Uma grande música da Bonnie com Mike Oldfield…
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Batata Arts – Tesouros da Batata (138)
Mais outro tesouro…
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Lower Decks (S01, Ep 01), Segundo Contato. Apresentando Uma Nova Série.
E finalmente chega (?) “Jornada nas Estrelas, Lower Decks”. A franquia passa por altos e baixos desde a chegada do Abramsverso em 2009. Alguns fãs gostam, outros fãs não. Tudo sempre tem seus pontos positivos e negativos. Discutimos exaustivamente aqui as séries “Discovery” e “Picard”, com um saldo não tão positivo assim, pelo menos para este escriba que vos fala. E, como não pode deixar de ser, vamos agora falar de “Lower Decks”, que vem com uma proposta nova: fazer uma animação em tons de comédia para a franquia. Para a gente poder falar dessa estreia, vamos lançar mão de spoilers.
Qual é a impressão inicial? A meu ver, foi boa. Nada de muito espetacular, mas é um episódio que diverte e entretém. A proposta justamente é colocar em foco a tripulação de uma nave estelar que não tem muita importância hierárquica. Não são os oficiais sêniors os protagonistas aqui. Aliás, eles são investidos de uma empáfia e arrogância acima dos limites. Mas, devemos nos lembrar, aqui a vibe é outra. É uma coisa para rir mesmo. A começar pelo nome da nave, que tem nome de salgadinho da Elma Chips: Cerritos. Sem falar que os protagonistas da série, por possuírem patentes menores, são mais jovens e inexperientes, o que faz com que eles se metam em situações engraçadas o tempo todo. O primeiro personagem a ser apresentado é o alferes Brad Boimler, que gosta de seguir direitinho as regras, além de fazer vários diários de bordo além da conta. Sua amiga, a alferes Beckett Mariner, é, digamos, um tanto hiperativa e é o oposto de Boimler, sempre passando por cima das regras, mas tem muita experiência com situações de campo, pois sempre é expulsa de onde está por questões de indisciplina, sendo um tanto rodada na Frota Estelar. A alferes Tendi é uma moça de Órion (é toda verdinha, portanto) que está muito impressionada em servir numa nave estelar e vai trabalhar na enfermaria. Já Rutherford é um engenheiro aprimorado ciberneticamente.
Duas histórias paralelas são desenvolvidas no primeiro episódio, ao bom estilo das histórias A e B que víamos nas séries mais antigas de Jornada nas Estrelas. Na história A, vemos Boimler sendo obrigado a vigiar sua amiga Mariner a mando da capitã Freeman (depois sabemos que Mariner é filha da capitã, que está preocupada com o histórico de indisciplinas da filha, sendo mudada constantemente de posto pela Frota Estelar) na superfície do planeta onde se está fazendo o segundo contato. E, na segunda história, o primeiro oficial Ransom é picado por um inseto e se torna extremamente agressivo, atacando as pessoas a dentadas, passando essa doença para os demais tripulantes. No meio de toda essa turbulência e do alerta vermelho, o engenheiro Rutherford se encontra com uma alferes que se apaixona por ele, mas o engenheiro não é esperto o suficiente para perceber isso. Será Boimler que trará o antídoto para a doença, já que ele foi “chupado” por uma aranha gigante que funciona como vaca de uma fazenda da superfície do planeta alienígena e cuja gosma é o antídoto.
Assim, “Jornada nas Estrelas Lower Decks” é uma série engraçada, tendo os seus momentos de humor pesado e negro. Alguns comentários por aí dizem que a série se aproxima um pouco da animação “Ricky and Morty”, mas confesso que não vi essa última. De qualquer forma, as piadas mais pesadas não chocam muito,e o saldo da série foi positivo para esse episódio, o que já é muito se nos lembrarmos das críticas mais contundentes a Discovery e Picard. Vale a pena dar uma conferida e torcer para que a animação chegue ao Brasil pelo menos por algum canal de streaming.
Batata Movies – Os Nibelungos, Parte 1, A Morte De Siegfried. A Lenda, O Lúdico, O Decorativo.
