De um ponto de vista trágico…
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Batata Movies (Especial Oscar 2020) – Um Lindo Dia Na Vizinhança. Só Se Leva Dessa Vida A Vida Que Se Leva.
Mais um filme que concorre ao Oscar. “Um Lindo Dia Na Vizinhaça” concorre a uma estatueta para Melhor Ator Coadjuvante com Tom Hanks. Esse é um daqueles filmes que costumam chamar a atenção para como o espectador leva a sua vida e o seu relacionamento com as pessoas que o cercam. Um daqueles filmes que nos fazem refletir, e muito. Um filme baseado numa história real e que, para podermos compreendê-lo melhor, vamos precisar de spoilers.
O plot gira em torno de Fred Rogers (interpretado por Hanks), um apresentador de programas infantis, digamos, muito zen. Seu show de TV é algo extremamente delicado e lúdico, sendo muito amado por seus telespectadores. O jornalista Lloyd Vogel (interpretado por Matthew Rhys) é convocado pela revista em que trabalha para entrevistar Rogers. Vogel inicialmente estranha muito a forma como Rogers trabalha, dando uma grande atenção a todos os seus fãs a ponto de atrasar muito o cronograma de seu programa de TV. Por ser uma pessoa muito solicitada e solícita, Rogers faz com que a entrevista que ele dá para Vogel seja em doses homeopáticas, onde os dois se conhecem cada vez mais e estabelecem uma amizade. Vogel é conhecido por ser agressivo naquilo que escreve sobre seus entrevistados, mas a experiência com Rogers será bem diferente, onde o apresentador acaba entrando muito na vida pessoal do jornalista, que tem um relacionamento extremamente conturbado com o pai, devido a fortes traumas do passado (sua mãe morreu quando Vogel ainda era criança e o pai havia abandonado a família). Com o tempo, Vogel percebe, com a ajuda do relacionamento entre ele e Rogers, que é necessário rever seus conceitos e convicções sobre a vida e encarar os rancores e mágoas para superá-los e recuperar o tempo perdido nas relações com o seu pai e até com sua esposa e filho pequeno.
Esse é um filme que pode se definir em uma palavra: o lúdico. Ele se passa num ambiente todo infantil baseado no programa de Rogers, onde a paisagem é construída a partir de cenários que mais parecem uma cidade de brinquedo. Isso, aliado a uma trilha sonora muito suave, faz com que o filme tenha toda uma leveza especial, chegando aos limites do etéreo. Mas o que ajuda muito no clima suave do filme é, sem dúvida, a atuação de Tom Hanks. Seu Fred Rogers é a delicadeza em pessoa e nem uma suposta sequência constrangedora com os fantoches de seu programa numa conversa com Vogel estragam o clima. Na verdade, parece mesmo é que Vogel se comporta como um peixe fora d’água na situação. Hanks comprova mais uma vez o seu enorme talento, mostrando sua face para lá de camaleônica, onde vemos muito mais o personagem do que o ator atuando, sendo um deleite para os olhos. Aliás, Hanks é o típico ator que nos leva para o cinema, independente do tipo de filme (eu confesso que não tinha a menor idéia do plot do filme antes de chegar ao cinema e tudo se mostrou uma grata surpresa). Infelizmente a disputa para ator coadjuvante foi muito forte esse ano e Hanks não levou o prêmio, mas a indicação já foi algo de muito válido para um filme com um plot dessa natureza altamente lúdica.
Assim, “Um Lindo Dia Na Vizinhança” é um filme que chama a atenção pelo clima suave e lúdico contido nele, onde as miniaturas que representam a cidade dão um clima infantil para o filme. Mas a leveza se ampara muito na atuação de Tom Hanks que faz jus à indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Além disso, é um filme que nos faz refletir como levamos nossas vidas e como nos relacionamos com o próximo. Vale muito a pena a experiência.
Batata Movies (Especial Oscar 2020) – Judy. O Ocaso De Uma Artista.
Mais um filme que concorreu ao Oscar. “Judy” concorreu a duas estatuetas (Melhor Atriz para Renée Zellweger, levando esse prêmio, e Maquiagem e Cabelo) e nos conta a trajetória da diva Judy Garland, que todos nós conhecemos como a Dorothy de “O Mágico de Oz”. É um daqueles filmes que pesca o cinéfilo pelo coração desde o início. Para podermos falar sobre o filme, vamos precisar, como sempre, de spoilers.
A película opta por focar mais no ocaso da carreira da atriz (interpretada por Renée Zellweger), quando ela está afogada em dívidas e nem lugar para morar ela tem, precisando ficar aqui e ali com seus dois filhos pequenos (Liza Minelli já está crescida e estabelecida). Isso vai fazer com que seu ex-marido Sid (interpretado por Rufus Sewell) peça a guarda dos filhos, o que vai deixar Judy Garland abalada. Sem dinheiro e sem propostas de trabalho, ela aceita a oferta de se apresentar na Inglaterra e aí o filme mostra o dia-a-dia de Judy Garland em terras inglesas, onde suas apresentações alternavam altos e baixos, sempre regados a muitos remédios e bebidas, despertando um dó danado na gente.
