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Batata Movies – La La Land: Cantando Estações. Os Musicais Agradecem.

Cartaz do Filme

E já estreou em nossas telonas o grande vencedor do Globo de Ouro este ano. “La La Land: Cantando Estações”, escrito e dirigido por Damien Chazelle (o mesmo que escreveu e dirigiu o fantástico “Whiplash”) ganhou sete prêmios: melhor filme (musical ou comédia); melhor ator (musical ou comédia), para Ryan Gosling; melhor atriz (musical ou comédia), para Emma Stone; melhor diretor para Damien Chazelle; melhor roteiro, também para Damien Chazelle; melhor canção; e melhor trilha sonora. “La La Land: Cantando Estações” ganhou todas as sete categorias que disputou no Globo de Ouro e deve vir forte no Oscar. Mas, o que esse filme tem de tão bom? Em primeiro lugar, trata-se de um musical, um gênero que raramente dá as suas caras no cinema hoje em dia. Só isso já faz aumentar a atenção e interesse pelo filme. E, como foi feito esse musical? Pudemos presenciar aqui uma grande homenagem aos antigos musicais da RKO e da Metro, com toda uma estética altamente retrô e que homenageava os grandes filmes da Hollywood de outrora. Isso foi um deleite para qualquer cinéfilo de plantão, constituindo-se numa espécie de um rosário formado por “Easter Eggs”. Para todos os lados, havia sempre um cartaz de filme antigo ou fotos de divas da Hollywood antiga. Mas esse ambiente saudosista era mesclado com nossos dias atuais, o que deu um efeito interessante.

Mia e Sebastian. Um casal muito dançante

Assim, podíamos ver um número musical com tremenda cara de “Cantando na Chuva” sendo interrompido por um toque de celular, por exemplo. Ou carrões antigos andando na rua junto com os carros de hoje em dia, promovendo uma verdadeira mesclagem entre tradição e modernidade. Tal mistura também é vista na narrativa do filme. Sabemos que os antigos musicais surgiram mais como uma espécie de distração para o grande público se esquecer das mazelas da crise econômica iniciada em 1929. O que mais importava nesses filmes eram os imponentes números musicais. As histórias desses filmes eram muito simplórias e até bem bobinhas, apenas um pretexto para podermos presenciar figuras eternamente amadas como Fred Astaire, Gene Kelly, Frank Sinatra, Cyd Charisse, Donald O’Connor, Ginger Rogers ou Debbie Reynolds cantarolando e dançando. Em “La La Land”, a película começou com a mesma cara desses musicais antigos: uma moça, Mia (interpretada por Stone), tentando a carreira de atriz em Los Angeles, e um rapaz, Sebastian (interpretado por Gosling), amante do jazz e que quer abrir sua casa de shows para apenas tocar jazz antigo e tradicional, para não deixar essa arte morrer. Os dois se conhecem num desentendimento e gradativamente se apaixonam. E os muitos números musicais ocorrendo enquanto o casal se tornava mais íntimo. Mas, a partir da segunda metade do filme, houve um foco maior na história dos dois, e curiosamente, os números musicais desapareceram, dando origem a um drama convencional, mais antenado com o cinema dos dias atuais. Ou seja, o toque de magia e fantasia dos musicais desaparece numa certa parte do filme, e o choque de realidade nos atinge em cheio, para uma volta maior do lúdico mais ao final da película. Alguns podem achar isso uma descontinuidade no roteiro do filme. Mas eu prefiro acreditar que tivemos um roteiro excepcional aqui, mostrando que o debate entre a tradição e a modernidade não se dava apenas no campo estético, mas também no campo narrativo.

