Mais um tesouro essa semana…
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Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Lower Decks (S01, Ep 03), Temporal Edict. Quebrando O Protocolo.
E chegamos ao terceiro episódio de Jornada nas Estrelas Lower Decks, intitulado “Temporal Edict”. Esse foi um episódio mais fraco que o terceiro, mas ele trouxe alguns elementos dignos de discussão. Para podermos analisar esse episódio, vamos liberar os spoilers.
O episódio começa com Boimler tocando violino para uma plateia entediada. Mas, de repente, Mariner e Tendi entram com um amplificador, guitarra e bateria eletrônica, fazendo bastante barulho, o que atrapalhou a comunicação da nave com uma ave de rapina Klingon. O oficial sênior de segurança vai aos decks inferiores para parar com o barulho. Nesse momento, Mariner e Tendi terminam sua apresentação para uma plateia estarrecida. Boimler recomeça sua apresentação de violino e o chefe de segurança quebra o instrumento, pensando que é Boimler quem estava fazendo aquele barulho todo.
Após esse incidente inicial que, parece, não terá nada a ver com a história, assim como ocorreu na semana passada (é somente uma espécie de piada inicial), a Cerritos se encaminhava para uma missão diplomática com os cardassianos, só que ela foi remanejada para os vulcanos, para o desespero da capitâ Freeman, que muito havia se preparado, falando de forma muito desrespeitosa com sua superior. Em vez disso, a Cerritos foi designada para ir ao planeta Gelrak 5 para missão diplomática de segundo contato. A capitã acha que a Cerritos é desrespeitada, pois sua tripulação é muito preguiçosa.
Nos decks inferiores, os protagonistas tomam uma bebida depois de calibrarem o campo de força da prisão. Tendi pergunta se não seria adequado eles dizerem que já terminaram aquela tarefa e é dito que eles fazem algo muito semelhante ao que Scotty fazia: aumentar o tempo de resolução da tarefa para ficarem com fama de fazedores de milagre. Assim, violando o protocolo (algo que tem sido muito discutido entre os fãs quando veem a série), eles ganham um pouco de tempo livre durante o trabalho. Boimler, é claro, não gosta disso, mas é a cultura dos decks inferiores. Mas a capitã está de olho nesse “tempo de enrolação” e, sem querer, Boimler dá com a língua nos dentes quando a encontra no turboelevador. A capitã. Então, impõe uma rígida disciplina de trabalho, baseada em cumprimento de metas no menor tempo possível, o que estressa toda a nave, menos Boimler, cujo trabalho é dar ordens em seus subalternos.
Uma nave auxiliar desce a Gelrak 5 para estabelecer o segundo contato com os habitantes. Eles devem receber de presente um pedaço de cristal que a nave auxiliar levaria numa caixa. Mas as atividades cronometradas pela ponte de comando fizeram com que o cristal fosse substituído por um pedaço de madeira, o que despertou uma verdadeira guerra na superfície, com a tripulação do grupo avançado sendo severamente atacado. Mariner, que está no grupo avançado, reage com violência ao ataque, mas o primeiro oficial Ransom decide ser diplomático e se dá mal.
Os galrakianos invadem a Cerritos e a capitã, que precisa fazer tudo na ponte, pois seus oficiais estão extenuados, ordena que a tripulação não deixe de fazer as suas atividades e, ao mesmo tempo, defenda a nave do ataque, ao bom estilo multitarefa do capitalismo.
Na prisão na superfície do planeta, vemos um claro embate entre Mariner e Ransom, a primeira defendendo a quebra de protocolo para fazer “o que deve ser feito” e o segundo defendendo o protocolo para a não violação de regras, insistindo na diplomacia. Mas, quando ele vai começar a fazer o seu discurso, o líder do planeta chega e diz que um do grupo avançado terá que fazer uma luta de vida ou morte com o campeão local, e o grupo avançado somente será libertado se o campeão local for derrotado. Mariner e Ransom começam uma luta selvagem para decidir quem vai lutar.
Na nave, Boimler alveja alguns gelrakianos e não entende por que o alerta vermelho está ativado por causa deles. Ao chegar à ponte, ele vê a capitã mexendo ao mesmo tempo em vários controles, pois a tripulação está extenuada. Boimler percebe que a escala de serviço cronometrada é a responsável por todo o caos. Os gelrakianos começam a invadir a ponte.
Na prisão, Mariner faz todo um discurso por que gosta de quebrar o protocolo e mostra as várias cicatrizes das brigas em que se meteu. Ransom, parecendo concordar com ela, mete um cristal no pé da moça, inutilizando-a para a batalha, e diz que não vai deixar que um tripulante seu corra risco, pois pensa na equipe e vai heroicamente para a batalha com o lutador local, que é severamente derrotado. Na verdade, o lutador local é um cara que não gosta de violência e “lê livros”. Mariner, ao ver Ransom lutando, sente um certo tesão por ele. O grupo avançado está livre.
Na ponte, Boimler consegue convencer que a capitã precisa dar de volta à tripulação o “tempo de enrolação” e a quebra de protocolo. A capitã dá essa ordem e fala para todos largarem o que estão fazendo para defender a nave dos invasores, que agora são facilmente controlados na base da agressão e da violência da tripulação. Os gelrakianos são expulsos da Cerritos.
