo, mas se pergunta quem representará a Corrente Esmeralda e se essa pessoa será independente o suficiente de Osyraa, que não é vista com confiança. Osyraa pensa em Aurélio, mas Vence ainda quer saber o grau de independência que esse representante teria com relação a Osyraa. Ela diz que esse representante não teria ligações com ela. Mas o holograma detector de mentiras diz que Osyraa mente. Vence ainda diz que o passado de Osyraa é de crimes e que esses erros precisam ser reparados. Osyraa fica verde de raiva, mas Vence, apesar de um tom de súplica muito estranho pedindo à Corrente para se unir à Federação, bate o pé com relação a Osyraa se confrontar com seus crimes num julgamento. A oriana perde a paciência e vai embora.
Book é capturado e colocado junto com a tripulação da Discovery. Já Michael estrangula um homem com a perna mas toma uma facada na mesma. Com os transportes bloqueados por Osyraa, Michael se desloca pelos tubos Jefferies. Ela cauteriza sua ferida com um kit médico e manda uma mensagem para a mamãe Burnham falando da situação da Discovery. Mas Zareh localiza Burnham pelo comunicador que ela pegou do capanga que estrangulou. Ele manda mais de seus capangas para perseguir Michael. Mas ela simula um incêndio que aciona exaustores nos tubos Jefferies. Ela havia se amarrado num cano antes disso e uma capanga de Zareh é cuspida para o espaço pelo dispositivo antiincêndio. Burnham fala para Zareh que ele vai precisar de mais capangas (reguladores). E joga o comunicador fora para não ser mais encontrada.
Os tripulantes da Discovery simulam uma briga e descem a porrada nos capangas de Osyraa. Eles vão sair do cativeiro. Ryn consegue provocar uma interferência que vai mostrar muitos sinais de vida falsos. Book e Ryn vão permanecer na sala para atrasar os capangas enquanto a tripulação da Discovery sai pela nave. Mas Book e Ryn são capturados.
Stamets é tirado de seu “transe” e começa a conversar com o Vigilante Aurélio. Começa a rolar uma afinidade entre os dois pela ópera andoriana. Stamets começa a conversar sobre família, filhos, mas Aurélio quer saber sobre o motor de esporos. Stamets continua desconversando com o papo de família. Aurélio acha que Osyraa é uma pessoa maravilhosa, pois apostou nele, que é paraplégico, para a carreira de cientista. Mas Stamets fala dos defeitos de Osyraa que Aurélio não conhece. Michael entra na Engenharia e atordoa Aurélio e um capanga para salvar Stamets. Mas o Chefe de Engenharia quer voltar a Verubin para salvar Culber. Ele pira ainda mais na batatinha quando sabe por Michael que Adira está lá. Mas Michael confina Stamets num campo de força e pretende mandá-lo para o QG da Federação, pois assim Osyraa não poderá usar o motor de esporos. Michael usa o toque vulcano para desacordar Stamets. Stamets, quando acorda, já está no campo de força, e diz, aos berros, que aqueles que ele ama terão uma morte terrível na radiação de Verubin. Mas Michael diz que Osyraa usará Stamets e o motor de esporos para destruir a Federação. Stamets diz que a Discovery veio ao futuro por Michael, que a tripulação abriu mão de tudo por Michael e como ela pode fazer isso. Michael, chorando, apenas diz que sente muito. Stamets é cuspido para o espaço e enviado ao QG. Michael chora, chora, chora… mas para quando Zareh a rende com uma arma.
Na ponte, Osyraa está de volta e ordena que Zareh procure a tripulação da Discovery. Ryn e Book estão na ponte. Aurélio também, sabe-se lá como, pois isso não ficcou explicado no roteiro, já que ele havia sido tonteado por Michael (ô roteiro mal escrito!!!). Osyraa pede para Aurélio sair da ponte, pois coisas violentas vão acontecer, mas Aurélio se recusa. Ela dá uma ordem para Ryn consertar os sensores, mas ele se nega. Book diz que tem como, em segurança, dar acesso ao dilítio da nebulosa Verubin a Osyraa. Mas mesmo assim, esta atira em Ryn que vira um monte de purpurina azul e some no fundo da Discovery. Osyraa dá a ordem de Aurélio aplicar em Book o soro da verdade para ele não mentir. Mas Aurélio está traumatizado com a violência de Osyraa.
A tripulação consegue chegar ao arsenal da Discovery, depois de pôr fora de ação mais capangas de Osyraa. Quando os tripulantes vão começar a pegar as armas, três robozinhos aparecem, dizendo que contêm os dados da esfera e que vão ajudar a tripulação. Fim do episódio.
O que podemos dizer do episódio “Há Uma Maré…”? Em primeiro lugar, tivemos um bom episódio de ação. Toda uma operação de resgate de Discovery é posta em curso. Obviamente, Michael é escalada por Book para salvar o dia, mas ela não vai fazer tudo sozinha. A ela vai caber a tarefa de tirar Stamets da nave e da jogada, para que Osyraa não acione o motor de esporos, uma medida muito racional e coerente, não fosse por um pequeno detalhe: Stamets está desesperado em salvar Culber e Adira, as pessoas que ele mais ama e que não quer perder de jeito nenhum (ele já perdeu Culber uma vez, não quer perder uma segunda). Alguns podem dizer que essa é uma atitude egoísta de Stamets, mas ela ser colocada no episódio valeu para pelo menos uma coisa: quando Michael o obriga a ser expelido da nave, Stamets começa a dizer que a tripulação da Discovery fez tudo por ela e como agora ela tem a coragem de deixar Culber e Adira encararem uma morte horrível. Vemos mais uma vez o “faz o que quer” da Michael ser questionado no episódio, agora num desespero flagrante de Stamets (palmas para Anthony Rapp que convenceu muito em seu desespero). E Michael chorou e chorou (pelos registros do chorômetro, foram duas as vezes: nesta com Stamets e quando a moça deixa uma mensagem de despedida para a mãe). Apesar desse problema com Michael no episódio, não posso deixar de admitir que gostei da ideia do exaustor do sistema de incêndio do tubo Jefferies que cuspiu a capanga de Zareh para o espaço.
O núcleo da tripulação também foi bom, pois eles trabalharam em equipe para sair da situação de cativeiro. E os robozinhos, que até agora tinham uma posição periférica nos episódios, finalmente vão ajudar mais efetivamente a tripulação, pois eles contêm os dados da esfera, que quer proteger a tripulação de forma consciente. Confesso que quero ver muito isso no episódio final.
O núcleo Stamets-Aurélio também foi interessante, sendo esse último personagem um sujeito gente boa que tem uma dívida de gratidão com Osyraa e que acaba se horrorizando com toda a venalidade da mulher verde. Ele e Stamets têm em comum o uso da ciência para fins pacíficos e quero ver o desfecho desse personagem. Espero que ele seja aproveitado para a quarta temporada e esses roteiristas não o matem no episódio final, pois seria um desperdício e uma burrice inominável. Ele seria uma ótima aquisição para o núcleo fofo de Stamets, Culber e Adira, algo que Discovery consegue fazer bem, apesar de não ser uma ficção científica ao estilo do que conhecemos em Jornada nas Estrelas.
