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Batata Movies (Especial Oscar 2017)- Jackie. Funeral, Pompa E Poder.

Cartaz do Filme

E chegou o tão esperado “Jackie”, mais um dos filmes que concorrem ao Oscar esse ano. Dirigido pelo chileno Pablo Larraín, o mesmo que produziu o bom filme “No”, a película “Jackie” está indicada a três estatuetas: melhor atriz, para Natalie Portman; melhor figurino; e melhor trilha sonora. Esse é um filme que vai se centrar na trajetória da primeira-dama Jaqueline Kennedy (interpretada por Natalie Portman) nos dias do assassinato de seu marido, o presidente John Kenedy. E de como ela vai lidar com o violento trauma, perder seu status de primeira-dama e, ainda por cima, preparar todos os detalhes do funeral e resguardar a integridade de seus filhos, num momento em que todo o país está profundamente abalado.

Uma mulher que experimentará uma violenta turbulência

A história terá como fio condutor principal uma entrevista que “Jackie” (como ela era chamada) dá para um repórter em sua casa, depois de passado todo o episódio do atentado. O clima da entrevista não é exatamente algo muito amistoso, pois Jackie está enfurecida com o que alguns jornalistas escreveram sobre seu marido. Então ela assume uma postura muito firme perante seu entrevistador, partindo para o ataque em qualquer deslize ou frase infeliz que o jornalista diga.

Com o sangue do marido no vestido

Ainda, ela deixou claro que editaria toda a entrevista da forma que quisesse antes que chegasse aos jornais. A partir desse fio condutor, nos remetemos a tudo o que aconteceu com ela, não seguindo propriamente uma ordem cronológica, com várias idas e vindas, por exemplo, de um filme que ela fez na Casa Branca, onde falava das alterações que fazia no espaço para tornar a residência oficial cultural e historicamente mais detalhada, onde houve todo um cuidado especial no quarto de Abraham Lincoln.

Preocupada com a integridade dos filhos

O assassinato do presidente também foi meio que distribuído ao longo do filme, mais exatamente em dois momentos. Agora, o que mais tomou tempo na película foi o preparativo do funeral, onde Jackie entrou em atritos com muitas pessoas, desde Robert Kennedy (interpretado magistralmente por Peter Sarsgaard) até os assessores de Lyndon Johnson, onde ela batia o pé em alguns momentos, desafiando todas as normas de segurança para dar um enterro digno ao marido.

Grande interpretação de Peter Sarsgaard

A velocidade dos acontecimentos e todo o trauma provocado pela morte de Kennedy também fizeram com que ela trocasse rapidamente de opinião, levando todos à loucura. Um momento muito bonito do filme foi quando Jackie conversava com um padre no cemitério de Arlington sobre as questões envolvendo a fé e a desesperança. Esse momento do filme ficou muito bom em virtude do padre ter sido interpretado pelo inesquecível John Hurt, que nos deixou recentemente e deu a nós esse pequeno presente antes de partir.

Posse de Lyndon Johnson no filme…

Na interpretação dos atores, três merecem destaque. Em primeiro lugar, obviamente Natalie Portman. Ainda não tive a oportunidade de ver as outras indicadas a melhor atriz. Mas podemos dizer aqui que Portman fez um bom trabalho de caracterização. Seu rosto estava envelhecido e muito magro, o que mostrou que a atriz se preocupou em passar uma imagem diferente daquela que ela tem de garotinha. A sua atuação transitava entre uma mulher aparentemente fútil, passando pela postura firme de uma primeira-dama, chegando até a uma mulher atormentada por todo o ocorrido.

