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Batata Movies – Quando Desceram As Trevas. Segunda Guerra, Espionagem E Noir.

Ministry of Fear - Wikipedia
Cartaz do Filme

Ainda falando dos filmes da fase americana de Fritz Lang, vamos analisar hoje “Quando Desceram As Trevas” (“Ministry of Fear”, 1944). Esse é mais um filme “Noir” de Lang, enfocando uma história de espionagem ocorrida na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, com direito a espiões e bombardeios nazistas. Para podermos conversar sobre essa película, vamos liberar os spoilers de setenta e seis anos.

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Stephen Neale. Um homem que será envolvido numa trama internacional…

O plot é o seguinte. Stephen Neale (interpretado por Ray Milland), passa seus últimos momentos internado num manicômio psiquiátrico, depois de ser condenado a uma pena nesse estabelecimento por ser acusado de matar a esposa. Na verdade, a esposa padecia de um câncer e sofria muito com a doença, sendo que Stephen comprou veneno para aliviar sua dor, mas não teve coragem de ministrá-lo. Entretanto, sua esposa tomou o veneno mesmo assim, condenando o marido a uma pena no manicômio. Agora, fora da prisão, Neale vai para Londres, uma cidade sob bombardeios alemães. Mas nosso protagonista prefere o agito da cidade mesmo em perigo à solidão. Antes de chegar à estação de trem, passa por uma festinha local, onde inocentes senhoras arrecadam fundos de forma beneficente. Mal sabe Neale que elas fazem parte de uma rede de espionagem nazista e, depois da consulta com uma vidente, descobre o peso de um bolo que estava sendo oferecido a quem adivinhasse seu peso. Feliz da vida, nosso Neale leva o seu bolo, sem saber que existe nele um microfilme com segredos militares ingleses. Ao pegar o trem, um velho “cego” o acompanha. Mas o trem para por causa de um bombardeio nazista e o velho o ataca para tomar o bolo, fugindo do trem. Neale o persegue e o velho atira uma pistola contra ele. Mas o velho é atingido por uma bomb e morre. Ao chegar a Londres, Neale procura a instituição beneficente que organizou a festa e ele conhece os amáveis irmãos Willi (interpretado por Carl Esmond) e Carla Hilfe (interpretada por Marjorie Reynolds) e comunica o que aconteceu. Willi o leva para a casa da vidente com que Neale teve contato, mas lá ele vê que se trata de outra mulher, que faz uma sessão mediúnica onde um dos convidados é morto com um tiro depois que apagam as luzes. Como Neale soltou as mãos das pessoas durante a escuridão e ele estava armado, ele acaba sendo declarado o suspeito e foge com a ajuda de Willi. Agora, Neale terá que provar sua inocência e, ao mesmo tempo, desvendar toda a trama de espionagem nazista que ele ainda nem sabe que está acontecendo.

Ministry of Fear (1944) | The Criterion Collection
Um casal pouco convincente…

Lang foi convidado para dirigir esse filme, baseado numa história de Graham Greene que ele gostava muito, mas odiou o roteiro escrito. Mesmo assim, por ética profissional, assumiu a direção. Talvez seja por tudo isso que a história é um pouco enrolada e até enfadonha. O momento da sessão mediúnica só serviu para incriminar Neale, mas a Scotland Yard nem soube do ocorrido, procurando nosso protagonista como suspeito de outro crime, a morte de um investigador que ele contratou e que foi morto pelos espiões nazistas. A falsa vidente (interpretada pela bela Hillary Brooke) parecia que ia ter um destaque maior no filme, mas somente apareceu em mais um momento com o protagonista, sendo pouquíssimo aproveitada. O romance entre Neale e Carla até teve seus momentos de construção, mas pareceu um corpo estranho à história. Ou seja, tivemos aqui alguns floreios (ou barrigas) que tornaram tudo meio confuso, ainda mais para uma película de duração relativamente reduzida (pouco mais de oitenta minutos). Pelo menos, Lang brincou bem com o claro/escuro, sobretudo na sequência de ação final do filme, onde o tiroteio era feito ora sob escuridão completa, ora sob a luz de uma escadaria de um prédio, onde víamos os espiões nazistas. A piada final do bolo foi até engraçadinha, mas um tanto forçada, para coroar um filme que o próprio Lang não gostava muito (ele disse que, anos depois, ao ver o filme na TV, ele adormeceu).

Ministry of Fear (1944) – MUBI
Uma personagem pouco aproveitada…

Assim, “Quando Desceram As Trevas” poderia até ser um filme bom caso o roteiro não fosse um pouco enrolado, roteiro esse que nem Lang gostou muito. Pelo menos o diretor ainda conseguiu salvar um pouco o filme, trabalhando bem o claro/escuro e enxertando algumas boas cenas de ação. Mas há filmes “Noir” bem melhores que esse na carreira do diretor. Infelizmente, não há o filme facilmente à disposição na íntegra. Fiquem com o trailer abaixo.  

Batata Movies – Vive-se Só Uma Vez. Condenação Pública.