Agora a negociação entre Vence e Osyraa. Duas coisas incomodaram. Primeiro, a atitude de súplica de Vence em fechar o acordo com Osyraa desde que ela aceitasse ser julgada pelos seus crimes. Isso não encaixou bem com o personagem de Vence, que sempre foi dotado de atitudes muito firmes durante a temporada e, agora no final fica implorando daquele jeito. Pegou mal. A outra coisa que incomodou foi a visão que o episódio deu da Corrente Esmeralda. Se nos episódios anteriores, a Corrente Esmeralda parecia muito mais um sindicato do crime com negócios escusos, no presente episódio vemos a Corrente como um Estado com parlamento e uma espécie de grande aliança comercial, com empresários capitalistas muito ricos detentores de grandes rotas comerciais, além de possuidora de renomados institutos de pesquisa. Ficou algo estranho. Com relação à visão capitalista da coisa, posso dizer que isso não me incomodou, já que, com a escassez do dilítio, os ditames do mercado voltaram nessa sociedade distópica e a Federação, que representa um fio de esperança e de utopia, deve ser realmente relutante em se aliar a uma organização capitalista que mantém a escravidão. Alguns podem reclamar dessa crítica ao capitalismo como agenda política, mas não será a primeira vez que Jornada nas Estrelas criticou o capitalismo que, apesar de ser o sistema vigente, é realmente cheio de falhas. Só seria um pouco estranho uma sociedade a mais de novecentos anos no futuro, em pleno século 32, adotar um sistema econômico vigente no século 21. Confesso que quando vejo um sindicato do crime como a Corrente Esmeralda em Jornada nas Estrelas, me lembro muito dos sindicatos do crime em Guerra Nas Estrelas, como o Sol Negro. Mas estes existiram há muito tempo numa galáxia muito distante e não no século 32 da Via Láctea (seria apenas no Quadrante Alfa???).
Dessa forma, “Há Uma Maré…” até foi um bom episódio de Discovery, pela interessante história de ação, pelo não protagonismo excessivo de Michael, pelo questionamento a liberdade para Michael fazer o que quiser e pelo papel da tripulação na operação de resgate da nave. O surgimento de Aurélio foi algo positivo e a tentativa de acordo entre Vence e Osyraa flertou com uma crítica ao capitalismo do século 21 pertinente, mas que parece um pouco estranha a uma realidade do século 32, mesmo que esta seja distópica. Esperemos como será o desfecho desse arco triplo.
Dentre nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas Discovery, vamos ao décimo-primeiro episódio da terceira temporada, intitulado “Su’Kal”. O episódio foi escrito por Anne Cofell Saunders e os spoilers estão liberados.
O episódio começa ainda na homenagem a Philippa e Adira se sentindo meio deslocada. Ma eis que surge o namoradinho do cabelo azul, se desculpando pelo sumiço e a moça mostra compreensão. Stamets descobre que a Khi’eth tem um sinal de vida. Saru acredita que é o filho da Dra. Issa, pois ela estava com marcas de gravidez no rosto. A Discovery vai para a nebulosa Verubin, mas ao entrar lá, a radiação é altíssima e os escudos começam a cair. Book se oferece para ir até lá, alegando que sua nave é protegida pela radiação, mas ele mente. Ele consegue as coordenadas da nave Khi’eth, que caiu num planeta. Essa nave está blindada contra a radiação. O planeta está num bolsão onde a Discovery pode ficar em segurança. Book retorna à Discovery debilitado pela radiação, mas ele tem como se recuperar. Segundo os dados coletados por Book, a Khi’eth caiu num planeta de dilítio maciço. Ou seja, a resolução do mistério da Combustão pode estar lá.
Saru comunica a Vence o ocorrido e este fala que a Corrente Esmeralda faz exercícios militares perto de Kaminar, deixando o kelpiano preocupado. Vence assegura que Kaminar será protegida pela Federação e não quer que a Discovery vá defender o planeta, pois pode ser uma cilada de Osyraa para conseguir o motor de esporos. Um grupo avançado formado por Michael (obviamente), Saru e Culber irá ao encontro do kelpiano no planeta de dilítio. Michael está preocupada com Saru, já que teme que ele precise tomar decisões difíceis, pois um kelpiano está envolvido. Stamets também está preocupado com Culber, mas este insiste que precisa ir para ajudar Saru e o sobrevivente, tranquilizando o Chefe de Engenharia (um momento fofo do episódio). Na ausência de Saru, Tilly comandará a Discovery (isso mesmo, para quem pensou “Hein?”). Michael começa com um papo furado onde há embaixo do braço esquerdo da cadeira de capitão uma espécie de saliência que existe em todas as cadeiras de capitão (por se tratar de um defeito de fabricação), e que todos os capitães de naves estelares colocam o dedo em momentos de tensão, ou seja, uma conversa meio sonolenta somente para a Tilly também colocar o dedo na saliência, algo que não acrescenta nada à história e gasta uns minutos do episódio a troco de nada. A Discovery vai para o bolsão seguro em volta do planeta, mas mesmo assim os escudos diminuem. Culber atenta para o fato de que mesmo dentro da Khi’eth, eles serão afetados pela radiação e somente terão quatro horas de permanência na nave, apesar do uso de medicações preventivas. Tilly diz que os escudos serão consertados em três horas e que a Discovery retornará para recuperar o grupo avançado antes das quatro horas de permanência no planeta. O grupo avançado se transporta e Tilly ordena o alerta escuro. Michael, Culber e Saru chegam a uma espécie de floresta. Mas há algo estranho. Michael está como uma trill, Culber como um bajoriano e Saru como um humano. E temos a oportunidade de ver a cara de Doug Jones!!! Confesso que essa foi disparada melhor coisa do episódio, já que Jones sempre teve que usar a maquiagem de borracha do kelpiano. Eles chegam à conclusão de que estão dentro de alguma espécie de programa holográfico que faz simulações (mais popularmente conhecido pelo pessoal do século 24 como holodeck, embora tenhamos visto uma espécie de holodeck já na série animada; calhou da tripulação da Discovery não ser muito íntima do holodeck e desconhecê-lo). O grupo avançado está com uma aparência diferente, pois isso faz parte da programação do holodeck. Eles saem à procura do kelpiano e encontram uma espécie de poço cheio de escadas. Eles encontram o kelpiano. Saru diz que eles são de fora do programa. Uma porta trancada é forçada por algo e abre, estando vazia do outro lado. O kelpiano, desesperado, diz que eles acordaram o monstro e sai correndo. Michael percebe que a porta foi arrombada por causa do medo do kelpiano. Michael acha que o kelpiano não conhece mais nada além do mundo do programa e sugere cautela a Saru no contato. O grupo se divide. Saru e Culber vão atrás do kelpiano e Michael vai ficar de olho na porta que foi arrombada. O capitão e o médico encontram um conjunto de hologramas que explicam que aquele mundo virtual foi criado para proteger o kelpiano até que um grupo de resgate viesse buscá-lo. Já Michael se encontra com o tal monstro que o kelpiano mencionou e toma uma carreira dele. Depois de “cair para cima”, Michael se depara com o kelpiano e começa a conversar com ele, fingindo que é um programa do holodeck. Ela tenta perguntar ao kelpiano, com muito cuidado, se ele se lembra de algo referente ao mundo exterior ao programa, mas a referência ao mundo exterior provoca medo nele e o kelpiano foge. Enquanto isso, Culber e Saru encontram um programa que é um kelpiano ancião contador de histórias. Eles descobrem o nome do kelpiano sobrevivente num desenho: Su’Kal, que significa um grande presente vindo depois de um grande sofrimento. Saru conversa com o ancião e este lhe diz que ele, assim como todo o holodeck, foi programado pela Dra. Issa, que sabia que estava morrendo pela radiação. Saru pergunta ao ancião como eles podem achar Su’Kal. O ancião diz que quando Su’Kal está com medo, ele se esconde em sua fortaleza. Que ele precisa enfrentar seu medo (o tal monstro que partiu para cima da Michael) para poder se libertar do holodeck, assim como para libertar o próprio Saru e Culber. O tempo passa e o grupo avançado fica cada vez mais afetado pela radiação. Eles se encontram com Michael, que espreita Su’Kal sendo atacado por seu monstro.
