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Batata Antiqualhas – Capitães. Relatos Comoventes.

             Cartaz do Filme

William Shatner brindou todos os fãs de “Jornada nas Estrelas” com o bom documentário “Capitães” no ano de 2011. Esse documentário teve como objetivo principal entrevistar todos os atores que interpretaram capitães nas então cinco séries de “Jornada nas Estrelas”, mais os longas de J. J. Abrams. O resultado foi um rosário de relatos comoventes e marcantes para todos os protagonistas, mas também para os fãs.

Conversas emocionantes com Patrick Stewart…

Shatner (Capitão Kirk, série clássica) entrevistou os seguintes “capitães”: Patrick Stewart (Capitão Picard, Nova Geração), Avery Brooks (Capitão Sisko, Deep Space Nine), Kate Mulgrew (Capitã Janeway, Voyager), Scott Bakula (Capitão Archer, Enterprise) e Chris Pine (o “novo” Capitão Kirk, da Kelvin Time Line de J. J. Abrams). Os devidos capitães foram apresentados e, depois, as entrevistas eram alternadas, de forma que nenhum capitão tivesse uma posição privilegiada com relação ao outro. Como o próprio Shatner era capitão e entrevistador ao mesmo tempo, parte do documentário foi usada para que o ator desse um relato de suas impressões pessoais e profissionais. Ainda, com relação à parte de Shatner, foi muito legal ver a entrevista que ele fez com Christopher Plummer, canadense como Shatner, e que foi substituído pelo nosso Capitão Kirk quando os dois trabalhavam juntos no teatro, antes ainda de “Jornada nas Estrelas” e Plummer ficou doente. Não é à toa que Plummer foi chamado para ser o general klingon Chang em “Jornada nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida”.

                             … e Kate Mulgrew

O documentário teve outros lances interessantes. Falou-se da severa rotina de gravações dos episódios e de como isso afetou a vida pessoal dos atores. Isso, por exemplo, acabou com o casamento de Shatner e provocou uma turbulência na relação de Mulgrew com os filhos, que detestam “Jornada nas Estrelas” por esses problemas. Em outro momento muito curioso, Stewart, um ator shakespeariano, disse como levou a produção de uma série de TV como “Jornada nas Estrelas” a sério e criticava muito a falta de organização da produção na primeira temporada.

                                  Queda de braço com Chris Pine!!!

Shatner declarou, por sua vez que, depois de todo o sucesso de Spock, ele se sentiu secundário na série e se sentia magoado com o tom de galhofa com que era tratado em virtude disso. Isso fez com que ele renegasse um pouco o personagem Kirk. Só que, com as convenções, todos os chamavam de Kirk, algo que o irritava, pois ele era Shatner. O ator somente percebeu a força de seu personagem quando, ao pegar um jatinho para ir a Londres entrevistar Stewart, o presidente da companhia aérea Bombardier foi recebê-lo em pessoa no aeroporto para lhe dizer que começou a carreira de engenharia aeroespacial em virtude de Kirk e de “Jornada nas Estrelas”. Stewart, por sua vez, disse que aceita com naturalidade o fato de ser chamado de Picard, algo que soou como uma espécie de alívio para Shatner, já que ambos os atores têm uma identificação, pois começaram no teatro interpretando Shakespeare.

                               Brooks, o pianista

Se pudéssemos colocar uma espécie de ranking entre as entrevistas, eu diria que as conversas com Stewart e Mulgrew foram as mais emotivas e intimistas; a conversa com Bakula foi a que teve mais trocas de experiências pessoais; a conversa com Pine foi uma espécie de passagem de bastão do mestre para o discípulo, onde Shatner se derrete em elogios a Pine, e a conversa com Brooks foi a mais musical e um tanto estranha, até porque a personalidade de Brooks é um tanto excêntrica. De qualquer forma, foi legal ver Sisko ao piano cantando um jazz.

Boa conversa com Bakula. Troca de experiências…

Assim, o documentário “Capitães” é simplesmente um programa obrigatório para todos os trekkers de plantão. Ele está lá à disposição no Netflix. Se você já viu, reveja. Se ainda não viu, está intimado a ver, se divertir e se emocionar.

 

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade Que Se Completa (Parte 1)

Um grande ícone da cultura ocidental de todos os tempos!!!

