Para os fãs de Yamato, com muito carinho…
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Batata Arts – Tesouros da Batata (46)
Mais um tesouro…
Batata Séries – Jornada nas Estrelas, Discovery (Episódio 9, Temporada 1) – Para a Floresta, Eu Vou. Voltando à Jornada nas Estrelas.
O nono episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery” encerra a primeira parte da primeira temporada da volta de Jornada nas Estrelas depois de mais de dez anos. E podemos dizer que esse episódio fechou com chave de ouro essa primeira e controversa metade de temporada. “Para a Floresta, Eu Vou” se enquadra naqueles episódios de Discovery que têm a cara e o espírito de Jornada nas Estrelas. E com a vantagem de ser um episódio dentro dessa característica justamente no arco da guerra com os klingons, que começou tão desacreditado e criticado.
O episódio começou como uma sequência do episódio anterior, onde a Discovery esperava um ataque da nave da morte klingon ao planeta Pahvo e à própria Discovery. Fazer uma continuação disso já no episódio seguinte foi algo bom pois, como já foi dito em artigos anteriores, o abandono do arco da guerra klingon e o sequestro mal resolvido da Almirante Cornwell por dois episódios foi algo que incomodou um pouco, indicação de uma quebra de continuidade e de algo um tanto mal concebido. Estava na hora de se ser mais objetivo ao se contar essa história da guerra. Recebendo uma ordem do Almirante Vulcano Terral para abandonar o planeta Pahvo e não esperar para atacar os klingons, Lorca, que já tinha uma ficha corrida de comportamentos erráticos e indisciplinados, decide retornar em dobra cinco para a base ordenada, para que a tripulação tenha um tempo de três horas com o propósito de articular um plano de salvamento dos pahvanos e, ainda por cima, resolver o espinhoso problema da camuflagem klingon. Foi constatado que a camuflagem tem algumas imperfeições bem pequenas que, se mapeadas, podem tornar as naves klingons detectáveis. Só que, para fazer esse mapeamento num curto espaço de tempo, será necessário dar 133 saltos com o motor de esporos. Isso afetará drasticamente Stamets, que já sofre com alguns efeitos colaterais de outros saltos e não se sabe o que uma quantidade tão grande de saltos de uma só vez vai provocar no engenheiro. Ainda, para fazer o tal mapeamento, dois sensores precisam ser instalados dentro da nave da morte klingon. Tyler é o escolhido para liderar a missão e ele quer Burnham para acompanhá-lo, mas Lorca não vai aceitar colocá-la em risco. Nesse momento, a personagem protagonista irá convencer seu capitão dizendo que ela é a mais qualificada a fazer aquela missão, pois já esteve na nave klingon. Já Stamets não está muito inclinado a fazer os saltos. E será a vez do capitão convencer o engenheiro, usando o sedutor argumento de que Stamets tem o espírito de explorador e, ainda, o capitão fez um mapeamento de todos os saltos feitos pela Discovery e esse mapeamento mostra um indício de que a nave poderá fazer viagens pelo multiverso. Nessa nova fase de “Lorca, Paz e Amor”, Stamets é convencido e fará os saltos. Lorca também fará um discurso para a sua tripulação, exaltando-a antes da missão. Fica aqui a dúvida: nosso capitão está mesmo numa fase mais compreensiva, ou ele rememora o capítulo 13 de “O Príncipe”, de Maquiavel, que diz que um líder deve ser simultaneamente amado e temido por seus súditos? E mais: se estivermos fechados com a segunda alternativa acima, podemos dizer que Lorca se aproxima ainda mais do Grão Almirante Thrawn, grande personagem de Timothy Zahn, do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”. Ao detectar a nave klingon camuflada (???) em Pahvo, a Discovery usa o motor de esporos para retornar ao planeta. Tyler e Burnham conseguem se teletransportar em segredo para a nave da morte klingon e, enquanto instalam os dois sensores necessários para o mapeamento, encontram Cornwell e L’Rell. Tyler ao ver L´Rell, pira na batatinha, pois os traumas das torturas que sofreu nas mãos de L’Rell afloram, desestabilizando psicologicamente o moço. Assim, Burnham ficará sozinha e instalará o segundo sensor