You Only Live Once (1937 film) - Wikipedia
Cartaz do Filme

Dentre os filmes da fase americana de Fritz Lang, falemos de sua segunda produção nos Estados Unidos, “Vive-se Só Uma Vez” (“You Only Live Once”, 1937). Esse é um filme que traz Sylvia Sidney de volta fazendo uma parceria com Henry Fonda, que deu muito certo, diga-se de passagem. Para podermos falar desse filme, os spoilers de oitenta e três anos.

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Um casal na mira da justiça…

O plot é o seguinte. Eddie Taylor (interpretado por Henry Fonda) está saindo da prisão pela terceira vez, sendo advertido que, caso volte por algum crime, será provavelmente condenado à morte. Praticamente ninguém tem esperanças de que ele se recupere, exceto sua namorada, Joan Graham (interpretada por Sidney). Os dois procuram começar uma vida nova, onde eles vão dar entrada na compra de uma casa e Taylor começará um emprego numa transportadora como motorista. Mas um único atraso num dia de trabalho foi suficiente para que seu patrão o botasse na rua, muito em função do preconceito contra Hnery ser um ex-presidiário. Pouco tempo depois, acontece um assalto a um banco com bombas de gás lacrimogênio e seis pessoas morrem. O chapéu de Eddie aparece como uma espécie de prova. Ele procura Joan e diz que é inocente, com o seu chapéu sendo utilizado por um ex-comparsa de crimes para incriminá-lo. Eddie diz que precisa fugir mas Joan acha que ele precisa se entregar, já que é inocente. Ele se entrega, mas acaba sendo condenado à morte, não querendo mais falar com Joan. Mas esta vai visitá-lo na prisão, proposta a qualquer coisa para ajudá-lo. Eddie pede então que ela traga uma arma para ele. Joan consegue a arma mas não consegue entregá-la, pois fica retida no detector de metais. Um padre amigo de Eddie, que está com ela na visita, consegue convencer os policiais a não revistá-la e, depois que saem do presídio, o padre pede que ela entregue a arma. Mas Eddie conseguirá um revólver com um amigo de prisão e faz um médico de refém. Quando os dois estão na porta da prisão, prestes a saírem, é chegada uma mensagem ao diretor do presídio, com um indulto a Eddie, pois o verdadeiro culpado do assalto a banco apareceu, sendo realmente o ex-compassa de Eddie, que apareceu morto no fundo de um rio com o carro forte (ele sofrera um acidente na fuga). Mas Eddie não acredita nisso e acaba alvejando seu amigo padre, matando-o. Ao sair da prisão, ele acaba sendo ferido pela polícia e vai procurar Joan. Os dois tornam-se fugitivos da polícia, com Joan grávida, dando à luz durante a fuga. Joan ainda consegue se encontrar com sua irmã para entregar o bebê para pegar a criança de volta depois que atravessarem a fronteira. Mas os dois são alvejados e mortos pela polícia quando já estavam bem perto. Moribundo, Eddie escuta uma voz dizendo que ele finalmente está livre.

Pin en A Monster (Frankenstein)
Lang traz mais uma vez o belo claro/escuro herdado do cinema alemão…

Esse segundo filme de Lang nos Estados Unidos mostra a continuação de Lang de sua preocupação com questões sociais do país que ele começava então a trabalhar. Dessa vez, vemos aqui a impossibilidade de alguém que cometeu crimes e delitos de recomeçar a sua vida mesmo depois que cumpre sua pena, pois a sociedade, eivada de todo um preconceito contra ex-criminosos, não acolhe aqueles que querem se recuperar. O próprio Lang instiga o espectador a lidar contra seus próprios preconceitos quando do momento do assalto ao banco, onde não sabemos se podemos confiar ou não nas palavras de Eddie, que alega sua inocência. Afinal de contas, ele já foi condenado três vezes, parecendo pouco provável que nosso protagonista falasse a verdade. Mas, realmente Eddie não mentia e era inocente, desta vez sendo condenado injustamente à morte. O grande problema é que ele já estava tão barbarizado por tudo o que havia ocorrido que ele não acreditava mais que havia recebido um indulto, matando uma das poucas pessoas que ainda confiava nele, o seu amigo padre, para sacramentar toda essa tragédia social. Mas a coisa ainda poderia piorar, pois Eddie e Joan foram implacavelmente caçados pela polícia, sendo mortos como animais bem próximos da fronteira. Ou seja, se Lang ainda opta pelo “happy end” em “Fúria”, em “Vive-se Só Uma Vez” o desfecho é trágico. Nunca houve escapatória para Eddie. Se ele tentava recomeçar sua vida de forma digna e honesta, a sociedade não o permitiu, tratando-o de forma bárbara. E, quanto mais maltratado Eddie o era, mais ele caía na barbárie, o que somente retroalimentava a barbárie da sociedade contra ele, levando tudo a um beco sem saída, onde a morte era a única alternativa. Lang assim mostrava mais uma vez seu pessimismo com relação ao humano.