Lindos números musicais

E os atores que fizeram os protagonistas? Ryan Gosling deve estar elevando as mãos aos céus até agora. Depois de aparecer bem em alguns filmes, o ator decidiu dirigir um filme e a crítica foi impiedosa com ele, colocando-o em baixa. Podemos dizer que “La La Land” o ajudou a dar uma monumental volta por cima. Entretanto, mesmo ganhando o prêmio de melhor ator no Globo de Ouro, sua boa presença era meio que ofuscada por Emma Stone, essa sim muito bem no filme. Ela cantava bem mais que Gosling, por exemplo. E foi bem melhor na parte mais dramática da película, quando os números musicais desapareceram. Gosling, por sua vez, ficou mais com aquela cara meio abatida de quem parece que acabou de tomar um fora. Mais melancolia e menos expressividade. Já Stone parecia estar com os nervos à flor da pele nos momentos dramáticos mais intensos. Agora, vamos combinar: no número de sapateado, os dois eram bem ruinzinhos. Deu para sentir que fizeram uma coreografia bem simplória para os dois não se enrolarem muito. De qualquer forma, valeu pelo esforço. E não dá para se exigir dos dois um padrão Fred & Ginger.

Ryan Gosling e Emma Stone colhendo os louros da vitória no Globo de Ouro

Assim, se você é fã da Hollywood antiga, mais precisamente da fase dos grandes musicais, “La La Land: Cantando Estações” é simplesmente um programa imperdível e o filme pelo qual você irá torcer no Oscar esse ano. Alguns números musicais são claras homenagens a números que já foram vistos em filmes como “Cantando na Chuva” ou “Sinfonia de Paris”, levando os mais sensíveis às lágrimas (como foi meu caso). Mas também é um filme que faz um divertido jogo entre tradição e modernidade, seja do ponto de vista estético, seja do ponto de vista narrativo. É um filme para se ver, ter e guardar.

https://youtu.be/uGOaZezEi4Q

Batata Movies – O Apartamento. Teatro E Trauma.

Cartaz do Filme

O cineasta iraniano Asghar Farhadi, que ganhou o Oscar de Melhor Filme estrangeiro com o ótimo “A Separação”, está de volta. Ele dirige e assina o roteiro do não menos ótimo “O Apartamento”, um filme que mexe com o público até o íntimo de sua alma. Um daqueles filmes do que o cinema iraniano tem de melhor, e que é muito mal compreendido por algumas pessoas que estão por aí. Ah, e antes que eu me esqueça, “O Apartamento” ganhou os seguintes prêmios: melhor ator, para Shahab Hosseini e melhor roteiro, para Asghar Farhadi, tudo isso em Cannes em 2016. E foi indicado ao Globo de Ouro deste ano para melhor filme estrangeiro, além de ter sido nomeado para a Palma de Ouro em Cannes ano passado.

Emad, um pacato professor…

A história fala de um casal, Emad (interpretado por Shahab Hosseini) e Rana (interpretada por Taraneh Alidoosti), que precisa fazer uma mudança às pressas de seu apartamento depois que uma obra ao lado do prédio provoca rachaduras que podem fazer o edifício desabar (!). O casal pertence a um grupo de teatro e um de seus amigos providencia um apartamento para Emad e Rana. A antiga inquilina, porém, tinha deixado suas coisas trancadas num quarto do apartamento, e foi decidido arrombar o quarto, deixando as coisas da moça no terraço, o que a deixou muito revoltada. Mas esse era apenas o menor dos problemas, pois a antiga inquilina recebia homens no apartamento e Rana acabou sendo atacada por um deles, depois de ter aberto a portaria do prédio pelo interfone, por pensar que era seu marido. Emad, um pacato professor e ator de teatro, vai então começar uma investigação por conta própria para descobrir quem foi que atacou sua esposa, com o agravante de que Rana ficou traumatizada e não quer ficar mais sozinha, e ainda com todo o peso da visão de mundo da sociedade islâmica, que não conseguia entender como Rana deixou um homem desconhecido entrar em sua casa.