.. e na vida real. Preocupação da película com os detalhes

Assim, havia violentas oscilações de emoção na sua interpretação e não deve ter sido fácil lidar com tudo aquilo. E ela ainda tinha que se preocupar com a parte icônica de sua personagem, fazendo caras e bocas que nos lembrassem de Jackie. Então podemos dizer que foi um trabalho realmente bom. Agora, se digno de Oscar, somente vendo as outras indicadas. Um ator que merecia pelo menos a indicação de coadjuvante é Peter Sarsgaard. O homem foi muito bem como Robert Kennedy, com uma atuação muito contida e enfrentando com muita dignidade todas as explosões emocionais de Jackie. Houve um momento no filme em que ele teve uma pequena explosão emocional, para logo depois voltar para sua serenidade perante toda a tragédia novamente. Depois de Portman, Sarsgaard foi o que mais chamou a atenção. Não podemos nos esquecer de falar também do ator John Carroll Lynch, que interpretou Lyndon Johnson e, apesar de aparecer muito pouco, chamou demais a atenção por seu semblante fechadíssimo, beirando até o soturno, e com um olhar muito penetrante, principalmente num momento em que ele entra em atrito com Jackie.

Excelente caracterização

Assim, “Jackie” é mais um daqueles filmes imperdíveis que estão na lista do Oscar, que mostram todo o comportamento da primeira-dama perante a morte traumática do marido, tendo violentas oscilações. Esse foi um filme também muito pautado nas interpretações dos atores e numa boa montagem, já que a ordem cronológica não foi respeitada. Vale a pena a experiência.

https://youtu.be/vYAfwkwNpwI

Batata Movies (Especial Oscar 2017) – À Qualquer Custo. Texas Way Of Life!

Cartaz do Filme

Dando sequência aos filmes indicados ao Oscar aqui na Batata Espacial, vamos falar de “À Qualquer Custo” (“Hell or High Water”). Essa película concorre a quatro estatuetas: melhor filme; ator coadjuvante para Jeff Bridges; roteiro original; e montagem. Esse é um daqueles filmes que despertou muita simpatia da plateia e que vai ter uma boa torcida na noite da premiação. Se nós podemos classificar essa película mais como um drama, existem elementos de outros gêneros que deram todo um sabor especial que tornou o filme muito gostoso de se ver.

Dois irmãos buscando salvar seu rancho

No que consiste a história? Vemos aqui dois irmãos, Toby (interpretado pelo “Capitão Kirk” Chris Pine) e Tanner (interpretado por Ben Foster, que teve uma pequena participação em “Inferno” no ano passado), que praticavam pequenos assaltos a banco em cidadezinhas do interior do oeste do Texas. O alvo deles era quase sempre o Texas Midland Bank, que estava prestes a tomar o rancho da família, depois que a mãe fez uma hipoteca. As condições injustas de quitar o empréstimo fizeram com que os dois irmãos praticassem esses pequenos assaltos, geralmente pela manhã, o que era uma garantia de que ninguém ia sair machucado, até que eles levantassem o dinheiro para pagar o empréstimo. Enquanto que Toby não tinha qualquer experiência com armas ou com o crime, seu irmão já tinha estado preso e tinha um passado bem mais violento. Eles passaram a ser perseguidos por um policial texano casca grossíssima, Marcus Hamilton (magistralmente interpretado por Jeff Bridges) e seu parceiro Alberto (interpretado por Gil Birmingham), de origem indígena. A partir daí, o filme vira um jogo de gato e rato permeado pelo estilo texano de vida e piadas politicamente muito incorretas.