You Only Live Once – Senses of Cinema
Um amor entre grades…

Dessa forma, “Vive-se Só Uma Vez” é uma grande obra de Lang, mostrando todo o seu talento e sua visão de mundo pessimista em Hollywood, mais afeito a histórias assépticas e felizes com o objetivo de entretenimento. O realismo cru de Lang seria uma grande contribuição para o cinema americano e mundial, lançando uma série de películas reflexivas. Infelizmente, não temos esse filme na íntegra. Fiquemos com o trailer abaixo.

Batata Movies – Fúria. Fake News E Rancor.

Fury (1936 film) - Wikipedia
Cartaz do Filme…

Dentre os filmes da fase americana de Fritz Lang, falemos de sua primeira película nos Estados Unidos. “Fúria” (“Fury”, 1936) foi um cartão de visitas arrebatador do diretor austríaco em terras americanas. Lang mostra com uma grande crueza até onde o ser humano pode ser venal e destrutivo. Um filme que faz a gente olhar para dentro de si e se questionar do papel que assumimos perante as pessoas e o mundo. Para podermos falar dessa película, vamos liberar os spoilers de oitenta e quatro anos.

File:Spencer tracy fury cropped.jpg - Wikimedia Commons
Joe. Um homem transformado pelo ódio…

O plot gira em torno de Joe Wilson (interpretado por um jovial e eternamente magistral Spencer Tracy). Ele está planejando seu casamento com a doce Katherine Grant (interpretada por Sylvia Sidney), mas o jovem casal ainda está juntando dinheiro e a moça vai ganhar a vida em outra cidade. Joe vai levando a sua vida e tudo vai de vento em popa. Até o dia em que ele consegue comprar um carro e vai visitar sua noiva na cidade em que ela está. Entretanto, durante a viagem, ele é parado pela polícia numa cidade vizinha e é levado para a delegacia como suspeito de sequestrar uma menina, já quee algumas evidências apontam nessa direção. A noticia da prisão de Joe corre a cidade e a população, numa rede de fofocas (ou fake news, só para atualizarmos o tema), já decide que Joe é culpado e deve ser imediatamente punido. Os moradores da cidade, enfurecidos, decidem atacar a delegacia, que pede reforços militares que são barrados por políticos estaduais preocupados com o resultado das eleições. Katherine sabe de toda a confusão na cidade vizinha e, desesperada, vai a pé até lá. Assim que ela chega, já encontra a delegacia em chamas com Joe dentro, e desmaia. Joe consegue fugir da delegacia sem ser visto e deixa de ser o homem doce e alegre para se tornar amargo, rancoroso e com desejo de vingança. O resultado da investigação inocenta Joe e, como ele é dado como morto, vinte e dois moradores são acusados de assassinato. E aí a coisa vira. Os moradores da cidade assistem ao julgamento torcendo pelos seus, mas o promotor está ávido por condenar os acusados. Depois de conseguir imagens filmadas dos acusados incendiando a delegacia, a defesa argumenta que não há um corpo. Joe, que escuta o julgamento no rádio, manda uma carta com sua aliança derretida para o juiz, forjando uma evidência de seus restos mortais. Mas Katherine percebe que a carta tinha um erro ortográfico que somente Joe cometia. Revoltada, ela pressiona seus dois irmãos que sabem que Joe está vivo. A moça os seguirá e descobrirá Joe, que está transtornado e tomado pelo ódio. Katherine diz que, se os acusados forem condenados à morte, Joe terá que andar o resto de sua vida às escondidas e não poderá se casar com ela. Ainda, Katherine diz que o que Joe sofreu na prisão por alguns momentos, muitas pessoas estão sofrendo por muito tempo, pois o julgamento é um processo demorado. Joe sai revoltado para a rua e anda pela noite, sendo assombrado pela sua consciência, vendo imagens dos moradores da cidade em sofrimento, ao bom estilo das alucinações e do claro/escuro tão caro à Lang. O filme termina com o veredicto sendo dado pelo juiz e Joe entrando no tribunal, alegando que quer ficar em paz consigo mesmo e que aceita a punição da justiça, com a esperança de poder reconstruir sua vida um dia com Katherine, que lhe dá um beijo apaixonado.

Fury, de Fritz Lang, ou a transfiguração de pacíficos cidadãos ...
Uma cidade contra um homem…