Rana, uma mulher que sofre um forte trauma

Farhadi conseguiu escrever mais um roteiro brilhante e, dessa vez, até relativizando a alta religiosidade do Irã, já que havia algumas críticas veladas aos paradigmas e convenções impostos pela religiosidade, mas também o pensamento religioso não foi criticado de todo, pois Rana implorou a Emad que ele não tomasse certa atitude e percebemos como estava implícito ali que essa atitude ia claramente contra uma convicção religiosa. Havia pouca discussão em questões religiosas (“A Separação” teve um conteúdo maior nisso), mas elas apareciam, sobretudo, nas entrelinhas.

A tragédia de Rana implodia paulatinamente seu casamento. E isso mesmo num casal aparentemente esclarecido, que desempenhava um ofício transgressor como o teatro, o que mostra como o peso de certas tradições pode deixar qualquer um vulnerável ao conservadorismo, por mais progressistas que sejam suas mentes. Esse é um outro exemplo de como o discurso tradicionalista estava no filme, embora ele não aparecesse explicitamente.

A parte progressista da história ficou na encenação do teatro. Mostrar todo esse meio de manifestação artística é algo que eu não me lembro de ter visto no cinema iraniano, onde uma das atrizes aparecia muito bem maquiada e elegantemente vestida, com uma boca vermelhíssima de batom e um vestido igualmente vermelho. Ah, sim, e um chapéu estrategicamente colocado na cabeça para não despertar escândalos de uma cabeça nua. É de se notar que, em contrapartida, a maquiagem colocada em Rana para a peça, ao contrário de embelezá-la, a envelhecia, como se o diretor quisesse dizer que a maquiagem no teatro não é algo para se despudorar as mulheres, mas apenas um recurso para construir uma personagem.

O diretor Asghard Farhadi (centro) rodeado por Shahab Hosseini e Taraneh Alidoosti. Mais um filme iraniano de muito sucesso!!!

Infelizmente, os “spoilers” não me deixam falar mais do filme, mas sua melhor parte está em seu desfecho, que nos dá margem para uma grande reflexão sobre a condição humana. Só uma dica rápida: essa reflexão nos coloca a questão de até onde abrimos ou não mão das convenções sociais a que estamos impostos em prol de um comportamento mais humano e solidário, sendo essa questão muito difícil de ter uma resposta única ou fácil.

Assim, “O Apartamento” é mais um filme imperdível do cinema iraniano e de Asghar Farhadi. Um filme que ainda critica o conservadorismo da religiosidade muçulmana mas que também sabe reconhecer virtudes nessa religiosidade. E um filme que fala, acima de tudo, do que estamos dispostos a ceder para sermos mais humanos. Não deixem de ver essa excelente película. E não deixe de ver o trailer abaixo.

Batata Movies – Eu, Daniel Blake. Uma Previdência Imprevidente.

Cartaz do Filme

E chegou o dia da estreia do grande vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2016. “Eu, Daniel Blake”, de Ken Loach, foi exibido no Festival do Rio ano passado, mas a procura pelo filme foi muito grande e não consegui assistir naquela época. Como a película foi laureada pelo grande prêmio do cinema na França, eu tinha certeza de que ela estrearia cedo ou tarde em circuito comercial por aqui. E foi o que aconteceu. Me despenquei para o Net Rio 5, assim que o filme entrou em circuito. E as expectativas sobre esse grande filme se confirmaram. É uma grande obra-prima que analisa muito bem a covardia pelas quais as pessoas passam quando elas dependem de serviço de Previdência Social. E isso porque estamos falando da Inglaterra.

