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Batata Séries – The Orville (S01 Ep 03), Uma Questão De Gênero. Aceitar Aquilo Que Se Estranha?

The Orville Episode 3 Review: About a Girl - Den of Geek
Uma criança que nasce com o sexo “errado”…

Mais um episódio da primeira temporada de The Orville. Vamos falar do terceiro episódio, “Uma Questão de Gênero”, que mostra, como The Orville busca resgatar os melhores episódios reflexivos de Jornada nas Estrelas, mostrando que o formato que víamos nas décadas de 60, 80, 90 e 2000 ainda é bastante pertinente hoje em dia.

Qual é o plot? A filha de Bortus nasce, mas o casal não está satisfeito. Quando nasce uma fêmea, isso é visto como uma aberração pela cultura de Borthos e é necessário fazer uma troca de sexo. Bortus pede isso a Doutora Claire, que se nega a fazer a cirurgia.

The Orville Season 1 Episode 3 Review: About a Girl - TV Fanatic
Uma cultura afetando profundamente a vida de um casal…

No “holodeck”, Bortus invade o programa para falar com o capitão Ed de forma urgente. Ele reclama que a Doutora Claire se recusa a fazer a cirurgia. Ed acha que isso é antiético. Bortus lembra que os humanos fazem a cirurgia de lábio leporino caso seja necessário. E que no planeta de Bortus não há fêmeas. O capitão diz que eles estão numa nave da União e que o pedido dessa cirurgia violaria muitas leis, negando o pedido de Bortus.

A Orville recebe um pedido de comunicação. É um alienígena da espécie de Bortus que diz que vi enviar uma nave para se encontrar com a Orville para pegar a filha de Bortus. Ed reclama com Bortus que tal atitude pode violar as regras da União e que a espécie de Bortus faz parte da União. Além disso, Bortus acabou passando por cima da autoridade do capitão. Tudo isso vai gerar uma indisposição do capitão para com Bortus.

The Orville Season 1 Episode 3 Review: About a Girl - TV Fanatic
Formas ineficientes de descarregar a tensão…

Ed e Kelly tomam uma bebida no bar. Ed pergunta a Kelly se eles estão se comportando corretamente para com Bortus, pois é muito fácil você condenar uma atitude de uma cultura estranha à sua. Kelly diz que alguns valores universais devem ser respeitados. Por exemplo: e se a filha de Bortus tivesse que ser morta por ter nascido menina? A cultura de Bortus teria que ser respeitada nessa situação? Ed tem uma ideia: ele coloca Bortus para lutar com Alara, que é muito forte e bate nele com força. Bortus diz que está cansado de ver as pessoas dizerem como ele deve tratar a sua filha e vai fazer o que acha melhor para ela. Revoltado, Bortus vai par seus aposentos e recebe as visitas de Gordon e John que querem ver um filme com ele. Bortus, muito a contragosto, aceita. O filme é “A Rena do Nariz Vermelho”, onde a rena em questão nasce com essa “deformidade” que vai ajudar o Papai Noel a entregar os presentes no Natal. Isso dá um “click” na cabeça de Bortus, que vai procurar seu companheiro e dissuadi-lo da cirurgia, pois ela pode fazer grandes coisas como fêmea, ou seja, eles não sabem como a cirurgia vai interferir no futuro da filha. O companheiro se nega terminantemente a aceitar que a filha continue fêmea e revela a Bortus que nasceu fêmea e fez a cirurgia. Revoltado, Bortus pergunta ao companheiro por que não contou a ele e ouviu a resposta de que o companheiro tinha medo que Bortus não entendesse e terminasse a relação. Bortus fica chateado por seu companheiro não ter revelado esse segredo. E insiste, agora, na não operação de sua filha. A nave moklana (espécie de Bortus) chega e seu representante quer levar a criança à força para a cirurgia. Mas agora o casal discorda da decisão da cirurgia. Ed entra em atrito com o representante moklano e Bortus diz que a única solução é solicitar um tribunal em seu planeta natal. O companheiro diz que eles serão totalmente ridicularizados, mas Bortus está determinado a fazer o julgamento e chama Ed para ser seu defensor. Como Ed não tem experiência, ele passa a batata quente para Kelly, que fez um ano de Direito Interplanetário. Bortus e seu companheiro vão com a criança na nave moklana e a Orville acompanhará. Bortus se despede com uma passagem literária de um grande escritor moklano (é um hábito de sua cultura).

The Orville Review: Why Episode 3 About A Girl is Worst Episode Yet |  IndieWire
Ed e Kelly não sabem como lidar com a situação…

O planeta natal de Bortus é altamente industrializado (lembra a zona industrializada de Coruscant). O julgamento se inicia. Bortus defende a tese de que a filha é que deve decidir se vai mudar de sexo ou não. Já o promotor defende a tese de que, até lá, a filha pode sofrer muitos abalos psicológicos por ser rechaçada em sua sociedade. Os moklanos acham as mulheres muito fracas. Kelly coloca Alara para mostrar sua força. Depois, Kelly faz perguntas para Gordon para testar sua inteligência. Ele, deliberadamente, responde errado para provar que os homens podem ter pouca inteligência (os moklanos acreditam que as fêmeas têm menos inteligência que os machos). O promotor pergunta a Doutora Claire se ela faria uma circuncisão em uma criança se os pais pedissem. Ela disse que isso é diferente, que não implica numa mudança de sexo. O promotor retruca dizendo que uma circuncisão é uma mudança física significativa e a criança não tem poder de decisão. A doutora diz que uma circuncisão não implica em uma mudança de vida. O promotor então diz que uma mudança de vida seria injusta para uma criança. A doutora diz que sim. O promotor diz então que uma mudança de vida para uma criança moklana que a deixasse a mercê de ser repudiada seria algo realmente injusto. Assim, a resposta da doutora reforça o argumento do promotor de que a criança deve ser operada.  Ed sai do tribunal e ordena a Isaac uma varredura da superfície do planeta. Ed chama John e Alara para fazerem uma viagem às montanhas do planeta. Lá, eles encontram uma moklana fêmea, que é considerada um renomado escritor do planeta, o escritor citado por Bortus (impossível não se lembrar de Dorothy Fontana aqui). Eles levam a moklana ao tribunal, que se apresenta. Ela diz que seus pais acharam que seria contra a natureza modificar seu sexo. E se esconderam nas montanhas. Ela diz que é feliz como mulher e que é o escritor renomado da cultura moklana. Mas, apesar dessa revelação impactante, foi decidido pelo conselho de arbitragem que a filha de Bortus deve fazer a operação de mudança de sexo. O episódio termina com um Bortus arrasado, recebendo, com seu companheiro, o seu agora filho. Na Orville, Bortus e seu companheiro entram em acordo de que devem dar uma vida boa para a criança, seja ela quem se tornar. Bortus dá um bonequinho da rena do nariz vermelho para seu filho.