Esse realmente é um filmaço de Lang. Embora haja um happy end, vemos aqui uma leitura altamente pessimista da alma humana tanto na situação coletiva quanto na individual, mostrando as diferentes manifestações da fúria em si. O pior do ser humano numa situação coletiva se manifesta nos pré-julgamentos e na propagação de falsas verdades, mostrando que o fenômeno nocivo das chamadas fake news é muito mais antigo do que parece. E aí, a turba, enfurecida, acaba se tornando uma massa humana de 100% de emoção e 0% de razão, agindo de forma muito selvagem e inconsequente. Tanto que, durante o julgamento, muitos moradores simplesmente caíam em desespero quando perceberam o barbarismo das ações das quais tomaram parte, como se a fúria coletiva despertasse os instintos mais selvagens do ser humano e ele regredisse a um estado mais ligado à natureza do que à cultura. Mas a fúria de um ser individual também é radiografada no filme. E aí, muitas palmas para esse grande ator que é Spencer Tracy, que tem uma característica toda especial: Tracy, juntamente com Tom Hanks, são os dois únicos atores de Hollywood a ganhar o Oscar de Melhor Ator por dois anos consecutivos. E sua atuação aqui confirma bem isso. No inicio do filme, vemos um Joe doce e amável. Mas o seu quase linchamento o torna uma pessoa rancorosa, cheia de ódio e sede por vingança, o que deixa surpresos seus irmãos e sua noiva. Será o acerto de contas com sua consciência (o momento de herança expressionista do filme) que fará com que Joe decida se revelar vivo perante o tribunal. Se Spencer Tracy deu um show nesse filme, não podemos nos esquecer da fofíssima Sylvia Sidney. Se ela parece frágil e doce, ela tem também muita fibra nos momentos certos, seja literalmente correndo de uma cidade para outra, seja depondo no julgamento de forma firme, seja sendo igualmente firme ao perceber o caminho de revanchismo que Joe tomava. Ou seja, é esse misto de doçura, fragilidade e firmeza que faz a interpretação de Sidney tão especial. Não é à toa que ela trabalhou em três filmes de Frtz Lang nos Estados Unidos.

Director B-Side: Fritz Lang and 'Fury' - mxdwn Movies
Katherine tenta demover Joe de toda a sua revolta…

Dessa forma, “Fúria” foi o grande cartão de visitas de Fritz Lang para o cinema americano. Sua visão realista e pessimista do comportamento humano, seja em nível coletivo, seja em nível individual, pode ser vista como um personagem à parte na película, que também mostra a herança de seus dias expressionistas na Alemanha, com direito ao claro/escuro e às alucinações. Um programa imperdível. Infelizmente, esse filme está disponível apenas no site cinemalivre.net, onde você precisa pagar uma pequena quantia para ter acesso a muitos filmes de diretores consagrados. Vale a pena dar uma conferida. E fique agora com o trailer abaixo.

Batata Movies – Metrópolis. Um Futuro Que Espelha O Presente.

Metropolis (1927 film) - Wikipedia
Cartaz do Filme…

Dentre as nossas análises de filmes da fase alemã de Fritz Lang, falemos hoje de “Metrópolis” (“Metropolis”, 1927), talvez o mais famoso filmes de Fritz Lang. Essa foi uma grande superprodução da UFA que, infelizmente, não teve o retorno esperado. O filme foi muito mutilado para a sua exibição nos Estados Unidos, em virtude de sua longa duração e de alguma censura, o que fez com que a versão completa se perdesse para sempre, ficando muito desconexa e de difícil compreensão. Mesmo assim, a grande plasticidade de suas imagens transformou “Metrópolis” numa lenda. Em 2008, foi divulgada ao mundo a descoberta de uma cópia praticamente completa em Buenos Aires e hoje podemos ver “Metrópolis” muito próximo do que foi sua exibição de estreia em Berlim, a 10 de janeiro de 1927. Para podermos falar desse filme, vamos liberar os spoilers de noventa e três anos.

Cinema e Arquitetura: “Metrópolis” | ArchDaily Brasil
Uma grande metrópole futurista…

O plot é o seguinte. No ano de 2026, há uma grande cidade futurista chamada Metrópolis, com uma população de sessenta milhões de habitantes. A enorme cidade é controlada por máquinas que ficam abaixo da terra, onde operários têm uma jornada desumana de trabalho de dez horas diárias. Eles vivem numa cidade operária abaixo das máquinas. Os filhos da elite de Metrópolis se divertem nos jardins eternos, por serem artificiais, e têm uma vida privilegiada, regada à muito prazer. Um deles é Freder (interpretado por Gustsv Fröhlich), filho do grande patrão da cidade, Joh Fredersen (interpretado por Alfred Abel). Um dia, enquanto Freder se diverte com uma das moças à disposição do varão, surge uma linnda moça humilde chamada Maria (interpretada por Brigitte Helm), com muitas crianças maltrapilhas, que são as filhas dos operários. Maria diz às crianças que aquela elite estarrecida são seus irmãos. Freder imediatamente se apaixona pela moça e vai atrás dela, mas descobre a realidade insana das máquinas e da exploração sobre os operários. Ele vai conversar sobre isso com seu pai, que não demonstra a menor compaixão. Com a ajuda de Josaphat (interpretado por Theodore Loos), Freder vai procurar Maria e seus irmãos, enquanto que o pai ordena ao sinistro mordomo (interpretado por Fritz Rasp) que vigie o filho. Há, também, um cientista, Rotwang (interpretado por Rudolf Klein-Rogge) que disputou, no passado, com Joh Fredersen o amor de uma mulher chamada Hel, e ele perdeu. Mas Hel morreu ao dar à luz Freder. Inconformado, Rotwang cria para ele uma mulher mecânica (também interpretada por Brigitte Helm), mas Fredersen pede que Rptwang dê ao robô a forma de Maria para manipular os operários. Esse plano se mostrará trágico, com conseqüências muito destrutivas.