A perda do grande ator Leonard Nimoy, no dia 27 de fevereiro  de 2015, deixou órfãos os fãs da série de tv americana “Jornada nas Estrelas” em todo o mundo. Nimoy interpretava Spock, o oficial de ciências vulcano, que era o personagem mais amado e cultuado da franquia e foi um dos ícones mais adorados da cultura ocidental. Houve muita dor naqueles dias e fica a saudade hoje. Infelizmente, os anos de cigarro causaram uma doença pulmonar que, com a idade, ficou irreversível. A morte de Nimoy provocou, na época, manifestações de vários setores. O então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que Nimoy era um “defensor das artes e das humanidades, um defensor das ciências, generoso com o seu talento. E, claro, Leonard foi Spock. ‘Cool’, lógico, de orelhas grandes e sangue frio, o centro da visão otimista e inclusiva de ‘Jornada nas Estrelas’ sobre o futuro da humanidade”. William Shatner lamentou a perda do amigo: “Eu o amava como a um irmão. Sentimos falta de seu humor, seu talento e sua capacidade para amar”. A NASA (Agência Espacial Americana) emitiu uma nota dizendo que “muitos de nós da NASA fomos inspirados em ‘Jornada nas Estrelas’” e o executivo-chefe da Fundação Espacial, Elliot Pulham disse em comunicado que “Leonard Nimoy criou um modelo positivo que inspirou inúmeros telespectadores a aprender mais sobre o Universo. Hoje, muitas pessoas são entusiastas do espaço e líderes da indústria”. Nimoy, em seu último tuíte, deixou uma mensagem um tanto nostálgica: “A vida é como um jardim. Momentos perfeitos podem ter acontecido, mas não preservados, exceto na memória”.

Em 2015, já muito debilitado…

Por que Spock marcou tanta presença e foi tão importante na vida de tanta gente? Como Nimoy lidou com isso? Onde terminava o artista e começava o vulcano? A morte de Nimoy e a participação em uma mesa num evento do finado site “Abacaxi Voador” me estimularam, na época, a reler o livro “Eu Sou Spock”, de Nimoy, a fim de ter em mãos a voz do próprio ator. Infelizmente, não pude participar do debate, pois naquele dia 14 de março de 2015, eu havia perdido a minha mãe, vítima de uma embolia pulmonar, duas semanas depois da morte do grande ator. Dois eventos muitos dolorosos. Momentos de muita tristeza e resignação. Resolvi lidar com isso escrevendo. Não quis desperdiçar minhas leituras e anotações. E, portanto, decidi escrever alguns artigos para o “Abacaxi Voador” baseados na leitura de “Eu Sou Spock”. Uma forma de homenagear não só o ator que deu vida a um personagem que muito admirei, mas também de homenagear a pessoa mais importante de minha vida. Decidi reproduzir esses 21 artigos agora em meu site Batata Espacial, cerca de dois anos e meio depois. Assim, espero que essa coletânea de artigos ajude a apresentar mais Leonard Nimoy e Spock aos não iniciados em “Jornada nas Estrelas” e, para os iniciados, que os artigos tragam boas recordações. Afinal, recordar é viver.

                 Muitas homenagens em vida…

O texto de “Eu Sou Spock” nos ajuda muito a entender o fenômeno do vulcano e a carreira desse grande ator que, ao contrário do que muitos podem imaginar, não se limitou apenas ao personagem Spock. Vamos agora fazer uma compilação das ideias principais do livro.

Em primeiro lugar, devemos falar de um vacilo publicamente reconhecido por Nimoy: seu livro “Eu Não Sou Spock”, que tinha como objetivo não falar somente do personagem, mas também do ator Leonard Nimoy e de sua carreira, num esforço de se lembrar às pessoas que Nimoy não é um “ator de um personagem só”. Ele teve a ideia de escrever para seu livro um capítulo intitulado “Eu Não Sou Spock” (que logo se tornaria o título do próprio livro) depois que uma criança no aeroporto não o reconheceu como o vulcano ao ser interpelada pela mãe, já que o ator não estava maquiado como tal. Os editores do livro diziam que as pessoas não gostam de títulos negativos, ao que Nimoy, sabichão como ele só (como ele mesmo disse!) retrucou: “E o que acham de ‘E O Vento Levou’?”. O livro foi editado com o título de “Eu Não Sou Spock”, e foi um fracasso, já que as reprises de “Jornada nas Estrelas” em meados da década de 1970 popularizaram demais a série e as pessoas queriam novos seriados. O título do livro veio em péssima hora. E Nimoy foi acusado de não gostar de “Jornada nas Estrelas” sendo, inclusive, odiado por isso. Quando Nimoy escreve “Eu Sou Spock”, é justamente para desmentir as acusações de que ele não gosta da série e, principalmente, do vulcano.

