O que sobra do colapso de estrelas pelo Universo???
Blog
Batata Arts – Portal Para O Paraíso.
Sacralizando aquilo que alguns consideram mundano…
Batata Jukebox – Friends Will Be Friends (Queen)
Mais uma grande música do Queen…
Batata Arts – Omulu
Mais um Orixá!!!
Batata Movies – Uma Mulher Alta. Busca Por Um Filho.
Um filme russo que representa o seu país na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “Uma Mulher Alta” é uma história sobre o pós-Segunda Guerra Mundial e de como o conflito conseguiu transformar de forma radical a vida das pessoas. Um filme forte e doloroso. Para podermos compreender melhor a película, vamos ter que lançar mão de spoilers.
Vemos aqui a história de um hospital na Leningrado de 1945 que cuida dos soldados feridos da guerra. A enfermeira Iya (interpretada por Viktoria Miroshnichenko) é a tal mulher alta, que combatia na linha de frente e ficou com um trauma de guerra onde ela temporariamente “sai do ar”, ficando imóvel e travada (ela não escuta, não consegue se mexer e mal consegue respirar). Iya cuida de Paschka, o filho pequeno de sua amiga (e amante) de front Masha (interpretada por Vasilisa Perelygina), mas ao brincar com o menino, ela tem uma de suas crises e cai sobre o garotinho, matando-o sufocado. Masha volta do front para se reencontrar com Iya e descobre que ela matou seu filho involuntariamente. Mas Masha não liga muito para a situação e decide que outro filho deve ser feito. O problema é que Masha volta do front com ferimentos e cirurgias que retiraram a sua capacidade de ter filhos. Assim, ela combina com Iya que esta deve engravidar para lhe dar um filho, algo que será muito difícil para a mulher alta fazer.
É um filme angustiante, onde o grande vilão é a guerra, que traumatizou Iya, que tirou de Masha a capacidade de ter filhos e a transformou na verdade num objeto sexual dos militares, já que a moça na verdade não atuou no front, mas sim na parte de logística, onde teve que entregar seu corpo para sobreviver num meio tão adverso. Masha chega a lançar mão da paixão de um rapaz para obter comida, como ela fazia nos tempos de guerra, mas seus planos de casar com o rapaz por interesse são rechaçados pela família do jovem e por Iya morta de ciúmes. Ou seja, todas essas situações provocadas pela guerra e com efeitos na vida de todos até após do conflito.
Dessa forma, “Uma Mulher Alta” é um grande filme russo que não é nenhuma surpresa sua presença entre os finalistas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Apesar de ser uma história de ficção, ela muito bem poderia ser real, já que mostra como a guerra provocou sequelas profundas na vida das pessoas, podendo se manter até depois do conflito. Vale muito a pena dar uma conferida nesse programa imperdível.
Batata Movies – Aqueles Que Ficaram. Delicadeza À Toda Prova.
Um filmaço da Hungria, que representa seu país na corrida ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e está entre os finalistas. “Aqueles Que Ficaram” traz mais uma vez a inesgotável temática da Segunda Guerra Mundial, mais especificamente das sequelas que o conflito pode deixar nas pessoas de um país. O detalhe é que isso é mostrado para nós com uma delicadeza que beira o idílico, mesmo se o terreno não fosse o mais propício para isso. Para podermos entender melhor o filme, vamos lançar mão de spoilers aqui.
A história fala do ginecologista Körner Aladár (interpretado por Károly Hadjuk), que fez o parto de uma menina, Klára (interpretada por Abigél Szõke). Mas a guerra veio, matando os pais de Klára e a família de Körner. Anos depois, Klara vai com sua tutora (que também perdeu o marido na guerra) para o consultório, pois a menina não consegue menstruar. Klára é a típica adolescente chata e menina problema na escola, muito em virtude do trauma de guerra. Mas a menina se afeiçoa a Körner e passa a viver com ele, numa relação um tanto pai e filha. O problema é que, com o fim da guerra, o regime socialista implantado, representado aqui pela direção da escola de Klára, não vê com bom os olhos a relação do médico com a menina, suspeitando de pedofilia. Assim, vemos o dia a dia desse aparentemente estranho casal que precisa superar os preconceitos para poder viver junto.
O filme, num primeiro momento, incomoda em virtude dos estereótipos que povoam nossas cabeças. Mas, com o transcorrer da exibição, fica claro que não há maldade naquele relacionamento, mas sim pessoas que tiveram suas vidas destroçadas pela guerra buscando uma reconstrução, apoiando-se umas nas outras lançando mão do afeto. Körner perdera toda a família e precisava de uma filha postiça. Klára perdera os pais e precisava de uma figura paterna. À medida que a relação dos dois vai se estreitando, vemos a aparição de ciúmes entre os dois e uma leve insinuação sexual. Mas Körner consegue uma namorada (uma de suas pacientes, que perdeu o marido), até por sugestão de Klára, e esta consegue um namorado, o que esfria o suposto apelo sexual entre Körner e Klára, não sem algum sofrimento embutido nisso. De qualquer forma, o peso do idílico é muito maior no filme e seu desfecho mostra isso, com todos os personagens do filme se encontrando numa janta depois de três anos, escutando a morte de Stalin ao rádio, o que seria um indício de dias melhores. Vemos até um sofrimento final de Körner pela “perda” de Klára para o namorado, mas logo ele se recompõe para retomar o clima suave, delicado e idílico da película, que acaba sendo o grande personagem.