Dando sequência às análises de filmes de Fritz Lang, chegamos a “Os Nibelungos, Parte 1, A Morte de Siegfried” (“Die Nibelungen, Siegfried”, 1924). A obra ainda conta com ma segunda película, “A Vingança de Kremilda”, que será analisada posteriormente. “Os Nibelungos” deram um bom sucesso comercial, o que fez com que a produtora UFA desse a Fritz Lang carta branca para fazer uma superprodução que geraria “Metrópolis”. Esse é um filme baseado numa lenda medieval alemã, e dedicado a todo o povo alemão, como podemos ver no início da película. Para podermos analisar esse filme, vamos liberar os spoilers de noventa e seis anos.
O filme gira em torno do herói Siegfried (interpretado por Paul Richter), filho do rei Siegmund, que aprendeu a forjar uma espada com seu mestre e não tinha mais o que aprender. De alguns aldeões tomou conhecimento do Reino da Burgúndia e da bela Cremilda (interpretada por Marguerete Schön). Irmã do rei Gunther (interpretado por Theodor Loos). Siegfried, em todo o seu heroísmo (e uma certa arrogância) viaja para a Burgúndia. No caminho, enfrenta um terrível dragão e o mata. Ao provar o sangue do dragão, entende a língua dos animais. Um pássaro o orienta a se banhar no sangue do dragão, o que vai deixar seu corpo invencível. Mas uma folha de tília cai caprichosamente sobre seu ombro enquanto se banha e aquela será a única região vulnerável de seu corpo. Siegfried ainda consegue tomar o tesouro dos nibelungos durante a viagem.
Ao chegar a Worms, sede do reino burgúndio, Siegfried faz um acordo com o rei Gunther: em troca da mão de Cremilda em casamento, Siegfried, com seu manto mágico que o torna invisível, ajudará Gunther a desposar Brunilda (interpretada por Hanna Ralph), que só aceitará o homem que a vencer em três provas: arremesso de pedra, salto em distância e arremesso de lança. Mas Brunilda, depois de derrotada, descobrirá a farsa, quando ela desafia Cremilda e esta lhe conta do acordo entre Siegfried e Gunther, apesar de seu voto de silêncio. Cremilda diz o segredo, pois foi desafiada por Brunilda, sendo chamada por esta de “a mulher do vassalo”, já que essa era a posição de Siegfried com relação à Gunther. Brunilda, enfurecida, exige a morte de Siegfried e diz a Gunther, de forma mentirosa, que foi desvirginada por Siegfried. Hagen Tronje (interpretado por Hans Adalbert Schlettow) se oferece para mater Siegfried e, de forma sorrateira, diz a Cremilda que quer proteger o marido dela, perguntando onde é o seu ponto fraco para protegê-lo. Cremilda costura na roupa de Siegfried uma cruz onde fica seu ponto fraco. Numa caçada, Hagen finge apostar uma corrida com Siegfried até uma fonte e o atinge bem em seu ponto fraco com uma lança, matando-o. Brunilda também morre (ela se suicida) e Cremilda promete vingança a Hagen. Está pronto o terreno para a sequência, “A Vingança de Cremilda”.
O filme tem tons de superprodução, a começar pelo dragão mecânico, de realismo realmente incrível para a sua época. Mas o que mais impressiona são os cenários e o figurino, fortemente decorados, atuando como personagens à parte, junto ao pronunciado claro/escuro expressionista. Escudos medievais ornados com motivos geométricos, as indumentárias obscuras e com asas de pássaros em Hagen e Brunilda, que contrastavam com o claro dourado das indumentárias de Siegfried e Cremilda, chamavam muito a atenção do espectador. Cenários gigantescos, como a grande silhueta sombria do castelo, ou a enorme escadaria frente à Igreja, onde as pessoas se dispunham em formas geométricas perfeitas mostram as características altamente decorativas do filme e são de forte impacto visual, sendo uma atração à parte e engrandecendo o filme, que, se trabalha o lúdico dentro da lenda medieval alemã, acaba sendo uma história de assassinato e vingança.