Dois policiais tipicamente texanos

Dizemos acima que o filme tem tons de drama, pois vemos os irmãos praticando assaltos para não perder o rancho e Toby dar algo de herança para os filhos. Mas outros gêneros aparecem aqui. É óbvio que um filme com cenas de assalto e de violência pode ser classificado também como um filme de ação, além de um “road movie”, com cenas de viagem de carro pela estrada em vários trechos da película. Agora, o filme também se torna uma inteligente comédia. E por que isso? O grande problema de se fazer comédia hoje em dia é o limite do que é ou não politicamente correto. Para se resolver esse problema e usar o politicamente incorreto impunemente, o filme foi ambientado no estado talvez mais radical dos Estados Unidos em suas formas de pensamento, que é o Texas. Assim, as piadas de cunho racista eram livremente usadas sem qualquer dó, já que o filme retratava uma sociedade extremamente preconceituosa, belicista e racista como a texana (ou, pelo menos, essa era a ideia que o filme queria passar, se por um acaso um texano que saiba português ler essas linhas). E o personagem de Jeff Bridges era o ícone desse politicamente incorreto, provocando sempre seu parceiro de origem indígena com as piadas mais preconceituosas possíveis. O homem estava tão afiado que nem os evangélicos escaparam, e os momentos em que Bridges aparecia no filme eram muito engraçados, sendo que sua indicação a ator coadjuvante é altamente merecida e talvez uma das favoritas (a gente só pode ter uma percepção melhor depois de ver todos os trabalhos dos demais indicados). O estilo de vida texano pareceu também um personagem à parte e o víamos não somente materializado no personagem de Bridges, mas também em outros personagens menores da película, como a velhinha que “escolhia” de forma extremamente rude a comida dos clientes do restaurantezinho da cidadezinha de interior, provocando estranheza até nos tarimbados policiais do filme, ou o fato de vários habitantes de uma cidade um pouco maior estarem armados e reagirem ao assalto que os dois irmãos praticavam num banco. Dá para perceber que o filme conseguiu provocar boas risadas com o politicamente incorreto, mas também com uma certa dose de humor negro. Já Chris Pine e Ben Foster estiveram relativamente bem como os dois irmãos que, volta e meia não se entendiam, em virtude da porralouquice do mais violento perante o irmão mais “certinho”, o que também despertou algumas risadas.

Na première

Assim, “À Qualquer Custo” é mais um bom filme que concorre ao Oscar e que está em nossas telonas. Um filme que vale a pena por Jeff Bridges. Um filme que inteligentemente driblou o patrulhamento do politicamente correto. Um bom filme de ação com elementos de “road movie”. Vale a pena dar uma conferida.

https://youtu.be/bFNcVACX7kM

 

Batata Movies (Especial Oscar 2017) – Estrelas Além do Tempo. Tecnologias E Ignorâncias.

Cartaz do Filme

Mais um candidato ao Oscar estreou em nossas telonas, concorrendo a três estatuetas: melhor filme; melhor atriz coadjuvante, para Octavia Spencer; e melhor roteiro adaptado. “Estrelas Além do Tempo” (“Hidden Figures”) é mais um daqueles filmes baseados numa história real. E que história! Vamos ver aqui como mulheres negras (ou afro-americanas) ajudaram a NASA e o programa espacial americano, em plena década de 60, nos momentos mais críticos da Guerra Fria e no auge das lutas pelos direitos civis, quando os negros americanos sofriam todo o tipo possível e imaginável de discriminação.

Três amigas em busca de afirmação

A história vai focar em Katherine Johnson (interpretada por Taraji Henson), uma menina prodígio em matemática que, na idade adulta fazia parte da equipe de “computadores” da NASA, um grupo de mulheres negras que realizava cálculos matemáticos para as primeiras missões espaciais, numa época em que os computadores tal como conhecemos hoje ainda engatinhavam. Katherine tinha duas amigas: Dorothy Vaughan (interpretada por Octavia Spencer), a supervisora da equipe, embora não tivesse esse cargo registrado oficialmente por ser negra; e Mary Jackson (interpretada por Janelle Monáe), formada em física e matemática, e que queria trabalhar na equipe de engenheiros da NASA. Um belo dia, a equipe que estava diretamente envolvida na missão, liderada por Al Harrison (interpretado por um Kevin Costner em grande forma), precisou de um “computador” para conferir os cálculos, ao que Katherine foi chamada e, de repente, ela se viu no meio de uma equipe de homens brancos que a discriminavam racialmente e por gênero também.

Um chefe sisudão

Nem é preciso dizer que Katherine teve que travar uma luta sem igual para se afirmar naquela equipe e, ainda mais, satisfazer seu sisudo e exigente chefe. Mas essa não foi uma luta só de Katherine. Dorothy também buscava seu cargo de supervisora com afinco, assim como Mary teve que pagar um dobrado para alcançar o posto de engenheira.