O filme também mostrou, em menor escala, momentos da juventude da atriz, onde a gente consegue compreender porque ela acabou se tornando uma pessoa tão atormentada e difícil. Sua mãe a obrigava a ser altamente profissional, não dando a ela nem o direito de se alimentar de forma satisfatória para não engordar e ainda a enchia de remédios para ficar acordada e para dormir, tornando-a dependente de todos esses medicamentos. Era uma prática comum entre os artistas tomar essas medicações para não dormir em virtude da maratona de shows e, depois, para poder evitar a insônia, tomar também medicações para dormir, numa época em que ninguém acreditava que isso fazia muito mal e detonava o organismo. Nossa Carmen Miranda também passou por essa experiência e foi isso que acabou abreviando demais as vidas tanto de Carmen quanto de Judy (a primeira morreu com 46 anos e a segunda com 47 anos).
Em virtude de toda essa situação, Judy metia os pés pelas mãos e, aos poucos, fechou a última porta que restava, que era a temporada inglesa. Nem as tentativas de seu novo marido, Mickey Deans (interpretado por Finn Whittlock) foram suficientes para levantar sua carreira, o que acabou com o casamento entre os dois. É realmente muito doloroso ver toda a via crucis de Judy para o inevitável caminho que todos já sabíamos. E aí, Zellweger foi fundamental nisso, pois ela convence, e muito, no papel, sendo, a meu ver, muito merecedora da estatueta de Melhor Atriz. Sua atuação é muito tocante, mostrando toda a fragilidade e agressividade de Judy nas medidas certas, monopolizando todas as atenções.
Apesar de todo o rosário de lamúrias que o filme provoca, nem tudo era somente sofrimento. Há uma sequência em que ela vai dar autógrafos a dois amigos depois do show e acaba decidindo sair com eles. Como não acham um restaurante aberto tarde da noite, ela vai para a casa deles, onde descobre que são um casal gay que sofrem muitas perseguições, se identificando com eles, já que toda a sua carreira sempre foi forjada com base em muitas exigências, não dando a ela um momento mínimo para viver em paz como ela mesma, dentro de suas vontades e desejos, sendo sempre reprimida quando saía um pouco do cabresto que lhe fora severamente imposto por toda a vida. E, ao final do filme, ela, já demitida, ainda entra no palco uma última vez e, ao cantar “Somewhere Over The Rainbow” e, não conseguir, em virtude de todo o peso que carregou nas costs a vida inteira, vê todo o teatro lotado cantando para ela, sendo um desfecho para o filme de dar muitas lágrimas nos olhos. Um certo alívio para tanto sofrimento de uma mulher que não conseguiu se reerguer e reconquistar a guarda dos filhos.
Assim, “Judy” é um programa obrigatório para qualquer cinéfilo e para qualquer espectador. Um filme que consagra Zellweger e é uma justa homenagem a Judy Garland, um enorme talento que foi triturado pelo star system. Imperdível.
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 4), Franqueza Total. Todo Mundo Odeia O Picard, Menos As Beatas.
O quarto episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “Franqueza Total”, repetiu mais ou menos o que vimos no episódio anterior: um plot mais fraco e outro mais razoável desenvolvidos simultaneamente, onde mais elementos são introduzidos paulatinamente. Para podermos falar desse episódio, vamos precisar lançar mão dos spoilers.
O episódio começa no planeta Vashti, no quadrante Beta, quatorze anos antes dos acontecimentos atuais da série, ou seja, mais um flashback. Picard, de chapéu Panamá e tudo, chega a um centro de transferência romulano, prometendo que a Federação fará o reassentamento. Picard é amigo de um grupo religioso de romulanas, o Qowat Milat, que cria um pequeno menino, Elnor, a quem Picard tem certa afeição filial. O clima entre Picard, as religiosas e Elnor é o melhor possível, o que nos traz um certo alívio, pois temos visto Picard ser esculachado por muitas pessoas ao longo dos episódios. Parece até uma série no estilo “Todo Mundo Odeia o Picard”. Mas não vemos isso no “mosteiro” romulano. Esse grupo religioso também é interessante no sentido de que vemos uma diversidade na cultura romulana, que sempre foi muito carregada de uma visão belicista, desconfiada e ardilosa. Se vimos a construção da cultura klingon mais trabalhada em TNG, parece que em “Picard” isso se dará com os romulanos. Mas Picard, que lê “Os Três Mosqueteiros” para Elnor e brinca de espada com ele, precisa retornar em virtude do ataque dos “sintéticos” a Marte.