Na Discovery, uma nave se aproxima. É a nave de Osyraa. Tilly manda camuflar a Discovery e a nave de Osyraa também se camufla. Osyraa se comunica e, depois de muita conversa mole com Tilly, com esta última querendo ganhar tempo, a oriana diz que quer a nave, o motor de esporos e a tripulação. Tilly se nega a entregar tudo isso. O medo de Su’Kal desestabiliza o dilítio da Discovery. Ou seja, é um kelpiano tresloucado pelo medo de seu monstro imaginário o motivo da Combustão (aff…). Osyraa vai atacar a nave e Tilly ordena que Stamets acione o motor de esporos. Este fica preocupado com o grupo avançado. Só que Book se oferece novamente para sair com sua nave e salvar o grupo avançado. Stamets se prepara para acionar o motor de esporos, mas os capangas de Osyraa invadem a nave e rendem todo mundo. A nave de Osyraa prende a Discovery com uns tentáculos, digamos, orgânicos.
No planeta, Saru canta uma cantiga de ninar para afugentar o monstro que aterroriza Su’Kal, mas este foge também. Book chega para resgatá-los, informando da presença de Osyraa, e Michael insiste que Saru e Culber permaneçam no planeta para acharem Su’Kal, enquanto ela volta para ajudar Tilly. Saru, embora esteja preocupado com a Discovery, concorda, já que ele tem uma ligação com Su’Kal por ser kelpiano (ou seja, mais uma vez Michael dá uma diminuída em Saru). Michael diz que vai voltar e Culber diz que se passar mais um dia, não vai adiantar (não eram quatro horas?).
Book não percebe que Adira estava escondida na nave com medicação contra a radiação e é surpreendido pela moça. Ela se transporta para a superfície do planeta. Book consegue transportar Michael para sua nave. A nave de Book vai em direção à Discovery, que salta com o motor de esporos, depois de Stamets ser condicionado a isso pelos capangas de Adira. A nave de Osyraa também salta juntamente com a Discovery, já que as duas estavam acopladas pelos tentáculos. Fim do episódio.
O que podemos falar do episódio “Su’Kal”? Em primeiro lugar, finalmente temos a causa da Combustão revelada, algo que surpreende pois, com a experiência que temos com os roteiristas de Discovery, parecia que a coisa ia ser explicada somente aos quarenta e oito minutos do segundo tempo do último episódio. O problema foi o que causou a Combustão em si. Ao invés de ser um motivo mais ligado à ficção científica, a coisa pendeu para a direção de um fricote de um kelpiano infantilizado confinado num holodeck cuja programação lembra mais um cenário de fantasia do que de ficção científica. Ou seja, Discovery confirma mais uma vez os rumos que a Secret Hideout dá a Star Trek de transformar a série mais em algo fantasioso, chutando a ciência para escanteio ou para o pano de fundo. É por essas e por outras que vejo essas produções recentes como uma espécie de livre adaptação de Jornada nas Estrelas, cada vez mais destacada e livre de Jornada nas Estrelas. Apesar de tudo isso, tivemos algo legal no episódio, que foi ver, em toda essa simulação de holodeck, Doug Jones interpretando um Saru de cara limpa, sem toda a borracha da maquiagem, o que ajuda a compensar um pouco a causa da Combustão. Indo na vibe fantasiosa do episódio, os momentos em que Saru se lembrava de seu planeta e de sua cultura foram até bons (a conversa com o ancião kelpiano foi um momento legal do episódio), mas também foi usado como uma espécie de faca de dois gumes, pois Michael o usou como argumento para Saru estar emocionalmente envolvido com Su’Kal e não retornar à Discovery para defender sua nave como o capitão que é, com essa tarefa sendo atribuída a Michael, já que a Tilly, que assumiu o comando da Discovery, falhou nessa tarefa. Pelo menos Osyraa volta ao episódio fazendo o seu feijão com arroz de sempre, sendo a vilã má básica que dessa vez sequestrou a Discovery, um ponto muito bom do episódio. Só foram sofríveis alguns diálogos que ela foi obrigada a travar com a Tilly, assim como a conversa vazia que Michael e Tilly tiveram sobre uma saliência no braço da cadeira do capitão, que não acrescentou nada à trama. Ou seja, é Discovery novamente abusando dos diálogos ruins. O problema do tempo que os humanos aguentam a radiação foi outro ponto negativo. Falou-se que a bolha em volta do planeta era segura, assim como o interior da Khi’eth. Depois, a radiação era segura somente por um tempo, quatro horas, para depois passar ao limite máximo de um dia. Que se deixasse um dia desde o início. Pelo menos, usaram a Adira e suas medicações como um fator para se ganhar mais um tempo aí (e isso tirou a Adira da letargia ao qual ela foi um tanto submetida como auxiliar de Stamets nos últimos episódios).
Dessa forma, “Su’Kal” é um episódio que incomoda um pouco pela solução fantasiosa dada à Combustão, embora com uma pequena justificativa de tecnobabble, traz novamente os diálogos mal escritos de sempre, mas também teve pontos positivos como a face de Doug Jones e Osyraa sendo uma vilã convencional que dessa vez sequestra a Discovery e sua tripulação. Um episódio que não se fechou em si próprio, sinal de que podemos ter um arco final triplo agora, o que se espera que aconteça.
Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas Discovery, chegamos ao décimo episódio da terceira temporada, “Terra Firma, Parte 2”. Um episódio que marca a despedida de Georgiou e dá mais um passinho na questão da Combustão. Lembrando que o episódio foi escrito por Bo Yeon Kim, Erika Lippoldt e Alan McElroy. Ainda, que os spoilers estão liberados aqui.
O episódio começa com Michael sendo levada a uma cela, implorando por sua morte, o que seria uma honra (me pergunto, é Universo Espelho ou Império Klingon?). Michael diz a Georgiou que a Imperatriz está ficando fraca e é isso que estimula as pessoas a tramarem contra ela. Georgiou diz que os súditos devem ter algo para viver, caso contrário eles sempre se revoltarão. Michael diz que Georgiou prometeu espólios e não há espólios na paz. Michael ainda menciona que uma coligação está sendo construída por vários planetas contra o Império Terrano. Mas a Michael tresloucada é colocada no agonizador e berra, berra, berra…
Georgiou está em seus aposentos, assistindo a Michael pela TV quando Killy aparece, perguntando por que a Michael ainda está viva e lembra da necessidade de procurar os cúmplices dela. Georgiou diz que é melhor uma Michael viva e destruída, tornando-se uma súdita leal, do que morta, para ela ser um exemplo para os cúmplices. E pede que Killy, especialista em interrogatórios sob tortura, faça isso com Michael. É o que Killy vai fazer. Depois de muitas torturas, Detmer (que é uma das cúmplices de Michael) diz que Lorca não vai voltar e não faz sentido Michael morrer na prisão. E pede para Michael voltar para Georgiou, que acredita que sua filha pode mudar como Georgiou mudou. Georgiou, perto de uma Michael adormecida na cela, fala de infância da moça e de seu sonambulismo, quando ela foi parar num campo de vaga-lumes que a acalmou. Georgiou, então, deixa uma bola de vidro cheia de vaga-lumes do lado de Michael e sai da prisão. Michael acorda, vê os vaga-lumes e, como que por encanto, se torna mais dócil para a mãe. Michael jura lealdade e que vai caçar seus cúmplices, matando-os. E assim ela o faz, com o compromisso de mostrar sua lealdade. Depois disso, Georgiou incumbe Michael de procurar Lorca para matá-lo. Numa conversa com Saru, Georgiou abre o jogo sobre o vahar’ai e diz que os kelpianos não enlouquecem com a transformação, pois ela viu um kelpiano que passou pelo processo que ficou vivo e se modificou, sendo um capitão de nave estelar, num outro tempo e lugar, tornando-se mais forte. Georgiou ainda fala para Saru passar essa informação para outros kelpianos e sobreviver. Saru diz que ela não é uma terrana e precisa voltar de onde veio ou a matarão se ela não fizer o que as pessoas querem. Mas Georgiou diz que está em seu lar.
Um capanga de Lorca, Duggan, é localizado numa nave orbitando em Risa. Sua nave é neutralizada e Duggan é levado para a prisão da Discovery. Michael, Georgiou e mais alguns tripulantes vão falar com ele. Mas Michael o mata com um phaser e aponta o mesmo para Georgiou, junto com os demais tripulantes, traindo a Imperatriz novamente. Entretanto, um grupo fiel a Imperatriz liderado por Killy e kelpianos pós-vahar’ai tresloucados entra no recinto, abrindo fogo. Um tiroteio começa e Michael e Georgiou terminam num duelo de facas. Georgiou ainda tenta convencer a Michael Espelho, pior do que cão chupando manga, a ser boazinha. As duas acabam feridas no chão e Michael morre (de novo) na frente de Georgiou. A Imperatriz morre nos braços de Saru e volta para onde estava a Michael dos dreads e o velhinho metafórico e zoador, que por sinal se chama Carl (definitivamente, esse velhinho me representa!). É claro que Carl vai dar mais umas zoadinhas até ele se revelar como O Guardião da Eternidade da série clássica. Carl explica o que é o Guardião da Eternidade, e que se afastou de seu lugar original depois das guerras temporais. Burnham percebe que somente os dados da esfera, querendo ajudar a tripulação da Discovery, poderiam localizar o Guardião da Eternidade. Georgiou continua “morrendo” e Carl diz que ela foi mandada para o Universo Espelho para ser avaliada, para se verificar se ela faria escolhas diferentes de quando era do Universo Espelho e se descobrir qual seria o seu destino. Georgiou acha que falhou, pois a Michael morreu de novo. Mas Carl diz que não, que ela tentou mudar as coisas, mesmo que não tenha tido sucesso. E ela salvou um kelpiano (Saru Espelho), que vai salvar outros (Michael começa a chorar). Carl diz que vai mandá-la para um tempo onde os dois Universos ainda estavam alinhados (um dos poucos homens brancos bonzinhos da série). Depois de uma choradeira básica (e de Georgiou sugerir que Burnham pode ser capitã, argh!!!), a Imperatriz atravessa o portal.
Na Discovery, Adira e Stamets têm dificuldades para entrar no sistema da nave desaparecida dos kelpianos. Mas eis que surge Book com uma espécie de amplificador de sinal da Corrente Esmeralda, que ele conseguiu numa troca, para ajudar no rastreio da nave kelpiana. Numa comunicação de Vence com Saru, o primeiro gosta de saber da localização da nave kelpiana, embora condene o uso de um dispositivo da Corrente Esmeralda, pois ele pode afetar a Discovery. Book, que já usou o dispositivo em sua nave, confirma que ele é seguro. Vence autoriza o uso do dispositivo e quer informações atualizadas da nave kelpiana quando elas estiverem disponíveis.
Michael volta à Discovery e diz que Georgiou não voltará mais. O episódio termina com a tripulação fazendo uma homenagem estranha a uma tripulante que dava coices e coices em todo mundo.
O que podemos dizer do episódio “Terra Firma, Parte 2”? Em primeiro lugar, esse é um episódio que encerra o ciclo de Philippa Georgiou na temporada (ou pelo menos é o que parece). A parte do Universo Espelho do episódio continuou um tanto tresloucada e caricata, embora com menos lápis no olho e uma Michael mais loucona ainda. A história não se desenvolveu muito, pois ficava naquela coisa de um conspirar contra o outro e a matança generalizada. Só vale destacar que tivemos boas atuações da Yeoh, que buscou redimir sua Michael Espelho, a Sonequa Martin-Green continuou, mais do que nunca, carregando nas tintas, sendo melhor que a Michael dos dreads, e confesso que gostei da atuação da Mary Wiseman, sendo bem perversa e não sendo a Tilly bocó que conhecemos. Então, apesar do núcleo do Universo Espelho não desenvolver muito uma história em si, tivemos essa diversão das caricaturas e a chance de ver alguns atores saindo da mesmice de seus personagens. Fiquei curioso com essa história dos kelpianos do Universo Espelho sobreviverem ao vahar’ai e provocarem mudanças. Fico imaginando uns kelpianos muito agressivos tocando o terror para cima dos terranos, o que daria um spin-off no mínimo curioso. Mas o melhor desse episódio foi o Easter Egg de Carl como O Guardião da Eternidade, onde ainda temos o velhinho metafórico e sacana, que, depois que se revela, se torna doce e terno, algo que tem que ser mencionado quando se trata de um personagem interpretado por um homem branco em Discovery. Suas falas sábias deram um sabor especial para a coisa e ajudaram a aguentar um pouco melhor a dose de melodrama da despedida entre Burnham e Georgiou.