Hagen será o algoz perfeito de um SIegrfried heróico mas que também se investiu de uma arrogância desmedida, invadindo um reino e tomando suas posses (o tesouro dos nibelungos, o sangue do dragão e a mão de Cremilda) lnçando mão de um acordo com o rei Gunther para conquistar, pela força, a viril Brunilda. Brunilda, que, conquistada, e sabendo da farsa arquitetada por Gunther e Siegfried, exigiu a morte deste último. Brunilda, que foi consumida pelo próprio sentimento de vingança, caindo morta perante o corpo de Siegfried. Uma tragédia em torno da vingança que já seria uma espécie de aviso premonitório no que viria na segunda parte do filme. Mas, mesmo assim, Cremilda buscaria sua vingança, assim como ela promete para Hagen ao final do filme. A luminosa, dourada e ingênua irmã de Gunther, agora, consumida pelo ódio, assume tons sombrios em sua face e em seu espírito. Mais uma vez, o duplo aparece na obra de Lang, num presságio da tragédia que se vislumbra no horizonte.
Dessa forma, “Os Nibelungos, Parte 1, A Morte de Siegfried” pode ser considerado como uma das grandes obras da fase alemã e expressionista de Lang. Um filme onde o decorativo e o claro/escuro funcionam como personagens à parte, espelhando uma lenda medieval alemã que trabalha os temas do assassinato e da vingança. Vale a pena dar uma conferida no filme legendado em português na íntegra abaixo.
Batata Movies – A Morte Cansada. Uma Morte Blasé.
Mais um filme da fase alemã de Fritz Lang. “A Morte Cansada” (“Der Müde Tod”, 1921), é um clássico do expressionismo alemão e mostra uma curiosa faceta daquela que ninguém consegue evitar. Permitam-me uma pequena observação pessoal, mas essa é a minha personificação da morte preferida, batendo até a de “Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman. É uma morte legal, embora um tanto blasé. Para podermos falar do filme, vamos ter que liberar os spoilers de noventa e nove anos.
O plot é o seguinte. Um jovem casal (interpretado por Lil Dagover e Walter Janssen) chega a uma cidade numa carruagem juntamente com um estranho homem. Ele compra um terreno público que seria usado como a extensão do cemitério local para fazer um jardim, que tem um muro intransponível. O casal e esse homem estão numa espécie de bar. A moça se retira momentaneamente e, quando volta, não vê mais seu amado nem o estranho homem. Depois de procurar, chega ao tal muro e encontra o estranho homem que é a morte (interpretado por Bernhard Goetzke). A moça implora para ter seu amado de volta, mas a morte diz que a hora dele chegou. A morte ainda diz que está cansada de fazer valer a vontade de Deus e de ser tão mal falada pelas pessoas. A morte conduz a moça a uma sala cheia de velas, algumas compridas, outras curtas, dizendo que cada vela representa a vida de uma pessoa e a duração da vida da mesma. Compadecida do sofrimento da moça, a morte mostra três velas que representam três pessoas de diferentes épocas que estão à beira da morte e, que se ela conseguir evitar uma dessas mortes, tem o seu amado de volta. Uma das velas é a de um francês que namora a irmã de um califa; outra é a de um amante de uma mulher prometida a um nobre da Veneza do século XVII e outra é a de um namorado de uma moça que é cobiçada por um Imperador da Antiga China. Nas três histórias, a moça falha em evitar a morte de seu amado. A morte lhe concede uma última chance, onde a moça terá uma hora para convencer alguém a substituir seu amado e morrer no lugar dele. É claro que ela não logrará êxito. Mas, num incêndio, ela tenta pegar uma criança que está presa no fogo e, na hora de entregá-la à morte, ela desiste, entrega a criança pela janela à mãe, e volta para dentro da casa em chamas, sendo levada pela morte para seu amado, sacrificando-se, pois a vida solitária sem o amado não tem sentido.