Após a abertura, o episódio começa com uma conversa filosófica entre Jurati e Rios sobre a definição de espaço e sobre o livro que ele lê que fala do drama existencial ao termos consciência da finitude de nossa morte. Foi um momento meio arriscado, pois ele quase caiu naquelas falas meio loucas de Tilly em Discovery. Ainda bem que não chegou a tanto. O Chabon se segurou. Raffi, tresloucada como ela só, reclama que a nave desviou o curso e Rios explicou que Picard mandou desviar o curso para Vashti e a senhora bipolar reclama mais uma vez dizendo que Picard precisa de uma nave para lidar com o próprio remorso, mais uma vez esculhambando o protagonista. Picard, por sua vez está num programa de holograma de hospitalidade (um nome mais pomposo para o holodeck), conversando com um dos hologramas de Rios que reproduziu o vinhedo com bastante acurácia. A conversa calma é interrompida por Raffi, que reclama do desvio do curso (ao que Picard faz uma expressão impaciente) e Rios, que reclama dos hologramas de hospitalidade lançando mais um palavrão no fim do século 24. Aqui houve um fan service, pois quando bateram à porta do holograma de hospitalidade, Picard soltou o seu “Come!” característico, embora ele tenha falado um pouco mais alto que o esperado (na verdade, ele praticamente berrou).
Numa reunião com Jurati, Raffi e Rios, Picard explica o motivo de ir a Vashti. Ele quer entrar em contato novamente com o Qowat Milat, pois as religiosas ajudaram muito na evacuação dos romulanos e elas são guerreiras temidas pelo Tal Shiar. Ele precisa da ajuda delas nessa nova missão, e elas o ajudarão se acharem pertinente, pois elas são adeptas da chamada “Franqueza Total” onde se manifestam, sem rodeios, sobre o que pensam de uma determinada coisa. Raffi ainda tenta convencê-lo a ir para Freecloud, mas Picard diz que pode ser a última vez que ele vá a Vashti. Como Raffi estava num modo mais calmo dessa vez, ela se calou e simplesmente fechou os olhos, se compadecendo do amigo. Outra informação importante dada por Rios é que Vashti fica numa região controlada por grupos criminosos que outro grupo, os Rangers de Fenris, não conseguiram controlar.
Ao chegarem a Vashti, eles encontram um sistema de defesa praticamente impenetrável e não recebem autorização para descer, mesmo quando o nome de Picard foi citado. Logo depois, vemos Picard sendo teletransportado para a superfície do planeta, depois de Rios ter sugerido que “o uso do dinheiro é sempre apropriado”. Ou seja, molharam a mão da guarda da superfície do planeta para deixarem Picard entrar. Ou foi isso que ficou implícito. Todos na superfície do planeta ignoram Picard sistematicamente, menos as religiosas do Qowat Milat.
No cubo Borg, Soji vê antigas gravações de Ramdha falando de uma espécie de Dia da Destruição final para a cultura romulana, onde o destruidor, Seb-Cheneb levaria isso a cabo. Numa conversa entre Soji e Narek fica claro que os dois têm coisas a esconder um do outro, o que torna o clima tenso entre os dois. Narek acha que Soji mente com relação a alguns aspectos de seu passado e a chama de mentirosa, além de atiçá-la com o seu acesso a informações confidenciais do banco de dados borg que ela quer sobre a nave onde Ramdha estava quando foi assimilada. Foi um plotzinho um pouco enjoado esse, com direito a ficarem escorregando idilicamente pelos corredores do cubo borg.
De volta ao núcleo de Picard, Raffi e Rios descobrem que Picard foi reconhecido e uma ave de rapina romulana antiga de Kar Kantar, o criminoso local, está a caminho. Picard disse que precisa de mais tempo na superfície do planeta. Elnor está chateado com o tratamento frio de Picard e a religiosa pede que Picard veja Elnor com mais cuidado, pois ele precisa de um lugar para se fixar, pois o Qowat Milat é uma ordem feminina e a vida do moço pode estar em perigo se ele continuar sem eira nem beira. Ainda, Picard pede ajuda a religiosa dizendo que luta sozinho contra o Tal Shiar.