O que podemos dizer do episódio “Uma Questão de Gênero”?  Se esse fosse um episodio de Jornada nas Estrelas, seria um típico episódio de violação ou não da Primeira Diretriz. Mas aqui em The Orville ela não existe e a querela cultural se tornou mais ácida. Se num primeiro momento, a obrigatoriedade da cirurgia de troca de sexo de um bebê parece algo abominável para os humanos, os exemplos do lábio leporino e da circuncisão são a contrapartida. Entretanto, Kelly lembrou que nem sempre podemos relativizar tudo e que alguns valores devem ser considerados universais. Ela levantou o caso hipotético da espécie de Bortus acabar com a vida das crianças que nascessem fêmeas. Ou seja, parece que aqui as discussões sobre a relativização de culturas, livres da questão da Primeira Diretriz, foram até mais ricas que o que vemos em Jornada nas Estrelas.

About A Girl - The Orville, Season 1 Episode 3 | SBS On Demand
Cuidar bem do filho, não importa como ele seja…

Esse é um episódio que também chuta o “happy end” para escanteio. Mesmo com o argumento de impacto da escritora fêmea que assume uma identidade masculina e se torna o grande nome literário de um planeta de varões (a alusão à Dorothy Fontana é imediata como dito acima), isso não foi suficiente para o tribunal moklano descartar uma tradição milenar e permitir que a criança continuasse com o sexo feminino. Um final desses soaria demasiadamente heróico, mas falso. Sabemos que a mentalidade de um povo demora para sofrer transformações e, assim, a mudança de sexo se tornou o veredicto final. Para o episódio não ficar muito cabisbaixo em seu final, o casal conseguiu se entender, tentar esquecer as mágoas e se dedicar a dar uma boa vida para seu filho, não importa quem ele será ou não. O toque da rena do nariz vermelho é uma alusão a uma opção de escolha para a criança, pois o bichinho de pelúcia representa uma alusão ao respeito à diversidade.

Dessa forma, “”Uma Questão de Gênero” pode ser considerado o primeiro grande episódio de The Orville (e, talvez, o melhor de toda a primeira temporada), por abordar a questão do respeito às culturas, mas também até onde podemos ir com  essa relativização. A opção por chutar o happy end também atua como um choque de realidade que, às vezes, não vemos nos desfechos dos episódios de Jornada nas Estrelas, quando tratamos de questões de diversidade cultural. Vale muito a pena a revisita.  Fique agora com o vídeo do Diário do Capitão sobre o episódio.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (S01 Ep05), A Nuvem. Sutura Tamanho Família.

Star Trek Voyager S 1 E 5 The Cloud / Recap - TV Tropes
Há café nessa nebulosa

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, vamos hoje revisitar Voyager no quinto episódio da primeira temporada, intitulado “Nuvem”

Qual é o plot? Janeway sente, com o passar do tempo, e pelas circunstâncias de se estar muito longe de casa, que terá que ver a tripulação com outros olhos, tal como ela se fosse uma família. Mas, pelo seu temperamento, ela tem dificuldades de se aproximar da tripulação. Uma nebulosa com partículas ômicron aparece adiante e essas partículas serão úteis na produção de antimatéria para a nave, gerando mais energia. Será aqui que Janeway dirá a famosa frase; “Há café nessa nebulosa”.

Addicted to Star Trek: Episode Review - The Cloud (Voyager, Season 1)
A necessidade de uma sutura gigante…

Janeway se vira para Chakotay e pergunta sobre o moral da tripulação. Ele diz que as pessoas estão passando por uma espécie de luto, mas que vão melhorar. Chakotay também diz que alguns membros da tripulação seguem uma tradição indígena americana onde eles têm um animal que os escolhe e os segue, orientando-os. Chakotay não pode falar qual é o seu animal, que é uma fêmea, para não ofendê-la, mas ela o orienta muito bem. Chakotay convida a capitã a orientá-la a entrar em contato com o seu guia.

A nebulosa não parece apresentar qualquer problema e eles traçam um curso para um depósito de partículas ômicron. Mas a nave é parada por uma barreira de energia. Janeway ordena que a nave vá contra a barreira de energia e consegue atravessá-la. Do outro lado, há uns pedaços de matéria azulada que grudam no casco e tiram a energia da nave. Janeway ordena que a nave volte pela barreira, mas agora ela só foi perfurada com um torpedo fotônico. A nave consegue atravessar a barreira, mas a Voyager, ao invés de ganhar energia, perdeu onze por cento dela.

Janeway and Neelix | Fandom star trek, Star trek voyager, Star trek  characters
Um oficial de moral…

Kim está dormindo quando Paris o acorda e o leva ao holodeck, que simula um bar em Marselha que Paris freqüentava quando estava na Academia da Frota Estelar.

B’Elanna analisa a matéria azulada e vai fazer uma consulta ao Doutor. Depois, vai ao escritório da capitã, que está procurando o seu animal-guia com Chakotay (sugestivamente é uma lagartixa, ainda mais se nos lembrarmos do episódio “Threshold”, mas isso é outra história) e diz a Janeway que a matéria é orgânica e a nebulosa parece ser um organismo vivo. E a Voyager o feriu. A cura, segundo o Doutor é usar um raio nuclear na fenda que a nave abriu na barreira.

Neelix, contrariado que a Voyager voltará para o ser vivo, reclama com a capitã que diz que vai ajudar a recuperar os ferimentos da nebulosa e não abre mão disso.

Star Trek: Voyager | Netflix
Paris e seu uso criativo do holodeck…

A Voyager tenta chegar próxima à fenda na barreira, mas descargas elétricas atingem a nave e a jogam para longe da ferida. Com os propulsores da Voyager desligados, a nave não mais é atacada pela nebulosa. Eles examinam a nebulosa e descobrem que ela tem uma espécie de sistema circulatório para transportar as partículas ômicron. Janeway decide entrar nesse sistema circulatório para se reaproximar da fenda. Nisso, Neelix e Kes entram na ponte com comida para servir à tripulação, para levantar a moral. Ele se intitula oficial de moral. Janeway, inicialmente a contragosto, e depois aceitando os argumentos do talaxiano, aceita uma iguariazinha.

A nave se aproxima da fenda e os raios nucleares não conseguem grande coisa O Doutor, então, sugere uma espécie de “sutura” na fenda. A Voyager iria “costurar” a ferida com energia. Janeway decide lançar uma microssonda para distrair a nebulosa enquanto eles fazem a sutura, que é um sucesso. Houve uma perda de 20% da energia da nave em todo o processo e agora a Voyager vai para um planeta a 14 anos-luz, por sugestão de Neelix, para buscar fontes de energia.