Um novo grupo avançado desce à superfície do planeta, dando agora o cristal, restabelecendo as relações diplomáticas. Ransom vai à enfermaria pedir para ela esperar um pouco para escrever o relatório onde é dito que ele quebrou o protocolo e furou o pé dela com um cristal, pois isso é corte marcial certa e ele precisa empacotar suas coisas para sair da nave. Mariner diz que não vai escrever nenhum relatório, pois gostou de ver ele quebrar o protocolo. Quando parece que vão dar um beijo, Ransom chama a segurança e a manda para a prisão, pois ela não obedeceu a ordem de desarregaçar a manga do uniforme. Mariner, revoltada, vai com os guardas. Já a capitã diz a Boimler, que criou o chamado “Efeito Boimler”, onde os tripulantes têm o direito a não seguir os protocolos quando acharem conveniente, para desespero do alferes, que sempre segue as regras. Ele conta isso para os amigos que dizem que esse será só mais um efeito que será esquecido no futuro. Mas numa aula num futuro distante, o efeito Boimler é visto como um grande feito do alferes para a Federação, só perdendo para os feitos do maior nome de todos os tempos: o Chefe Miles O’Brien. Fim do episódio.
O que podemos dizer do episódio “Temporal Edict”? Em primeiro lugar, esse é um episódio sobre quebra de protocolo, algo muito discutível. O protocolo foi colocado dentro da lógica de produtividade do sistema capitalista do século 21, dentro da visão multitarefa (ou de mais valia). Ou seja, foi encontrada uma justificativa no século 21 parra se quebrar as regras no século 24, algo um pouco desonesto. A “operação tartaruga” dos tripulantes dos decks inferiores também lembra muito a “fama de fazedor de milagres” de Scotty, que multiplicava por quatro as suas estimativas de tempo de consertos. A nave, ao entrar no modo multitarefa, entra em colapso e a saída é quebrar o protocolo, sugestão dada ironicamente por Boimler, o cara todo certinho que cumpre todos os protocolos.
Nesse episódio, porém, o relacionamento entre os personagens protagonistas não foi trabalhado. Foi dito no episódio anterior por alguns fãs que Mariner está se aproximando perigosamente de uma Michael Burnham em termos dela ser uma personagem ao estilo sabe-tudo. Mas eu confesso que vejo algumas diferenças aqui, ainda mais depois desse episodio. Se a protagonista de Discovery é vista como a que sempre tem razão e todos a bajulam, Mariner não tem a mesma sorte na Cerritos, sendo vista como uma irresponsável que quebra as regras pelos seus oficiais sêniors superiores. O relacionamento altamente tenso entre Mariner e Ransom nesse episódio não me deixa mentir. E os atos heróicos de Mariner foram barrados pelo primeiro oficial, que, apesar de ter quebrado uma regra, enfiando o cristal no pé de Mariner, ainda assim zelou pelas regras e protocolos na situação de crise do planeta. Para piorar a situação, Mariner ainda foi presa por violar os protocolos, depois de admirar a quebra de protocolo de Ransom justamente com seu pé. A paixonite da moça pelo primeiro oficial morreu ali mesmo, despertando uma relação de revolta e ódio entre os dois, num climão bem pesado. Assim, se Mariner quer ser uma espécie de Burnham, isso não significa que ela tenha a aprovação da tripulação da nave para isso.
Dessa forma, “Temporal Edict” é um episódio menos simpático que o da semana anterior, pois coloca a questão da quebra de protocolo dentro de uma visão maniqueísta e injusta, pois associa às regras do século 24 a um regime exploratório típico do capitalismo do século 21. Pelo menos, no que se refere à Mariner, o episódio mostrou que a personagem não teve uma vida fácil nesse episódio, mostrando que um endeusamento que foi dado a Burnham em Discovery teve obstáculos nesse episódio ao menos.
Batata Movies – O Testamento Do Dr. Mabuse. Uma Continuação Fraca, Mas Proibida.
Dando sequência às nossas análises de filmes de Fritz Lang, vamos falar de “O Testamento do Dr. Mabuse” (“Das Testament Des Dr. Mabuse”, 1933), continuação da saga do vilão que assolou o cinema alemão mudo. Esse filme foi proibido de passar na Alemanha, sendo somente autorizada sua exibição no país de origem em 1951. Um filme que, agora, se confundia com o ideário nazista, daí a sua proibição. Para podermos falar um pouco mais desse filme, vamos liberar os spoilers de oitenta e sete anos.
O plot é o seguinte. Mabuse (interpretado por Rudolf Klein-Rogge) está internado num manicômio. Ele escreve em folhas de papel coisas aparentemente desconexas, mas que com o tempo, vão adquirindo significados, sempre dentro daquela vibe destruidora de Mabuse com relação à humanidade, cheia de defeitos, que deveria ser destruída pelo terror e pela violência. Ou seja, o testamento do Dr. Mabuse em si. O médico que cuidava de Mabuse, o Professor Baum (interpretado por Thomy Bourdelle) acaba sendo hipnotizado pelo paciente e coloca em curso suas práticas criminosas, criando uma quadrilha que espalha o caos com crimes e atos terroristas, como a explosão de uma fábrica de gás. Caberá ao inspetor Lohman (interpretado por Otto Wernicke), juntamente com Kent (interpretado por Gustav Diessl), investigar e desbaratar a rede criminosa. Quando o Professor Baum é descoberto como o chefe da quadrilha, tem-se início a uma perseguição automobilística frenética, que termina com um enlouquecido Baum, assim como Mabuse, que já está morto.
Se fizermos uma comparação com os Mabuses da fase muda, “O Testamento do Dr. Mabuse” é uma película mais fraca, com até alguns lances cômicos que partem principalmente de Lohman, um inspetor que parece estar um nível abaixo do de Wenck, visto nas películas anteriores. Todo o discurso apocalíptico de Mabuse pareceu cair como uma luva na ideologia nazista, tornando, portanto, o filme proibido na Alemanha. Alguns críticos consideram “O Testamento do Dr. Mabuse” como o primeiro filme realmente “Noir” de Lang.