Metrópolis (1927) - Cultura Projetada
Maria. Mais um vez, a questão dos duplos…

Esse filme, eivado de uma estética expressionista, é considerado por alguns especialistas do cinema alemão como já fora da fase expressionista. Lang se dizia realista ao invés de expressionista. Mas muitos elementos do expressionismo estão lá: o claro/escuro, a interpretação antinatural dos atores, a arquitetura muito ornamentada da grande metrópole, as sombras atuando como personagens, a indignação com a exploração capitalista. Freder é um personagem-chave aqui. Ele surge como o novo homem expressionista que vai ao contato de seus irmãos mais pobres para libertá-los da tirania. Entretanto, Freder será influenciado e guiado pela doce e angelical Maria, que, ao invés de propor uma ruptura entre capital e trabalho, propõe a (impossível) união pacífica entre esses dois pólos. A frase que manifesta essa união no filme é “Entre a mente que planeja e as mãos que constroem, tem que haver um mediador, e esse deve ser o coração”. Assim, Freder, eivado de uma conotação até messiânica, promove essa união entre capital e trabalho com um relutante aperto de mão entre Joh Fredersen e o capataz dos operários. O próprio Fritz Lang dizia que não gostava de “Matrópolis” por seu final “falso”. Muitos outros historiadores e estudiosos do cinema condenavam o filme, às vezes até com adjetivos depreciativos. Freder parece fazer uma jornada no filme. No início, ele busca um novo homem expressionista, com uma nova visão de mundo e ansioso pela justiça social. Mas, ao ser manipulado por Maria, ele chega ao novo homem nazista, onde os operários voltam a ter uma postura passiva frente ao patrão por inteira responsabilidade de seu filho e, muito mais de Maria, que acalmava as massas com a profecia da vinda do mediador. Thea von Harbou, que assina o roteiro, teria simpatia com os nazistas, e estes, sobretudo Goebbels, diriam que é necessário conquistar o coração do povo e mantê-lo. Assim, o filme se constitui de duas camadas: a Expressionista-Social e a da Nova Objetividade passiva e conformista que flerta com o nazismo, estilo artístico surgido posteriormente ao Expressionismo. Se Lang não atingiu sua maturidade política nesse filme, as condições turbulentas da República de Weimar não tardariam em acelerar esse processo de maturação e nosso diretor seria muito mais competente nas entrelinhas em “M, O Vampiro de Dusseldorf”, de 1931.

Metrópolis | O precursor do Sci-Fi completa 90 anos
Lang e alguns dos seus mais de trinta e sete mil figurantes…

Dessa forma, se “Metrópolis” imortalizou Lang pela grandeza da produção, por outro lado, esse é um filme de estética Expressionista que tem uma narrativa que se adéqua mais à Nova Objetividade. Um produto cultural nas fronteiras de duas tendências artísticas. Não deixe de ver o filme na íntegra legendado em português abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=Vnp_TAb52AI

Batata Movies – A Mulher Na Lua. Uma Ficção Científica Séria.

Woman in the Moon - Wikipedia
Cartaz do Filme

Dentre as nossas análises de filmes de Fritz Lang em sua fase alemã, vamos falar de “A Mulher Na Lua” (“Frau Im Mond”, 1929). Esse é um filmaço de Fritz Lang. Além da sua longa duração (cerca de duas horas e quarenta e nove minutos), “A Mulher Na Lua” é uma ficção científica surpreendente, pois foi um filme que buscou fazer uma ficção científica o mais coerente possível, mas também com alguns devaneios. Para se ter uma ideia, o filme teve consultoria científica e tocou, em paralelo, o desenvolvimento de um projeto onde um foguete de verdade (não tripulado, obviamente, e de dimensões bem mais reduzidas que os de hoje) seria lançado no dia de lançamento do filme. O filme teve como consultor científico o pioneiro da astronáutica Hermann Oberth, que tinha como ajudante um jovem de nome Werhner Von Braun, que mais tarde seria responsável pelo Saturno V, o foguete que realmente levaria o ser humano à Lua. Infelizmente, o foguete não foi lançado no dia da estreia do filme, mas “A Mulher Na Lua” estimularia muito a pesquisa e desenvolvimento de foguetes. Para podermos falar desse filme, vamos liberar os spoilers de noventa e um anos.