O episódio termina com Kim levando Janeway para o holodeck, onde há vários tripulantes se divertindo no bar em Marselha. Janeway começa a interagir mais com a tripulação. E se mostra uma excelente jogadora de sinuca. Fim do episódio.

Star Trek: Voyager Rewatch: “The Cloud” | Tor.com
Buscando um animal-guia…

O que podemos dizer do episódio “A Nuvem”? Em primeiro lugar, vamos aqui uma construção a mais na personagem Janeway. Ela, que sempre foi uma capitã que nutriu um certo distanciamento com a tripulação, agora precisa ver seus comandados como uma grande família, dada a força das circunstâncias de se estar no quadrante Delta. E ela faz progressos. Busca um animal guia com Chakotay, aceita a sugestão de Neelix de ser um oficial da moral, joga sinuca com a tripulação no holodeck, se divertindo com os personagens de Paris (essa parte foi um excelente alívio cômico e desfecho para o episódio). Tudo isso deu uma oportunidade de ouro para o fã de Jornada nas Estrelas se afeiçoar mais à capitã.  

Esse também foi um episódio de Neelix, que não gostou de ver a Voyager exposta ao perigo. Mas a ânsia exploradora da tripulação fez com que ele tivesse que aceitar a tripulação e, no seu melhor estilo atabalhoado e altruísta, distribuiu comida na ponte para aliviar a tensão, intitulando-se oficial de moral. Neelix definitivamente é o chato mais simpático que existe. O episódio também foi mais um em que o Doutor teve um destaque especial, sendo engraçado e sarcástico, além de sugerir uma sutura para uma nebulosa viva, uma curiosidade interessante para o episódio, onde a principal mensagem foi recuperar a ferida em um organismo vivo que a própria Voyager provocou acidentalmente. Seria imoral a nave deixar a nebulosa ferida para lá, e mesmo se arriscando a enfrentar novamente as defesas do organismo da nebulosa, o erro acabou sendo reparado.

Star Trek: Voyager Rewatch: “The Cloud” | Tor.com
Janeway boa de sinuca…

O mais interessante aqui é que essa revisita a Jornada nas Estrelas nos faz ver os episódios com outros olhos. Se eu achei chata essa história do animal-guia quando vi esse episódio há cerca de vinte anos (ou mais), hoje achei interessante essa ligação da capitã com Chakotay, um ex-maqui que mostra a sua cultura indígena em toda a sua plenitude. Valeu a pena rever essa perspectiva culturalista do episódio.

Assim, “A Nuvem” é um interessante episódio de Voyager, pois ela nos oferece uma série de fatores para serem apreciados. Mais um avanço na construção dos personagens, sobretudo Janeway, a questão moral de se recuperar um ser vivo ferido acidentalmente, uma olhada em elementos da cultura indígena. Vale a pena a revisita. E fique agora com o vídeo publicado no canal “Diário do Capitão”.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas DS9 (S01 Ep 05), Caça E Caçador. Diplomacia De Cowboy.

Star Trek: Deep Space Nine | Netflix
Um alienígena estranho…

Voltamos às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, revisitando DS9 e o quinto episódio da primeira temporada, intitulado “Caça e Caçador”.

Qual é o plot? Sisko recebe uma queixa de assédio. Quark estaria assediando uma dabo girl. Mas uma nave desconhecida veio pela fenda espacial. O alienígena disse que estava perseguindo uma nave que entrou no buraco de minhoca. Sisko disse que a nave era da estação e que ele viajou 90 mil anos-luz pelo buraco de minhoca. Ele é o primeiro alienígena do quadrante Gama a chegar a estação. O alienígena, nervoso, disse que queria voltar, mas sua nave estava perdendo integridade estrutural. O’Brien foi obrigado a trazer a nave para a estação com um raio de grávitons para ela não se despedaçar.

Watch Star Trek: Deep Space Nine Season 1 Episode 6 - Captive Pursuit  Online Now
O’Brien fará amizade com Tosk…

O’Brien vai à nave e entra nela, não vendo ninguém. Ele tenta consertá-la e o alienígena aparece. Ele se chama Tosk e é todo ressabiado. O’Brien procura ser o mais amistoso possível e o leva para a estação, pois, para fazer reparos na nave, seus reatores precisam esfriar. O’Brien apresenta a Tosk a estação e o leva a um aposento, dizendo que, se ele quiser algo, é só pedir para o computador. Tosk, ainda ressabiado, agradece a O’Brien e, depois que o chefe sai, ele pergunta ao computador onde estão as armas na estação.

O’Brien fala a Sisko que está desconfiado de Tosk, pois a nave dele apresenta uma marca de tiro e o alienígena diz que isso foi provocado pelo buraco de minhoca. Tosk e O’Brien consertam a nave e o chefe diz que ela ficará pronta em dois dias no máximo. Tosk insiste na sua pressa para deixar a estação. O’Brien leva Tosk ao Quark’s Bar e Quark oferece uma holosuíte ao alienígena. Tosk diz que está fazendo uma espécie de grande aventura e jornada. O’Brien pergunta que jornada é essa e Tosk diz que não pode falar sobre isso.

Treknobabble: Deep Space Nine, Season 1: Captive Pursuit
O caçador vem buscar a caça…

Tosk mexe em alguns circuitos de segurança e é flagrado por Odo, que o leva para uma cela. Sisko quer saber por que ele estava mexendo no sistema de segurança e Tosk diz que não pode contar. Sisko pede para mantê-lo preso. O’Brien tenta convencer Tosk a dizer o que está acontecendo e Tosk diz para O’Brien deixá-lo morrer em paz.

Uma nave igual de Tosk vem pelo buraco de minhoca. Eles tentam transportar alguém da nave, mas Sisko ordena que levantem os escudos. A nave bombardeia os escudos com um pulso de energia e os neutraliza. Três alienígenas se teletransportam para o Promenade. Um tiroteio começa e um dos alienígenas explode a porta da prisão, localizando Tosk, que está camuflado. O alienígena tira o capacete e ele também é um Tosk. Sua espécie faz uma espécie de caçadas a membros de sua própria espécie e a honra é o membro caçado morrer durante a caça. Ser aprisionado vivo é uma tremenda vergonha e o Tosk aprisionado vivo é sujeito a humilhação pública. Sisko se recusa a entregar o Tosk por achar isso muito bárbaro. O Tosk caçador diz que os Tosks considerados caça são preparados a vida toda para a caça e honram a sua tradição. O Tosk caçador faz um acordo, proibindo futuramente as atividades de caça atravessarem pelo buraco de minhoca, desde que o Tosk aprisionado seja entregue. Sisko, sendo obrigado a respeitar a Primeira Diretriz, concorda com isso, O’Brien diz que é uma espécie viva consciente. Kira sugere que o Tosk possa pedir asilo político. O’Brien leva a sugestão de asilo a Tosk mas ele nega, pois ficar com a Federação seria uma grande desonra para ele, que deve enfrentar seus predadores e morrer com honra.