Pode até ser. O personagem ambíguo Kent, as metódicas regras que os criminosos devem seguir e as intensas cenas de tiroteio no momento da prisão da quadrilha caminham muito nessa direção. Mas os elementos expressionistas ainda parecem bem mais fortes, principalmente no quesito alucinações, com a face fantasmagórica de Mabuse hipnotizando Baum, com direito a dois horripilantes e gigantescos olhos postiços. O expressionismo também se vê presente na frenética perseguição automobilística mais ao final do filme, onde o back-projection de uma sinistra floresta noturna dá um tom todo especial. Assim, o expressionismo da década de 20 consegue pulsar muito nesse filme falado da década de 30.
Dessa forma, “O Testamento do Dr. Mabuse” é uma sequência não tão intensa ou maligna quanto os Mabuses anteriores, mas ainda assim impressiona, muito mais pela estética expressionista regada à alucinações e enlouquecimentos provocados pela hipnose do que por uma trama policial. Só é curioso ver como o filme foi proibido pelos nazistas em 1933, quando duas películas da mesma temática não foram interditadas na década de 20. Típico caso de se vestir a carapuça. Não deixem de ver o filme na íntegra legendado em português abaixo.
Batata Movies – Dr. Mabuse, O Inferno Do Crime. Violência Desmedida.
Dando sequência às análises da fase alemã de Fritz Lang, vamos falar de “Dr. Mabuse, O Inferno do Crime” (“Dr. Mabuse, Der Spieler – Inferno: Ein Spiel von Menchen Unserer Zeit”, 1922), sequência do filme “Dr. Mabuse, o Jogador”. Se o primeiro filme mostrou um Dr. Mabuse manipulador da mente e sinistro, que cometia seus crimes e hipnotizava jogadores de cartas de uma elite alemã decadente, a segunda película de Dr. Mabuse é muito mais violenta, onde o vilão mostra em cores vivas toda a sua personalidade maligna. Para podermos falar do filme, vamos precisar liberar os spoilers de noventa e oito anos.
O Conde Told, depois da vergonha de ter sido flagrado trapaceando, vaga pelas ruas chuvosas à noite, sendo acolhido por Wenck. Depois de uma conversa, o conde Told decide procurar tratamento psicológico e vai procurar justamente Mabuse, que o hipnotizou para fazer a trapaça. Mabuse recomenda que Told se isole e não converse com ninguém, para que o sequestro da condessa seja encoberto. Como esta se nega terminantemente a se entregar para Mabuse, este decide induzir o conde ao suicídio. Wenck procura convencer Carozza a ajudar a polícia, mas esta se nega. Mesmo assim, Mabuse infiltra um de seus capangas na polícia para que este entregue um veneno para que Carozza se suicide, algo que ela obedece e faz prontamente. Um outro capanga de Mabuse é preso pela polícia e, antes que ele fale alguma coisa, é assassinado por Mabuse,enquanto é transferido da delegacia para um presídio, depois que Mabuse incita as massas mais pobres a parar o carro de polícia, alegando falsamente que um líder comunitário estava sendo preso. Mabuse ainda consegue colocar uma bomba dentro do escritório de Wenck, quase matando-o. Ou seja, o Doutor nesse filme toma atitudes bem mais perigosas e mortíferas. Depois de perguntar ao mordomo de Told sobre as circunstâncias da morte de seu patrão, Wenck escuta do criado sobre Mabuse e começa a investigar o Doutor, que o recomenda a ir a um show de um adivinho, Weltmann (uma das faces de Mabuse). No show, Wenck é hipnotizado e induzido a Mabuse a dirigir numa estrada nas montanhas à toda velocidade, mas seus ajudantes o salvam. Somente ai, Wenck chegará à conclusão de que o criminoso procurado è Mabuse. A polícia, com a ajuda do exército, vai invadir o esconderijo de Mabuse e resgatar a condessa. Mabuse foge pelos esgotos e chega a um outro esconderijo onde seus capangas fazem cédulas de dinheiro falsas. Lá, Mabuse começará a ter alucinações dos capangas que morreram para protegê-lo e o Doutor enlouquece, sendo finalmente preso por Wenck.
O segundo filme, como vimos, é bem mais violento que o primeiro. Além disso, a primeira película abordou temas de ordem mais social, como a decadência de uma elite que gasta seu dinheiro na cocaína e no jogo, geralmente fazendo as suas atividades ilícitas em locais escondidos no seio de onde vivem os menos favorecidos. Já o segundo filme mostra mais os estados da alma, saindo do social e indo mais para o subjetivo. Temos dois suicídios aqui. O de Carozza foi menos explorado, com a ingestão de uma pastilha de veneno num gesto de obediência cega (ou, talvez, até com algum medo inserido) de Carozza ao amado Mabuse. Já o suicídio do conde Told foi bem mais explorado na questão dos tormentos da alma, onde o conde perambula pela sua sombria mansão, cheia de motivos de culturas orientais, bem ao gosto de Lang, e tendo alucinações de si mesmo trapaceando, o que o leva a se matar com uma navalha. Mais expressionista do que isso impossível. Mas as alucinações não ficaram por aí. O processo de enlouquecimento de Mabuse (um tanto falso, devemos admitir, já que o Doutor não tinha o menor remorso em ver seus capangas morrerem ao colocar seus maléficos planos em execução) é eivado dessas mesmas alucinações, com a fina ironia de que Mabuse enlouquece perante seus empregados falsários cegos, que não o podem alertar sobre seus delírios, pois nada veem. Some-se a tudo isso o show de Weltmann com as manipulações das mentes de membros da plateia e temos uma sequência onde os estados da alma e do subjetivo falaram mais alto frente à pegada de ordem mais social do primeiro filme.