na ponte (!!!) da nave da morte. Com os sensores ligados, a Discovery começa a série de 133 saltos para mapear a camuflagem. Mas Kol, o capitão da nave klingon, pressente uma cilada e decide dar o fora. Nesse momento, Burnham, que estava escondida na ponte, decide chamar a atenção dos klingons para abortar a fuga deles. Burnham abre o jogo e diz que Kol é desonrado por roubar naves e não estar no campo de batalha. Kol pergunta como ela sabe disso e ela disse que ela mesma estava na nave da morte durante a batalha das estrelas binárias e matou T’Kuvma. Burnham propôs um duelo a Kol e começa a parte testosterona do episódio, tanto da parte de Kol, quanto de Burnham, onde os dois saem na porrada. Enquanto isso, a Discovery termina os 133 saltos e transporta Cornwell, Tyler (com L`Rell trepada em seus ombros) e Burnham. Mapeada a camuflagem, a Discovery detecta a nave da morte e a destrói com uma saraivada de torpedos fotônicos, destruição que Lorca desfrutou depois de colocar seu coliriozinho contra luzes muito fortes. Burnham fica feliz de ter o distintivo de Georgiou em suas mãos, depois de conseguir tirá-lo de Kol. Já Tyler tem pesadelos com L’Rell, onde ela o estupra, e ele confidencia a Burnham que fez sexo com a klingon para garantir a sua sobrevivência. Mas, ainda muito atormentado, procura a klingon na cela, que diz que ela não vai deixar eles (?) o machucarem. Já Stamets sofreu com os muitos saltos e Culber pensou que quase perdeu seu amante. Isso provocou um beijo apaixonado e sincero entre os dois (o primeiro beijo gay de “Jornada nas Estrelas”). Stamets, durante os saltos, falou uma frase enigmática: “há uma clareira na floresta. É como eles vão”. Que alegoria seria tal clareira? Stamets ainda aparecerá no filme com Lorca, que ficou de receber o prêmio da Legião de Honra. O capitão decidiu recomendar esse prêmio a Stamets. O engenheiro disse que dará um último salto até a base estelar 46 e depois será examinado pelos melhores médicos da Frota Estelar, algo que Lorca concorda, numa mostra de total harmonia entre os dois. Mas, quando há o salto, Stamets dá um berro e cai com os olhos embranquecidos dizendo que consegue ver infinitas permutações, algo fantástico. A Discovery está num lugar totalmente desconhecido, cercada por destroços de naves, encerrando o nono episódio.
Como pudemos ver, foi um episódio muito movimentado em termos de ação e de enigmas. Burnham fez sua luta com Kol, Lorca usou seus métodos pouco ortodoxos para destruir os klingons e ainda ganhar uma medalha por isso e, principalmente, Stamets enigmaticamente dá umas dicas a nós de como será o multiverso e de quais rumos a série pode tomar na segunda parte da temporada. Até a tecnobabble da detecção da nave klingon camuflada deu o ar de sua graça e foi convincente ao invés de enfadonha, quer dizer, ela se encaixou bem na trama.
Algumas questões surgem na nossa cabeça. Lorca está ficando um cara legal ou ele aparenta ser legal para conquistar as pessoas e elas ficarem em suas mãos como marionetes manipuladas? Espero que a segunda opção prevaleça, pois isso fará as coisas ficarem mais interessantes. Aproximar Lorca de Maquiavel (e de Thrawn, como citado acima) só trará contribuições à série.
E Tyler? É mesmo um espião klingon infiltrado? Ou será também um fantoche manipulado por L’Rell? Essa teoria de espião klingon infiltrado já foi tão ventilada que acredito que agora o mais adequado seria o moço ser uma espécie de bomba-relógio prestes a ser acionada por L’Rell, mas bomba-relógio essa totalmente humana e não klingon. E caberá a Burnham desarmar essa bomba-relógio. Falando em Burnham, esse foi o episódio onde nossa protagonista foi tratada da forma mais nobre pelos roteiristas. Já não era sem tempo, aliás. Seu papel de protagonista parecia não ser aproveitado em sua essência ou até com algumas coisas mal encaixadas. Foi um pouco difícil a gente se simpatizar com ela logo de cara; e a construção do personagem passou por alguns turbilhões, não foi em brancas nuvens. Ou seja, custou um pouquinho para a gente ter uma certa empatia com a moça, um tempo que demorou mais do que o comum nesse caso.