Tivemos uma História B, onde mais um passinho na questão da Combustão foi dado, agora com a ajuda de Book que, para não passar a temporada como um personagem inútil (até se faz piada com isso), ele ajuda na localização da nave kelpiana. Mas essa História B foi tão curtinha e rápida que, pelo menos a gente espera que os próximos três últimos episódios foquem mais na questão da Combustão, agora que a série está na reta final. Só não vale a gente ver mais outras histórias destacadas da trama principal serem contadas e toda a questão da Combustão ser rapidamente resolvida no último episódio, como a gente tem visto nas últimas produções da Secret Hideout.
Uma coisa que foi complicada e que soou muito artificial foi a despedida que a tripulação fez para a Georgiou, como se ela fosse uma grande pessoa, quando ela, na verdade, foi uma tremenda duma mala sem alça com muita gente. Uma cerimônia simples, de poucas palavras, com a Michael falando mais por ser mais próxima, seria de tom melhor. Do jeito que a bajularam, parecia que Georgiou era uma amigona do peito de todo mundo, o que não foi verdade.
Dessa forma, “Terra Firma, Parte 2” foi um episódio um tanto mediano de Discovery, mas que pelo menos deu um desfecho digno a Georgiou, que vai agora viver sua vida num Universo Híbrido. Um Universo Espelho caricato e tresloucado (o que foi bom) com uma história pouco desenvolvida (o que foi ruim). Uma História B que mais foi um caco de roteiro e um Guardião da Eternidade que foi legal. Nada mais do que isso.
O nono episódio de Jornada nas Estrelas Discovery, Terra Firme, será dividido em duas partes e traz de volta à série uma fórmula que vimos na primeira temporada, que é o Universo Espelho. Confesso que gostei daquela sequência de episódios referentes ao Universo Espelho na primeira temporada e vejo com bons olhos que ela tenha retornado agora, pois traz alguma coisa de diferente para essa terceira temporada, que teve episódios muito repetitivos. Pode-se até dizer que a coisa destoou muito da história principal, que é a Combustão e suas causas. Mas a situação de Georgiou tinha que ser elucidada e isso começou a ser feito nesse episódio. Para podermos fazer uma análise mais aprofundada, precisaremos dos spoilers de sempre. O episódio foi escrito por Bo Yeon Kim, Erika Lippoldt e Alan McElroy.
O episódio começa com Culber conversando com Kovich (o personagem de David Cronenberg) sobre a doença de Georgiou. Kovich fala de um tenente-comandante de nome Yor, falecido, pois era um soldado do tempo da época da Guerra Temporal. Ele morreu pois fez muitas viagens no tempo, o que deteriorou suas moléculas, que estão acostumadas a viver em sua época original. O mesmo acontece com Georgiou, que ainda tem o agravante de ser de outro Universo. Culber pede uma solução para o problema de Georgiou ao computador, que diz que há uma. Enquanto isso, Georgiou procura pegar uma taça de vinho, mas sua mão se “esfarela” ao se aproximar da taça. Tilly se aproxima para falar com Georgiou e ela começa a disparar aquelas falas insuportáveis que vimos nos últimos episódios. Tilly oferece ajuda a Georgiou em virtude dos problemas que ela passa com sua mão. Georgiou então diz que sua mão está bem e atira um prato de comida na roupa de Tilly que fica toda suja (obviamente, ela não será presa, pois em Discovery, violar a hierarquia militar não significa nada e você pode jogar um prato de comida em sua Primeira Oficial numa boa). Burnham intervém para dizer que Culber quer conversar com Georgiou. O Doutor diz que a cura, segundo a esfera, está num determinado planeta. Seria mais uma vez os dados da esfera ajudando a tripulação da Discovery. Saru se opõe a levar Georgiou ao planeta, pois a Corrente Esmeralda faz exercícios militares próximos a alguns planetas. Mas Vence decide que a Discovery está autorizada a ir. Vence ainda pergunta se Michael está disposta a deixar Georgiou ir, já que as chances de vida dela são mínimas e, na segunda temporada, ela colocou muito em jogo ao não querer deixar Airiam morrer. Burnham diz que não vai repetir esse erro de novo. Todos são dispensados e Vence conversa com Saru em particular, dizendo que quando um tripulante se afoga, você não deve deixar que isso aconteça, pois sua tripulação não o verá mais do mesmo jeito, assim como você próprio não se olhará mais do mesmo jeito. Saru agradece o conselho.
Georgiou, estressada como ela só, não gosta da ideia de ir a um planeta e está na academia da Discovery dando uns soquinhos. Burnham vai falar com ela, mas Philippa está mais estressada que o normal, e tenta dar umas porradas em Burnham, que se esquiva dos ataques. E diz a Georgiou que essa atitude de querer dar umas porradas é a saída do covarde. Burnham diz que não machucaria Georgiou, que dá um tapão na cara de Burnham. Philippa diz que a Burnham do Universo Espelho a teria matado de uma forma honrosa. E Burnham diz que isso não vai acontecer nesse Universo. Georgiou diz que Burnham não é muito diferente da Burnham do Universo Espelho. As duas têm a mesma necessidade de curvar as pessoas à sua vontade. A única diferença é que Burnham mente sobre isso para si mesma. No final das contas, Georgiou aceita ir, dizendo para o “Anjo Michael” a levá-la para a sua morte. Burnham bota no pulso de Georgiou uma espécie de monitor que lê suas funções vitais, não podendo ficar no vermelho, ou a vida de Georgiou ficará por um fio.
Ao chegarem ao planeta, Georgiou e Burnham, antes de descer à superfície, recebem a visita de Saru e Tilly, que se despedem amistosamente de Georgiou. Tilly, pasmem, chega a abraçar Georgiou. E isso depois de Georgiou humilhar sistematicamente os dois por episódios e episódios. Sei que tanto Saru quanto Tilly tomaram a atitude certa de não demonstrar rancor com Georgiou, mas a coisa não precisava ser tão humilhante. As duas chegam à superfície do planeta, muito gelado. Burnham abre sua holografia e vê a direção em que precisam ir.
Na Engenharia, Adira tem problemas para fazer o algoritmo e Stamets acha os problemas que impedem a realização do algoritmo e acha que a moça (ou eles, sei lá) está esgotada mentalmente de tanto trabalhar. Stamets ainda acha que Adira sente falta do namoradinho do cabelo azul. Ela diz que não e Stamets acha que o namoradinho está dando um tempo para Adira poder interagir mais com as pessoas. Mas ela não concorda com esse procedimento. O algoritmo termina de funcionar e Stamets percebe que há algo de novo ali sobre a Combustão. Ele pede que Adira chame Saru.