Blu-ray Review: Frau im Mond | The Least Picture Show
Um casal com um amor reprimido…

O plot é o seguinte. O cientista Wolf Helius (interpretado por Willy Fritsch) visita seu antigo professor, Georg Manfeldt (interpretado por Klaus Pohl), que vivia num humilde apartamento e na miséria depois de ter sido ridicularizado pela comunidade científica por defender que havia ouro na Lua e que uma viagem até nosso satélite natural seria possível. Ele desenvolveu toda uma teoria a respeito, que agora estava sendo cobiçada por uma grande instituição financeira. Essa teoria ficaria sob a guarda de Helius, que a colocaria em seu cofre em casa. Mas essa instituição financeira conseguiu roubar a teoria escrita pelo cientista e obrigou Helius a fazer a viagem conjuntamente com um de seus representantes, o sinistro Walter Turner (interpretado por Fritz Rasp). Também tomariam parte na viagem o professor Manfeldt e o casal de cientistas amigo de Helius, Hans Windegger (interpretado por Gustav von Wangenheim) e Friede Velten (interpretada por Gerda Maurus). Completa a tripulação o garoto “clandestino” Gustav (interpretado por Gustl Gstettsenbaur). Depois de uma grande cerimônia para o lançamento, o foguete parte para a Lua, soltando seus estágios e tudo, viajando por trinta e seis horas até pousar em nosso satélite artificial. Uma vez chegado lá, o professor Manfeldt sai do foguete primeiro, pisando na superfície lunar com um escafandro, mas descobre que há atmosfera no satélite. Ele anda até uma caverna e encontra ouro, mas cai num buraco e morre. Turner o segue e consegue encontrar outro pedaço de ouro, tentando voltar para a Terra sozinho no foguete, deixando os demais tripulantes na superfície. Mas seus planos são descobertos e, depois de uma luta corporal e uma troca de tiros. Turner morre. Entretanto, um dos tiros atingiu os cilindros de oxigênio do foguete, o que significava que um dos tripulantes teria que ficar na Lua. Helius e Windegger (que estava meio surtado da vida) tiraram a sorte no palitinho e Helius venceu. Gustav armou um acampamento para Windegger ficar. Mas Helius decidiu ficar no lugar do amigo e deu-lhe uma bebida com tranqüilizante para ele dormir. Helius deu as instruções para Gustav pilotar o foguete e desceu para a superfície da Lua. Depois que o foguete partiu para a Terra, Helius foi para o acampamento e encontrou Friede que, apesar de noiva de Windegger, sempre esteve apaixonada por Helius. Fim do filme.

Frau Im Mond [Woman in the Moon] | Eureka
Um filme que inspira o futuro…

O que podemos dizer de “A Mulher Na Lua”? Em primeiro lugar, a ficção científica impressiona, e muito. As cenas da Lua (que precisaram de quarenta caminhões de areia das praias do Mar Báltico para simularem o deserto lunar) lembram muito as imagens reais da superfície da Lua, à despeito da atmosfera, do ouro e das poças ferventes que vemos no filme. Mas muito mais impressionante e realístico foi o lançamento do foguete na Terra. O deslocamento do foguete do hangar para a plataforma de lançamento lembra demais os lançamentos reais, à despeito do foguete ser colocado numa piscina para aguentar o seu peso com o deslocamento da água. Chamou muito a atenção a contagem regressiva, a separação dos estágios durante o lançamento do foguete e os nossos astronautas tendo que suportar a pressão da força G e a necessidade do foguete atingir a velocidade de escape da gravidade da Terra, que realmente é de onze quilômetros por segundo. A situação de gravidade zero durante o voo também é lembrada, onde os personagens tinham que encaixar os pés em alças durante o voo. Gustav chega a “flutuar” num momento do filme. Nessas horas, a gente se pergunta: até onde “A Mulher Na Lua” influenciou nos lançamentos reais de foguetes? Devemos nos lembrar que esse é um filme de 1929, feito décadas antes dos lançamentos reais de foguetes, e vimos a contagem regressiva nele. Vendo esse filme, me lembro demais da discussão de como Jornada nas Estrelas influenciou o futuro antecipando, por exemplo, o uso de celulares e tablets. Parece que todo o cerimonial, estética e antevisão de um lançamento de foguete em estágios, sujeição do corpo humano à aceleração e à ausência de gravidade foram exibidos nesse filme, com os cientistas de décadas posteriores influenciados pelo que vimos na película de Lang lá do final dos anos vinte.

Frau im Mond | Electric Sheep – reviews
Uma paisagem lunar muito realista…

E a “Mulher Na Lua” em si? Apesar dela estar no título do filme, a sua posição na missão é altamente periférica. Parece que o empoderamento feminino aqui só chegava ao máximo a isso. O simples ato de Friede já estar numa missão perigosíssima, como o próprio Helius dizia (como ele era apaixonado por Friede, não queria de jeito nenhum que a mesma se submetesse a uma missão tão perigosa) parecia ser suficiente para um ato feminino pioneiro e de vanguarda. Um empoderamento feminino que se manifestava no vestuário. Se no início do filme, a moça, em seu noivado, vestia um delicado vestido branco, na missão, sua vestimenta era deveras masculinizada, com direito a uma gravata e a uma calça bem larga, que escondia suas formas femininas. Seria como se a moça, ao tomar para si uma tarefa atribuída aos varões, precisasse se vestir como tal. Pelo menos, ela filmou a superfície da Lua em toda a sua riqueza de detalhes (impossível não se lembrar de Leni Riefensthal), já que Friede era uma renomada cientista.