Watch Star Trek: Deep Space Nine Season 1 Episode 6: Captive Pursuit - Full  show on Paramount Plus
Tramóias com Quark…

O’Brien não desiste e, depois de uma conversa com Quark, decide desobedecer as regras. Ele se oferece para escoltar Tosk mas prepara uma armadilha para libertá-lo. Sisko ordena que eles sejam capturados, mas pede a Odo que não tenha muita pressa. O’Brien consegue libertar Tosk, que diz que O’Brien também é um Tosk e pede que o chefe morra com dignidade. Depois da fuga de Tosk, Sisko dá um esporro federal em O’Brien, dizendo que mais um deslize desses e ele está fora da estação. O’Brien diz a Sisko que achava que Odo logo colocaria um campo de força para prender Tosk e O’Brien em sua fuga, mas isso não aconteceu. Sisko, desconversando, disse que pode ter se esquecido de um ou outro campo de força. Fim do episódio.

O que podemos dizer do episódio “Caça e Caçador”? Foi um baita de um episódio, com diplomacia de cowboy pura, chutando a Primeira Diretriz para escanteio, dessa vez por uma boa causa e de forma um tanto salomônica, pois a meu ver, ela foi parcialmente desrespeitada. Nas palavras do próprio O’Brien, mesmo que ele tenha feito uma intervenção na cultura alienígena (pós-dobra, diga-se de passagem), ele transformou uma caçada falida e vergonhosa numa caçada com potencial para uma morte honrosa novamente, mesmo que isso tenha custado a vida dos caçadores. Pelo menos, eles morreram dignamente. Assim, se os Tosk queriam uma caçada honrosa, O’Brien deu a eles essa possibilidade. De qualquer forma, Sisko estava também correto, pois não foi a melhor forma de se estabelecer um primeiro contato, ainda mais com uma espécie do quadrante Gama, algo que despertava uma curiosidade muito grande da Federação por causa do buraco de minhoca estável, sendo uma batata muito quente a lidar fazer um relatório de toda essa confusão para a Federação. Mas como a caçada nos lembra o mais repugnante do humano em tempos pretéritos (ou seja, a nossa realidade atual), Sisko acaba realmente dando uma mãozinha para a fuga arquitetada por O’Brien, que foi maroto o suficiente para dar uma de João Sem Braço e perguntar a Sisko porque ele e Tosk não foram pegos por campos de força, sabendo que o comandante ajudou indiretamente na fuga.

Assim, “Caça e Caçador” é mais um bom episódio de DS9, onde a Primeira Diretriz é novamente abordada com uma diplomacia de cowboy típica do século 23 sendo aplicada numa região de pós-conflito no século 24. Tem horas que é bom estar longe do espaço da Federação, o que possibilita uma chutadinha de pau da barraca. E fique com o vídeo que analisa esse episódio abaixo.

Batata Movies 2. Radioactive. A Radiação Como Derrota.

Radioactive - Filme 2019 - AdoroCinema
Cartaz do filme…

A Netflix nos brindou com uma curiosa cinebiografia sobre Marie Curie, que recebeu dois prêmios Nobel por suas pesquisas sobre radioatividade. Apesar da justa homenagem, o filme nos deixa um estranho gosto de derrota. Para podermos falar um pouco sobre isso, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Crítica | Radioactive (Marjane Satrapi, 2019) - Plano Crítico
Uma cientista enfrentando a sociedade machista da época…

Vemos aqui a trajetória de Marie Sklodowska (interpretada por Rosamund Pike), uma cientista polonesa radicada em Paris na virada do século XIX para o XX que busca espaço num meio eminentemente masculino, como o era com quase tudo naquela época. Ela é uma pessoa muito dura e exigente, até para sobreviver nesse meio, mas acaba sendo expulsa do laboratório onde trabalhava, tendo que pensar numa carreira solo. Entretanto, ela conhece Pierre Curie (interpretado por Sam Riley), um cientista que admira demais o seu trabalho e que é também apaixonado por ela. Ele propõe que trabalhem juntos em seu laboratório, mas a cientista à princípio oferece uma resistência muito grande à ideia, com Pierre convencendo-a paulatinamente. O trabalho dos dois rende frutos e eles descobrem dois novos elementos químicos, além das propriedades radioativas deles. Isso renderá o Prêmio Nobel de Física, mas que foi atribuído apenas a Pierre Curie, que vai receber o prêmio enquanto Marie está grávida e doente. Marie não aceita muito a questão, achando que Pierre se dobrou ao machismo da época e à vaidade. Marie também estranha os interesses de Pierre com o espiritismo, para o qual não existia base científica segundo ela. Mas o casamento, apesar dos percalços, continuava seu curso, até que foi abruptamente encerrado com a morte de Pierre, atropelado por uma carruagem, o que deixou Marie completamente desorientada. Ela vai buscar conforto afetivo num dos amigos de Pierre, que é casado, e isso se torna um escândalo na sociedade da época, onde todo o preconceito contra a mulher, a xenofobia e antissemitismo dos franceses caíram como uma tempestade sobre Marie. Isso não impediria que ela ganhasse um segundo Prêmio Nobel, agora de Química, com a cientista indo recebê-lo dessa vez, sendo recebida de braços abertos pela comunidade feminina da Noruega,  mais avançada na época na luta pelos direitos da mulher. Vem a Primeira Guerra Mundial e a filha de Marie, que trabalha como enfermeira e também cientista nas pesquisas sobre radioatividade, convence a mãe a usar o raio-x nos campos de batalha para evitar as inúmeras amputações que os soldados sofriam e podiam ter sido evitadas. Ela vai novamente travar uma batalha contra os cientistas varões que sempre lhe impuseram restrições, mas desta vez ela está mais esperta quanto a isso e os ameaça com denúncias à imprensa, conseguindo o que queria, que eram ambulâncias equipadas com aparelhos de raios-x para serem usados no front de guerra, para onde ela foi com a filha para prestar assistência aos soldados feridos.