Book vai falar com Saru e diz que quer ajudar, que tem informações sobre a Corrente Esmeralda. Saru, desdenhando de uma informação que pode ser valiosa, diz que tudo deve ser feito ao seu tempo. Ou seja, uma pequena fala para o personagem de Book aparecer no episódio que, a princípio, ficou muito solta. Espero que na segunda parte do episódio essa participação do Book tenha alguma razão de ser.
No planeta, Burnham e Georgiou chegam onde a holografia indicou e encontram um velhinho sentado num banco lendo um jornal e uma porta. A manchete do jornal fala que Georgiou tem uma morte dolorosa. O velhinho, cheio das metáforas, diz que Georgiou deve atravessar a porta, que é uma espécie de portal (eu particularmente gostei dessa parte meio doida do episódio, pois as duas, bem dentro do espírito imediatista millenium, queriam respostas rápidas para resolver o problema de Philippa, mas o velhinho meio que usou e abusou das metáforas, deixando as duas um tanto confusas). Georgiou decide atravessar o portal, pois vê aí a chance que o computador apontou. Burnham não quer que ela atravesse e Georgiou fala para Michael saber quando tem que calar a boca. E atravessa o portal.
Na Discovery, Saru vê os dados que Stamets e Adira conseguiram, que é uma mensagem de uma kelpiana que diz que a Dra. Issa da nave Khi’eth, dizendo que está presa e, seis meses antes, uma outra nave estava a caminho para resgate. A mensagem, segundo Stamets, tem mais de cem anos, de alguns anos antes da Combustão. Tilly diz que eles estavam investigando uma região de dilítio dentro da nebulosa de Verudin. A nave Khi’eth ainda transmite o sinal de socorro. Saru pede que investiguem sinais do interior da nave.
Ao atravessar o portal, Georgiou está de volta ao Universo Espelho e é recepcionada por Killy, a versão maligna de Tilly. Conversando um pouquinho com Killy, Georgiou percebe que está no dia em que Lorca a traiu. E a Burnham do Universo Espelho também está de conluio com Lorca para matar Georgiou. As duas irão se encontrar e Georgiou, até porque passou tanto tempo em outro Universo, estranha as maldades de Burnham e a forma como os kelpianos são tratados. Georgiou consegue levar o Saru para seus aposentos e pergunta sobre um amigo dele, que está passando o vahar’ai, quando os kelpianos perdem os gânglios de medo e podem até ficar agressivos. Eles são mortos antes disso, sob a alegação de que ficarão loucos. Ela pergunta a Saru porque Michael a trai e ele diz que tanto Lorca quanto Michael temem que Georgiou tenha mudado e que tenha ficado fraca. Georgiou incumbe Saru de ser os olhos e ouvidos dela. Saru coloca o manto e a coroa em Georgiou e esta fica parecendo mais a Virgem Maria do que uma Imperatriz do Mal.
Numa cerimônia de homenagem à Imperatriz e à fundação da nave Charon, Georgiou discursa e Stamets faz menção de atacá-la com uma faca, mas Goergiou é mais rápida e o mata, também com uma faca. Michael fica surpresa e com cara de tacho. Georgiou fala de uma conspiração e que não vai permitir isso. Burnham faz uma salva de vida longa à Imperatriz e sai da cerimônia. Num dos corredores, Killy a espera e a sua traição é desmascarada, com Georgiou e muitos guardas armados em volta. Georgiou pede para Michael confessar sua traição para poupar sua vida. Michael diz que sempre ficou à sombra da Imperatriz, mas que Lorca a honra pelo que ela é (pareceu que ela ia chorar aqui). Ela confessa que traiu a “mãe” e pede que seja executada. Philippa pega uma espada e, na hora de cortar o pescoço de Michael, para a lâmina e diz que isso seria muito fácil, e sabe como a história termina, ou seja, as duas morrem. E diz que o futuro das duas ainda não está escrito, ordenando que Burnham seja levada para o agonizador. Killy dá uma pezada na testa de Burnham. Fim do episódio.
O que podemos dizer do episódio “Terra Firme, Parte 1”? Em primeiro lugar, confesso que esse foi mais um episódio de que gostei, pois mais uma vez a Burnham do nosso Universo teve uma atuação mais periférica na história. Esse é um episódio de Philippa Georgiou, acima de tudo. A coisa parecia que ia começar de forma bem desagradável, pois Georgiou estava novamente com aquelas falas muito irritantes e estava estressada além da conta, chegando a jogar comida na Primeira Oficial mais submissa de toda a franquia e de partir para cima de Michael. Mas sua participação no episódio melhorou bastante quando ela estava em seu habitat natural, que é o Universo Espelho. É claro que um tempo no nosso Universo deu uma amolecida em Philippa, pois ela estranhou um pouco a maldade da Burnham espelho e salvou Saru da janta. Mas a não execução da Michael Espelho obviamente não foi uma amolecida da Imperatriz, pois ela precisa salvar a própria vida e reescrever seu futuro e manter a Michael Espelho viva tem alguma ligação com isso. Todo o núcleo do Universo Espelho chamou a atenção até por ser bem caricato. Carregou-se muito nas tintas da maldade das pessoas, com direito a muitas expressões diabólicas e lápis no olho para tornar as pessoas mais, digamos, fatais. Os ornamentos foram exagerados como a Coroa de Virgem Maria da Georgiou, mas eu vi a coisa de uma forma um tanto divertida e quebrou as repetições que a gente viu nos episódios anteriores. A Michael caricata do Universo Espelho foi bem mais interessante e tresloucada que a chatice da Michael de nosso Universo. Só lamento que a Michael do Universo Espelho também tenha ensaiado um choro na hora em que sua traição é descoberta. Aliás, falando em Michael, esse é um episódio em que nossa protagonista foi zoada mais uma vez. Um tapão na cara dado por Georgiou, um velhinho a zoando com um monte de metáforas, Georgiou mandando ela calar a boca, uma pezada na testa que sua versão do Universo Espelho tomou de Killy. Ou seja, Michael, seja nesse Universo, seja no Universo Espelho, passou por alguns maus bocados dessa vez. Já disse uma vez que isso é bom para a personagem, pois faz parte da sua construção ela nem sempre ser levada a sério.
Houve uma pequena História B, onde mais um passo na elucidação da Combustão foi dado. Uma kelpiana entrou na história, onde a mesma estava na nave perdida na nebulosa Verudin. Infelizmente, isso não foi mais desenvolvido e só podemos dizer que a presença da kelpiana só aumentou ainda mais a vontade de Saru de buscar resolver esse mistério.