Pin on Film
A mulher que filma a Lua…

Dessa forma, se “A Mulher Na Lua” mostrou um empoderamento feminino com as limitações culturais da época, por outro lado, vimos uma ficção cientifica que, apesar dos devaneios como a presença de atmosfera na Lua, teve uma consultoria científica que alguns diriam que anteviu o futuro, e outros diriam que deu as bases para a construção do próprio futuro. Ver uma contagem regressiva de um lançamento de um foguete décadas antes do primeiro foguete ser realmente lançado é algo, no mínimo, perturbador. E veja o filme na íntegra abaixo, legendado em português.

https://www.youtube.com/watch?v=lZiU9Gc-kWk

Batata Movies – O Homem Que Quis Matar Hitler. Caçada Insana.

Man Hunt – Wikipédia, a enciclopédia livre
Cartaz do Filme

Voltando a falar um pouco da fase americana de Fritz Lang, temos “O Homem Que Quis Matar Hitler” (“Man Hunt”, 1941). Esse é um filme de suspense que aborda o infinito tema da Segunda Guerra Mundial no cinema. Para que possamos falar sobre o filme, vamos liberar os spoilers de setenta e nove anos.

O Desporto da Caça, com Hitler na Mira | À pala de Walsh
Capitão Thorndike. Atrás de uma grande caça…

O plot é o seguinte. O capitão inglês Thorndike (interpretado por Walter Pidgeon) tenta matar Hitler um pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, mas é capturado pelos nazistas. Ele vai ser interrogado por Quive-Smith (interpretado por George Sanders) e diz que não pretendia matar o Führer, somente simular a caçada perfeita. Quive-Smith não acredita muito nisso e liberta Thorndike caso ele assine um documento onde admite tentar matar Hitler a mando do governo inglês. Mas Thorndike se nega terminantemente a fazer isso. Os nazistas então o torturam e o jogam de uma ribanceira, simulando um suicídio. Mas Thorndike sobrevive e foge, sob o cerco cerrado dos nazistas, que descobrem que ele sobreviveu. A perseguição se estende até a Inglaterra, onde Thorndike conhece Jerry (interpretada por Joan Bennett), uma moça que se apaixona por ele, Mas Thorndike é perseguido por nazistas e ele precisa se separar da moça, que lamenta muito isso. Quando isso finalmente acontece, Jerry é capturada pelos nazistas é assassinada. Os nazistas finalmente cercam Thorndike, que consegue alvejar Quive-Smith com um presente que nosso protagonista tinha dado à moça (um adorno em formato de flecha), mas Quive-Smith também acerta Thorndike com um tiro. Este consegue sobreviver mais uma vez. O episódio termina com Thorndike descendo em território alemão em plena guerra, com um rifle, com o objetivo de matar Hitler novamente.

Man Hunt (1941) Fritz Lang | Journeys in Darkness and Light
Capturado, Thorndike tem Quive-Smith como antagonista…

Esse é um filme de muito suspense, com cenas de perseguição quase o tempo todo, mas também um filme que mostra o terno relacionamento entre Thorndike e Jerry. O mais curioso disso é que a personagem de Jerry seria originalmente uma prostituta, mas a glamourização de uma prostituta por parte do filme era considerado moralmente impossível. Assim, se colocou uma máquina de costura na casa de Jerry para ela ser tomada como costureira. Mesmo assim, Lang conseguiu colocar a cena do encontro final entre Jerry e Thorndike com a primeira fingindo ser uma prostituta para despistar o policial que estava na rua e não reconhecesse Thorndike, que era procurado. Outra curiosidade no filme foi testemunharmos a participação de um Roddy McDowall muito jovem, menino ainda, já destilando muito talento, e ajudando Thorndike a fugir da perseguição dos nazistas.

Man Hunt Blu-ray Review
Com Jerry, que vai se apaixonar loucamente por ele…

Dessa forma, “O Homem Que Quis Matar Hitler” é um filme de suspense que tem a perseguição como um personagem à parte, bons diálogos entre Throndike e Quive-Smith, uma história de amor um tanto terna entre Thorndike e Jerry (com uma Joan Bennett ainda com cara de menina, já que o filme é de 1941) e uma grata surpresa de um pré-adolescente Roddy McDowell, já mostrando um baita de talento desde muito cedo. O filme vale mais por suas curiosidades em si. E veja o filme na íntegra abaixo, legendado em português.

https://www.youtube.com/watch?v=4je_JZnBOiw&t=1s

Batata Movies – Casamento Proibido. O Crime Não Compensa, Na Ponta do Lápis.

You and Me (1938) - IMDb
Cartaz do Filme…

Um filmaço da fase americana de Fritz Lang. “Casamento Proibido” (“You and Me”, 1938) já seria um grande filme simplesmente pela presença da fofíssima Sylvia Sidney, mas a película tem outros atrativos sendo, sobretudo, um filme de forte conteúdo social. Para podermos falar sobre esse filme, os spoilers de oitenta e dois anos estão liberados.