Outra coisa que devemos ressaltar aqui é a de que o episódio foi inovador em dois quesitos: o primeiro beijo homossexual de Jornada nas Estrelas, que já não era sem tempo de ter acontecido (a coisa demorou mais de cinquenta anos, se eu quiser ser um pouco anacrônico) e a polêmica cena do estupro de Tyler, essa sim bem inovadora, pois mostrou a questão de estupro não do ponto de vista da mulher como vítima, mas sim do homem. Tal inversão foi muito útil na forma como o estupro pode ser visto como uma coisa abominável, já que a violação do corpo sempre é o da mulher e parece que setores mais conservadores meio que banalizaram essa violação. Agora, e se trocarmos a coisa? Agora, é o corpo do homem que é violado. O impacto será maior do que ver o corpo da mulher ser violado? Ou seja, choca-se com um, mas banaliza-se com o outro? O simples fato de essa cena, considerada altamente perturbadora por alguns, já despertar tal tipo de reflexão, mostra a sua força e importância e ressalta a tradição de Jornada nas Estrelas de inovar.
Agora, a grande questão ficou em onde a Discovery acabou parando, com o multiverso como argumento. Ainda há possibilidades com o Universo Espelho? Ou essa ideia será abortada em função de uma visão mais ampla? Outra coisa: universos alternativos para encaixar novamente histórias aparentemente tresloucadas com o cânone? Isso já foi feito antes por um tal de J. J. Abrams. Mas fica um gosto de cabo de guarda-chuva na boca quando você encontra uma argumentação tão trivial para aproximar a série do cânone. Acharia eu muito mais interessante tudo o que vimos agora fazer parte do Universo Prime e, aí, de uma forma engenhosa, todas as situações absurdas narradas nos primeiros nove episódios serem conduzidas a um cânone bem redondinho. Botar a responsabilidade de tudo no universo alternativo ou no multiverso é uma saída demasiada confortável e pouco criativa a meu ver.
De qualquer forma, essa jornada até o cânone ou à tresloucação geral somente continuará em janeiro. Até lá, o que não vai faltar são especulações e discussões, algumas dentro dos níveis de civilidade, outras nem tanto. Esperemos ansiosamente por essa sequência, torcendo que a série tenha um bom desfecho em sua primeira temporada, pois esse é o verdadeiro desejo dos verdadeiros fãs de Jornada nas Estrelas: que o produto dê certo para que a franquia possa continuar por mais anos a fio.
Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 3)
Em 1961, Nimoy trabalhou como ator convidado num seriado para a tv chamado “O Tenente”, com Gary Lockwood, que participou do segundo episódio piloto de “Jornada nas Estrelas” (“Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”), onde ele interpretava o tenente-comandante Gary Mitchell, que havia sido tomado por uma estranha força alienígena e tinha que usar duras e desconfortáveis lentes de contato prateadas. Lockwood também ficou famoso por interpretar o personagem Frank Poole em “2001, Uma Odisseia no Espaço”, que é o tripulante da “Discovery” expelido para o espaço pelo computador HAL-9000.