Dessa forma, “Terra Firme, Parte 1” é um episódio de Discovery que chama a atenção, pois ele traz de volta o Universo Espelho, bem carregado nas tintas, com um tom exagerado e caricato que ficou até divertido por ter saído demais de algumas fórmulas repetitivas que apareceram nos episódios anteriores. Foi um bom episódio para Georgiou, tivemos uma Michael Espelho caricata que mais chamou a atenção do que a Michael dos dreads e houve mais um pequeno avanço no mistério da Combustão. Só devemos nos lembrar de que esse episódio ainda não acabou e há uma segunda parte, onde o mistério em volta de Georgiou ainda precisa ser resolvido.
O oitavo episódio da terceira temporada de Discovery, “Santuário” finalmente trouxe algo de bom, depois dos episódios de medianos para ruins que vimos nas últimas semanas. Um conjunto de histórias fragmentadas sem a Burnham por perto parece ser uma boa receita para dar alguma qualidade à série. Para podermos analisar melhor esse episódio, vamos precisar de spoilers. O episódio foi escrito por Kenneth Lin e Brandon Schultz e dirigido por Jonathan Frakes.
Qual é o plot? O episódio até começou mal, pois vemos Georgiou sendo examinada por Culber, com a primeira falando aqueles amaldiçoados diálogos extremamente agressivos para o Doutor. O que salvou aqui é que Culber andava para o tom ameaçador de Georgiou e, usando argumentos lógicos, conseguiu fazer ela ser examinada de forma mais detalhada. Já Burnham anda pelo corredor e encontra Book. Este diz que precisa ir para seu planeta natal Kwejian, pois recebeu uma mensagem de seu irmão, que lida há quinze anos com Osyraa e a Corrente Esmeralda, mas não sabe o que está acontecendo. Book teme que Osyraa vai destruir o planeta. Burnham diz para levar o assunto ao Almirante Vence e, na conversa com ele, sabemos de mais detalhes. Book diz que a Combustão danificou o subespaço, alterando a órbita da lua de seu planeta natal, o que mudou as marés e gafanhotos marítimos saíram do mar, comendo as plantações do planeta, colocando a população sob fome. A Corrente Esmeralda surgiu e ofereceu um repelente que levou os gafanhotos de volta para o mar. Em troca, os orianos receberam tranceworms (as lacraias gigantes do primeiro episódio). Osyraa agora está de volta. Vence não parece surpreso e diz que a Corrente Esmeralda é especialista em violar a Primeira Diretriz, dando a civilizações pré-dobra algo que elas precisam para mantê-las em suas mãos e há cinquenta sistemas estelares na mesma situação, que devem entrar em colapso. Vence ainda alega que não tem naves suficientes para interceder nisso. E não vai arriscar o motor de esporos. Book diz que só precisa de transporte. Saru propõe que a Discovery viaje como “observadora”. Se Osyraa sentir a presença da Federação, ela pode buscar uma abordagem mais diplomática. Vence autoriza a ida da Discovery, mas com muita cautela, com uma postura defensiva, com a nave saltando a qualquer indicação de perigo, pois Osyraa não será com certeza nada diplomática.
No ferro-velho da Corrente Esmeralda, o oriano sobrinho de Osyraa conversa com sua tia, que, apesar de Oriana, não tem qualquer sex-appeal (ela, inclusive, tem um nariz de batata igual ao de seu sobrinho). Osyraa fica revoltada com a fuga do andoriano Ryn. Ela transporta o sobrinho para uma cela bem comprida, onde surge uma lacraia gigante do planeta natal de Book que devora o sobrinho verde.
Depois de um diálogo bobinho entre Saru e sua Primeira Oficial Tilly, os dois vão à Engenharia para ver os resultados dos estudos de Stamets sobre os dados da Combustão e finalmente localizam o local onde a mesma ocorreu: uma nebulosa de nome Verubin. Adira diz que há um sinal vindo de dentro da nebulosa e é proposital, ou seja, está sendo enviado por alguém. As frequências do sinal estão em áudio e, dentro delas está a música tocada pelo namoradinho do cabelo azul de Adira e pela família do guardião da nave que contém sementes, que vimos no episódio “Morrer Tentando”. É também concluído que um sinal de socorro da Federação vem dessa nebulosa. Saru acredita que, nesse sinal de socorro pode vir alguma mensagem codificada. Stamets diz que a Adira pode escrever um algoritmo para decodificar essa mensagem. Mas a mocinha ficou triste quando Stamets se referiu a ela como ela. Ela quer ser chamada de eles, por causa de seus hospedeiros anteriores. Stamets, que quer ajudar Adira na sua aproximação com as pessoas, afetuosamente concorda.
Book e Burnham conversam sobre o irmão do primeiro, que não é biológico. Os dois irmãos romperam relações quando o irmão de Book começou a caçar lacraias gigantes para dar para a Corrente Esmeralda. E que, agora, a prioridade é seu planeta natal.
A Discovery salta para Kwejian depois de Saru falar um “Execute”, que pega todos de surpresa. É detectada uma nave armada chegando, embora ainda demore algum tempo para isso. É a nave Viridian, de Osyraa. Burnham e Book descem à superfície. A primeira tem ordens expressas de retornar à qualquer sinal de problemas.
Georgiou é submetida a novos exames enquanto Stamets e Adira fazem um duo de violoncelo e piano. Ela (ou eles) sente a presença do namoradinho do cabelo azul que, entretanto, não fala mais com ela. Stamets sugere que talvez ele precise de um espaço. Ryn vai conversar com Saru e Tilly, dizendo que precisa descer à superfície de Kwejian. Mas a nave da Corrente Esmeralda chega em quinze minutos e Burnham e Book estão dentro de uma área de segurança do planeta, que não permite transporte. Em Kwejian, Book e Burnham se deparam com os tais gafanhotos marítimos. E são rendidos pelos irmãos de Book. O irmão de Book se chama Kyheem, e é guardião do Santuário do planeta. Depois de umas trocas de hostilidades com Book, Kyheem diz que Osyraa quer o andoriano Ryn. Enquanto os dois irmãos trocam mais hostilidades (Book não se conforma em ver o irmão com ligações com a Corrente Esmeralda e Kyheem não tem outra escolha para salvar seu planeta dos gafanhotos, além de ficar chateado com Book que se mandou na hora de maior adversidade do planeta), a Viridian chega. Saru ordena que Burnham seja avisada para retornar à Discovery. Osyraa entra em contato e quer que a Discovery transporte Ryn para a sua nave. Mas Saru começa toda uma argumentação que Osyraa não aceita. Ela diz que a Federação não quer uma guerra com a Corrente Esmeralda e a Discovery tem cinco minutos para entregar o andoriano. Osyraa também entra em contato com Kyheem e diz que quer Book. Mas o irmão reluta em entregá-lo. Osyraa o ameaça, bombardeando o planeta para destruir as florestas (mais uma metáfora para os danos atuais ao meio ambiente, já vistos na série anteriormente). As defesas do planeta se enfraquecem. Na ponte da Discovery, Saru pergunta a Ryn por que ele é procurado por Osyraa e este só fala que não pode dizer. Saru ordena que as armas sejam preparadas, enquanto que Burnham e Book correm pela floresta para os sistemas de defesa do planeta, não podendo ser transportados para a Discovery e sem contato com a nave. Para não envolver a Federação no conflito, Tilly sugere o uso da nave de Book com Ryn, que conhece os pontos fracos do inimigo, e Detmer pilotando, para atacar a Viridian. A gatona mágoa pula no colo de Ryn que, como bom andoriano sensível, começa a gritar horrorizado. Detmer coloca os controles no manual e se diverte como se jogasse um videogame. No planeta, Burnham e Book saem na porrada com os capangas de Kyheem. Estamos no momento de ação do episódio, seja no solo, seja no espaço. Derrotados os capangas, chega a hora dos dois irmãos saírem no braço. Depois que Kyheem é rendido, Book diz que sabe que Osyraa quer ele, e que seu irmão sabia disso o tempo todo. Book tira a arma que Michael usa para render Kyheem e coloca nas mãos do irmão dizendo para ele entregá-lo para Osyraa. Mas o irmão cede e abaixa a arma.