O que podemos falar desse filme em primeiro lugar? Deve ter sido uma produção um tanto complicada, já que três ambientes históricos tiveram que ser reproduzidos, exigindo muito do figurino e de uma quantidade razoável de figurantes. As histórias árabe e chinesa parecem ter sido as mais dispendiosas, ao passo que vimos algo um pouco mais econômico na história sobre a Veneza do século XVII, onde a interpretação de Rudolf Klein-Rogge (sempre ele!) como o futuro marido ao qual a personagem de Lil Dagover foi prometida foi primorosa. O filme ainda tem uma estética expressionista marcante, seja nas atuações de Lil Dagover, mesmo que elas tenham sido um pouco contidas em alguns momentos, seja no uso bem competente do claro/escuro, tanto nas locações externas quanto internas. A cena da sala onde estão as velas foi a de maior plasticidade e contraste do filme. Se Lil Dagover foi a protagonista e já nos brindou com sua competência, fazendo vários papéis no filme, além de ter mostrado seu talento camaleônico em “Harakiri” e “As Aranhas”, chama muito a atenção a morte de Bernhard Goetzke, onde sua face sinistra abriga, na verdade, uma morte piedosa e complacente, pois ela já está cansada de fazer a vontade de Deus e de ser mal falada por isso. Ou seja, entra um questionamento aí dos desígnios de Deus no filme que desperta a nossa curiosidade. E aí, o fato da morte dar algumas chances para a personagem de Lil Dagover tentar trazer seu amado de volta à vida pode soar como uma espécie de rebelião a esses desígnios divinos, como se a morte quisesse se isentar de provocar tanta tristeza e assinalar o verdadeiro responsável pelo fim da vida das pessoas, no caso Deus. Talvez ´possamos enquadrar a morte de facce sinistra e comportamento complacente de Bernhard Goetzke como mais um dos duplos expressionistas que povoam a filmografia de Lang.
Dessa forma, “A Morte Cansada” é uma grande película de Fritz Lang, seja pela estética das imagens em claro/escuro, seja pelas interpretações notáveis de Dagover e Goetzke, seja pela morte duplamente sinistra e complacente que não aguenta mais cumprir os desígnios de Deus e ser responsabilizada por isso. Um filme com três histórias dentro da história principal que primam pelos figurinos, excesso de figurantes e cenários. Não deixe de ver o filme na íntegra legendado em português abaixo.
Batata Movies – Harakiri. Mergulho Na Cultura Oriental.
Falemos de mais um filme da fase alemã de Fritz Lang. “Harakiri” (1919) é um mergulho total na cultura oriental, bem ao estilo do gosto do diretor, onde ele dá a sua leitura para “Madame Butterfly”. Para podermos falar desse filme, vamos liberar os spoilers de cento e um anos.
O plot fala de O-Take-San (interpretada por Lil Dagover), a filha de um Daimyo, Tokuyama (interpretado por Paul Biensfeldt), um nobre japonês entusiasta dos hábitos do Ocidente. Ao voltar de uma viagem, Tokuyama é repreendido por um monge budista (interpretado por Georg John), que diz que o Daimyo deve se apegar às tradições de seu povo e obriga O-Take-San a participar de um ritual a Buda. Devido aos seus hábitos ocidentais e a dizer que, para ele, O-Take-San tem a liberdade de participar ou não do ritual budista, Tokuyama é chamado à atenção pelo Imperador (influenciado pelo monge) e é obrigado a cometer harakiri para restaurar sua honra. O-Take-San conhece o oficial da marinha holandesa Olaf Anderson (interpretado por Niels Prien, quando este invade o jardim sagrado onde O-Take-San é mantida pelo monge. Mas O-Take-San é retirada à força de lá para se tornar uma gueixa, e vai para o prostíbulo de Yoshiwara, onde reencontra Olaf. O dono de Yoshiwara diz que, se Olaf quer ficar com O-Take-San, ele deve permanecer casado mil dias com ela. Se isso não tiver acontecido ao final dos mil dias, O-Take-San volta a ser uma gueixa. Olaf se casa com O-Take-San, a engravida e volta para a Europa, prometendo voltar antes dos mil dias. Mas se casa com uma europeia e deixa O-Take-San com um filho e um aluguel a pagar depois de três anos. Enquanto isso, o príncipe Matahari (interpretado por Meinhart Maur) se apaixona por O-Take-San, a protege das investidas do monge e do dono da casa alugada onde ela vive, mas mesmo assim O-Take-San insiste no seu amor por Olaf. O oficial europeu volta ao Japão com sua esposa. O-Take-San, que passava os dias na praia esperando as embarcações vindas da Europa, se entusiasma e prepara a casa com muitas flores, mas Olaf não aparece. Sua amiga vai falar com Olaf, que se nega a ir. A esposa de Olaf decide ir. Quando O-Take-San descobre que Olaf está casado, ela se sente desonrada e a única alternativa a ela é o harakiri. A esposa de Olaf pega o filho de O-Take-San e leva junto para criar com o pai que não honrou seu compromisso.