Daniel Blake. Lutando por seus direitos

A história é sobre o Daniel Blake em questão (interpretado magistralmente por David Jones), um carpinteiro que sofre um ataque cardíaco e é impedido de trabalhar pela médica. Na hora de receber uma espécie de salário que vai cobrir seus meses de inatividade, a inspeção médica o declara apto para o trabalho e lhe corta o benefício. Blake, então, vai ter que recorrer a outra ajuda da Previdência Social inglesa, mas esbarra numa burocracia irritante, bem daquelas ao estilo que a gente conhece aqui no Brasil quando precisa resolver problemas semelhantes, e sua vida se torna uma via-crucis para tentar resolver esses problemas. No meio disso tudo, ele conhece Katie (interpretada pela fofíssima Hayley Squires), uma jovem mãe solteira, com um casal de filhos e que passa também por imensas dificuldades financeiras e problemas com a Previdência Social inglesa. Blake e Katie vão iniciar uma grande amizade para enfrentarem todas as dificuldades por que passam juntos e, ainda por cima, lutarem por seus direitos.

União comovente com Katie

Esse filme de Loach nos dá uma ideia de como é a situação dos menos favorecidos num país de Primeiro Mundo como a Inglaterra. Sentimos como existe toda uma burocracia que desmotiva as pessoas a lutarem por seus direitos. E isso num país onde foi desenvolvida a ideia de que o Estado nasce de um acordo entre os indivíduos e que a função dele é proteger os direitos e a vida das pessoas. Ou seja, a ética capitalista mais uma vez mostra aqui as suas garras, onde as pessoas precisam competir umas com as outras por trabalho em virtude da carência de empregos, assim como elas são maltratadas por instituições governamentais por não estarem na parcela produtiva da população. Loach consegue ser bem incisivo nessa crítica e nos faz sofrer com aqueles personagens, pois a identificação entre o público e eles é muito rápida. Quem já não ficou escutando aquela maldita musiquinha do autoatendimento pelo telefone, esperando ser atendido? Ou quem não já saiu por aí distribuindo seus currículos de porta em porta, somente ouvindo nãos? E, em casos mais extremos, já não ouvimos casos de quem precisa furtar coisas do supermercado para sobreviver à falta de grana ou até de ter que fazer coisas piores? Isso sem falar dos jovens mais safos que vendem produtos contrabandeados para se livrar da humilhação de um emprego que cobra muito trabalho e paga muito mal? Só não podemos nos esquecer de que tudo isso que é mostrado no filme não é apenas mérito de Loach. Também devemos bater palmas para roteirista Paul Laverty pela ótima forma com que ele conseguiu espelhar todas as situações dos menos favorecidos para simplesmente sobreviver.

O diretor Ken Loach (centro) rodeado por David Jones e Hayley Squires. Vencedores em Cannes!!!

Assim, “Eu, Daniel Blake”, é uma película fundamental, digna do prêmio que recebeu em Cannes ano passado. É mais um filme de denúncia, onde o cinema cumpre sua função social de gritar contra as injustiças. Mas isso não é nenhuma surpresa quando falamos de um diretor como Ken Loach, que sempre manteve olhos abertos para as questões sociais. Não deixem de assistir. Programa imperdível!!! E não deixe de ver o trailer abaixo…

Batata Literária – Charlot, O Gênio Vagabundo (à Charles Chaplin)

Ele nasceu na Inglaterra.
Teve uma infância muito difícil.
Sua mãe, louca cantora cuja carreira encerra,
obriga o jovem menino a fazer o impossível.
Logo mostrou seus dotes artísticos
para ajudar a sustentar a família.
Recebendo o auxílio dos deuses místicos,
para os Estados Unidos ele foi mostrar seu talento a cada milha.
Na América, começou a trabalhar em cinema.
Em 1914, na Keystone, fez dupla com Mabel, a pequena.
Mas ele queria o controle total da situação
e, em poucos anos, montou seu próprio estúdio, fruto de sua ambição.
Conseguiu poder e muitas amantes.
Para ele, nada mais era como antes.
Mas sua grande conquista, que o tornou conhecido no mundo
foi o seu personagem, um pobre vagabundo.
Seus filmes eram mais que comédias.
Falar da injustiça do mundo fazia parte de suas ideias.
Por isso, foi implacavelmente perseguido.
Ao viajar para a Europa, foi tratado como criminoso fugido.
Teve que viver na Suíça em exílio,
sem que ninguém fosse em seu auxílio.
Desta forma, viveu anos amargurado,
pois foi da América injustamente desterrado.
No fim de sua vida, teve autorização para aos Estados Unidos retornar.
Humilhado, ele chegou a refutar.
Mas à América ele retorna
para receber um Oscar pelo conjunto da obra.
Na cerimônia, ele foi justamente homenageado.
Tudo isso o deixou profundamente emocionado.
Era o reconhecimento de seu talento afinal
e a confirmação de um gênio mundial.