No próximo artigo, continuaremos destrinchando a vida do ator e do vulcano, que merecem longas homenagens. Até lá!

                     Eu sou Spock… ou não???

Batata Literária – Guerra das Cores

No início, só havia o branco

Plácido, soberbo e flanando

Por toda a folha de papel

Mas, eis que surge um véu

De azul celeste tempeste

Cortando o mundo de leste a oeste

Se instalando como a peste

De forma definitiva e inconteste

 

Mas o azul celeste não estava sozinho

E o amarelo chegou

Por sobre as cores trepou

E o verde se formou

Agora, o papel era um borrão

Teores cívicos vindos de supetão

Cores patrióticas todas mescladas

Mas, na mente dos brasileiros, desbotadas

 

Outra cor chegou como ave

Voando sobre o papel, muito suave

É o lilás, vindo lá de trás!

Do fundo da sala escura

Distribuindo toda a sua candura

É a cor da maciez e da excitação

Que exercem no homem doce fascinação

Inspirando o máximo de afeição

 

Eis que, de repente, surge o rosa

É a cor, toda prosa

Que invade a poesia

Cor das meninas, é cheia de mania

E logo quer um espaço só para si

Mas as outras cores reclamam

Dão para ela um cantinho logo ali

Enquanto com a vivacidade do papel se encantam

 

De repente, surge a cor mais viva

Que assusta até a Deusa Shiva!

É o agressivo e pulsante vermelho!

Que logo vai meter o seu bedelho

No papel todo manchado

Ele invade tudo de jeito descarado

De forma que, entre mortos e feridos, não se salva ninguém

Mas aquele ainda não era o fim, porém

 

Como é que tudo acabou?

Foi quando o preto aportou

É a cor mais egoísta

Pois absorve toda a energia

Ele não dá espaço para as suas colegas

E apaga tudo por elas

Afasta a amada de seu consorte

E traz em nossa cultura o sopro da morte

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Episódio 7, Temporada 1) – Magia Para Fazer O Homem Mais São Ficar Louco – Cinquenta Tons De Se Matar Lorca.

Tudo começa numa festa

E chegamos ao sétimo episódio de “Jornada nas Estrelas, Discovery”, dessa vez com um título quilométrico (“Magia Para Fazer O Homem Mais São Ficar Louco”). Esse foi mais um episódio que, assim como o último, destoou dos cinco primeiros. Parece cada vez mais que os cinco primeiros episódios foram escritos numa vibe que estava, como vimos, muito fora do que estamos acostumados a ver em “Jornada nas Estrelas” e que, de repente, decidiu-se fazer uma espécie de mudança radical na série, voltando ao espírito original de “Jornada nas Estrelas”. Só que, para podermos ter certeza disso, precisamos ver os próximos episódios, até porque algumas questões ficaram mal resolvidas nos episódios anteriores, tal como a guerra contra os klingons, colocada um pouco de lado nos dois últimos episódios, e o sequestro da Almirante Cornwell (esqueceram a mulher lá com os klingons e ninguém está movendo uma palha nem mencionando o nome dela nos dois últimos episódios!!! Muito estranho, não?).

Stamets fala do loop temporal

Mas, o que aconteceu em linhas gerais nesse sétimo episódio? Ele começa com Burnham refletindo sobre a sua adaptação com a nave e a tripulação. Ela passará por mais uma prova de fogo: socializar numa festa. Quando Tyler pede a palavra e se lembra dos dez mil mortos na guerra com os klingons, Tyler e Burnham são chamados à ponte. Eles se esbarram nos corredores com um Stamets completamente doidão. O engenheiro está assim desde que se voluntariou para integrar seu DNA com o do tardígrado e ser o navegador do motor de esporos. Ao chegarem à ponte, Lorca mostra aos dois que uma gormagander, uma espécie de baleia espacial (algo que incomoda, pois o espaço sideral é um meio totalmente inóspito para a vida, seja para gormaganders, seja para esporos), vaga pelo espaço e, por se tratar de uma espécie em extinção, ela deve ser conduzida para o interior da nave para estudos. Ao ser transportada para a nave, a gormagander expele pela boca um alienígena vestido de Kamin Rider atirando para todos os lados. Qual não é a surpresa quando sabemos que o alienígena é o Mudd sinistrão de episódios anteriores? Ele quer o segredo da Discovery para vendê-lo aos klingons. Mas, como foi descoberto, decide usar um explosivo que destruiu toda a nave.