Assim, “Dr. Mabuse, O Inferno do Crime”, é uma sequência que dá um bom desfecho aos dois filmes de Mabuse. Muito mais violenta, muito mais expressionista, muito mais ligada à questão do subjetivo e das alucinações. Não perca a oportunidade de ver, em sequência, os dois filmes abaixo.
Batata Movies – Dr. Mabuse, O Jogador. E Hipnotizador.
Dando sequência às análises de filmes de Fritz Lang, vamos hoje começar a nossa maratona do Dr. Mabuse. São quatro películas realizadas ao longo do século XX sobre esse criminoso intrigante. Nesse primeiro filme, “Dr. Mabuse, O Jogador” (“Dr. Mabuse, Der Spieler – Der Grosse Spieler: Ein Bild der Zeit”, 1922), vemos a apresentação do vilão, magnificamente interpretado por Rudolf Klein-Rogge, no papel que o imortalizou, sem a menor sombra de dúvida. Para podermos falar desse filme, vamos liberar os spoilers de noventa e oito anos.
Mas, quem é Mabuse? Ele é um psicólogo que consegue hipnotizar as pessoas, manipulando-as em jogos de cartas, para poder-lhes arrancar dinheiro, assim como roubou um contrato comercial entre a Holanda e a Suíça, provocando uma baixa nas ações da bolsa, momento em que ele as comprou por uma ninharia. Mabuse também tomou todas as providências para que o contrato fosse reencontrado, aumentando o preço das ações que havia comprado. O inspetor Norbert Von Wenck (interpretado por Bernhard Goetzke) vai procurar investigar os passos de Mabuse, que também é um mestre dos disfarces. Wenck sabe que há um grande criminoso atuando e roubando as pessoas, mas não consegue estabelecer a sua identidade. Wenck agirá em conjunto com Hull (interpretado por Paul Richter), que foi hipnotizado e roubado por Mabuse, mas o vilão colocará Cara Carozza, da sua quadrilha (interpretada por Aud Egede-Nissen) para seduzir Hull e manipulá-lo. Mesmo assim, Wenck e Hull seguem na investigação. Carozza alerta Mabuse de quanto é perigoso Wenck, mas o vilão faz pouco do alerta, até que, numa rodada de jogo de cartas, Wenck, disfarçado, consegue resistir ao hipnotismo de Mabuse. Este, enfurecido, consegue armar uma armadilha para Wenck e intoxicá-lo com gás venenoso, embora ele não morra. Numa outra tentativa de Wenck e Hull de prender Carozza para interrogá-la, Hull acaba assassinado, mas a moça é capturada. Wenck pede ajuda a condessa Dusy Told (interpretada por Gertrude Welcker), que acha a vida entediante e quer algo a mais para lhe dar emoção. Wenck propõe a ela que se faça de presa para tentar tirar algo de Carozza. Mas esta somente lhe diz que está apaixonada pelo criminoso que somente a usa em suas atividades criminosas. Ao final do filme, Mabuse faz outra investida, desta vez na casa da condessa, onde ela hipnotiza o seu marido, o conde Told (interpretado por Alfred Abel) para induzi-lo a trapacear durante o jogo de cartas, provocando a ira de seus convidados, que abandonam a festa dada pelo conde, desmoralizando-o. A condessa não aguenta tal cena com o marido e desmaia, sendo sequestrada por Mabuse.
Como dito acima, esse é um filme de Rudolf Klein-Rogge, que consegue fazer um magnífico vilão e múltiplas caracterizações, onde não somente a maquiagem e o figurino dão um show, mas também a própria interpretação do ator, que consegue dar uma vida única a cada caracterização. Talvez o único que possa se aproximar de Klein-Rogge no filme seja Bernhard Goetzke, que interpreta Wenck, o antagonista de Mabuse, que, curiosamente, também se disfarça assim como o vilão. O dom que Mabuse tem da hipnose é uma espécie de personagem à parte, pois ele consegue manipular os jogadores de cartas a seu redor, que pertencem a uma elite que busca prazeres em jogos de azar, festas e cocaína, em contraposição às camadas mais baixas, que vivem em bairros destroçados e escuros, ao bom estilo expressionista. É curioso notar que muitas dessas noitadas dos figurões são às escondidas da polícia, feitas justamente nos bairros mais proletários, numa mescla de elite com pobreza. A condessa Told é uma expressão dessa elite enfadonha que não tem nada para fazer e se lança aos prazeres fúteis. Ou seja, o filme, ao mostrar essas disparidades sociais, acaba refletindo um pouco a situação da República de Weimar da época.
Dessa forma, “Dr. Mabuse, O Jogador” é mais um interessante filme da fase alemã de Fritz Lang e um bom cartão de visitas do grande vilão da História do Cinema Alemão. Mas esse seria somente o primeiro filme. A segunda película apresentaria elementos ainda mais intrigantes. Vamos colocar os dois filmes completos e legendados em português na postagem da sequência de “Dr. Mabuse”.
Batata Movies – Os Nibelungos, Parte 2, A Vingança De Cremilda. Desfecho Trágico Trazido Pela Vingança.