No exame de Georgiou, ela tem novamente a visão que atormenta e acorda, aos gritos. Fala uma coisa ofensiva para Culber e sai da Enfermaria. Ela tenta acessar os dados de sua tomografia num console durante o alerta vermelho emitido por Saru, mas é surpreendida por Culber, que diz que Georgiou foi um risco para Michael e que eles devem achar um lugar mais calmo para conversar.
Com a Viridian danificada, Saru entra em contato com Osyraa e oferece ajuda. Mas a oriana não quer saber desse papo furado e ameaça a Discovery e a Federação. E tira a nave dali. Kyheem se desespera com o destino de fome de seu planeta, Burnham, como quase não participou do episódio, sugere que os irmãos, que são sensitivos (as testas deles acendem que nem uma árvore de natal), se unam para mandar uma mensagem para os gafanhotos voltarem ao mar, que será amplificada pela Discovery, o que acaba dando certo e levando os dois a fazerem as pazes.
No refeitório, enquanto Detmer fala de suas proezas na nave de Book, Tilly conversa com Ryn. Este diz que quando era criança, que ouvia histórias ruins a respeito da Federação. Tilly retruca dizendo que isso não existe. Mas Ryn dá uma informação importante e diz que a Corrente Esmeralda está ficando sem dilítio e por isso Osyraa o quer de volta, já que Ryn era o único a saber que a Corrente está ficando sem dilítio. Mas, contando a Tilly, agora a Federação também sabe. Enquanto Book e seu irmão se despedem, Culber encontra Stamets na Engenharia (e como ficou a conversa com Georgiou?) com Adira dormindo. Eles falam sobre a moça que diz que está acordada. Imediatamente eles se referem a Adira o tempo todo como “eles”, o que desperta um sorriso “dela”, avisando que vai dormir. O episódio termina com Book dizendo a Michael que quer fazer o que a Federação fez por seu planeta a outros planetas e Michael pegando duas ferramentas para consertar a nave de Book, avariada no ataque a Viridian (seria isso um alívio cômico se referindo à onipotência da Michael?).
O que podemos dizer do episódio “O Santuário”? Em primeiro lugar, confesso que fiquei surpreso com esse episódio, que gostei muito. Já fazia algum tempo que isso não acontecia, pois gostei somente dos dois primeiros episódios, achando os demais regulares ou até fracos. Mas o que fez esse episódio ser bom? Tivemos várias histórias. Uma História A passada no planeta natal de Book, que se focou mais no desentendimento entre Book e seu irmão, com a Michael sendo uma espectadora da trama, que pouco influenciava na história. Ou seja, a velha equação de que o episódio melhora quando a Michael deixa de ser a onipotente protagonista funcionou aqui mais uma vez. A briga entre os irmãos foi muito interessante, pois não houve um maniqueísmo na coisa. Cada um tinha sua dose de razão em seu ponto de vista. Se Book não se conformava em ver o irmão e a família aceitarem os ditames de um sindicato do crime, por outro lado Kyheem não tinha escolha, pois precisava da ajuda de Osyraa para o povo de seu planeta não morrer de fome, além do fato de Kyheem não aceitar que Book tenha ido embora justamente quando o planeta deles passava pelas maiores dificuldades. Falando em Osyraa, esta se revelou uma vilã bem interessante, fazendo o popular “feijão-com-arroz” não falando diálogos horrorosos como os escritos para Georgiou, que novamente deram o ar de sua (des)graça. Ainda, o episódio metaforizou a mensagem de preservação do meio ambiente, onde um planeta florestal foi atacado pelos impiedosos tiros da nave de Osyraa. E os gafanhotos foram para o mar porque quiseram e atenderam um pedido dos dois irmãos. Confesso que não sou contra essas metáforas, que já foram usadas exaustivamente em Jornada nas Estrelas (mais uma vez as baleias mandam lembranças). No mais, novamente tivemos uma História B altamente fragmentada em histórias menores, onde o foco ficou na tripulação da Discovery. O núcleo Culber/Georgiou ficou bom principalmente por Culber, que não se deixou dobrar pelas ameaças de Georgiou. Só ficou uma grande cara de furo de roteiro ver o Doutor indo ter uma conversa particular com Georgiou e, depois, ele estar com Stamets e Adira, sem presenciarmos o desfecho da conversa com Philippa. A dupla Ryn/Detmer também funcionou muito bem, embora um andoriano medroso ainda incomode um pouco. E o relacionamento entre Stamets e Adira deu um tom de delicadeza ao episódio, sem carregar nas tintas do melodrama.
Com relação ao avanço no arco principal, a musiquinha estranha se associou a um pedido de socorro que vem da fonte da Combustão. E a falta de dilítio que a Corrente Esmeralda sofre é uma informação estratégica para os mocinhos se protegerem de um ataque de Osyraa que, espero, ainda apareça nessa temporada (que Discovery não estrague essa boa ideia).
Algumas coisas incomodaram. Além do já mencionado furo de roteiro com Culber e Georgiou, a ideia de isentar a Federação de um conflito usando a nave de Book para ataque não convenceu nem quem acredita em Papai Noel. E uma nave tão pequena provocar tantos danos à poderosa nave de Osyraa parece uma forçada de barra. Mas, depois que Poe Dameron peitou um destróier imperial com seu X-Wing, tudo parece possível. E, se me permitirem um exemplo histórico, pequenos e ágeis barcos gregos destruíram os grandes, poderosos, mas lentos barcos persas, perfurando os seus cascos na Baía de Salamina. E foi legal ver a Detmer brincando de videogame, desencanando um pouco de suas pirações.
Desta forma, apesar de um problema ou outro, “Santuário” é um bom episódio de Discovery, pois tem uma História A que não foca tanto em Burnham e uma História B fragmentada em várias histórias menores que abordam mais a tripulação da Discovery, um fator que melhora a qualidade do episódio quando usado. Esperemos que esse modelo seja seguido nos episódios restantes.