Picard explica a natureza de sua missão a Elnor e pede sua ajuda, já que ele é um excelente guerreiro e espadachim e Elnor fica revoltado, pois Picard só o procurou quando precisava dele. Elnor ainda chamou Picard de velho e lhe deu as costas. Ou seja, mais um na série a esculachar Picard. Pelo menos, já está começando a parecer que Picard, pelas suas entonações de voz, está perdendo a paciência com esse tipo de tratamento. Picard diz que vai voltar a nave e precisa esperar a abertura da defesa do planeta em sete minutos. Enquanto isso, ele anda pela vila e recebe novamente olhares hostis. Ele para em frente a uma birosca com placa “somente romulanos” e a arranca, além de entrar na birosca. Parece que ele se cansou de todas as esculhambações que sofreu na série até agora, pirou na batatinha e ficou disposto a arrumar confusão. Confesso que gostei disso, pois a postura dele contra os que os hostilizavam na série tem sido submissa demais para o meu gosto. Um homem, se dizendo ex-senador romulano, reclamou das promessas vazias de evacuação que Picard tinha oferecido e da sua desistência de resgatá-los, desafiando-o para um duelo de espadas. Picard joga a espada no chão e se recusa a fazer o duelo. Elnor aparece do nada e pede para o ex-senador escolher viver. O ex-senador parte para cima de Picard e Elnor o decapita. Mais um exagero aqui. Decapitações em Jornada nas Estrelas? Ah, sim, já vimos em “Discovery”. Mas isso ficou uma violência demasiado gratuita. Seria muito mais interessante Elnor render o ex-senador, colocar a espada em seu pescoço prestes a cortá-lo e Picard dar um berro, detendo a decapitação no último instante, mostrando a toda a vila romulana que Picard se importava com a vida dos romulanos ali. Ao invés disso, Elnor diz publicamente que está ao lado de Picard e quem tentar fazer alguma coisa com o almirante vai morrer. Picard tenta remendar o estrago se desculpando com a comunidade dizendo que falhou com eles no plano de resgate. Ou seja, o filme do Picard só ficou mais queimado ainda, quando era a chance dele se redimir com aquela comunidade. Um romulano ainda iria tentar alvejá-los com uma arma, mas eles se teletransportaram antes disso. Na nave, Picard finalmente age como um capitão e dá um baita de um esporro em Elnor, dizendo que ele não devia ter matado o senador e que, se Elnor quer ficar sob a liderança de Picard, só usará seus dotes guerreiros com ordem de Picard. Estava demorando que nosso capitão tomasse uma atitude mais enérgica nessa série. Até porque, pior do que vários personagens esculhambarem o Picard ao longo desses quatro episódios, é a gente sentir que os roteiristas faziam a mesma coisa, pois Picard tinha atitudes complacentes demais com as hostilidades que estava recebendo. Neste quarto episódio, finalmente Picard chuta o pau da barraca, apesar de ainda mostrar uma fraqueza aqui ou ali. O mais curioso é que Elnor só se alia a Picard em virtude de ser da tradição se aliar a causas perdidas, enfatizando o caráter suicida da missão.
No cubo borg, Rizzo provoca Narek, dizendo que Soji pode estar manipulando-o e Narek diz que tem que ir devagar com Soji, pois pode ativá-la como aconteceu com Dahj na Terra e ela pode ser destruída. Mas Soji, antes de ser destruída, precisa revelar a Narek onde estão os “outros”. Rizzo estrangula Narek e o relembra que Soji é a Seb- Cheneb, a destruidora. Soltando o pescoço de Narek, Rizzo dá mais uma semana de prazo para ele descobrir onde estão os outros. Caso contrário, a violência será usada para descobrir.
Voltando a Vashti, a ave de rapina chegou e estava atacando a nave de Rios, que acionou um holograma para ajudá-lo no combate e que falava espanhol. Foi show! Uma pequena nave aparece para ajudar Picard e eles conseguem imobilizar a ave de rapina romulana. A pequena nave está prestes a explodir e Picard dá a ordem de teletransportar o piloto para a ponte. E, eis que aparece Sete de Nove, ferida e prestes a desmaiar. Mas, claro, ela tem que dar antes um esporro no Picard, dizendo que este a deve uma nave. Fim do episódio.
Que podemos dizer de positivo nesse episódio? As religiosas guerreiras do Qowat Milat foram bem apresentadas, melhor que o infame Zhat Vash. Elas, pelo menos, não ficam dando esporro no Picard. Falando nisso, nosso almirante parece que finalmente perdeu a paciência com as hostilidades e está reagindo à altura, embora o pedido de desculpas na comunidade romulana pareça ter sido demasiadamente humilhante. Não que ele não devesse pedir desculpas, mas as coisas ficaram, dentro do contexto apresentado, exageradas e Picard pareceu muito submisso. A batalha final de naves deu alguma ação à coisa, sem se precisar de cenas de karatê e kung fu. E, claro, Sete de Nove está de volta, o melhor de tudo. Esperemos que não esculachem nossa borg mais amada. A conversa entre Rizzo (uma boa personagem vilã) e Narek ficou bem legal, até porque ela torceu um pouco o pescoço do chato do irmãozinho em tom bem ameaçador, lançando todo o seu ódio contra a “seb-cheneb” Soji, que tem também seus planos. Ainda, Narek levantou a questão de que existem outros sintéticos e Soji pode ser ativada como a irmã. Foram mais elementos novos no quebra-cabeça do filme.
E os problemas? O bate papo entre Soji e Narek ficou um tanto entorpecente e chato, com aqueles escorregões idílicos pelo corredor do cubo borg, antes de surgir uma primeira situação tensa entre Narek e Soji, o que, por sua vez, foi algo interessante. O problema é que, toda semana o episódio apresenta elementos novos, na base do conta-gotas, e assim a trama parece não engatar. Lembrando que já estamos chegando na metade da temporada. Ainda, as violentas hostilidades a Picard, até pela forma em que a história foi construída, incomodam um pouco. Elas poderiam ter sido mais relativizadas. Alguém naquela vila, além das religiosas e de Elnor poderia ter dado ouvidos a Picard no seu pedido de desculpas. O pior é que ele tem tido uma postura muito complacente com essas hostilidades. Pelo menos, parece que nesse episódio ele finalmente está reagindo a isso, como já foi dito acima.
Resta, agora, esperar o próximo episódio e ver como Sete de Nove entra em tudo isso. Lembrando que a produção do quarto, quinto e sexto episódios está a cargo de Alex Kurtzman, o que sempre é de se deixar os cabelos em pé.