O astronauta John Glenn encontra sua equipe

Esse foi um filme que provou cabalmente como o racismo, em toda a sua ignorância, afetou diretamente o andamento do projeto espacial americano e ajudou os Estados Unidos a comerem poeira da União Soviética nos primeiros anos da corrida espacial. A mentalidade escravocrata em pleno seio da NASA era algo destoante com qualquer atividade de ordem lógica, principalmente no meio científico, onde pessoas altamente qualificadas não eram aproveitadas em virtude da diferença da cor da pele. Katherine, por exemplo, era obrigada a se ausentar todos os dias do prédio onde trabalhava, pois lá não havia banheiro para mulheres negras, e ela tinha que se deslocar para outro prédio a muitos metros de distância, o que atrasava o desenvolvimento de seus cálculos.

As verdadeiras estrelas e suas atrizes

As atrizes estiveram muito bem. Taraji Henson conseguia ser firme e delicada nos momentos certos. Saber conciliar comportamentos tão díspares na atuação tornou sua personagem altamente cativante. Já Janelle Monáe pegou a personagem de temperamento mais forte e descolado, o que não a obrigou a fazer grandes voos na sua atuação. Octavia Spencer (sempre ela!) com sua fofura angelical, merece a indicação para atriz coadjuvante, sendo uma verdadeira voz da razão no trio, não sem se indignar em situações onde era discriminada. Kevin Costner, por sua vez, apareceu muito bem com um personagem altamente carismático e muito presente no filme, sendo essa película a que maior deu destaque a ele desde que passamos a revê-lo em filmes mais recentes. O filme ainda teve uma participação de Kirsten Dunst, que chamou a atenção. A doce Mary Jane do Homem-Aranha de Tobey Maguire se transfigurou numa branca-azeda racista que transpirava ódio com o sucesso de nossas protagonistas. E despertava muita antipatia na gente. Prova de que ela fez um bom trabalho.

Na Première

Assim, “Estrelas Além do Tempo” é um daqueles filmes imperdíveis dessa temporada ao Oscar. Creio que ele merecia mais indicações (atriz para Taraji Henson, ator coadjuvante para Costner e efeitos visuais, pois as cenas dos lançamentos dos foguetes estavam muito boas). De qualquer forma, vai concorrer na noite da premiação. Não deixe de ver essa película, pois vale muito a pena.

Batata Literária – A Balada da Pequena Notável (à Carmen Miranda)

Ela veio de Portugal pequenininha
para no Rio de Janeiro levar uma vida simplezinha.
Mas na adolescência houve um despertar
que foi o seu enorme desejo por cantar.
Participou de concursos de música
e os ganhou, de forma única.
Até que foi parar nos rádios e gravadoras,
marchinhas de carnaval, cantando-as todas.
Logo, tornou-se uma cantora muito famosa.
No Cassino da Urca, um americano apresentou-se de forma melindrosa.
Ele queria levá-la para a Broadway, nos “States”.
Ela aceitou só se seus músicos fossem junto com seus enfeites.
Fez muito sucesso na América e ajudou a consolidar uma aliança
entre o Brasil e os Estados Unidos na política da boa vizinhança.
Assim, uma artista de cinema ela se tornou
e a divulgar a imagem do Brasil auxiliou.
Mas, quando a paz desperta,
esqueceram dela de forma aberta.
Casou-se com um empresário sem perceber
que muitos shows teria que fazer.
Para aguentar o ritmo, teria que se medicar
com estimulantes que a sua saúde iriam prejudicar.
A vida de muito trabalho e a violência do marido
renderam uma crise de pânico e a volta ao solo querido.
Entretanto, ela estava desolada com a imprensa pátria
e volta para a América e a sua vida pária.
Após um show na televisão
um ataque cardíaco acabou com a sua vida e imolação.
Seu corpo foi chorado por seus patrícios
que não sabiam de seus suplícios.
Hoje ela é lembrada como uma figura sem igual,
verdadeira lenda da mitologia nacional.

Batata Movies – Paraíso. Russos Que Protegem Judeus.

Cartaz do Filme

Uma coprodução Rússia-Alemanha chega às nossas telonas. “Paraíso”, vencedor do Leão de Prata para diretor em Veneza para Andrei Konchalovsky, vai abordar a questão da proteção dada pelos russos aos judeus na França ocupada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. É um filme que vai falar sobre esse tema a partir de três pontos de vista diferentes que interagem ao longo da película.