Batata Movies – Rogue One (Parte 4)

 

 

Uma estátua que troca de posição

Vamos hoje terminar nossa análise de “Rogue One”. Quais são os problemas da película? Em primeiro lugar, o pouco tempo dado a dois atores consagrados. Tem gente que acha que dar mais tempo a Whitaker ou Mikkelsen poderia muito alongar o filme. Entretanto, eu creio que se a película dispõe de tais talentos, eles devem ser aproveitados. A atuação de Mads Mikkelsen como Galen Erso foi muito boa, mas caiu no lugar comum da morte do pai da heroína, se tornando uma vítima dos vilões algozes. Quando ficou sabido que Galen Erso era pai de Jyn e que construiria a Estrela da Morte, já ficou na cara que ele morreria durante o filme. Pelo menos, a morte pelo “fogo amigo” dos X-Wings foi um ponto curioso para a história. Mas um outro desfecho para o personagem que pudesse se encaixar nos eventos de “Uma Nova Esperança” poderia tornar a coisa um pouco mais interessante. Agora, o que eu achei extremamente lamentável foi o que fizeram com o personagem de Whitaker no filme. Tudo bem que ele era um extremista que ficou todo mutilado depois de anos de batalha. Mas ele não precisava ficar com aquela voz de Yogurt de “Spaceballs” do Mel Brooks. E aquele respirador, então? Ficou muito ridículo e ruim. Sua pouca participação no filme e morte muito prematura deram uma sensação de que tanto o personagem como o ator foram muito mal aproveitados. Que se arrumasse um jeito dele fugir de Jedha com Jyn e os demais. E que ele ajudasse Jyn a criar coragem quando a Aliança Rebelde tinha desistido de enfrentar a Estrela da Morte. Isso daria uma condição mais digna ao personagem. Adoraria, por exemplo vê-lo batendo boca com Mon Mothma.

Galen Erso…

Uma coisa que foi extremamente lamentável foi a ausência de Wedge Antilles no filme. Mas eu soube de fonte muito segura que o ator que faz Wedge Antilles, Denis Lawson, renegou “Guerra nas Estrelas” de sua vida, o que é uma pena, já que nos livros do Universo Expandido, o Esquadrão Rogue é um grupo de pilotos de X-wing liderados por Wedge Antilles, e sua presença seria muito querida por todos em “Rogue One”. Foi triste ver Wedge sendo apenas chamado por Bail Organa num cantinho obscuro.

…e Saw Gerrera. Poderiam aparecer mais….

O fato de se construir uma base de armazenamento de dados num planeta com muito mar e maresia também incomodou. Ficou parecendo a construção do Museu da Imagem e do Som em plena Praia de Copacabana (isso sim de doer por ser algo real). E a Estrela da Morte destruindo todo o complexo de armazenamento de dados do Império? Será que eles tinham back-up de tudo?

Um erro de continuidade também ficou claro em Jedha. A estátua do Jedi semienterrada no deserto estava com sua parte esquerda enterrada na areia quando ela aparece pela primeira vez. Depois, quando vemos uma imagem panorâmica da estátua mais do alto, ela aparece com sua parte direita enterrada na areia. Eu sei que são alguns detalhes irrelevantes, mas precisam ser mencionados. Foi dito por aí também que a posição do respirador de Saw Gerrera foi trocada de uma cena para outra.

