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Batata Movies – Cézanne E Eu. Amizade Em Preto E Branco.

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Cartaz do Filme

Um filme levemente tenso e um tanto intrigante. “Cézanne e Eu” fala da amizade entre o pintor Paul Cézanne e o escritor Emile Zola, que se estendeu por praticamente toda a vida dos dois. Esse é um filme que exige uma certa atenção do espectador, pois se prende demais nos diálogos entre os personagens protagonistas. Zola, um crítico ácido da burguesia, era uma pessoa contida e tímida. Já Cézanne tinha uma natureza bem mais vibrante e conflitante, arrumando brigas com meio mundo, não gostando de ninguém nem de si próprio. Apesar de ser um filme sobre uma amizade de toda uma vida, essa amizade não tinha nada de colorida, muito pelo contrário, pois nossos artistas brigavam como gato e rato depois de uma certa altura da vida, embora sempre nutrissem um afeto um pelo outro.

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Dois amigos de uma vida inteira…

De qualquer forma, cada um pisava na bola de seu jeito. Se Cézanne era uma pessoa difícil e de temperamento explosivo, sendo pouco sociável e arrumando brigas com todos, o que aumentava ainda mais o seu arrependimento por suas atitudes e a sua compulsão por isolamento, por outro lado, Zola, ao conversar com outras pessoas sobre Cézanne, não poupava críticas aos defeitos do amigo, ao bom estilo de “falar mal pelas costas”. Como Cézanne escutou às escondidas algumas dessas conversas, tais palavras feriam diretamente o seu coração e o levavam a se esconder ainda mais do mundo. Esses momentos de sofrimento de Cézanne foram muito marcantes e doíam diretamente na gente.

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Zola poderia ser bem cruel…

Com essa breve explanação do filme, dá até para adivinhar qual ator se destacou mais. Guillaume Canet fez um bom Zola, centrado, contido, sóbrio, mas que também podia ser muito cínico e expansivo em alguns momentos, beirando a crueldade. Mas o grande nome do filme é, sem qualquer sombra de dúvida, Guillaume Gallienne. Seu Cézanne rouba totalmente a cena, seja nos dias de juventude, meia idade ou velhice.

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… e Cézanne, bem agressivo…

Sua atuação foi intensa e vibrante, convencendo totalmente em seus momentos de alegria, tristeza, raiva, depressão ou melancolia. Por mais que Gallienne se esgoelasse tentando ser o mais intenso possível como seu personagem exigia, nada era mais poderoso que a força de seu olhar nos seus momentos de melancolia, vencido pela baixa autoestima e pela própria vida. É pela interpretação de Guillaume Gallienne que esse filme, relativamente enfadonho e lento, vale o ingresso. Há de se destacar, também, a forte fotografia, principalmente nas cenas de campo, onde a paisagem da imagem final do filme se mescla maravilhosamente com um quadro de Cézanne, numa linda plasticidade.

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Mas o pintor esconde uma grande fragilidade em seu interior…

Assim, se “Cézanne e Eu” poderia ser menos denso nos diálogos, sem perder a erudição presente nos protagonistas, por outro lado mostrou uma atuação primorosa dos atores que faziam os papéis principais, com um destaque todo especial para Guillaume Gallienne, que rouba totalmente a cena. Típico filme de se ver pelo ator. Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=Gc_-DL6blCQ

Batata News – Game Over. Agressividade Em Tempos Agressivos.

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Cartaz da Peça, Realizada em Julho

Durante a Ditadura Militar, ficou conhecido o fato da encenação de algumas peças teatrais com o objetivo de agredir o público para que ele começasse a se manifestar e sair da letargia com relação aos anos difíceis daquele regime. Isso foi falado em “1968, O Ano Que Não Terminou”, de Zuenir Ventura. Pois é. Essa foi a impressão que eu tive quando assisti a peça “Game Over, Ou Não Tá Fácil Pra Ninguém”, de mais uma turma de formandos da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna. Talvez essa tenha sido a peça mais agressiva que eu assisti na Escola. Também pudera. Isso é um sinal dos tempos altamente agressivos pelos quais temos passado e onde a Terceira Lei de Newton (a da ação e reação) acaba se aplicando com muita vontade.