Uma princesa prisioneira

Vemos aqui a história de três personagens: um oficial da polícia francesa que caça judeus a mando da Gestapo, uma princesa russa emigrada que acobertava judeus e, por isso, vai parar num campo de concentração, e um oficial da SS proveniente da aristocracia alemã. Cada um desses personagens dá o seu depoimento como se estivesse sendo interrogado e esses depoimentos são ilustrados com cenas de flash-back. Esses personagens também interagem. A princesa russa, por exemplo, é interrogada pelo oficial de polícia e, mais tarde, tem um envolvimento amoroso com o oficial da SS que, antes da guerra, já havia flertado com a moça numa reunião da alta aristocracia. Todos esses três depoimentos rodeavam em torno da questão da proteção que os russos emigrados deram aos judeus para que eles não fossem capturados pelos nazistas e caíssem em campos de concentração.

Negociando sexo com policial francês para escapar da tortura

Dentre esses três personagens, sem dúvida a princesa russa foi a mais interessante, pois além de ser interrogada, foi prisioneira do campo, interagindo com outras prisioneiras e, ainda por cima, tornando-se amante e faxineira do oficial nazista. Isso a tornou multifacetada, sendo que ela assumia vários atores sociais ao longo do filme. O policial francês teve uma participação muito pequena e o oficial da SS só não foi pouco interessante, pois percebeu como o nazismo foi uma ruína, embora ainda não desse o braço a torcer no estranho interrogatório a que esses três personagens eram submetidos.

Revendo passado idílico com oficial nazista

Esse filme, que foi rodado em preto e branco, e que ficou com uma tremenda cara de documentário antigo, sobretudo nos interrogatórios, ajudou a expor algumas facetas da guerra não muito exploradas como, por exemplo, como era o cotidiano nos dormitórios dos campos de concentração. Não havia a menor solidariedade entre as prisioneiras do campo. Quando uma delas caía morta, havia uma batalha pelos seus pertences. Uma das prisioneiras era escolhida como capataz das demais presas pelos nazistas, o que despertava uma situação de ódio e antipatia generalizada. A corrupção entre os nazistas, com roubos sistemáticos de objetos de valor dos judeus, ao invés de ficarem de posse do Estado, e desvios até de comida para os presos foram citados ao longo do filme. Nosso oficial da SS, que investigava todos esses casos, relatava tudo a Himmler, que mandava executar os oficiais corruptos. Mas, ao final da guerra, isso não mais acontecia e esses oficiais saíam impunes, numa prova de que todo o regime já implodia. Foi muito interessante notar esse aspecto pouco explorado da guerra no cinema, cuja Segunda Guerra Mundial tem uma filmografia vastíssima.

O diretor Andrei Konchalovsky (direita, de óculos), junto com o diretor mexicano Amat Escalante. Premiados em Veneza

Assim, “Paraíso” é mais um filme que fala da Segunda Guerra Mundial, embora faça isso de uma forma diferenciada, ou seja, usando o depoimento e as visões de mundo de três personagens que interagem entre si como base, além de mostrar aspectos pouco conhecidos do ambiente de campos de concentração como a interação tensa entre os próprios prisioneiros do campo e a corrupção dos oficiais nazistas alemães no desvio de bens confiscados dos judeus e até dos alimentos dos prisioneiros. Quem interrogava os personagens??? Vá e veja!!! Não deixem de dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2017) – Moana, Um Mar De Aventuras. Uma Princesa Destemida.

Cartaz do Filme

E a Disney apresenta mais uma de suas boas animações. “Moana, Um Mar de Aventuras”, e concorre ao Oscar de Melhor Animação e repete a fórmula das últimas animações de apresentar culturas de povos muitos diferentes dos WASPs, sendo esse um bom serviço feito na direção da tolerância e do respeito às diferenças, cada vez mais em falta no mundo, e que devem ser ensinados desde sempre às crianças.