O diretor Krennic foi um vilão que incomodou. Em primeiro lugar, o trailer mostrava uma visão mais austera do personagem, algo que foi desmentido na exibição do filme, onde ele tinha momentos de um bom cinismo com outros de afetação extrema e muito descontrole emocional que caíram muito mal e denegriram um pouco a imagem do personagem. E, perceberam como esse vilão apanhou no filme? Tomou tiro da esposa de Galen Erso no início da história, foi arremessado por uma explosão provocada por um X-Wing, foi sufocado por Vader, teve o comando da Estrela da Morte tomado por Tarkin, tomou um tiro de Andor e, finalmente, foi pulverizado pelo raio da Estrela da Morte. Sei não, mas nunca vi Vader e Palpatine passarem por tantos vexames. E para piorar, o diretor Krennic ainda tinha uma roupa que lembrava muito a do Grão Almirante Thrawn. Definitivamente não gostei muito da forma como o vilão foi tratado nesse filme. Eu acho que o personagem merecia um pouco mais de respeito. Agora, as poucas aparições de Vader também levaram a galera ao delírio. Só ficou um pouco complicada sua aparição final quando o “vento” vindo do espaço sideral esvoaçava sua capa negra. Enfim, que seja liberdade poética. O som não se propaga no espaço mesmo???

Wedge Antilles fez falta…

Após essa breve análise de “Rogue One, Uma História Guerra nas Estrelas”, podemos finalmente responder as perguntas que fizemos no início dessa série de artigos. Em primeiro lugar, “Rogue One” foi um dos melhores filmes de “Guerra nas Estrelas” já feitos, embora eu não vá me arriscar a dizer que foi o melhor (“O Império Contra Ataca” ainda povoa os corações de muitos fãs e, na minha opinião pessoal, “Uma Nova Esperança” sempre será o melhor de todos, pois foi lá que tudo começou). E “Rogue One” foi melhor que “O Despertar da Força”? Pode-se até dizer que sim, mas não podemos em hipótese alguma dar pouca importância para “O Despertar da Força” nessa retomada de “Guerra nas Estrelas”. Se este filme teve problemas, “Rogue One” também teve os seus, como todos os filmes têm problemas. Mas ficou nítida mais uma subida no degrau de amadurecimento de “Guerra nas Estrelas” com “Rogue One”. Elogios ou críticas à parte, “Rogue One” está provando ser um sucesso de bilheteria nas semanas que se sucederam à sua estreia e com certeza esse será mais um filme que ficará no coração dos fãs de “Guerra nas Estrelas”. Que venha o “Episódio VIII” ao final de 2017!!!

Diretor Krennic. Mais respeito para o vilão

Batata Movies – Rogue One (Parte 3)

O cristal kyber

Vamos, hoje, continuar a falar das virtudes de “Rogue One”. Houve referências a outros filmes da saga, embora sutis. Se em “O Despertar da Força”, houve uma homenagem a “Uma Nova Esperança”, com referências bem explícitas que depois de algum tempo chegaram a cansar, em “Rogue One”, as referências eram mais implícitas, daquelas que fazem os fãs vibrarem, porque somente os mais aficionados conseguem perceber tais referências. Como um exemplo, em um dado momento do filme, dentro da base rebelde, é chamado pelo alto falante o general Syndulla, alusão a Hera Syndulla da série “Rebels”. Ou então havia até brincadeiras com as referências. K2SO chegou a começar a famosa frase “Estou com um mal pressentimento com relação a isso”, presente em todos os filmes de “Guerra nas Estrelas”, mas é interrompido por Andor e Erso. Ou então, os stormtroopers falando dos T-15, que são aposentados, para dar lugar aos T-16, em “Uma Nova Esperança”. Outra referência, mais presente no Universo Expandido, é a citação aos cristais Kyber, que são usados para a construção dos sabres de luz e que são extraídos de Jedha, onde está o templo jedi, sendo usados como combustível para a Estrela da Morte. Assim, é interessante perceber como toda a tecnologia da arma de destruição em massa do Império se baseia numa arma ancestral da conservadora guarda de elite da Velha República, havendo uma espécie de imbricação entre a tradição e a modernidade. Cristal Kyber que também está pendurado no pescoço da protagonista, um presente afetuoso do pai que constrói a arma, mas, ao mesmo tempo, é um símbolo de poder, quando Chirrut Îmwe (interpretado por Donnie Yen) diz a Jyn que as estrelas mais fortes têm cristal Kyber em seu interior.