As atuações foram muito boas. Károly Hadjuk deu uma serenidade ímpar a Körner, o que contribuiu demais para o clima delicado do filme. Já Abigél Szõke foi mais explosiva, até porque interpretava uma adolescente problemática, mas igualmente frágil, que não aceitava a morte dos pais e caía em prantos à menor carência emocional que sentia, sendo muito dependente emocionalmente de Körner, o que afastava o apelo sexual da relação, embora esse apelo, volta e meia, desse sua cara, mesmo que de forma tímida. O único problema é que as cenas do apartamento de Körner eram demasiadamente escuras, o que pareceu a adoção de um clima mais soturno para representar o pós-apocalipse da guerra. Realmente incomodou um pouco, mas nada que tire a pegada delicada e idílica do filme.
Dessa forma, “Aqueles Que Ficaram” é uma película obrigatória, pois aborda o trauma da guerra, um tema muito pesado, de uma forma muito delicada e afetuosa, embora haja um leve apelo sexual em alguns momentos na relação entre Körner e Klára. Vale muito a pena pela experiência.
Batata Movies – Dois Papas. Sucessão Papal Em Vida.
A Netflix faz mais uma das suas e lançou “Dois Papas” nas telonas do cinema e em seu streaming. E, mais uma vez, faz um investimento de peso. O filme é estrelado por Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, respectivamente nos papéis do papa Bento XVI e do então Cardeal Jorge Bergoglio, que se tornaria o papa Francisco. Ainda, o filme é dirigido por nosso Fernando Meirelles, sendo indicado para quatro Globos de Ouro (melhor ator de drama para Jonathan Pryce, melhor ator coadjuvante de drama para Antohny Hopkins, melhor roteiro de drama para Anthony McCarten e melhor filme de drama). Já dá para perceber que temos um filmaço aqui e que spoilers serão necessários para compreendermos melhor a película.
Inspirado numa história real, o filme começa com o funeral de João Paulo II e a escolha de Bento XVI para papa por votação dos cardeais, o que significou uma vitória da ala conservadora da Igreja contra a ala progressista, da qual Bergoglio faz parte. Passam-se os anos e Bergoglio quer sua aposentadoria e vai ao Vaticano para que Bento XVI assine os papéis. Será o momento em que os dois personagens protagonistas se encontrarão e vai começar um dos diálogos mais deliciosos vistos no cinema nos últimos anos. A coisa inicialmente gira em torno das posições políticas completamente antagônicas dos dois no que tange às visões de mundo da Igreja. Aqui vemos uma certa tensão na conversa, mas não sem ter doses de um humor inteligente e refinado.
Com o tempo, os dois se aproximam e têm momentos mais íntimos como na noite em que Bento XVI toca piano para Francisco, ou nas confissões de Francisco para Bento XVI sobre seus posicionamentos políticos do passado, durante a Ditadura Militar, o que estigmatizou Bergoglio como um traidor e homem que negociava com assassinos. Bento XVI sistematicamente nega a aposentadoria de Bergoglio, pois já havia, de antemão, decidido renunciar ao cargo de Santo Padre em virtude dos casos de corrupção de seu assessor mais direto e em virtude dos sérios casos de pedofilia na Igreja Católica, onde ele não tomou uma posição mais firme, fato do qual se envergonha e também confessa a Bergoglio. Ou seja, além de padres, são dois homens que pecaram e erraram, confessando-se um ao outro. Bento XVI esperava que Bergoglio chegasse ao cargo de papa e botasse ordem na casa, apesar das severas divergências entre os dois.
Esse é o típico filme de atores, que tiveram atuações simplesmente impecáveis. A coisa foi tão genial que, quando víamos imagens dos reais Bento XVI e Francisco juntos, num breve lampejo a gente ainda tinha uma certa dúvida de se víamos Hopkins e Pryce atuando. A impressão que se dá é que esta é uma película mais de Pryce do que de Hopkins, mas seria uma injustiça colocar a excelência de um sobre o outro. Os dois atores pescaram com competência as características de seus personagens reais (Francisco muito mais aberto espontâneo e Bento XVI mais fechado e rabugento, mas não menos muito interessante) e foi um deleite de interpretação de uma forma tão mágica que o tempo do filme voou.
O desfecho da película foi grandioso. Francisco ensinando Bento XVI a dançar tango e, algum tempo depois, os dois assistindo juntos a final da Copa do Mundo de 2014 entre Alemanha e Argentina no Maracanã, onde já sabemos o resultado. Meirelles deu aos dois papas características altamente humanas e mundanas para o cargo que ocupam. Vemos os dois contando piadas, tomando vinho e cerveja, provocações e zoações no futebol, etc., o que aproxima as figuras santificadas dos pobres fiéis mortais.
Assim, “Dois Papas” é mais um filmaço da Netflix que deve ganhar mais prêmios por aí, dando ao cinema uma nova dimensão para a produção de boas películas. Um programa imperdível, seja na telona (como este escriba o fez), seja na telinha, como recomendo fortemente, se você tem uma dificuldade de acesso ao cinema. A única coisa que não pode acontecer é o caro leitor perder esse grande filme. Vale muito a pena dar uma conferida nesse programa imperdível.
Batata Arts – Yemanjá
A Orixá dos mares…