Desde pequena, Moana se interessava pelas histórias da avó

A história se passa na Polinésia e é baseada na cosmogonia de tribos locais. A deusa Te Whiti, que é visualizada pelos nativos como as encostas de sua ilha, teve o seu coração roubado por Maui, uma espécie de semideus. Mas, ao lutar contra um monstro que expelia lava (alegoria dos vulcões da região), ele perdeu o coração e um anzol mágico que o fazia se transformar. Isso deixaria o povo da Polinésia à mercê das forças do mal. Essa história era contada por uma anciã às crianças de sua tribo que choravam muito quando escutavam isso, exceto uma: Moana, que era a filha do líder da tribo e herdeira de seu poder. O sonho de Moana era pegar um barco e desbravar o oceano, para o desespero do pai, que queria manter toda a sua tribo segura na ilha. Mas os pescadores percebiam que os peixes diminuíam cada vez mais, indício da maldição que pairava sobre a ilha. Incentivada pela avó e a contragosto do pai, Moana parte para o Oceano, de posse do coração de Te Whiti, que fora achado pela anciã, para procurar por Maui, que precisa entregar o coração para a deusa e restabelecer o bem.

Quando cresceu, se tornou uma princesa destemida

A animação é muito legal em vários sentidos. O principal deles é o de deixar as crianças ocidentais a par da cultura local dos povos da Polinésia, algo muito importante para ensinar as crianças o respeito pelas diferenças. Aliás, devemos mencionar que esse filme foi até um pouco além nesse quesito, pois dentre os vários números musicais presentes na animação, pudemos presenciar alguns em língua nativa local e sem legendas, algo que não se vê todo dia nas animações da Disney. Ainda, devemos chamar a atenção que os povos da Polinésia têm uma cultura que relativamente se assemelha em alguns momentos à cultura indígena brasileira, principalmente quando vemos toda uma visão de mundo onde as forças da natureza têm um papel fundamental. Essa interação do ser humano com o meio ambiente, expressa de forma profunda em culturas consideradas “primitivas” pelo homem branco ocidental “civilizado”, é uma tremenda lição para as futuras gerações, já que nosso planeta se vê cada vez mais ameaçado pelos violentos golpes que o ser humano desfere contra a natureza, que também reage a altura. Devemos sempre nos lembrar que precisamos do planeta e sua natureza para viver, mas o planeta e a natureza não precisam da gente para continuarem a existir. E a animação mostra como a interação harmoniosa do ser humano com o meio ambiente pode ser algo totalmente possível, expresso metaforicamente na relação de Moana com o oceano.

Com Maui, ela irá salvar sua tribo do desastre certo

Os roteiristas da animação também foram muito felizes em explorar uma característica dos povos da Polinésia que inicialmente poderia causar uma certa estranheza, que é a prática de cobrir os corpos inteiros com tatuagens. Se aqui no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, a tatuagem é até uma coisa corriqueira, nem sempre isso é verdade em outros recantos considerados “brancos e civilizados” do mundo. Optou-se por fazer as tatuagens de Maui vivas, o que levou a vários momentos engraçados na animação. O bom relacionamento entre Maui e Moana também chamou a atenção, pois não houve qualquer insinuação de caso amoroso entre os dois em qualquer momento, numa situação relativamente espinhosa para uma animação infantil (uma adolescente e um homem adulto presos num barco em pleno oceano). Percebeu-se como houve um cuidado em mostrar que a relação entre os dois chegava, no máximo, a uma ideia de afeto platônico. Ou seja, por mais que a Disney esteja trabalhando temas de outras culturas no filme, o moralismo WASP não foi de todo esquecido e se infiltrou na cultura polinésica local.

Mas nem sempre os dois se entendem…

Assim, “Moana, Um Mar de Aventuras”, é mais uma boa animação que a Disney coloca nas telonas. Mais uma animação que busca mostrar uma cultura local, com o objetivo de familiarizar o branco, anglo-saxão e protestante com o outro. E uma animação que busca exibir que uma interação harmoniosa do ser humano com o meio ambiente é possível, sendo que isso é ensinado por uma cultura considerada “primitiva” aos olhos de brancos com doses intoleráveis de etnocentrismo. Programa imperdível para crianças e adultos.

https://youtu.be/yvaCwzVOjlA