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Batata Literária – Um Brasileiro Chamado Silva (à Ayrton Senna).

Ele adorava correr
desde menino.
Sem a velocidade temer,
esquecia que era franzino.
E pensava nos grandes campeões,
que tinham dado a vida e suas ilusões.
Pelo simples prazer da audácia,
ele subia no seu kart sem falácia.
Logo, o menino Silva cresceu.
Foi à Europa em busca de mais perigos.
Apesar das dificuldades, seu coração não esmoreceu
e fez aliados e inimigos.
Ao ingressar na Fórmula Três,
muito sucesso ele fez.
Seu talento e sobrenome
mudaram até o nome de Silverstone.
Finalmente, ele chega à Fórmula Um.
Mundo sem afeto algum.
Todos os pilotos querem ganhar,
mesmo que um ao outro tenham que prejudicar.
Em seu primeiro ano, o brasileiro foi tripudiado
em favor do francês laureado.
Mas ele assimilou a frieza
e ganhou três campeonatos mundiais com destreza.
Já era herói nacional
quando se deparou com Imola.
Na Tamburello, o acidente fatal.
Mais uma vítima fazia a curva facínora.
Uma pátria inteira chorou sua morte
e a ele cantou uma ode.
Era o tema da vitória,
que, na manhã dos domingos, entrou para a história.

Batata Movies – O Filho De Joseph. Paternidade Emprestada.

 

Cartaz do Filme

Sempre gostei muito de Maria de Medeiros. Já tirei foto com ela, comprei CD, pedi para autografar, dei caixa de bombom. Tietagem explícita mesmo que beira o ridículo. Ah, mas que se lasque. “Star System” é para isso mesmo. Por isso que, dentre as dezenas de filmes disponíveis para assistir na cidade que a nossa falta de tempo não consegue acompanhar, acabei indo ao Estação Botafogo 2 para assistir a “O Filho de Joseph”, justamente porque a minha diva lusitana estava na película. O filme em si? Bom, eu confesso que não estava muito preocupado com isso. Queria mais era ver a Maria de Medeiros. Infelizmente, ela apareceu somente em duas sequências, fazendo mais uma participação especial do que qualquer outra coisa. Mas deu para matar um pouquinho a saudade.

Um rapaz atormentado e uma redenção

De qualquer forma, ainda temos um filme a analisar. E do que tratava a história? Temos aqui Vincent (interpretado por Victor Ezenfis), um adolescente atormentado pela falta do pai. O jovem hostiliza sua mãe Marie (interpretada pela bela Natacha Régnier), pois ela fez de tudo para que o adolescente não conhecesse o pai. Um belo dia, Vincent mexe nas coisas da mãe e descobre que ela escreveu cartas ao pai que o identificam. Ele é Oscar Pormenor (interpretado por Mathieu Amalric), um famoso editor que tem pouquíssimos escrúpulos e nenhum caráter. Ao ir escondido a uma das festas organizadas pelo pai, Vincent conhece Violette Tréfouille (interpretada por Maria de Medeiros), uma crítica literária de hábitos fúteis e ela o confunde com uma jovem promessa na literatura. Vincent continua a investigar a vida de seu pai e vai descobrindo aos poucos a falta de caráter de seu progenitor. Assim, o garoto tomará uma medida drástica e impensada. Mas ele conhecerá um homem que irá mudar a sua vida (no bom sentido, é claro). Quem é esse homem? Chega de “spoilers”!

Uma mãe solitária

À primeira vista, temos o velho clichê do filho revoltado porque não conhece o pai. Mas, pelo menos, o filme não caiu nesse lugar comum e desenvolveu um pouco mais a história. A desmistificação da figura paterna por parte de Vincent foi um interessante elemento adicionado à película e, mais, o garoto toma uma atitude com relação a isso.

Um pai cruel e uma diva que amo…

Mas a grande graça da coisa está nas descobertas que ele faz com a nova amizade que surge de uma forma muito insólita (em tempo, esse amigo é interpretado pelo ótimo ator Fabrizio Rongione, dono de um dos mais elegantes closes do cinema moderno). Vincent realmente entra nos trilhos com essa nova amizade, mudando até de postura com a sua mãe, tratando-a com mais carinho e respeito. Vale ressaltar aqui que as descobertas de Vincent com sua nova amizade transitam muito pela poesia e pela música erudita, o que deu todo um charme especial ao filme. Infelizmente, volta e meia Vincent fazia umas piadinhas muito infames, sendo que a única que ainda foi um pouco mais engraçada dizia: “Você sabe como se chama um naturista revolucionário? Sans-Culotte”. E essa piada ainda tem graça somente para historiadores especializados em Revolução Francesa.

O autor desse artigo e Maria de Medeiros

Só é de se reclamar de algumas condições ruins da exibição. O Estação Botafogo 2 vem de uma reforma, com a sala mais espaçosa e confortável, mas o ar condicionado estava bem fraquinho. Ainda, a cópia da película estava um bocado escura, o que foi uma pena.

Alguns momentos hilários…

Assim, “O Filho de Joseph” começa com um clichê mas se salva no bom elenco, na redenção do personagem rebelde e, obviamente, nos poucos momentos em que Maria de Medeiros apareceu. O filme não é lá grande coisa, mas também não é de se jogar fora. Uma diversão com certa classe que entretém, mas que não será marcante. Pelo menos, essa é a impressão de agora.

https://youtu.be/7dBrFSeKml8

Batata Movies – A Vigilante Do Amanhã. Novamente O Mito De Frankenstein.