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 3), O Fim É O Princípio. Finalmente Ao Espaço.
Chegamos ao terceiro episódio de “Jornada Nas Estrelas Picard”. E qual foi a impressão inicial? Tivemos um plot um pouco melhor do que vimos no episódio anterior e mais alguns pequenos avanços na história. Está começando a chamar a atenção algumas opiniões de que essa série é mais um filme de dez capítulos que deveria ter sido liberado todo de uma vez no streaming do que em episódios semanais, o que tem dado uma cadência lenta para o desenvolvimento da história, já que os episódios são muito conectados. De qualquer forma, houve alguns fatores mais atraentes dessa vez. Para podermos discutir o episódio, vamos precisar de spoilers como sempre.
O episódio, assim como o anterior, começa com um flashback, para podermos entender o grau de relacionamento entre Picard e Raffi. Esta última mostrou-se bem hostil a Picard no episódio anterior. Mas, no flashback, Picard acaba de sair de uma reunião com o comando da Frota onde ele se mostrou contrário a negação da evacuação de Marte e ao desligamento dos sintéticos e pôs o cargo à disposição se a Frota não voltasse atrás na questão da evacuação. A Frota não voltou atrás e ele se demitiu. Isso deixou Raffi sozinha contra a Frota e ela foi desligada, o que levou-a a mágoa contra Picard, que também não a procurou depois disso. Aqui vão alguns comentários. Apesar de toda a mágoa de Raffi, isso justificava ela apontar um phaser para o Picard quando ela o recebeu? E por que ela estaria tão mal financeiramente (pelo menos é isso que aparenta), se a economia do século 24 é muito diferente da nossa, onde as trocas dos frutos do trabalho são mais atuantes que o uso do dinheiro em si? Ainda, não é do feitio de Picard abandonar seus tripulantes assim e desistir tão facilmente do plano de evacuação, mesmo que isso implicasse em mobilizar milhões de pessoas.
Na conversa de Picard com Raffi, mais ressentimentos por parte desta última. Vou repetir: mesmo que haja uma rusga entre os dois, a reação de Raffi pareceu muito exagerada. Ela teria que contabilizar a distopia da Frota que cedeu à intolerância e ao medo, nas palavras do próprio Picard. Agindo como agiu, parece que Raffi coloca toda a culpa de seu declínio somente nas costas de Picard e a coisa pareceu muito mimizenta. Ainda, ela começa a fumar umas plantinhas meio esquisitas, num indício de uma cultura tabagista lá no final do século 24, o que parece soar um pouco pesado para o contexto, se tomarmos os parâmetros de hoje, sem querer ser anacrônico (e já o sendo um pouco). Como Raffi saiu tresloucadamente pelo vale, Picard vai atrás dela, que está tomando o vinho de seu chateau no gargalo (esquisito essa coisa de você aceitar um presente de quem você muito repudia, enfim…). Picard a cobre de razões por sua raiva contra ele (talvez para colocar panos quentes no conflito). Picard fala de um possível complô entre a Federação e o Tal Shiar para caçar sintéticos e Raffi fala de que conhece provas concretas de que um oficial da Frota estimulou o ataque a Marte para sabotar o resgate dos romulanos, ao que Picard não acredita muito. Ou seja, ele acredita numa conspiração onde a Federação e o Tal Shiar tomam parte juntos (olha “A Terra Desconhecida” aí de novo!) mas não acredita que Raffi tenha provas concretas de sabotagem de um oficial da Frota? Estranho isso. Picard pede ajuda de Raffi, pois ela tem uma visão ampla das coisas, mas ela não quer se meter em confusão de novo por causa dele e o manda embora. Picard sai sem insistir. Aí, ela muda de idéia e indica um piloto para Picard chamado Rios. Vemos aqui uma primeira manifestação da bipolaridade de Raffi. Num momento, ela é hostil a Picard e não quer ajudá-lo, mas, num instante depois, ela começa a ajudar nosso almirante. Ou seja, a moça tem momentos de Raffi, mas também tem momentos de Raffa. Ficou uma coisa meio forçada e artificial, mesmo que vejamos que a personagem está indecisa com seus sentimentos em relação ao nosso querido ancião.
No cubo borg, um envelhecido e sinistro Hugh, diretor da área cinza, agradece a Soji pelo fato da doutora ter apreço com os assimilados e a autoriza a falar com Ramdha, uma romulana que foi assimilada e era estudiosa de mitos romulanos de onde se podiam tirar práticas terapêuticas. Eles vão para a seção de romulanos que foram retirados da assimilação e todos estão lelés da cuca. Tem até um romulano que joga uma espécie de cubo mágico. Sei não, isso me pareceu um bullyingzinho com quem participou daquela moda lá da década de 80 do cubo mágico. Enfim… Eles encontram Ramdha, que parece ser uma versão mais velha da Tilly de Discovery, e a senhora joga umas cartas triangulares, como se fosse uma taróloga. Soji diz a Ramdha que ela estava na nave romulana que havia sido assimilada por aquele cubo borg em que estavam e que a assimilação dos romulanos teve um problema, perguntando o que houve de errado na assimilação, para estupefação total de Hugh que não sabia de tudo aquilo. Ramdha pergunta a Soji, depois de colocar uma carta de irmãs gêmeas na mesa, qual das duas irmãs ela é, se e a que vive ou morre. Ramdha pira na batatinha, toma um disruptor e chama Soji de seb-cheneb, a destruidora. Ela ia se matar com o disruptor, mas Soji a rende e tira-lhe a arma. Enquanto Ramdha é rendida, os romulanos lelés olham com uma cara de ódio infinito para Soji.