O diretor do episódio de “O Tenente” em que Nimoy trabalhava era Marc Daniels, da Desilu, estúdio de propriedade de Lucille Ball, a famosa humorista do programa de tv “I Love Lucy”, onde episódios “Jornada nas Estrelas” seriam gravados no futuro. Nesse episódio de “O Tenente”, Nimoy também contracenou com Majel Barrett, futura esposa de Gene Roddenberry, o criador de “Jornada nas Estrelas”. Roddenberry era o produtor de “O Tenente” e convidou Nimoy a tomar parte no primeiro episódio piloto de “Jornada nas Estrelas”. Ele interpretaria o personagem Spock, já todo delineado por Roddenberry: meio humano, meio alienígena, com emoções reprimidas (exprimir as emoções não era de bom tom na cultura alienígena de Spock), cabelo diferente, orelhas pontudas e cor da pele avermelhada (!!!). O personagem em conflito poderia parecer ridículo num primeiro momento, mas Roddenberry levava o personagem muito a sério. As primeiras orelhas ficaram muito ruins pela falta de tempo e de dinheiro e causavam muito constrangimento a Nimoy. Mas Fred Phillips, o maquiador, conseguiu confeccionar um par de orelhas decente com a ajuda de um amigo maquiador da MGM. A cor vermelha da pele foi descartada, pois ficaria muito escura nas filmagens em preto e branco. Ao invés disso, um tom verde-amarelado de pele foi usado. Nimoy tinha que chegar ao estúdio às 6h30min para começar o processo de maquiagem, que ia até às 7h15min. Uma atriz irlandesa, Maura McGivney, foi a primeira a dizer que as orelhas de Spock eram atraentes. Logo, Nimoy ficaria conhecido pelas orelhas, mas houve um medo de que os mais religiosos achassem o personagem muito “satânico”. O episódio piloto “A Jaula” mostrava um Spock muito emotivo, que sorri, se preocupa e tem explosões de emoção, principalmente numa passagem em que uma equipe se teletransporta à superfície de um planeta dominado por uma raça alienígena que interfere no sistema e teletransporta só as mulheres. Spock dá um salto e grita: “As mulheres!”.
Uma curiosidade. Roddenberry queria que Spock falasse um inglês mais britânico, como se o alienígena tivesse aprendido a língua ouvindo clássicos ingleses. Mas a ideia foi descartada por Nimoy, que não se sentiu à vontade com o sotaque. O primeiro piloto fracassou, muito em virtude do vulcano e da primeira oficial da nave (Majel Barrett), ou seja, de uma mulher assumir um posto de comando (reza a lenda de que as próprias mulheres comentavam na época “quem ela pensa que é?” ao presenciarem Barrett interpretando um papel que deveria ser reservado a um homem). Foi dada uma nova chance de um novo episódio piloto, mas sem os dois personagens problemáticos. Roddenberry bancou a presença de Spock no segundo piloto e se casou com Barrett, até porque, segundo o próprio Roddenberry, “não dava para fazer o contrário”, ou seja, manter Barrett na série e se casar com o vulcano. O produtor de “Jornada nas Estrelas” alegava que o personagem alienígena era fundamental para a série.
No próximo artigo, vamos ver como o personagem vulcano foi se estruturando com os episódios de “Jornada nas Estrelas”. Até lá!
Batata Literária – E agora, mané? (Desculpa, Drummond)
E agora, mané?
Acabou o café
Você não tem mais fé
Você só anda a pé
Tomou esporro do Pelé
Não pode mais falar “quequié?”
Foi roubado pela Zezé
E agora, mané?
Tá feia a coisa, hein meu filho?
Até para a pipoca falta milho
Tua mulher te expulsou do ninho
E agora você vive sozinho
Tu é um cara cheio de trejeito
Assim, tua vida não dá jeito
Com a cabeça, você não dá nem meneio
E até bêbado te dá vareio
Mesmo quando em teu caminho há pedra
Dele você não arreda
Aí, vem a topada
E mete a cara no chão, porque não tem almofada
Qual é a tua, mermão?
Você diz que é Tião
E tem Epaminondas na certidão!
Deixa de ser trouxão!
Termino essas linhas
Pedindo proteção divina
Pois, ao falar de tua sina
Profanei o oráculo sentado em praia matutina
Na boca, tenho o gosto do podre ovo
Não sei por que me envolvi nesse jabaculé
E aí, eu te pergunto de novo
E agora, seu mané?
Batata Movies – Borg Vs. McEnroe. Tênis Como Vida.
E finalmente estreou o tão esperado “Borg Vs. McEnroe”, um filme baseado na história real de dois tenistas que foram ícones em seu ofício: Björn Borg, que venceu Wimbledon várias vezes, e John McEnroe, um tenista tão talentoso quanto explosivo. Não cheguei a ver Borg jogar, mas me lembro bem de McEnroe, principalmente de seus chiliques com o juiz e com a torcida, que o vaiava efusivamente enquanto ele dava raivosas raquetadas em tudo o que via.