Mudd e um plano brilhante

Voltamos à festa. Ué, como? Isso mesmo, caro leitor, o episódio é daqueles do tipo de loop temporal, onde vemos seguidamente o que aconteceu nos últimos trinta minutos e Mudd tentará, a cada loop, aprender mais sobre a nave até encontrar o segredo da Discovery a ser vendido para os klingons. Ele só não contava que Stamets, em virtude de sua condição toda especial, perceber que os loops ocorrem e ter a memória deles. Será Stamets que alertará Burnham dos loops e do plano de Mudd, onde esses tripulantes, a cada loop, tentarão sabotar os planos do vigarista e aqui assassino.

Matando Lorca várias vezes…

Esse foi mais um episódio de desenvolvimento de personagens pois, a cada loop, Burnham e Tyler tinham que ficar mais próximos para executar o plano que impediria Mudd de tomar a nave e Stamets meio que fazia as vezes de cupido do casalzinho. Não que isso não torne a série mais simpática, até porque, em Jornada nas Estrelas, os trekkers sempre têm afinidades com os personagens, mas confesso que acho um pouco maçante essa campanha em torno de Burnham e Tyler fazerem um par romântico. Enfim… O mais curioso é que, por causa dos loops, Burnham e Tyler não se lembram de seu envolvimento amoroso. Mas eles sabem que o envolvimento existiu e fica aquele clima no ar entre os dois de que algo acontecerá no futuro.

Burnham. Jogo de xadrez com Mudd a cada loop

A ideia do loop temporal, apesar de um pouco desgastada, é boa. Parece que foi seguida aquela máxima do futebol: em time que se está ganhando, não se mexe. Ou seja, é mais seguro usar fórmulas que já deram certo no passado do que correr o risco de se ficar metendo os pés pelas mãos e inventar. É claro que tudo isso depende muito de como você reaproveita a fórmula de sucesso e de como você inventa e inova. Aqui foi interessante ver Mudd usando o loop mais de cinquenta vezes, sendo assassino e sádico em todas elas, principalmente com Lorca, onde o trapaceiro espacial matou o capitão mais de cinquenta vezes, sendo esse curiosamente o alívio cômico do episódio. Sei não, mas parece que depois de personagens importantes serem mortos nos primeiros episódios e ficar aquela tensão em mais mortes de protagonistas nos episódios seguintes, assassinar Lorca várias vezes caiu mais como uma piada para com essa tensão.

Um Mudd muito apático no final…

A ideia de se derrotar Mudd na base da trapaça foi interessante, quer dizer, a única forma de se derrotar um trapaceiro é trapaceando, como foi dito no próprio episódio. O que incomodou um pouco foi a passividade com que Mudd aceitou a sua derrota, ficando ao lado de “sua” Stella. Vimos como esse amor pela esposa era somente da boca para fora e de como a esposa de Mudd, apesar de muito doce aqui, já tem um gênio forte. Quer dizer, aquela receita da mulher chata da década de 60, criticada por ser considerada machista, é retomada aqui sem o menor pudor para ajudar a reconstituir a personagem Stella, ao contrário do que aconteceu com Mudd, que ficou muito descaracterizado. O Mudd da série clássica é vigarista, mas simpático, não mataria ninguém como o sinistro Mudd da Discovery. Agora, fica a pergunta: será a última aparição deste personagem na série?

Assim, “Magia Para Fazer O Homem Mais São Ficar Louco” é o segundo episódio de uma espécie de “novo arco” da Discovery, que coloca o arco principal da guerra dos klingons de lado, investe na construção dos personagens e de seus relacionamentos, tem uma cara de episódio mais destacado, se aproximando das séries antigas e se afastando um pouco do que se faz no streaming, ou seja, um novelão, e que coloca mais um ponto de interrogação na cabeça do espectador: como será o próximo episódio? Dentro de uma vibe soturna dos cinco primeiros, ou dentro da vibe mais colorida dos dois últimos? Esperemos por segunda-feira.

Leia resenhas de outros episódios de Jornada nas Estrelas Discovery aqui

Batata Movies – Mark Felt, O Homem Que Derrubou A Casa Branca. Soturna Política.