Radioactive: filme narra a vida de Marie Curie, primeira Nobel mulher
Uma parceria que deu muito certo…

Esse é um filme que pretende ser uma cinebiografia honrosa à famosa cientista, e ele consegue fazer isso em muitos momentos, principalmente no que tange à luta dela contra o machismo, as convenções sociais e a xenofobia da época. Entretanto, o filme tem um gosto enorme de derrota, principalmente quando se refere à descoberta de Curie com relação à radioatividade. Vemos aqui um processo de definhamento do casal protagonista que, em virtude de suas experiências, ficava muito exposto à radiação e adoecia a passos largos, algo que sabemos que realmente aconteceu (é só ver as fotos reais de Marie Curie com o passar dos anos para atestarmos que seu envelhecimento foi muito precoce). Mas o que realmente incomodou é que a cinebiografia era interrompida em alguns momentos para dar alguns saltos no futuro e víamos as consequências da descoberta da radiação para o mundo. Se o primeiro salto para o futuro ainda mostrava o uso da radiação como tratamento inovador para o câncer na década de 50, por outro lado, tivemos a explosão da bomba atômica em Hiroshima, os testes nucleares americanos no Deserto de Nevada, e o acidente em Chernobyl, dando uma impressão de que a descoberta da cientista foi muito mais prejudicial à humanidade do que benéfica. Nem o esforço hercúleo de nossa protagonista no uso do raio-x na Primeira Guerra, nem o diálogo imaginário entre Marie e Pierre no final do filme que buscava absolvê-la dos malfeitos da humanidade nos usos da radiação (Pierre metaforicamente disse que Marie jogou uma pedra no lago mas ela não tem o controle das ondas que a pedra provocou) parecem apagar a impressão negativa da radiação, o que torna essa cinebiografia no mínimo estranha em seus objetivos de homenagear uma cientista que merece realmente todos os louros. Cá para nós, se não fosse ela a fazer essas descobertas, seria outro cientista a fazê-las e a radiação, em suas benesses e malefícios, ainda existiria entre nós. Ou seja, o avanço científico da virada do século XIX para o XX era um fenômeno de ordem social e não individual.

A Marie Curie de "Radioactive" e "A ridícula ideia de nunca mais te ver"
A radiação, mais vilã que mocinha…

Dessa forma, “Radioactive” até consegue fazer uma bela homenagem a uma cientista que deve ser reconhecida nos dias de hoje, mas fez isso com um estranho gosto de cabo de guarda-chuva radioativo na boca.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas TNG (S01 Ep 05), Onde Ninguém Jamais Esteve. Pensando Positivo.

Watch Star Trek: The Next Generation Season 1 Episode 6: Where No One Have  Gone Before - Full show on Paramount Plus
Um teste suspeito com a nave…

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, voltemos a TNG, mais especificamente para o quinto episódio da primeira temporada intitulado “Onde Ninguém Jamais Esteve”.

Qual é o plot? A Enterprise passará por testes em seus propulsores de dobra com o objetivo de aumentar a eficiência, mas Riker está ressabiado com isso, pois ele fez uma simulação que não mostrou melhoras. Esses testes foram feitos em outras duas naves e houve melhoras. Riker acredita que, por serem mais velhas, alguma ineficiência foi corrigida com os testes. Já a Enterprise, por ser uma nave nova, não apresentou melhoras na simulação. O cientista, de nome Kosinski, chega para fazer os testes e mostra grande antipatia e arrogância. Ele vem com um auxiliar alienígena e Troi não consegue detectar nada da personalidade dele, o que é algo que incomoda muito a conselheira e Riker.

Ao chegar à engenharia, Kosinski fala algumas coisas que parecem ser sem sentido para o chefe de engenharia enquanto seu auxiliar alienígena começa a trocar figurinhas com Wesley sobre o campo de dobra e começa a se interessar pelas habilidades do garoto.

Wesley Crusher: Mycelial Network Traveler | Fandom
Wesley vai desenvolver uma grande amizade…

O teste começa. De repente, o alienígena faz menção de desaparecer mas continua nos controles. A nave passa de dobra dez. Picard manda reverter os motores e, quando estão parados, eles constatam que saíram da Via Láctea e que atravessaram mais duas galáxias, viajando dois milhões e setecentos mil anos-luz. Para retornar à Terra em dobra máxima, a viagem duraria cerca de trezentos anos. Picard, ao conversar com Kosinski, se mostra preocupado em saber se o cientista pode levá-los de volta e este diz com toda a propriedade que sim. Mas o capitão e toda a tripulação estão muito ressabiados. Wesley, que acha que o assistente de Kosisnki foi o responsável pela viagem, tenta comunicar o fato a Riker, mas este nem dá bola para o garoto, o que mostra aqui um pouco caso com o menino prodígio que percebe tudo antes (Wesley, numa conversa com o assistente alienígena, cita que espaço, tempo e pensamento parecem não estar dissociados). A volta começa e o assistente alienígena, que mostra dar sinais de exaustão, começa a desaparecer de novo, e agora Riker nota tal anomalia. Depois da parada total, Data constata que a nave nunca saiu de dobra 1,5 e eles estão num lugar totalmente estranho, nas palavras de Data “Onde Ninguém Jamais Esteve”. Os sensores indicam que a Enterprise está a um bilhão de anos-luz da Via Láctea. Worf vê um targ de estimação, Tasha vê um gatinho, tendo uma ilusão com a colônia onde nasceu e Picard, ao descer de elevador, se depara com o espaço em dobra quando a porta se abre. Outros tripulantes têm ilusões. Picard tem outra ilusão com a mãe morta.  Ao chegar a Engenharia, Picard presencia o assistente alienígena de Kosinski desacordado e atendido pela Doutora Crusher. Com o alerta vermelho acionado, Picard diz que a tripulação que a nave está numa situação onde o que o os tripulantes pensam se torna realidade e pede para a tripulação controlar os pensamentos. Riker diz a Picard que é o assistente de Kosinski o responsável por tudo que está acontecendo. Wesley falou dos desaparecimentos do assistente e a doutora diz que o assistente está morrendo. Picard pede que a doutora acorde o assistente, pois com o tempo, a tripulação poderá não distinguir mais os próprios pensamentos da realidade. O alienígena acorda e diz que é um viajante que usa a força do pensamento para isso, pegando carona nas naves da Frota Estelar e dando todo o mérito das viagens a Kosinski. Picard aceita a explicação, já que eles estão numa situação tão extrema e até absurda. Riker pergunta por que a Federação nunca detectou a espécie do alienígena. Este responde que os humanos nunca foram muito interessantes (e ainda dá uma espetada necessária dizendo que os humanos são arrogantes). Picard pergunta se o alienígena não pode mandá-los de volta. Ele diz que sim, mas Wesley se opõe, pois seu amigo está muito fraco. O alienígena diz que quer ajudar, mas antes quer falar em particular com Picard. O alienígena diz que ele deve incentivar Wesley em suas habilidades com a nave, mas sem que o garoto perceba.