A história do filme se centrou na final de Wimbledon em 1980, quando os dois tenistas se enfrentaram pela primeira vez. Borg tentava, nada mais, nada menos que o seu quinto título consecutivo em Wimbledon, enquanto que McEnroe aparecia como uma revelação. Com relação à partida em si, o grande barato foi assistir à sua reconstituição sem saber do desenrolar do jogo e de seu resultado, o que foi o meu caso. Um tie-break arrasador, onde os dois jogaram ponto a ponto, foi a grande atração da coisa, e confesso que fiquei muito feliz com quem ganhou, embora eu obviamente não vá contar aqui.
Mas o filme é muito mais do que a partida final. Ao traçar a carreira e vida pessoal dos dois tenistas, vemos um filme que fala muito mais da condição humana e dos limites do ser humano do que de qualquer outra coisa. Focando mais na vida de Borg (o que eu achei um problema, pois McEnroe merecia igual atenção), pudemos atestar como o sueco, visto como extremamente frio (seu apelido na época era “Ice Borg”), na verdade era uma torrente de emoção paroxista altamente reprimida pelo seu técnico (interpretado pelo ótimo Stellan Skarsgard). Já McEnroe é uma espécie de menino prodígio, muito inteligente em matemática, que desde cedo dava mostras de um temperamento forte, mas que só aflorou na idade adulta, quando era tenista. Pela forma como esses personagens foram apresentados em suas aspirações (e, principalmente, angústias), o espectador fica com uma empatia imediata em relação a eles. E os atores ajudaram muito nessa empatia. Shia Labeouf, com seu temperamento explosivo e errático, pareceu a escolha certa para o personagem de McEnroe, mesmo não se parecendo muito com ele. Na verdade, até a sua imagem de McEnroe no cartaz do filme parece soar como uma piada; você olha para aquilo e pensa: “Tudo a ver”. Brincadeiras à parte, Labeouf esteve muito bem no papel e, ao contrário do que o leitor pode pensar, não me refiro às explosões emocionais propriamente ditas, mas sim ao arrependimento que tais explosões emocionais provocavam. Impossível não se identificar com o personagem. Já Borg foi interpretado por Sverrir Gudnanson, este sim a cara do tenista real. Aqui víamos o misto de uma mente extremamente metódica com uma insegurança arrebatadora, que beirava ao pânico e ao desespero, mente essa fortemente reprimida, algo que nos angustiava muito. O cara não se soltava, mesmo estando profundamente angustiado, e isso provocava um tal impacto no espectador que o fazia também se identificar com o personagem. Assim os dois tenistas expressavam em sua total intensidade dois aspectos do humano, algo extremamente sedutor e cativante, que ultrapassava as fronteiras do tênis e se ampliava para o domínio da vida.
Pode-se dizer aqui que esse filme lembra muito “Rush”, onde vimos a disputa entre James Hunt e Nikki Lauda pelo título mundial de Fórmula 1 de 1976. Mas, se em “Rush”, a pegada foi um pouco mais voltada para a ação, mesmo que a vida pessoal dos dois pilotos tenha sido enfocada, em “Borg Vs. McEnroe”, a coisa ficou mais no lado psicológico dos personagens, gerando uma história mais tensa, mas não menos apaixonante.
Assim, “Borg Vs. McEnroe” é um programam imperdível. Um filme para os amantes do tênis, pois a sequência da partida final foi muito bem construída. Mas um filmaço também para os cinéfilos e o público em geral, pela forte abordagem psicológica das histórias de vida dos dois tenistas. Vale muito a pena dar uma conferida.
Batata News – Josephine Baker, a Vênus Negra
O Cineteatro Maison de France apresenta a peça “Josephine Baker, A Vênus Negra”. Estrelada pela versátil Aline Deluna e com o acompanhamento dos músicos Dany Roland (Bateria e Percussão), Christiano Sauer (Contrabaixo, Violão e Guitarra) e Jonathan Ferr (piano e escoleta), que também se revelaram versáteis atores, e com direção de Otávio Muller e texto de Walter Daguerre.
Esse notável musical conseguiu traçar de forma muito eficiente a não menos notável trajetória dessa artista nascida nos Estados Unidos, mas que acabou se radicando na França em virtude do racismo latente do primeiro país e de uma maior receptividade do segundo.