No Insituto Daystrom, a Dra. Jurati é surpreendida pela Comodoro Oh, que está com um óculos escuro muito estiloso, meio Matrix, meio MIB, e orelhas de abano que parecem mais um aerofólio de Fórmula 1 ou as orelhas daquele piloto lá da década de 90, o Aguri Suzuki. Se desse uma ventania, ela levantava voo. Ela pergunta a Jurati sobre seus encontros com Picard.
Picard vai a nave de Rios e o encontra, junto com sua unidade médica de emergência (que é a cara dele). Rios está com um pedaço de metal cravado no ombro e fuma charuto, além de beber uma cachaça (pelo andar da carruagem, só faltava incorporar o tranca rua ou o exu caveira; mais um exemplo de tabagismo e, agora, alcoolismo no episódio, assim como a Raffi, que fumava a plantinha esquisita e bebia o Chateau Picard no gargalo; isso ficou muito esquisito e pegou um tanto mal para um século 24 cada vez mais distópico e com cara de século 21). Eles conversam sobre a missão, que ainda não tem um destino, e Picard nota que Rios tem a disciplina da Frota Estelar. Esse vê todo o falatório de Picard com desdém e diz diretamente para Picard contratá-lo ou procurar outra pessoa. Mais tarde, Rios tem uma conversa com seu holograma, que está todo animadíssimo em ver que Rios irá trabalhar com uma lenda viva como Picard. Mas Rios diz que não precisa de um capitão ídolo em sua vida, pois o último que teve foi morto e seus pedaços espalhados à sua frente, o que mergulha Rios num estado de melancolia (mais uma história de personagem para ser desenvolvida mais à frente).
No Chateau Picard, o almirante e seus amigos romulanos, cada vez mais com cara de Tal Shiar, rechaçam um ataque romulano (ceninha de ação com direito a caratê e kung fu romulanos e o pobre do Picard apanhando quando decide dar umas bengaladas num romulano, embora ele tenha acertado uns dois romulanos com o disruptor). A Dra. Jurati aparece (do nada) e mata mais um romulano. Fica aí a pergunta: essa aparição da Jurati no momento do ataque dos romulanos não é um tanto suspeita? Jurati diz que foi procurada por Oh e disse tudo da conversa com ela com Picard por parecer muito importante e por ser péssima mentirosa, mas ela não falou “uma coisa” (ela irá com Picard na missão). Picard disse que não havia problemas. Um dos romulanos estava inconsciente e foi amarrado para ser interrogado. Picard pergunta ao romulano por que Dahj foi morta. O romulano retruca dizendo que Dahj não é o que parece ser. Picard pergunta se há uma irmã gêmea e o romulano diz que eles a acharão antes de Picard e que essa irmã gêmea é a destruidora. O romulano, então, joga ácido para tudo que é lado e se desmancha perante os olhos de um Pcard que espragueja. Notem que toda essa sequência de interrogatório é simultânea à sequência de interrogatório de Ramdha feita por Soji acima. Soji vai para seus aposentos e fala com sua mãe, perguntando se Dahj está viva. A mãe responde que sim e começa um falatório fútil que mergulha Soji no sono, confirmando as suspeitas de que nesse mato tem coelho para essa mãe aí. Passa-se um tempo e a Soji acorda, quando Narek adentra o quarto. A moça diz que não sabe como as informações da nave romulana assimilada com Namdha foram parar na cabeça dela e acha que essa informação confidencial pode ter sido lida por ela em arquivos não confidenciais onde a informação ficou por lá e escapou dos olhos dos censores romulanos, embora essa história esteja muito estranha e é mais uma das muitas pontas soltas que os episódios vão revelando.
Picard e Jurati vão para a nave de Rios e Raffi está lá, dizendo que achou o Maddox, pedindo a ir à missão, mas não se unindo a Picard (olha a bipolaridade de novo), mas sim quer uma carona para Freecloud, não deixando claro o que é isso e qual a importância. Mas há um detalhe interessante aqui: Raffi implicou com Jurati e repreendeu Picard por ele não ter feito uma verificação de segurança sobre a moça, o que aumenta as suspeitas sobre Jurati. Rios, na cadeira de capitão, olha para Picard, que dá o tradicional “engage” para a nave entrar em dobra. Fim do episódio.