É uma história trágica, sem dúvida. Mas devemos ver aqui como Lang a trabalhou. Esse é um filme onde a cultura japonesa foi exaltada em sua plenitude. Se o monge japonês lançava mão da tradição para oprimir O-Take-San, também fica claro no filme que ele o fazia com interesses escusos, como se Lang quisesse dizer que não era a cultura a culpada pelo sofrimento de O-Take-San, mas sim a perversidade do monge. A questão da honra e da fidelidade ao amado por parte de O-Take-San, a ponto de se recusar a ter uma vida confortável com um príncipe, mostra a virtuosidade da personagem que não abre mão de sua honra quando vê seu amor desmoronar, cometendo o harakiri. Lang enfatiza bem que, para o japonês, é impossível viver sem a sua honra, com a morte sendo a única alternativa para restaurá-la, enquanto que o europeu Olaf, ao abandonar O-Take-San grávida, casada e esperançosa de uma promessa a ser cumprida, jogava a sua honra no lixo com um simples dar de ombros.
O filme tem momentos de muitas plasticidade das imagens. A festa na casa de Tokuyama, onde vemos um lago com muitos barcos, é de grande beleza, num filme que prima muito pela decoração dos interiores e figurino. As cenas de O-Take-San na praia, com olhar perdido no horizonte, à espera do amado, são de uma melancolia muito tocante. Não é à toa que o nome de Lang foi pensado para a direção de “O Gabinete do Dr. Caligari”, mas o produtor Erich Pommer preferiu usar o diretor para a sequência de “As Aranhas”.
Dessa forma, “Harakiri” é um filme de Lang que exalta de uma certa forma a cultura oriental, mencionando o extremo do ritual do harakiri como uma prova da preocupação dos japoneses com a honra. Além disso, o filme de Lang tem grande plasticidade nas imagens, com preocupações em decorações, figurino, mas também com uma imagem de O-Take-San na praia, carregada de sentimentos de melancolia. Vale a pena ver o filme abaixo, com intertítulos em espanhol.
Batata Movies – Espiões. Ação, Crime e República de Weimar.
Mais um filme da fase alemã de Lang. “Espiões” (“Spione”, 1928) é outro longa de Lang com uma duração maior do que a normal, cerca de duas horas e meia (filmes como “Metrópolis” e “A Mulher na Lua”, que serão futuramente resenhados aqui, se incluem nessa categoria), regado a muita ação, um vilão emblemático (interpretado por Rudolf Klein-Rogge) e alguns elementos que nos lembram um pouco a História da República de Weimar e que pareciam prever o futuro de uma forma assustadora. Para podermos falar dessa película, vamos precisar liberar os spoilers de noventa e dois anos.