Cartaz do Filme

E estreou “Ghost in the Shell”, traduzido para cá como “A Vigilante do Amanhã”. Temos aqui a oportunidade de ver Scarlet Johansson contracenando com Juliette Binoche e Takeshi Kitano, a lenda do cinema japonês. Com um elenco tão polpudo e, ainda por cima, com o fato da história ser inspirada num mangá japonês produzido por Masamune Shirow, tive que dar uma conferida. E qual foi o resultado? Apesar de ser um filme de ação relativamente banal, com as cenas de porrada, bomba e tiro de sempre, ele tinha algo a mais.

Major: uma criatura cibernética

Mas, no que consiste a história? Temos aqui a trajetória de Major (interpretada por Johansson), uma mulher que acreditava que sua família havia sido dizimada por um grupo terrorista. A moça em si estava praticamente morta e teve seu cérebro implantado num corpo totalmente artificial, sendo a mais avançada espécie cibernética até então. Major passa a atuar numa divisão de segurança, onde há uma parceria com o governo e a empresa que criou Major. Ah, sim, estamos no Japão no futuro. A essa altura, há muitos seres cibernéticos e surge um grupo terrorista que começa a hackear as pessoas. Assim, Major e sua equipe irão caçar os tais terroristas para evitar esse cyberterrorismo. Mas havia algo a mais nessa história, onde os vilões e mocinhos poderão se confundir.

Uma Barbie nua???

Eu disse acima que esse filme de ação aparentemente banal tem algo a mais. O que podemos dizer disso? Em primeiro lugar, o filme tem um visual futurista um pouco diferente do que se vê por aí. A realidade virtual aparece em anúncios por toda a cidade que contém muitos arranha-céus, inspiração direta de filmes como “O Quinto Elemento”, “Blade Runner” e a primeira influência, “Metrópolis”.

Kitano, o cara!!!

O mais interessante é que as classes menos favorecidas não foram esquecidas na programação visual urbana da película e vemos, também, bairros periféricos e condomínios em formas de prédios que são verdadeiras colmeias humanas. Esse pano de fundo deu um charme todo especial ao filme. Em segundo lugar, o velho mito de Frankenstein aparece na película, onde os seres cibernéticos são criações humanas, que são totalmente controladas e descartadas de acordo com os desígnios dos criadores. Sem querer dar muitos “spoilers”, nossa protagonista sofrerá muito com tais desígnios e precisará ficar de olhos bem abertos, pois o inimigo pode estar mais perto do que se imagina. Se as criaturas aparecem divididas em muitas peças cibernéticas e ficam com uma aparência relativamente monstruosa, a verdadeira monstruosidade está nos humanos que criam esses seres cibernéticos e os usam e os descartam ao seu bel-prazer.

Binoche, boa presença

E o elenco? Foi muito legal ver Johansson contracenando com Binoche. Rolou uma química muito grande entre a beldade hollywoodiana e a diva do cinema francês, que pode estar num drama bem cerebral de seu país, como no filme “A Espera”, mas, ao mesmo tempo, não se priva de aparecer num blockbuster como esse aqui ou “Godzilla”. Agora, sem a menor sombra de dúvida, a cereja do bolo foi Takeshi Kitano. O famoso diretor, ator, produtor e roteirista apareceu muito pouco no filme como esperado, falando em seu idioma pátrio, mas nas poucas vezes em que atuou roubou a cena. Devemos nos lembrar que uma das características da prolífica carreira de Kitano é o cinema de ação com cenas de violência explícita. E o homem não decepcionou nos momentos decisivos aqui, relembrando os velhos tempos.

Uma criatura manipulada ao bel prazer do criador

Dessa forma, “A Vigilante do Amanhã” é um filme de ação relativamente banal que não o é em sua totalidade pelo visual dos efeitos especiais, pelo elenco e pelo já batido (mas que ainda dá caldo) mito de Frankenstein. Vale a pena dar uma conferida nas curvas de Johansson (que parece a Barbie pelada), mas também tem a serenidade de Binoche e o espetacular Kitano como uma das atrações principais.

 

 

Batata Literária – A Prostituta da Noite

Era noite.
Andava eu em maio ao cais, desolado.
Ao fundo, o mar pouco se mexia
no negro aveludado.
Ratazanas agitadas desafiavam minha humana hierarquia.
Madeiras podres
exalavam fortes odores.
A decadência total sem prévios rumores.
Mas, ao fundo do cais
surgiu uma figura translúcida, quase opaca.
Barbarizada pelos ventos de sais,
a prostituta se revelava quebradiça e fraca.
Lançava para mim um sorriso sedutor,
dizendo que me daria prazer, jamais dor.
Queria dinheiro e não compromisso.
“Aproveite! Entre minhas pernas, há um portal para o paraíso!”
Olhei no fundo de seus olhos
e vi toda uma história de vida:
infância sofrida,
violada pelo pai,
sem poder dizer ai,
trabalhando para ajudar
a mãe a família a sustentar,
usada e abusada por homens que não vão pagar.
Não aguentei, uma lágrima saiu
e o sorriso da prostituta sumiu.
“Babaca!”, ela me chamou
e no véu noturno ela se embrenhou,
enxugando outra lágrima,
a lágrima que nos torna humanos,
que nos tira da loucura máxima
e desperta sentimentos não profanos.