Bom, depois dessa descrição do episódio, algumas coisas a se falar. De pontos negativos, ficou um pouco estranho essa apologia ao tabagismo e até ao álcool, principalmente por parte de Rios e Raffi, personagens mais com cara de badass. Estamos no final do século 24 e vícios que já são rechaçados no século 21 voltam com força total? Isso até pode ser possível, pois não devemos cair no maniqueísmo do anacronismo, que julga um intervalo temporal com os valores de outro intervalo temporal. Mas que é estranho ver isso, por mais distópico que esse século 24 nos pareça, ah isso é. A bipolaridade excessiva e o comportamento quase infantil de Raffi está muito exagerado ao meu ver. Ela poderia ser bem mais sutil nesse quesito, o que levaria a bons diálogos com Picard para aparar as arestas dos dois. Mas sua forma muito ríspida acaba anulando essas possibilidades.
O episódio tem bons pontos positivos. A coisa de Soji ser a destruidora aumenta demais a curiosidade sobre ela e aumenta as esperanças de que a personagem possa ser bem construída. O Hugh ficou muito legal, com uma levada meio envelhecida, meio soturna que caiu bem no personagem. E o personagem Rios, com sua unidade de emergência à sua imagem e semelhança, dá chances a Santiago Cabrera de fazer dois personagens bem diferentes, um mais vívido, outro mais depressivo, onde esse capitão que morreu espalhado à sua frente se constitui num outro mistério que terá que ser explicado. Para finalizar, uma suspeita em cima da Dra. Jurati, que aparece no Chateau Picard imediatamente após um ataque romulano e depois de conversar com a Comodoro Oh, e, ainda, despertar as suspeitas da tresloucada Raffi, onde essa suspeita pode justamente ser um lampejo de lucidez dessa personagem tão bipolar, e pode ser um bom elemento para a personagem Jurati, que, até agora, está muito sem sal. Torçamos para que Jurati seja do mal, e muito. Quem sabe a bam-bam-bam do Zhat Vash?
Resta-nos esperar agora o próximo episódio.
Batata Arts – Estudo de Intercalação
Intercalando…
Batata Movies – Kursk, A Última Missão. Afogando Segredos Militares.
Um filme polêmico. “Kursk, A Última Missão” fala do naufrágio do submarino russo ocorrido em agosto de 2000, que vitimou toda a sua tripulação. E da história de como algumas vidas poderiam ter sido poupadas se a Marinha Russa não tivesse tentado encobrir seus segredos militares no ato do salvamento dos tripulantes. Para podermos compreender melhor o filme, vamos precisar de spoilers.
O filme se foca na tripulação do submarino, dando vida e cara aos marujos, liderados por Mikhail Averin (interpretado por Matthias Schoenaerts). Uma grande festa apresenta os personagens e mostra muito o espírito de união do grupo. Não muito depois, já vemos o submarino saindo para a sua missão e o motivo do acidente, que foi a explosão de todos os torpedos provocada pela temperatura excessiva de um deles, que praticamente destruiu todo o submarino. Os sobreviventes foram para a popa e se trancaram lá, fazendo de tudo para retardar a inundação do compartimento e manter a carga de oxigênio. Enquanto isso, as equipes de salvamento tentavam escutar algum sinal que pudesse indicar sobreviventes. Os tripulantes batiam com um martelo na parte interna do casco do submarino a cada hora, e foram detectados. Mas o sucateamento da Marinha Russa fez com que o submarino de salvamento não pudesse se acoplar à escotilha do Kursk. O comandante da frota russa do Norte chegou a pedir auxílio da Inglaterra, mas o alto comando da Marinha não queria a presença de ocidentais na missão de salvamento e isso retardou demais o salvamento, provocando a morte de todos.
O filme tem uma postura muito crítica com relação aos procedimentos da Marinha Russa, trazendo de volta o espírito da Guerra Fria. Resta a gente se perguntar se o oposto também aconteceria, ou seja, se fosse um submarino americano ou inglês que tivesse afundado e uma ajuda russa como determinante no salvamento seria igualmente rechaçada para evitar a divulgação de segredos militares. Que os leitores façam as especulações que quiserem. Entretanto, fica muito claro no filme o desenvolvimento tecnológico do Kursk e o receio que ele despertava nos militares ingleses.
O filme tem um baita elenco. Além de Schoenaerts, temos Léa Seydoux como a esposa de Averin, Tanya, que liderou as esposas dos tripulantes, pressionando os militares da Marinha Russa por informações. Ainda, tivemos a presença de Max Von Sydow como o comandante da Marinha Russa que se investiu da posição ícone de guardião dos segredos militares e da personificação do personagem a ser odiado no filme. Colin Firth, por sua vez, fez o comodoro inglês David Russell, com uma postura bonachona pronta a oferecer assistência. Ou seja, mais uma vez as dicotomias da Guerra Fria requentadas. Ainda assim, os atores foram muito bem e trabalharam com competência a carga dramática que o filme exigia.
Dessa forma, “Kursk, A Última Missão” é um bom filme que nos contextualiza na situação dessa grande tragédia que já tem uns vinte anos (como o tempo passa rápido!), mesmo que haja um maniqueísmo residual dos anos de conflito entre as superpotências. Vale a pena dar uma conferida.