Jedha. Alusão à invasão americana ao Oriente Médio

O filme também faz alusões a guerras e situações reais. É muito interessante perceber a influência da cultura árabe e islâmica no filme, seja no entreposto comercial que aparece bem ao início da história, seja em Jedha. Aliás, a presença do Império em Jedha lembra muito a ocupação americana no Oriente Médio, com direito a caça ao “terrorista” Saw Gerrera. A figura da criança chorando sob fogo cruzado é emblemática e já vimos em muitas imagens reais de guerra. Já a batalha em Scarif lembra mais a guerra do Vietnã ou a campanha americana no Pacífico na Segunda Guerra Mundial, onde agora é a Aliança Rebelde que faz as vezes dos americanos. Ou seja, o filme faz alusões aos americanos como “vilões” e “mocinhos” no contexto de guerras diferentes.

Scarif. Lembranças do Vietnã e da campanha americana no Pacífico na Segunda Guerra Mundial

A morte de todos os membros do Esquadrão Rogue One também é algo digno de destaque. Apesar de possuirmos personagens muito bons nesta película, a morte deles não se fez de forma tão traumática, pois não houve tempo hábil para os fãs se apegarem aos personagens. Nesse ponto, a morte de Han Solo foi muito mais impactante. Já a morte de Rogue One foi mais heroica, numa mostra de sacrifício por uma causa.

Tarkin virtual. Claro e escuro tornaram o rosto mais realista

Um elemento que levou o público ao delírio e que se mostrou um grande trunfo para o filme foi o uso do CGI para que alguns personagens de “Uma Nova Esperança” retornassem às telonas. Ver novamente o grão-moff Tarkin num Peter Cushing, mesmo que virtual, foi uma baita de uma experiência. Sabemos que é um efeito de computação gráfica, mas o impacto da primeira visão de Tarkin e Cushing de volta é equivalente a de uma ressurreição. E, ao final, um êxtase ao se ver novamente a princesa Leia na flor da idade. Agora, sejamos francos. A aparição de Tarkin foi muito mais convincente, pois seu rosto ficou à meia-luz, com contrastes de claro e escuro pronunciados que davam um tom maior de realismo. Já a face de Leia infelizmente ficou muito iluminada, dando a ela uma carinha de boneca de vinil, o que foi uma pena. Mas, mesmo assim, essa foi uma surpresa muito bem vinda.

No nosso próximo artigo, vamos falar de alguns problemas existentes em “Rogue One”. Até lá!!!!

Princesa Leia virtual (direita). Infelizmente, o resultado não ficou muito bom, devido à forte iluminação

Batata Movies – Rogue One (Parte 2)

Cassian Andor. Um personagem dúbio

Continuemos a falar das impressões do filme Rogue One.