Dando sequência às nossas análises de filmes da fase alemã de Frit Lang, falemos hoje de “Os Nibelungos, Parte 2: A Vingança de Cremilda” (“Die Nibelungen, Kriemhulds Rache”, 1924). Esse filme dá sequência à “Os Nibelungos, Parte 1: A Morte de Siegfried”, quando o herói teutônico fora assassinado por Hagen Tronje (interpretado por Hans Adalbert Schlettow) e sua esposa Cremilda (interpretada por Margarete Schön) jurou vingança. Nesse filme, a aura sombria sobre a vingança já pairava quando vimos a morte de Brunilda, que exigia o assassinato de Siegfried. Agora, o tema da vingança volta à baila, tomando contornos bem maiores e catastróficos. Para podermos falar sobre esse filme, vamos precisar liberar os spoilers de noventa e seis anos.
O plot é o seguinte. Rüdiger Von Bechlarn (interpretado por Rudolf Rittner) é um vassalo de Átila, o Rei dos Hunos (interpretado por Rudolf Klein-Rogge) e vai à Burgúndia comunicar que seu rei quer pedir a mão de Cremilda em casamento. Esta ainda está muito revoltada com a perda de Siegfried e exige que seu irmão, o rei Gunther (interpretado por Theodor Loos) puna Hagen Tronje, o assassino de Siegfried. Mas, pelas relações de fidelidade feudal, Gunther se recusa a fazer isso, já que Hagen sempre foi muito fiel a ele. Para piorar a situação, Hagen joga no fundo do rio todo o tesouro dos nibelungos, alegando que assim o ouro do tesouro não poderá ser usado para a construção de armas. Cremilda diz a Rüdiger que, na Burgúndia não havia garantias de que a desonra que ela sofreu seria reparada. Rüdiger garante que, se casada com Átila, ela seria devidamente honrada e que as desonras contra ela seriam reparadas.
Ela aceita a proposta de Átila e vai embora da Burgúndia, não querendo se despedir ou falar com seus familiares. Ao chegar ao reino de Átila, Cremilda estranha os hunos, achando o seu comportamento excessivamente bárbaro. Mas escuta de Átila o juramento de que ele restaurará a sua honra. Tempos depois, o filho de Átila nasce, é dada uma festa e Cremilda pede que seus parentes da Burgúndia sejam convidados. Quando estes chegam à terra dos hunos, Cremilda exige de Átila que Hagen seja morto, mas Átila, alegando ser um homem do deserto, diz que é muito importante tratar bem os convidados. Às escondidas, Cremilda oferece ouro ao hunos em troca da morte de Hagen. Quando temos a grande festa, estoura a guerra, com os hunos atacando o castelo de Átila para atacar os burgúndios. Hagen mata o filho de Átila e Cremilda, o que vai fazer Átila permitir o ataque dos hunos. Entretanto, os hunos, mesmo sendo em maior número, não conseguem derrotar os burgúndios, que ficam sitiados no palácio de Átila. Cremilda, então, exige que Rüdiger ataque os burgúndios. Rüdiger, de origem burgúndia e cuja filha se casou com um dos irmãos de Cremilda, reluta mas é obrigado a atacar os burgúndios, o que provoca a morte do seu genro. Mas Hagen permanece vivo, juntamente com Gunther e mais alguns nibelungos. Enfurecida, Cremilda ordena que os hunos incendeiem o palácio. Todos os Nibelungos serão mortos, exceto Gunther e Hagen, que são trazidos à presença de Hagen. Gunther é decapitado e Cremilda mata Hagen com uma espada, mas é morta por um vassalo de Rüdiger. Átila pede que o corpo de Cremilda volte para a Burgúndia para ser enterrado ao lado de Siegfried, seu grande amor.
A parte 1 de “Os Nibelungos” foi mais lúdica e decorativa, com o assassinato de Siegfried e a vingança e morte de Brunilda mais ao final do filme. Em “A Vingança de Cremilda”, o decorativo também aparece em alguns momentos na Burgúndia, mas o foco do filme é maior no reino dos hunos, muito mais sombrio. Um reino considerado bárbaro pelos europeus (o estranhamento na face de Cremilda é evidente quando ela chega ao reino dos hunos, com Átila colocando sua manta no chão para ela passar por cima de uma poça de lama dentro de seu próprio palácio). Mas, para Cremilda, vale tudo para executar sua vingança. Aliás, sua indumentária é curiosa nessa película. Se no primeiro filme, Cremilda tinha roupas claras e douradas, aqui prevalece mais o negro do luto, mas com alguns detalhes em branco, como se a Cremilda do primeiro filme estivesse ali no fundo da Cremilda possuída pelo ódio e sentimento de vingança. Ela conseguia ser extremamente implacável e obcecada pela morte de Hagen, mas sofria quando via seus irmãos sofrendo nessa sua empreitada. Ou seja, mais uma vez o duplo. Ao final, o filme confirma a lição da primeira parte:a vingança, além de não levar a nada, ainda provoca a destruição, respingando até em pessoas próximas. Se a família de Cremilda foi desmantelada, incluindo a própria, Átila perdeu seu herdeiro e seu castelo, além da morte de muitos hunos. O que impressiona aqui é toda a importância dada à fidelidade feudal dos irmãos de Cremilda para com Hagen. Durante a Idade Média, o pacto de fidelidade feudal era estabelecido quando um senhor feudal fazia um favor para um segundo senhor feudal, sendo que esse segundo senhor feudal era obrigado a retribuir o favor, passando a obrigação de retribuição para o primeiro senhor feudal e assim sucessivamente. A quebra de tal pacto era considerado algo tão imoral que o senhor feudal que quebrasse o pacto era desprezado por todos os demais, ficando sem ajudas quando precisasse de um favor, o que poderia significar a sua ruína (geralmente os favores eram de ordem militar, quando um senhor feudal emprestava o seu exército a outro para se defender de um ataque). A fidelidade entre esses homens não dava espaço para Cremilda executar a sua vingança, algo que ela fez não somente usando a sua inteligência e capacidade de manipulação dos homenes (leia-se Rüdiger e Átila), mas também com uma sagacidade de dar inveja a muitos varões. Entretanto, tudo fora em vão, pois Cremilda provocou a destruição total em seu ódio. Como diz sabiamente Lang: “A morte nunca é uma solução”.