Para que a volta da Enterprise para a Via Láctea aconteça, toda a tripulação tem que pensar na sua missão e no bem-estar do alienígena. Ou seja, vamos pensar positivo aí, meu povo. A viagem é feita e a Enterprise volta à Via Láctea. Entretanto, o alienígena desapareceu definitivamente. Picard chama Wesley para a ponte e o nomeia alferes honorário, com todos os privilégios e obrigações do serviço. Fim do episódio.

Star Trek: The Next Generation – Season 1 Episode 6 – Where No One Has Gone  Before | Earl Grey Jot
A força do pensamento faz o alienígena desaparecer…

O que podemos falar do episódio “Onde Ninguém Jamais Esteve”? Em primeiro lugar, tivemos uma ficção científica que abordou a questão da força do pensamento, um tema que era debatido no quarto final do século XX. Ou seja, o uso da força do pensamento para se tornar o que é pensado realidade. No caso, temos um alienígena de uma espécie muito avançada que consegue tornar realidade aquilo que pensa. Entretanto, esse alienígena tem uma limitação e acaba desaparecendo de nossa realidade ao usar demasiadamente essa habilidade. Esse também vai ser um episódio para ajudar na construção de Wesley Crusher, onde continuamos a ver as suas habilidades de jovem superdotado sendo desenvolvidas. Tal construção é um pouco controversa, pois alguns fãs acham Wesley chato demais por ser um adolescente com capacidades acima da média. Mas ainda assim um adolescente, em toda a sua insegurança e receio perante Riker e Picard. De qualquer forma, o rapaz cansou um pouco da postura do capitão e primeiro oficial que se referiam a ele como “o garoto” e ainda sob sua presença, tal como se ele não estivesse ali. Wesley reagirá, dizendo que ele não é um garoto, seu nome é Wesley e ele está presente. Pelo menos o alienígena pede para conversar a sós com Picard e pede ao capitão para estimular Wesley a desenvolver suas habilidades de forma que isso não fique evidente para que ele não suba nas tamancas da arrogância. Aliás, falando em arrogância, nunca foi tão pertinente essa discussão, principalmente depois dos episódios anteriores onde a tripulação da Enterprise mostrou uma certa arrogância em algumas ocasiões e o alienígena chama a atenção para essa arrogância.

Assim, “Onde Ninguém Jamais Esteve” é um episódio razoável de TNG, onde foi abordada a questão da força do pensamento, houve um avanço na construção de Wesley Crusher e tivemos um alienígena para quebrar um pouco a arrogância da tripulação da Enterprise, que estava exagerando um pouco nesse quesito nos episódios anteriores.

Star Trek: The Next Generation – Season 1 Episode 6 – Where No One Has Gone  Before | Earl Grey Jot
Picard recebe dicas de como tratar Wesley…

Batata Movies 2. Godzilla Vs. Kong. Um Gorila Que Fala Língua De Sinais E Um Dinossauro Mecânico.

Godzilla vs. Kong – Wikipédia, a enciclopédia livre
Cartaz do Filme…

Mais um filme espetaculoso nesses tempos sombrios. “Godzilla Vs. Kong” traz de volta as duas criaturas juntinhas, mais habituadas a uma carreira solo. Houve um filme na década de 60 que também promoveu esse colossal encontro. Toda vez que a gente vê um filme em que o King Kong é protagonista, fica aquela vontade de dizer que a película foi o Mico do Ano. Mas será que foi isso que aconteceu agora nessa nova produção? Vamos precisar dos spoilers para discutir isso.

Godzilla vs Kong", "A Viúva das Sombras" e "O Auto da Boa Mentira" estreiam  nos cinemas da região - Giro S/A
Briga de cachorro (ops!), gorila e lagarto grande…

Bom, quem seria o grande vilão desse filme, já que a galera gosta dos dois monstros? Isso mesmo, um grande empresário inescrupuloso que descobriu que a Terra é oca (já ouvi isso em algum lugar) e quer sugar uma energia que existe lá dentro e que “alimenta” os dois protagonistas. Ele quer essa energia para alimentar um enorme Godzilla mecânico que ele construiu (só não ficou muito claro para que ele construiu esse bichão). As atividades da megaempresa desse executivo acabam atraindo Godzilla, já que elas provocaram alguns desequilíbrios na natureza que atiçam o bicho. Sabe-se lá por que Godzilla ficou tão estressado e foi atrás de Kong, que conversava com uma menininha surda-muda por linguagem de sinais (!!!). E aí, os dois saem na porrada, que é isso que todo mundo quer ver e estava curioso para saber quem vai vencer. O grande público até se dividiu em “Time Godzilla” e “Time Kong”, assim como o “Time Capitão América” e o “Time Homem de Ferro” em “Guerra Civil”. E quem ganhou essa luta? Pode-se dizer que houve um empate técnico, pois nas duas lutas entre eles, cada um ganhou uma delas. Quando ia sair o desempate, o monstro mecânico do grande empresário apareceu e os dois tiveram que se unir para derrotá-lo (juro que eu pensei que essa briga só ia acabar quando os dois descobrissem que suas mães se chamavam Martha). E eles só conseguiram derrotar o bichão porque um garoto gordinho derrubou whisky no computador que dominava a máquina, pifando a geringonça. O gordinho foi tratado como herói? Claro que não! E ainda tomou um esporro federal do pai da amiguinha que o meteu em toda essa confusão (ô gordofobia do demônio!!!). No final, cada macaco ficou literalmente no seu galho, com Godzilla voltando para o mar e Kong indo para a floresta dentro da Terra Oca. Aliás, essa história da Terra Oca me remete a uma lembrança ancestral. Quando eu era um reles estudante secundarista (hoje chamam de Ensino Médio), há um trilhão de anos, ficava às tardes com meus amigos fazendo trabalhos de escola na biblioteca de nosso bairro (pois é, não existia a internet e a gente fazia pesquisa em livros e enciclopédias, algo que as gerações atuais não conhecem muito). Terminadas as pesquisas, a gente ficava namorando os livros da biblioteca e a pérola “A Terra Oca” estava lá. E o Zé Preá (Raymond Bernard) que escreveu o livro tinha uma imaginação muito maior que a do roteirista de “Godzilla Vs. Kong”, pois haveria um buraco no pólo norte para onde a gente entrava para o interior da Terra, com um civilização vivendo nas paredes internas do planeta. Essas paredes internas eram iluminadas por um Sol interno, cuja luz dele era vista do lado de fora, sendo as auroras boreais, e os discos voadores na verdade não seriam vindos do espaço, mas sim dessa civilização que vivia dentro da Terra Oca. Eu e meus amigos, do alto de nossos quinze, dezesseis anos, ríamos daquele rosário de disparates escritos em “A Terra Oca”, onde o autor deve ter tomado um LSD muito legal. E qual a minha surpresa, décadas depois, de ver essa ideia sendo usada num filme de Godzilla e Kong. Não sei se o filme da década de 60 lançou mão dessa ideia (resenha em breve na Batata Espacial), mas que tudo isso é muita doideira, ah isso é.