Deluna começa a peça vindo do fundo da plateia para o palco, com o pano caído. Ela dá a boa noite, se senta no palco e começa a conversar com a plateia. Inicialmente, fala dela mesma, de como conheceu Josephine Baker e de sua identificação imediata com a artista. Pouco a pouco, ela sai de sua vida e entra na infância de Baker nos Estados Unidos, narrando detalhes de sua vida em terceira pessoa. É de chocar o trecho de sua infância, em que foi tratada com violência e assédio sexual quando era faxineira nas casas dos brancos americanos. E muito mais chocante foi saber que todo o seu bairro foi destruído e assassinado por brancos racistas. Pouco a pouco, foi entrando na carreira musical, embora fosse mais chamada para trabalhar como camareira, até que consegue seu primeiro palco e número musical. Sua forma simultaneamente sensual e cômica, dançando propositalmente de forma desengonçada, chamou a atenção de um empresário que a levou à Paris, onde ela se espantou com o tratamento totalmente diferente de seu país de origem. A partir daí, a peça toma ares de musical onde Deluna destila todo o seu talento, seminua em muitos números, tal como era Baker. Foi muito legal também ver os músicos na peça. Eles, além de tocarem seus instrumentos com maestria, interagiam com a atriz, fazendo papéis de pessoas que passaram pela vida de Baker: empresários e amantes, além de alguns maridos de seus cinco casamentos. Lances da vida de Baker eram contados alternados pelos números musicais, o que ajudou a peça a fluir com naturalidade, não saturando o público de informações. A plateia também participou de forma ativa, quando o elenco descia à ela e trazia pessoas para subirem ao palco, onde até um trenzinho foi feito durante o número musical. Outro trecho marcante da peça foi a ligação de Baker com o Brasil. A artista veio ao Rio de Janeiro várias vezes, se encantou com um menininho muito talentoso que mais tarde contracenaria com ela em alguns shows no Brasil, sendo esse menininho o futuro multimídia Grande Otelo. Conheceu Le Corbusier (teve até um affair com ele), arquiteto francês que teria um papel fundamental na modernização do Rio de Janeiro, e ficou hospedada na casa de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Só para arrematar, ficou maravilhada com o show dos Dzi Croquettes e inclusive pediu ao dono da casa de shows em que atuava que contratasse o grupo brasileiro como atração efetiva depois que ela saísse de lá e abandonasse a vida artística.
Outros detalhes da vida de Baker foram enfocados: sua revolta com os americanos ao, já consagrada na Europa, fazer um show nos Estados Unidos e ser tratada com desrespeito pela crítica em virtude do racismo; sua participação como espiã na Segunda Guerra Mundial, onde a emissão de documentos falsos por ela salvou muitas vidas; o problema no útero que quase a matou e a impediu de ter filhos; e a sua famosa “tribo arco-íris”, onde adotou muitas crianças de várias origens diferentes para provar que a diversidade pode perfeitamente viver em harmonia.
Outro detalhe interessante foi o repertório musical da peça. Além das músicas mais antigas cantadas por Baker, buscou-se músicas mais recentes e ouvimos de Madonna a até funk, passando pelas músicas cantadas por Carmen Miranda, promovendo uma ida e volta entre passado e presente na narrativa. Essa ida e volta também aconteceu de uma forma muito feliz na peça ao se comparar o conservadorismo e radicalismo da época de Baker com o conservadorismo e radicalismo autoritário dos dias de hoje, um ponto da peça que fez refletir muito.
Após o final do espetáculo, o público teve ainda a oportunidade de trocar algumas ideias e tirar fotos com o elenco no saguão do teatro, ou admirar um vídeo com vários momentos da própria Josephine Baker, algo que ajudava a confirmar o grande trabalho de Deluna na peça.
Assim, “Josephine Baker, A Vênus Negra” é uma grande peça de nosso teatro em cartaz no Maison de France até 17 de dezembro. Um excelente musical com atores talentosíssimos, uma ótima reconstituição de uma instigante história de vida, um aguçado senso crítico sobre os dias de hoje e uma simpática interação entre palco e plateia. Espetáculo imperdível!!!
Batata Jukebox – Speed of Sound (Coldplay)
Um grupo mais recente que também faz boas músicas…