Dessa forma, “Os Nibelungos, Parte 2: A Vingança de Cremilda”, perde o lúdico da primeira parte da saga épica e mergulha no sombrio e na destruição provocados pela sede de vingança. Uma lenda teutônica que comprova a máxima de que “a vingança é a arma do otário”. E não deixe de ver o filme na íntegra abaixo.
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (S01 Ep03), Mais Uma Vez. Um Sabor De Paradoxo Temporal.
Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, revisitemos Voyager no terceiro episódio da primeira temporada intitulado “Mais Uma Vez”.
Qual é o plot desse episódio? A Voyager é atingida por uma onda de choque e a análise da mesma indica uma detonação. Janeway manda a nave para o sistema estelar de onde veio a onda para investigar. Com a onda de choque, Kes sofre uma grande perturbação e vai para a ponte. A fonte da onda de choque veio de um planeta classe M que tinha uma civilização mas agora não tem sinais de vida. Um grupo avançado desce à superfície e encontra ruínas. Uma detonação polárica incinerou toda a civilização. Janeway encontrou indícios de que não houve uma guerra, mas sim que íons poláricos eram usados como fonte de energia, uma verdadeira bomba-relógio prestes a detonar.
Na Voyager, Kes diz a Neelix que viu os corpos da civilização queimarem e diz que seu povo tem habilidades mentais. Neelix não acredita muito nisso, mas conforta a esposa.
Na superfície, Paris tem visões da civilização que morreu e é concluído que há fendas subespaciais na superfície do planeta. Janeway e Paris vão para a civilização no passado e perdem contato com a nave e o grupo avançado. Paris, que havia visto um relógio nos escombros, vê o mesmo agora na realidade do planeta e estima que ele será destruído em um dia.
Na Voyager, a tripulação discute uma forma de resgatar Janeway e Paris. Eles, ao analisarem as fendas, já sabem que elas se expandiram para o passado. O problema será localizar Janeway e Paris no momento exato do passado e abrir a fratura subespacial.
Kes e Neelix vão ao Doutor para exame da moça. O Doutor novamente fica indignado de não saber que há tripulantes novos na nave e que Janeway desapareceu. Mas diz que Kes está em perfeita saúde.
Na superfície do planeta, Janeway e Paris decidem enviar uma bóia subespacial para a Voyager detectá-los, mas não farão nada para evitarem a destruição do planeta, pois violariam a Primeira Diretriz. Paris não aceita muito a ideia. Depois de botar um garoto desconfiado da presença deles para correr, Paris e Janeway têm a ideia de usar a energia dos íons poláricos para voltar para onde estavam, já que a explosão de íons poláricos criou as fendas subespaciais (ou seja, uma tecnobabble básica). O problema é que eles precisam ir aonde estão os geradores de energia polárica e esse lugar está passando por uma convulsão social. Paris e Janeway entram no bolo e são agredidos, sendo levados por um homem para longe dos guardas.
Na Voyager, a tripulação desenvolveu uma espécie de gerador que abre fendas subespaciais que será usado na superfície do planeta, mais especificamente onde Janeway e Paris desapareceram. Kes pede a Chakotay para ir à superfície, já que testemunhou toda a tragédia mentalmente.
No planeta, o homem que levou Janeway e Paris agora está com mais dois e eles acreditam que Janeway e Paris são espiões que investigam o grupo do qual os três homens fazem parte e que são contra as usinas de energia polárica. Janeway e Paris estão com altos índices de radiação no corpo por causa da tragédia com a energia polárica e os três homens acham que eles estiveram antes na usina, algo que Janeway e Paris negaram. Janeway é obrigada a abrir o jogo e diz que é capitã da Voyager. Ela também sente a presença de Kes, que está com o grupo avançado na superfície do planeta, procurando o melhor lugar para abrir uma fenda espacial. A ocampa também sente a presença de Janeway e comunica isso ao grupo avançado, que procura pela fenda com o tricorder.
Janeway conta toda a história para um dos homens. O grupo dele pretende atacar uma usina de energia e isso provavelmente vai levar à detonação. Janeway violou graciosamente a Primeira Diretriz sob o olhar perplexo (e cínico) de Paris. Mas o homem não acreditou muito na história de se voltar do futuro, das fendas subespaciais, etc.
O grupo avançado consegue localizar Janeway e Paris e ligam o tal gerador. Chakotay consegue acionar o comunicador de Janeway, mas os homens do grupo acham que é outra de suas mentiras. Eles tiram os comunicadores de Janeway e Paris e os levam. Uma fenda se abre sobre os comunicadores, mas se fecha depois de uns instantes. Só que não há mais ninguém na sala quando isso acontece. Enquanto são conduzidos pelo grupo, Paris pergunta a Janeway da violação da Primeira Diretriz e esta diz que a simples presença da Voyager lá já pode ter alterado o destino do planeta, pois quando eles voltam para o passado, o grupo, que queria atacar a usina em uma semana, decide antecipar o ataque para o dia seguinte, por causa de Janeway e Paris. Ou seja, evitar um ataque à usina e evitar a destruição do planeta agora era um problema da Voyager.