              Cartaz do Filme

Um bom drama biográfico passa quase que despercebido por nossas telonas. “Mark Felt, O Homem Que Derrubou A Casa Branca”, escrito e dirigido por Peter Landesman, e que tem Ridley Scott como um dos produtores, reconstitui a história do vice-presidente do FBI que denunciou o caso Watergate à imprensa e ficou conhecido como “Garganta Profunda” por isso. O caso provocou a demissão de vários funcionários do primeiro escalão do governo americano no início da década de 70 e a renúncia do próprio presidente Richard Nixon. Para interpretar um personagem real tão cascudo assim, tivemos o bom ator Liam Neeson, que fez o papel com desenvoltura, numa ótima caracterização, onde a maquiagem o envelheceu bastante.

        Neeson como Felt. Boa caracterização

Esse é um tipo de filme em que não há cenas de ação e que exige muito do espectador, que deve ficar atento à trama o tempo todo para não perder o fio da meada. Mark Felt é uma figura e tanto na película, pois nunca foi presidente do FBI, mas ficou na retaguarda da figura do todo poderoso J. Edgard Hoover por muitos anos, conhecendo a fundo casos altamente confidenciais, o que despertava o medo de todos.

Sérios problemas familiares, apesar das      aparências

Com a morte de Hoover, ficava claro que o nome de Felt seria o imediato na sucessão da presidência do FBI, mas isso não ocorreu, muito provavelmente em virtude de todo esse temor que ele provocava. Felt fazia questão de frisar que o FBI era uma instituição austera e incorruptível, não sofrendo qualquer interferência de ninguém que fosse, nem da Casa Branca, para realizar suas investigações (o que, provavelmente, foi uma patriotada daquelas que a gente vê nos filmes americanos, pois é muito difícil uma instituição ser tão austera e incorruptível tal como o filme quer vender). Quando ele sentiu que o escândalo de Watergate iria ser abafado pela presidência, acabou botando a boca no trombone, mesmo que omitindo sua verdadeira identidade.

Procurando manter o FBI como uma instituição íntegra

Além da necessidade de atenção total do espectador na trama, podemos dizer que esse filme tem o tempo todo um clima altamente tenso e soturno, onde a política é a força motora. Ninguém vai ser morto, não haverá lances violentos, mas parece que eles nos espreitam a cada fotograma. E esse clima pesado envolve a gente, que já sabe o desfecho da coisa. Ou seja, o filme em si já é uma espécie de grande spoiler, por se tratar de um evento real. Por isso mesmo, o que importa aqui não é a conclusão, mas sim o desenrolar da história. Como foi essa denúncia? Como ela foi sendo construída ao longo do tempo por um personagem considerado tão austero? Para a coisa não ficar muito mecânica, esse clima tenso e soturno foi um elemento muito interessante no filme, justamente para dar uma componente um tanto dramática ao espectador e não somente ser algo descritivo e sem emoção.

                  Garganta Profunda em ação!!!

Além de Neeson, não podemos nos esquecer de Diane Lane no papel de Audrey, esposa de Felt, que sofria muito com as pressões que o marido sofria no emprego e nas constantes mudanças de cidade (e até de estado) que o cargo do marido exigia. Aliás, esse foi um lance interessante do filme, que mostrou a vida pessoal de Felt e todo o preço que ele acabou pagando por causa das responsabilidades de um emprego tão espinhoso, onde até a filha dele se distanciou e passou a fazer parte de um grupo que lutava pelos direitos civis, numa clara cisão familiar.

         O verdadeiro Mark Felt

Assim, “Mark Felt, O Homem Que Derrubou A Casa Branca” não é exatamente uma película espetacular, mas deve ser acompanhada com atenção pelo cinéfilo mais atento, pois é um bom trabalho de reconstituição política de um momento turbulento da História Política dos Estados Unidos. Neeson foi muito bem em seu papel e o clima sombrio de um filme embebido em tramas políticas é muito atraente. Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=D77uJR53Apc

 

Batata Movies – Thor Ragnarok. Muito Engraçadinho, Mas Não Ordinário.

                  Cartaz do Filme

A Marvel ataca novamente com “Thor, Ragnarok”, o terceiro filme solo do Deus do Trovão e que conta com um tremendo nome de peso: Cate Blanchett, como Hela, a Deusa da Morte, irmã mais velha de Thor e de Loki. Esse foi um bom filme, bem ao estilo das demais películas da Marvel: muita ação, CGIs e humor, uma receita que tem dado certo, embora agora pareça que eles exageraram um pouco na mão do humor, aproveitando o lado mais lerdinho e burrinho de Thor.