Como foi o avanço no amadurecimento de “Guerra nas Estrelas” em “Rogue One”? Em primeiríssimo lugar, esse é o filme que mais tem cara de histórias do Universo Expandido. Apesar de tudo que é produzido sobre “Guerra nas Estrelas” da Era Disney para cá ser considerado parte do cânone oficial, há muitas coisas de altíssima qualidade dignas da série “Legends”, sendo que os melhores livros dessa série geralmente davam mais consistência às histórias contadas nos filmes e buscavam resolver algumas contradições. Por exemplo, o livro “Darth Plagueis”, de James Luceno, dá uma nova perspectiva aos acontecimentos de “A Ameaça Fantasma”, preenchendo algumas lacunas que empobreciam o filme. “Rogue One” faz o mesmo com “Uma Nova Esperança”, por exemplo. O próprio final do filme é uma ponte direta para “Uma Nova Esperança”. Ainda, sempre ficou muito mal contada a história de que uma violenta e poderosa arma de destruição que é a Estrela da Morte fosse tão vulnerável. Mas isso fica muito mais compreensível quando sabemos que Galen Erso, ao ser obrigado pelo Império a construir a arma, introduziu propositalmente essa vulnerabilidade. Assim, “Rogue One” faz o papel dos bons livros do Universo Expandido da série “Legends” que justificam esses pequenos problemas na história.

Saw Gerrera, o extremista

Outro ponto que aproxima muito “Rogue One” do Universo Expandido, sobretudo da trilogia Zahn (e talvez um pouco da trilogia prequel), é a questão das discussões políticas. Esse filme coloca uma reflexão notável sobre as posturas da Aliança Rebelde. Se na época de Lucas, os rebeldes eram heróis cheios de virtudes, defensores da liberdade e da justiça, agora a coisa fica um pouco mais complexa. As atitudes nem sempre são louváveis ou virtuosas. Jyn Erso é persuadida a ajudar a Aliança a encontrar seu pai, sem saber que, pelas costas, há um plano da Aliança em matar Galen Erso. Dois personagens desse “lado sombrio” rebelde são emblemáticos: Cassian Andor e Saw Gerrera. Andor foi uma gratíssima surpresa para o filme. Esse protagonista, que estava sempre ao lado de Jyn, tinha uma natureza muito dúbia. Ao início da película, ele era frio e calculista, não hesitando em matar quem quer que fosse quando necessário. À medida que ele conhecia mais profundamente Jyn e até algumas atitudes de Galen (que pediu a Krennic que não matasse os cientistas sob seu comando), Andor sofreu uma reviravolta em seu caráter. Ponto para Diego Luna, que soube conduzir bem o personagem. Inicialmente, ele usou caras e bocas que deixaram Andor extremamente rude e tenso. Mas, com o tempo, ele passou a ter atitudes mais afetuosas para com Jyn. Para quem achava que Andor seria uma espécie de coadjuvante de luxo, a sua importância no filme foi muito bem vinda. Já o personagem de Saw Gerrera é muito curioso. Tendo aparecido nas “Guerras Clônicas”, Gerrera é o estereótipo do terrorista radical. O homem se desliga da Aliança Rebele e passa a agir por conta própria. Sua forma extremista de atuar provoca problemas até para a Aliança, nas palavras da própria Mon Mothma. Outro ponto de cisão na Aliança Rebelde ficou claro quando o próprio grupo Rogue One desrespeita uma decisão da Aliança de não atacar Scarif para roubar os planos da Estrela da Morte. Assim, podemos perceber como há divergências entre os membros da Aliança e que não há uma unanimidade de opiniões, abrindo margem para disputas e implicações políticas entre os rebeldes. Esse clima pesado entre os mocinhos é uma mostra de como houve um amadurecimento na saga e de como o Universo Expandido é uma influência direta, pois já trabalha essa questão há um bom tempo.

Saw Gerrera nas “Guerras Clônicas”

Durante as gravações do filme, houve um rumor de que a Disney estava achando a trama muito séria e que a película precisava de um pouco de humor. No resultado final, vemos esse humor um tanto negro, sobretudo nas falas rudes de K2SO e no ato de se encapuzar um cego, mas que não atrapalhou o tom de tensão e seriedade da história.

Na próxima parte desse artigo, continuaremos a falar de mais virtudes do filme “Rogue One”. Até lá!!!

Grupo Rogue One invade Scarif desrespeitando uma ordem da Aliança Rebelde.