Gozilla vs. Kong: Millie Bobby Brown Latia Para se Concentrar
O verdadeiro herói do filme é o gordinho de óculos…

Dessa forma, “Godzilla Vs. Kong” até não seria o Mico do Ano pelo filme em si, que só quer mostrar uma pancadaria entre um gorilão e um lagartão. O lagarto mecânico construído de forma despropositada pelo grande empresário do mal a gente pode até engolir e foi um bom argumento (melhor que Martha) para acabar com a briga entre os dois. Agora, Terra Oca realmente não dá, o que leva o filme definitivamente à categoria de Mico do Ano. Ainda, sempre eu sinto uma falta desgraçada do Ultraman quando vejo esses filmes.

Batata Movies 2. Mulher Maravilha 1984. Cuidado Com O Que Você Deseja, Você Pode Conseguir.

Mulher-Maravilha 1984 - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme…

Depois de sua estreia em dezembro do ano passado, finalmente consegui ver “Mulher Maravilha 1984”. Infelizmente os dias difíceis pelos quais estamos passando tolheram um dos grandes prazeres da vida (pelo menos para a minha pessoa), que é estar numa sala de cinema para assistir a um filminho. Restou a mim ver os vídeos na internet que analisavam o filme com spoilers ou não e as opiniões até eram boas, mas com algumas ressalvas. Ficou a impressão de que a coisa não tinha sido totalmente satisfatória. Também pudera, a DC e a Warner metem os pés pelas mãos na hora de fazer seus filmes, é o que conta o senso comum para a gente nos últimos tempos. Pois bem. Finalmente tive acesso a “Mulher Maravilha 1984” e busquei assistir ao filme sem qualquer pré-julgamento, bem ao estilo do “vamos ver primeiro para a gente verificar depois se concordamos ou não com o que a galera achou”.

Mulher-Maravilha 1984 vê data de estreia adiada por causa do COVID-19 |  Magazine.HD
Ela está de volta…

E qual foi a minha impressão? Foi a melhor possível. Eu simplesmente adorei o filme de cima a baixo! E por que isso? Porque ele foge ao convencional dos filmes de heróis: mocinhos contra bandidos, com os primeiros vencendo e os segundos sendo severamente punidos. “Mulher Maravilha 1984” é um filme de personagens bem humanizados e complexificados, com virtudes e defeitos, sejam os heróis, sejam os vilões. Creio que é necessária uma certa coragem para se fazer isso nesse gênero de filme, que tem um público muito exigente (há sempre a questão da comparação com os quadrinhos) e uma visão de mundo talvez um pouco mais polarizada entre bem e mal. Vamos conversar um pouco sobre isso, sempre lembrando que os spoilers estão liberados.

Pedro Pascal e Kristen Wiig em um papo sobre Mulher-Maravilha 1984 - Vogue  | celebridade
“Vilões” humanizados…

Mas, qual é o plot? A coisa gira em torno de uma espécie de artefato antigo que realiza os desejos das pessoas, mas em troca, acaba tomando algo delas. É um artefato um tanto amaldiçoado por deuses malignos que já destruíram culturas no passado. O objeto vai parar no instituto onde Diana Prince trabalha como antropóloga no ano de 1984 e é estudado por Barbara Minerva (interpretada por Kristen Wiig), uma pesquisadora que ninguém dá bola, sendo uma verdadeira outsider que se ressente demais com isso. Sem saber do perigo do artefato, Diana deseja a volta de Steve Trevor, o que acaba acontecendo, ao passo que Barbara quer ser tão poderosa e descolada quanto Diana, o que lhe dá superpoderes. Diana e Steve reengatam o relacionamento enquanto que Barbara fica muito popular em seu emprego. Entretanto, há outro personagem, Max Lord (interpretado por Pedro Pascal), que quer levar uma empresa de produção de petróleo adiante, mas os poços estão secos. Ele está com a corda no pescoço, mas não perde a pose, visitando o instituto de pesquisa de Diana e Barbara com a intenção de patrociná-lo, quando descobre o tal artefato e o rouba. Será aí que os problemas vão começar, pois ele deseja que ele mesmo se torne o artefato e começa a fazer os desejos de outras pessoas, sempre exigindo algo em troca, o que aumenta ainda mais o seu poder de influência entre as pessoas. Depois de uns estudos arqueológicos, Diana descobre que precisa deter os planos de Max de dominar o mundo, mas Barbara não vai querer perder sua influência popular sobre os seus. Cabe dizer aqui que a maldição do artefato somente é desfeita se as pessoas renunciarem a seus desejos. E nossa heroína vai passar por uma provação nisso, pois significa que ela deve também renunciar ao amor de Steve Trevor.

Resenha: Mulher-Maravilha 1984 (com alguns spoilers) - Meio Bit
Uma armadura e tanto…