                    Um Thor sem as madeixas…

A história gira em torno do chamado “Ragnarok”, ou seja, uma espécie de apocalipse da mitologia nórdica, onde Asgard será destruída. Loki (interpretado por Tom Hiddleston) toma o trono de Asgard e confina Odin numa casa de repouso na Terra. Quando Thor descobre tudo, ele obriga o irmão a ir atrás do pai junto com ele. Qual não é a surpresa quando os dois descobrem que a casa de repouso foi demolida? Mas aí entra o Dr. Estranho (interpretado por Benedict Cumberbatch) na jogada e ajuda os irmãos a encontrar o pai na Noruega, com um portal dimensional. Entretanto, eles encontram Odin à beira da morte, o que significa que Hela, a Deusa da Morte e filha mais velha de Odin está por perto. A ideia de Hela é tomar o trono de Asgard e colocar vários outros reinos sob seu domínio. O problema é que, na luta entre os três irmãos, Thor e Loki irão parar num estranho mundo governado por um tal Grão Mestre (interpretado por Jeff Goldblum, em excelente atuação), que coloca Thor para lutar contra seu campeão (o Hulk) numa arena. Caberá ao Deus do Trovão sair dessa tremenda encrenca para tentar salvar Asgard das garras de Hela.

             Novamente, a boa presença de Loki

Todo filme que fala de destruição e apocalipse geralmente tem um tom mais sombrio. Não foi o que aconteceu aqui. Pelo contrário. A carga de humor tão presente nas películas da Marvel, deu o ar de sua graça mais do que devia, o que ridicularizou um pouco nosso personagem protagonista. Não que isso seja ruim, mas parece que dessa vez ficou um tanto exagerado, mesmo que saibamos que, na mitologia nórdica, Thor é meio vaca brava mesmo. Sei lá, nesses filmes solo do Thor, confesso que sempre gostei muito mais do Loki, resultado do magnífico trabalho de Tom Hiddleston, cujo papel parece cair como uma luva para ele, principalmente quando ele dá aquele sorrisinho sarcástico. Ainda, temos aqui um vilão que é realmente do mal, mas ainda tem algum relacionamento afetivo com o mocinho. Nesse ponto, a analogia entre Loki e Magneto, outro grande personagem do Universo Marvel, se faz de forma imediata. E aí, o roteiro com lances cômicos funciona bem na interação entre os irmãos.

                 Dr. Estranho dá uma ajudinha…

Agora, as novidades. Jeff Goldblum esteve muito bem como o carnavalizante Grão Mestre, multicolorido e afetado, num mundo para lá de insólito. Ele conseguia ser odioso e engraçado, beirando o ridículo, ao mesmo tempo. Sentíamos toda a maldade dele, mas o personagem também conseguia esbanjar simpatia. Agora, o grande trunfo e novidade desse filme, sem a menor sombra de dúvida, foi Cate Blanchett. A mulher simplesmente arrebentou! Ela conseguia ser sensual e elegante ao mesmo tempo, ou seja, não era vulgar. E sua vestimenta negra, aliada com a maquiagem pesada, trouxe lembranças vivas das divas expressionistas do passado, tudo isso evocando uma alma maligna! Foi de encher os olhos! Tal trabalho da atriz já é uma espécie de cartão de visitas para o seu filme “Manifesto”, onde ela interpreta, de forma camaleônica, vários papéis, e que também está em cartaz.

                    Cate Blanchett, magnífica!!!

O mais curioso foi o desfecho, que foge do convencional e acabou sendo um tanto ambíguo, algo interessante, mas que os spoilers me evitam de revelar. Cá para nós, essa ambiguidade até esteve presente no filme pois, como já foi dito, um tema pesado como o apocalipse fica tratado de forma esquisita quando se exagera na dose de humor.

Assim, “Thor, Ragnarok” ainda segue a receita de sucesso da Marvel, embora agora tenha exagerado um pouco na mão do humor. Mas como a Marvel não dá ponto sem nó, desta vez ela caprichou nas aquisições do elenco, trazendo Jeff Goldblum e, principalmente, Cate Blanchett. Será que não dá para trazer Hela de volta nas próximas películas? Espero que sim. Ah, e não se esqueçam dos pós-créditos. São dois dessa vez.

https://www.youtube.com/watch?v=t9pEUhln7Ew