You and Me (Fritz Lang, 1938) – Offscreen
Um casal buscando recomeçar…

O filme fala da trajetória de um casal, Helen (interpretada por Sidney) e Joe (interpretado por George Raft). Os dois são colegas que trabalham numa loja de departamentos. E têm algo em comum: os dois tiveram um passado de crimes, cumpriram pena na prisão e estão em liberdade condicional. Essa coincidência aconteceu, pois o patrão dos dois, o senhor Morris (interpretado por Harry Carey) acredita que quem passou pela cadeia fica marcado pela sociedade e ninguém quer dar uma segunda chance, ou seja, um novo emprego. Morris decidiu então empregar em sua loja de departamentos somente pessoas que estejam em liberdade condicional para dar essa segunda chance, para desespero de sua esposa, que pensa como a maioria da sociedade e vê os ex-presidiários com suspeita. Joe teve um passado de crimes violento e decidiu sair do emprego e da cidade para se afastar de seus antigos companheiros de crime, que constantemente o chamavam para voltar às antigas atividades ilícitas. Mas ele desiste de ir embora depois que Helen disse que o amava. Os dois se casam imediatamente, embora não o pudessem fazer, já que estão na condicional. Ainda, Joe não sabe do passado de crimes de Helen, que esconde isso dele de todo o jeito. Joe começa a desconfiar de Helen, inicialmente achando que ela tem outro, mas depois sabendo de seus amigos de crime que ela tinha também um passado negro. Irritado com as dissimulações de Helen, ele decide voltar para seus colegas de crime e assaltar a própria loja do Sr. Morris, em que trabalhava. Mas Helen, que já estava grávida de Joe, diz tudo ao Sr. Morris, que espera os bandidos com um monte de seguranças e a própria Helen na loja. O Sr. Morris dá um esporro federal nos ladrões, que são todos os seus empregados, e deixa Helen sozinha com eles, à pedido da própria moça. Aí, ela começa uma explicação aos bandidos de que o crime não compensa, sob risadas gerais e começa a fazer num quadro negro todo um conjunto de contas, ao bom estilo de “colocar tudo na ponta do lápis”, para ver se o que cada bandido que participaria do assalto ganharia, pois somente um percentual do roubo iria para a quadrilha, isso sem falar em gastos com um carro para a fuga, caminhões para transporte do roubo, suborno dos seguranças, etc. etc. Ao fim, a quantia que cada um teria seria irrisória, isso sem falar que eles voltariam a ser procurados pela polícia. Todo mundo ficou com uma tremenda cara de tacho, e Joe, muito enfurecido, gritava com ela, que foi embora. Os próprios ladrões disseram que “todo homem tem o direito de gritar com uma mulher (ê 1938!), mas não na frente dos outros”. Joe grita com eles também e sai à toda revoltado. Com a cabeça mais fria, ele pega um perfume na loja, paga na caixa registradora e o leva. Mas quando chega ao apartamento que dividia com Helen, esta já foi embora e lhe deixou uma carta de despedida. Desesperado, vai ao agente da condicional e ainda descobre que ela está grávida. Sem saber o que fazer, vai aos seus amigos de bandidagem que procuram Helen pela cidade toda, até a descobrirem num Hospital, onde dava à luz. O filme termina com um happy end clássico, onde o casal se reencontra, com um monte de bandidos o cortejando.

You and Me (Fritz Lang, 1938) – Offscreen
Voltando à vida de crimes…

O grande barato de “Casamento Proibido” é a questão social que Lang levanta, vista também em “Vive-se Só Uma Vez”: como recolocar na sociedade aqueles que já cumpriram suas penas e estão em liberdade condicional? O trailer do filme enfoca demais essa questão e Lang criou um casal bem simpático para o grande público ter empatia com quem vive nessa condição. Mas Joe era um homem de passado violento, algo difícil de se desvencilhar. Assim, ele era muito duro contra mentiras e omissões, agindo de forma exagerada contra uma doce Helen, tornando Joe um verdadeiro trouxa, com a ajuda do machismo latente da época. Mas se Helen era doce e frágil, também vimos o seu momento de empoderamento, ao denunciar o assalto ao Sr. Morris e depois ainda explicar aos seus colegas (a maioria trabalhava na loja) por que não compensava trocarem seus empregos por um assalto, provando tudo por a mais b. Essas atitudes de Helen fazem a gente amar Sylvia Sidney com todas as nossas forças nesse filme. E a coisa vai soando cada vez mais simpática, pois, mais ao final da película, os próprios colegas de crime de Joe se transformam numa espécie de alivio cômico na ajuda em fazer o casal ficar junto novamente, o que deu a condição de que o filme tivesse um happy end que não fosse fora de contexto. Assim, Lang consegue fazer um filme que trabalha uma temática social de uma forma leve e suave, não muito tensa.

Le Testament du Dr. Mabuse - version française - (1933) de Fritz ...
Mostrando, na ponta do lápis, que o crime não compensa…

Dessa forma, “Casamento Proibido” é um dos filmes mais simpáticos de Lang, pois usa o trunfo de Sylvia Sidney, trabalha uma temática social altamente pertinente e adéqua um happy end a uma situação de humor mais ao final do filme. Veja o filme neste link, acionando as legendas, ou em inglês, ou num português sofrível: https://www.youtube.com/watch?v=bVrv-bQoWEc&t=109s