O roteiro do filme tem uma reflexão principal, onde as histórias dos personagens interagem e se apóiam: nem sempre tudo acontece em nossa vida de acordo com nossos desejos. E a gente não deve viver num mundo de ilusão e mentira por causa disso, encarando a realidade e a verdade de frente, se adaptando à vida como ela é da melhor forma possível, não se encucando se tudo o que almejamos não vem. Tal reflexão tira um peso danado de nossas costas e faz a gente levar a vida melhor, com menos espaço para as frustrações. Se todos no mundo acabassem tendo os seus desejos realizados facilmente, tudo seria um grande caos, pois o espaço do desejo de uma pessoa poderia violar o espaço do desejo do outro. Ao vivermos em sociedade, temos a nossa liberdade sim, mas esta liberdade tem um limite, que é a liberdade de outro indivíduo, algo que John Locke falava ao estabelecer as bases do liberalismo político lá no longínquo século XVIII, e que se materializa na famosa frase: “A Minha Liberdade Termina Aonde Começa A Sua”. Vemos, no filme, pessoas lidando com essa reflexão de formas diferentes. Diana, a heroína, resiste à ideia da perda de Steve Trevor, mas acaba se resignando e se desapegando do seu passado para ir em frente. Já Barbara não quer se desfazer de sua popularidade tão facilmente, tornando-se agressiva e violenta. O mesmo acontece com Max, que não quer se desvencilhar de sua busca por poder. Ambos tiveram uma vida pregressa muito sofrida, com Barbara sendo desprezada por meio mundo, assim como Max, que teve uma infância muito difícil. É nessa hora que me lembro de Chaplin em seu discurso do Grande Ditador: “Só os que não são amados e não naturais que odeiam”. Ou seja, a falta de amor que algumas pessoas sofrem acaba levando-as para o caminho do ódio. Tais palavras nos fazem refletir sobre o que é ser humano e como devemos tratar os que nos cercam. Cá para nós, trabalhar tais ideias num filme de super-herói é algo, no mínimo, ousado. Assim, esse é um filme onde não há o vilão, já que todos são vítimas de traumas do passado em maior ou menor grau. Ou seja, personagens humanos e complexos, com virtudes e defeitos. Toda essa conversa sempre me lembra de Dora, a personagem de Fernanda Montenegro em “Central do Brasil”, que era fria e rude, passando por um processo de humanização ao longo do desenrolar do filme, até se redimir em seu final. Ou seja, um personagem nem 100% bom, nem 100% ruim. Os mocinhos totalmente bons e vilões totalmente ruins são uma marca de uma narrativa lá do cinema mudo, até que esses personagens começam a se tornar mais complexos, onde um dos primeiros exemplos foi Ricky, de “Casablanca”, um mocinho com toque um pouco canalha. Nem Darth Vader, o exemplo do mal por excelência, escapou desse processo de complexificação.

Mulher-Maravilha 1984 | Patty Jenkins comemora o aniversário da jovem Diana  com uma nova foto – Geeks In Action- Sua fonte de recomendações e  entretenimento!
Não se pode trapacear…

Talvez o grande vilão aqui seja as divindades maléficas que deram poder ao artefato que semeou discórdia e destruição. Mas não dá para punir algo tão abstrato. A única punição é deter os atos maléficos das mesmas, através da renúncia aos desejos e a aceitação da verdade, preconizados por Diana na sequência em que Max procura dominar o mundo e que se liga com o início do filme, onde uma jovem Diana escuta da mãe que ela trapaceou numa competição e que a verdade é o que mais importa, sobrepujando a mentira.

Mulher-Maravilha 1984 ganha teaser internacional com cenas inéditas
Diana terá que renunciar ao seu amor Steve Trevor…

Nos pós-créditos, uma surpresa. Lynda Carter aparece como Asteria, a lendária amazona dona da armadura dourada que a Mulher Maravilha usa nesse filme. É impressionante como o tempo não parece passar para nossa eterna Mulher Maravilha lá da década de 70, vinda diretamente da Ilha do Paraíso.

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Making of. Com a diretora Patty Jenkins…

Dessa forma, “Mulher Maravilha 1984” é um filme que pode até não corresponder aos anseios dos fãs de filmes de super-heróis, mas ainda assim traz uma bela reflexão sobre como devemos encarar a vida e aos outros que nos cercam. Jamais devemos deixar a frustração de projetos e ambições não concretizados nos abater e devemos levar a vida com mais suavidade, aceitando e se adaptando ao mundo à nossa volta, assim como devemos ser mais zelosos com outras pessoas, que também têm seus medos, inseguranças e frustrações.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Tenet. Presepada Temporal.

Tenet - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme…

Vamos falar hoje de mais um filme que concorreu ao Oscar desse ano de 2021. “Tenet”, escrito e dirigido por Christopher Nolan, concorre a duas estatuetas: Melhores Efeitos Visuais e Melhor Design de Produção. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Tenet' tem ótimas cenas de ação em um dos piores roteiros de Christopher  Nolan; G1 já viu | Cinema | G1
Um protagonista literalmente chamado de protagonista…

O filme fala de um agente da CIA conhecido apenas como “O Protagonista” (interpretado por John David Washington), que faz parte de uma organização secreta chamada Tenet. Ele vai lutar contra um poderoso empresário russo, Sator (interpretado por Kenneth Branagh), que tem uma geringonça atômica que permite que se façam viagens do futuro para o presente e vice-versa. Sator, uma mente diabólica, criou toda uma condição de que, se ele morrer, o mundo vai acabar. Mas o grande detalhe é que ele é paciente terminal de câncer. Assim, o protagonista terá que fazer viagens no tempo, para o futuro, o presente e o passado, para evitar os planos malignos do grande vilão do filme e ainda salvar a esposa do vilão, que é tratada de forma muito violenta por ele.

Em 'Tenet', Christopher Nolan foca no tema principal de sua carreira:  'Tempo é o mais cinemático dos assuntos' | Cinema | G1
A culpa é do Nolan…

O filme é uma presepada só. E temporal. Ou seja, a gente vê nosso protagonista lutando contra ferozes inimigos que se movem às avessas, como se a gente visse um flashback dando ré (ou visões do futuro dando ré, sei lá). Por causa dessa história de viagens e inversões no tempo, o roteiro fica muito confuso e difícil de acompanhar (parece até que o Nolan estava sob o efeito de um goró muito legal ao escrever essa porcaria). Por incrível que pareça, o filme ainda se salva (um pouco só) pelas atuações de Robert Pattinson (que é mais que um vampiro de “Crepúsculo” ou um Batman que todo mundo gosta de esculachar sem sequer estrear) e, principalmente, Kenneth Branagh, que não sei o que foi fazer nesse filme (Nolan deve ter uma lábia desgraçada de boa para ter convencido Branagh a participar dessa afronta à boa vontade do espectador, muito melhor do que a capacidade que ele teve de escrever esse roteiro altamente sofrível). Para coroar tantos disparates com a cereja do bolo, ainda temos uma operação militar ao final da película para se recuperar as geringonças atômicas do vilão do filme, com direito a soldados correndo para frente e de ré e explosões ao contrário. Me senti num vaudeville vendo as trucagens de câmara dos filmes de Melliès lá no início do século passado. E pensar que esse filme recebeu a indicação para Melhores Efeitos Visuais. Realmente dar duas indicações ao Oscar para esse filme lamentável é a prova de que nem sempre o Oscar se preocupa em premiar o bom cinema. E só dá mais razoes para aqueles que cobram mais diversidade do Oscar.

Tenet' tem ótimas cenas de ação em um dos piores roteiros de Christopher  Nolan; G1 já viu | Cinema | G1
Branagh, o pouco que se salva do filme…

Dessa forma, “Tenet” é um grande e deprimente erro. Muitas explicações floreadas para se abordar a velha questão da viagem no tempo que tornam o roteiro maçante e cansativo. E, mais lamentável ainda, é saber que Nolan foi o autor de tamanha presepada, pois ele assina o roteiro e a direção, não havendo qualquer desculpa ou atenuante.