Os tripulantes da Voyager especulam que Janeway irá ao ponto da explosão e fazem nova tentativa. Janeway, ao chegar a usina, se recusa a ajudar o grupo que a apreendeu juntamente com Paris e isso detona um tiroteio onde Paris é ferido. O grupo entra na usina e Janeway os persegue. Já o grupo avançado chega à usina, mas no futuro, um dia depois, mas não consegue localizar Janeway. Entretanto, Kes diz que Janeway esteve lá. Janeway, por sua vez, rende o grupo e diz para eles esperarem até o momento da detonação. Céticos, eles esperam. O gerador começa a funcionar no grupo avançado e ele começa a abrir uma fenda subespacial perto dos conduítes de energia polárica, ou seja, será esse evento que detonará a explosão e não a sabotagem do grupo, como Janeway pensava. Janeway pede o seu phaser para um dos homens do grupo para deter a fenda que se abre. Quando ela faz isso, ela altera o fluxo dos acontecimentos. Todos desaparecem de onde estão e voltamos ao início do episódio. A onda de choque não se dá mas o planeta classe M é localizado. Como Neelix não conhece a civilização, Janeway não dá muita bola para o planeta. Mas Kes aparece na ponte falando da destruição. Kes pede para Janeway mostrar o planeta na tela, onde não se vê sinais de destruição, o que tranquiliza a ocampa. O planeta também é sondado e Tuvok diz que ele tem uma civilização humaniode provavelmente em estágio pré-dobra. Janeway diz que, pela Primeira Diretriz, esse planeta não deve ser investigado e diz para catalogar o planeta e continuar a viagem. Fim do episódio.
O que podemos dizer do episódio Mais Uma Vez? Em primeiro lugar, foi um episódio que seguiu mais ou menos a vibe do episódio anterior, “Paralaxe”, ou seja, um episódio de ficção científica raiz na história principal que aborda a questão espaço-temporal. Mas, se em “Paralaxe”, o mote foi um paradoxo espacial, em “Mais Uma Vez”, temos mais uma questão de paradoxo temporal. Um planeta que sofre uma tragédia tudo isso em virtude da presença da Voyager nas imediações, que afeta o fluxo temporal. O que provoca a explosão que destrói a superfície do planeta? À medida que assistíamos o desenrolar da história, mais parecia que foi a sabotagem do grupo contrário ao uso de energia polárica que tinha provocado a tragédia. Mas foi o próprio resgate do grupo avançado a Janeway que iria provocar a tragédia. Tudo iria por água abaixo não fosse a percepção aguçada de Janeway, repitamos aqui, uma renomada cientista além de capitã de nave estelar. Se num primeiro momento, ela defende a aplicação da Primeira Diretriz e não quer intervir no destino do planeta, ao perceber que a presença dela e de Paris anteciparam os eventos da sabotagem, a capitã sente que a presença da Voyager afeta a sequência dos eventos, justificando a violação da Primeira Diretriz e Janeway decide intervir. Ou seja, um clássico episódio de paradoxo temporal.
No mais, foi um episódio onde mais uma vez o Doutor foi um alívio cômico, repetindo a piada de que ele nunca é comunicado sobre nada que acontece na nave, pois ele é tratado como um mero holograma. Ou seja, uma piada que é novamente usada, tornando-se um pouco enfadonha. Com relação â construção de personagens, vimos mais um avanço em Janeway no seu feeling científico e uma sensitividade de Kes, que foi determinante em localizar Janeway nas fendas subespaciais.
Dessa forma, “Mais Uma Vez” é um episódio que mostrava uma tendência, ao início da temporada de Voyager, de se fazer episódios focados numa boa ficção científica. Paradoxos espaciais e temporais eram a vedete que mostravam a astúcia da capitã com assuntos de ordem científica.
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Lower Decks (S01, Ep 02), Envoys. Desentendimento Com Culturas.
O segundo episódio da primeira temporada de Jornada nas Estrelas Lower Decks, “Envoys”, aborda, de forma mais pronunciada que no primeiro episódio, a questão da diferença entre culturas. Para podermos falar mais desse episódio, vamos precisar dos spoilers.
O episódio começa com Mariner e Tendi conversando quando um ser de energia com espírito conquistador e maligno invade a nave. Mariner imediatamente o domina e o ser suplica para ser libertado, dizendo que pode sintetizar qualquer coisa. Ela pede então um tricorder com bateria e ele o sintetiza, ficando bem pequeno. As duas vão embora e a forma de vida, bem pequenininha, tenta atacar a capitã e desaparece.