O plot é o seguinte. Haghi (interpretado por Klein-Rogge) é o dono de um banco que também lidera uma rede de espionagem que rouba documentos secretos e tratados. A polícia tenta desbaratar essa rede de espionagem e lança mão de vários agentes para isso. Só que muitos deles acabam assassinados. A bola da vez será o agente 326 (interpretado por Willy Fritsch), que iniciará uma investigação. Haghi, então, enviará Sonja (interpretada por Gerda Maurus) para seduzir 326 e matá-lo. Mas ela se apaixona pelo agente e o poupa. Com isso, Haghi à manterá confinada e vai lançar mão dela em outras missões. Durante a exibição do filme, vemos um jogo de gato e rato entre a polícia e a organização secreta de Haghi, que continuará a roubar documentos secretos. Ao final, depois de muitas investigações e subtramas, a polícia consegue chegar ao banco de Haghi, que libera um gás venenoso em todo o prédio para fugir. A polícia consegue descobrir que Haghi é um agente duplo, cujo disfarce é o de um palhaço num show de variedades. Ele é cercado pela polícia durante uma de suas apresentações e acaba se suicidando com um tiro na cabeça.
Esse é um filme surpreendente, por ter uma trama muito intrincada, que muito exige a atenção do espectador, até porque essa é uma película muda. O que chama a atenção é que o mocinho do filme não é exatamente o protagonista. Ele até some do filme um pouco, depois que é enganada por Sonja, que também desaparece. Esse é um filme cheio de subtramas, onde Haghi sempre ganha da polícia e consegue seus objetivos, sendo esse o grande protagonista do filme, mesmo que agindo nos bastidores. Dentre as subtramas, chama a atenção a que envolve os japonses, onde o Dr. Masimoto (interpretado por Lupu Pick), conversa com um 326 arrasado no bar depois deste ter sido enganado por uma mulher e Masimoto o ter aconselhado a não se deixar levar por uma mulher, ele mesmo irá ser seduzido por uma agente de Haghi e perderá um documento secreto para ela, depois de Masimoto ter sacrificado três agentes com documentos falsos, que também foram pegos por Haghi. Com isso, Masimoto acaba se suicidando, ao bom estilo japonês. Mais uma vez, Lang insere as culturas orientais em seu filme.
O que muito chama a atenção é a forma como a República de Weimar aparece no filme. O início da película mostra todo um rosário de crimes de Haghi, onde víamos até assassinatos de políticos, algo que acontecia naqueles dias de Alemanha da década de 20, onde grupos extremistas faziam ataques a políticos com os quais eles não concordavam em seus procedimentos. O próprio Haghi é a personificação de um grande empresário capitalista cruel, que muito contribuiu para a ascensão do nazismo no país. A cena do ataque ao Banco de Haghi impressiona não somente pela ação e violência, mas também pela incômoda previsão do uso do gás venenoso. O filme também tem um certo quê premonitório ao seu desfecho quando Haghi, o agente duplo, cercado por todos os lados, acaba cometendo suicídio. Impossível não fazer uma analogia com Hitler, que também foi um agente duplo antes de manipular o Partido dos Trabalhadores Alemães (que, inclusive, ele foi incumbido pela polícia de vigiar), e transformá-lo no Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Devemos lembrar também que Haghi não era um criminoso comum, somente interessado pelo dinheiro. Seu real interesse era ter posse de segredos de estado e tratados, para ter a capacidade de um certo poder político de manipulação. Ou seja, um grande empresário capitalista que busca o poder político de formas ilícitas. Nada mais contemporâneo do contexto histórico de Weimar.
Assim, “Espiões” é um grande filme de Lang, que pode até ser alçada á categoria de uma grande produção, pela grande duração do filme, pelo roteiro intrincado e pela forma como Lang traz, nas entrelinhas, todo o contexto histórico da República de Weimar, indo até, de forma assustadora, ao premonitório. Não deixem de ver abaixo o filme na íntegra, com intertítulos em espanhol.
Batata Jukebox – Tema de Abertura da Copa de 1990 Un’Estate Italiana (Gianna Nannini e Edoardo Bennato).
Não sei por que, mas adoro essa música até hoje. E não deixem de ver todo esse trechinho da cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 1990, porque há a versão da música em inglês no final. A moça que canta em italiano é Gianna Nannini, irmã mais velha daquele ex-piloto de Fórmula 1, Alessandro Nanini…
E se me permitam, vamos rever isso tal como se passou na TV Italiana, com a linda abertura em computação gráfica e a música “A Lenda de Babel”, da trilha sonora de Metrópolis…