Batata Books – Darth Bane, Dinastia Do Mal. Uma Solução Salomônica.
“Darth Bane, Dinastia do Mal” é o livro que encerra a trilogia Darth Bane, de Drew Karpyshyn, editada pela Universo Geek. E o que podemos dizer desse livro? Ele dá uma solução um tanto salomônica (ao estilo Sith) para a dupla de protagonistas Darth Bane e Zannah, mestre e aprendiz. Para podermos entender isso, vamos ter que dar spoilers da história.
Mais alguns anos se passaram, desde o segundo livro da trilogia, “Darth Bane, Regra de Dois”. Bane e Zannah vivem agora numa luxuosa mansão muito mais para manter as aparências do que por uma boa vida luxuosa, sendo apenas um artifício para se obter mais poder. Só que Bane tem uma inquietação. Zannah ainda não o desafiou dentro do ritual da regra de dois. O mestre começa a ter dúvidas se sua aprendiz é digna de sucedê-lo ou não. E busca eternizar sua vida, indo através de um antigo holocron de Darth Andeddu, um antigo mestre sith que teria o segredo da vida eterna. Nesse ritual, Bane teria que escolher uma pessoa mais jovem para passar sua alma para o corpo dessa pessoa mais jovem. Entretanto, há um risco: no processo de transferência de almas, o corpo de Bane seria destruído e se a pessoa escolhida para abrigar a alma de Bane resistisse ao processo, haveria o risco da alma do mestre sith se perder para sempre. Bane já sentia o peso da idade, manifesto numa tremedeira em sua mão esquerda e o suposto receio de Zannah o empurrou para a busca da imortalidade. Já a moça, também desconfiada das atitudes de seu mestre, decidiu procurar seu próprio aprendiz e encontrou Set Harth, um jedi sombrio muito convencido e irritante para Zannah, mas que seria útil para as pretensões da moça. O livro ainda traz a personagem Serra, que é filha de Caleb, o curandeiro que salvou Bane e que depois foi morto, sendo que a moça agora é uma princesa e busca vingança contra Bane pela morte do pai, se deixando levar pelo ódio e sentimento de vingança. Para levar seus planos adiante, Serra conta com a ajuda de Lucia, uma espécie de amiga e segurança pessoal, que já foi comandada de Bane no passado, antes dele se tornar um mestre sith e tem uma dívida de gratidão com ele, o que vai introduzir um conflito na cabeça de Lucia quanto ao plano de vingança de Serra.
Esse é um livro cinematográfico, pois não há um combate entre Bane e Zannah, mas dois, onde os duelos são descritos com tal riqueza de detalhes que praticamente os vemos diante de nossos olhos à medida que lemos as páginas do livro. A única coisa que incomoda um pouco é o desfecho do livro, pois ao fim desse duelo, um dos personagens deveria morrer, tal como previa a regra de dois. Entretanto, parece que Karpyshyn abraçou suas crias com todo o carinho e encontrou uma forma de manter os dois protagonistas vivos ao fim do duelo. Confesso que achei que, no fim das contas, o próprio autor do livro meio que traiu a regra de dois. Entretanto, já dei spoilers demais e não vou contar como ele conseguiu essa solução salomônica, dentro de uma perspectiva sith.
Outro problema aqui, e que aconteceu também no segundo livro “Darth Bane, Regra de Dois”, foi o desenvolvimento de várias tramas paralelas que tiraram um pouco a importância de Bane no livro. Pelo menos, tanto neste livro quanto no anterior, as tramas paralelas foram bem amarradas ao final, não ficando pontas soltas na história.
O livro também procura, mais uma vez, justificar a regra de dois. Quando havia um exercito sith, era prática comum os subordinados se unirem para derrubar o líder. O problema é que os subordinados eram siths mais fracos que o líder mas, juntos, eles conseguiriam derrubar o líder, o que levava ao risco da ordem sith se enfraquecer, pois um sith mais fraco poderia assumir a ordem nesse caso. Quando há apenas dois siths, o mestre e o aprendiz, o segundo só pode derrotar o primeiro quando for mais forte que seu mestre, o que fortalece a ordem. Se o aprendiz não é forte o suficiente para derrotar o mestre, a ordem permanecerá forte, pois o mestre vencera. Ou seja, dentro da perspectiva da regra de dois, não há como a ordem sith enfraquecer, somente se tornar mais forte ainda ou, na pior das hipóteses, continuar com a força que já tinha.
Assim, “Barth Bane, Dinastia do Mal” é o livro que encerra a trilogia de Darth Bane, nos dando um belo panorama da ordem sith na Velha República. O livro tem mais uma vez a importância de explicar a lógica da regra de dois, algo que nunca foi explicado nos filmes e parece um tanto quanto sem sentido. Ainda, temos uma narrativa muito cinematográfica no que tange ao combate entre Bane e Zannah. Só é de se lamentar um pouco que Karpyshyn não tenha tido coragem de eliminar definitivamente um de seus protagonistas como a regra de dois exige. Mas, mesmo assim, temos um bom livro aqui e sua leitura é altamente recomendada.