Boimler comunica a Tendi e Mariner que vai escoltar um Klingon, o General K’orin, até um planeta uma espécie de missão diplomática. É claro que Mariner vai fazer pouco caso disso, enquanto Boimler vai treinando palavras klingons para se comunicar com o general. Enquanto isso, Rutherford sai todo feliz de um tubo jefferies depois de muito trabalho duro. Mas ele vai voltar para recalibrar, feliz da vida. Tendi então o lembra de que eles iam ver juntos um pulsar, o que implica que ele vai ter que faltar seu trabalho. Mas, como um homem da Frota Estelar, ele não volta atrás em suas promessas e vai ver o pulsar com Tendi, o que vai implicar que ele precisa mudar de função na nave. Rutherford pede ao seu superior na Engenharia para procurar outra função e, quando acha que vai receber uma grande bronca, recebe a autorização e os parabéns de todos. Enquanto isso, Boimler chega à nave auxiliar e encontra Mariner lá dentro. Ela mexeu uns pauzinhos para ir com Boimler, que ficou como seu co-piloto, para desespero dele. Quando o General K’orin chega, Boimler o aborda cheio de formalidades, enquanto que Mariner o ataca, para depois caírem na risada. Os dois são velhos conhecidos, para surpresa de Boimler. Durante a viagem, o Klingon se embebeda com Mariner e suja toda a nave. A pedido do General, eles descem num distrito Klingon do planeta. Quando eles chegam lá, o Klingon está dormindo de tão bêbado. Boilmer e Mariner saem da nave, com o primeiro reclamando muito de tudo o que está acontecendo, enquanto que Mariner bota panos quentes. Mas o Klingon acorda e rouba a nave, uma prática corriqueira dele, segundo Mariner. Os dois começam a ir atrás do Klingon, e Boimler passa por tremendas saias justas com várias culturas no planeta por sua inexperiência. Ele não entende por que isso acontece, já que ele passa horas na biblioteca estudando as culturas. Mariner recebe uma informação de que K’Orin está numa cidade andoriana e lá, Boimler provoca um briga generalizada num bar. Mariner para a briga pagando cinco rodadas de bebida para todo mundo com o dinheiro que ela roubou de um alienígena e Boimler, chateado, senta num canto se sentindo um inútil e pensando em desistir de tudo, jogando sua insígnia longe, todo choroso. Ainda procurando K’orin, eles se deparam com um ferengi que oferece um transporte. Boimler, sabendo da reputação dos ferengis, se nega, mas Mariner quer aceitar. Boimler chama a atenção de Mariner sobre os ferengis, mas a moça, se achando a sabichona, aceita, achando que o ferengi é um boliano. Boilmer pergunta qual é o código de pouso da nave ferengi e o ferengi puxa uma faca. Boimler desarma o ferengi com um phaser e diz a Mariner que estava certo. Eles encontram a nave auxiliar com K’orin dentro, desmaiado e bêbado, e deixam em frente à sede da Federação no planeta.
Na nave, Rutherford está no holodeck com o primeiro oficial testando situações de comando na ponte, e a experiência é um desastre total, sempre destruindo a nave ou causando muitas mortes. Rutherford, então, vai para a enfermaria e recebe da médica a ordem de conversar com um paciente para acalmá-lo, mas só consegue deixá-lo mais nervoso ainda. A médica, então, sugere que ele tente a segurança. Numa simulação com borgs, ele consegue destruir vários, e parece que finalmente Rutherford encontrou a sua verdadeira aptidão. Mas ao ver uma moça saindo de um tudo jefferies, ele decide que a engenharia é sua verdadeira paixão.
Na nave auxiliar, Mariner pede que Boimler mantenha em segredo que ela foi enganada por um ferengi e ele diz que não vai contar, pois estão num círculo de confiança. Mas na nave, ele espalha para todo mundo no bar. Mariner sai sem graça do bar depois de ser zoada. Na sua cama, no corredor da nave, ela conversa com seu padd com o ferengi do planeta. Ou seja, Mariner armou tudo para parecer uma tola perante Boimler e fazer o amigo reconquistar a autoconfiança. Já Rutherford disse a Tendi que o lugar dele é na engenharia e que não vai poder acompanhar com ela o pulsar no mirante. A moça de Órion diz que não tem problema e que ia acompanhar do padd mesmo, sendo que ela somente queria uma companhia. O episódio termina com os dois dentro do tubo jefferies, com Tendi olhando o pulsar pelo padd e Rutherford olhando uma peça no tubo jefferies, com os dois maravilhados com o que veem.
O que podemos falar de “Envoys”, o segundo episódio de Jornada nas Estrelas Lower Decks? Em primeiro lugar, esse foi um episódio muito melhor que o primeiro, no que tange ao relacionamento entre os personagens. Novamente tivemos uma História A eee uma História B, sendo que elas não interagiram no final. Na História A, Boimler e Mariner levam o General Klingon para um acordo de paz e acabam perdendo não somente o general como a nave auxiliar. Na busca pelo general e pela nave, Boimler, com a sua experiência de antropólogo de gabinete (ou seja, de um antropólogo que nunca interagiu realmente com culturas e só sabe a teoria), quebrava a cara sistematicamente, sendo sempre socorrida por Mariner, a que tinha a experiência de campo e zero de academicismo. Isso fez com que Boimler se sentisse o pior dos mortais e quisesse desistir de sua carreira. Mas aí Mariner armou o seu desconhecimento sobre os ferengis para que o amigo reconquistasse sua confiança, mesmo que ele a zoasse indefinidamente depois disso. Vemos aí a virtude da camaradagem em Mariner, que é considerada a personagem porra louca e indisciplinada da série, o que foi algo bem bacana. Na História B, vimos também Rutherford abrindo mão de sua carreira na engenharia num primeiro momento para poder assistir a um pulsar com sua amiga Tendi, ou seja, ele faz uma espécie de sacrifício pessoal por sua amiga, mesmo que depois ele retorne à engenharia Foi algo engraçadinho ver o final do episódio com os dois no tubo jefferies, uma vendo o pulsar no padd, outro olhando para as máquinas do tubo jefferies. Está faltando somente Rutherford ser menos tapado para rolar até um clima entre os dois.
Dessa forma, “Envoys” foi um bom episódio de Jornada nas Estrelas Lower Decks, sendo melhor que o primeiro, rolando uma boa química entre Boimler e Mariner e entre Rutherford e Tendi, com o episódio construindo uma melhor interação entre os personagens. Vamos ver o que vem por aí.