Agora, uma coisa precisa ficar bem clara. Se a peça foi agressiva com o público, isso não significa que ela tenha agredido propriamente o público. A abordagem foi incisiva, mas não desrespeitosa. A peça foi dividida em várias pequenas histórias e situações em que se analisa a conjuntura social, econômica e política atual, que passa por momentos muito difíceis. E a forma impactante com que isso é feito tem uma intenção: tirar o espectador da zona de conforto e, com a sua participação na peça, estimulá-lo à reflexão, como no momento em que as atrizes da peça convidam todas as espectadoras a queimar numa churrasqueira acesa alguns pênis de cartolina que simbolizam o machismo e preconceitos masculinos. E cada espectadora tinha liberdade para queimar o preconceito ou a repressão que quisesse: ser a única mulher do setor da empresa em que trabalha e ser tratada como um objeto de desejo por causa disso, repúdio à violência doméstica, dizer o que a mulher deve fazer ou vestir, etc., etc. A experiência foi tão catártica e libertadora que algumas espectadoras queimaram mais de um pênis, pois tinham muito o que dizer e repudiar.

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Os Alunos da Escola Martins Penna

Obviamente, a peça tinha algumas críticas bem pontuais à atual conjuntura política, que produz um farto material de factoides por segundo, o que provavelmente obrigou-se a introduzir falas de última hora. Houve, também, um hilário momento em que uma atriz vestida de barata se dirigiu de forma bem agressiva à plateia, reclamando da crueldade dos humanos.

As pessoas circulavam pelo palco para participar da peça enquanto um andaime, às vezes em alta velocidade, circulava. É claro que as pessoas foram previamente avisadas do andaime, mas mesmo assim o pessoal teve que dar uma corridinha em alguns momentos, até porque os atores, num momento da peça, jogavam estalinhos e bexigas cheias d’água no palco, confirmando a interação agressiva da peça.

Houve, ainda, alguns momentos um tanto claustrofóbicos, onde pessoas desesperadas corriam em meio ao palco escuro, iluminando o público com lanternas, numa metáfora da angústia provocada por regimes repressivos. Nessas horas, víamos verdadeiras explosões de paroxismo por parte dos atores.

Dessa forma, “Game Over, Ou Não Tá Fácil Pra Ninguém” cumpre bem a sua proposta que é denunciar os tempos sombrios pelos quais passamos, tirando o espectador de sua letargia, passividade e zona de conforto. Uma peça agressiva sem agredir e altamente interativa, fazendo um convite à reflexão.  Uma peça que exprime bem todo um zeitgeist de forma intensa e até bem-humorada. Mais um pontaço dos alunos da Escola Estadual de Teatro Martins Penna. Veja o vídeo abaixo onde os alunos tentavam arrecadar fundos para a peça.

Batata Literária – Desgosto

Agosto

Mês de desgosto

Jiboia fica venenosa

A bruxa fica solta

Azar de lazarento

Prédio pega fogo!

Tudo fica seco!

Queimada na beira da estrada!

Cadê a chuva???

O mês não acaba nunca

Nuvens negras de mau agouro!

Nenhum feriado, cacete!

Cinco semanas…                

E o dia 31 não vem

Vem setembro, até…

E quando o dia 13 de agosto

Cai na sexta-feira???

O azar do americano

É mais fraco que o nosso

Mas azarado é o que não se ajuda…

E sucumbe à nuvem escura da crendice

Que bom que eu tenho corpo fechado!!!

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Batata Movies – Bacurau. Uma Cidade Que Não Está No Mapa.

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Cartaz do Filme

“Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, foi um filme que provocou grande estardalhaço antes mesmo de sua estreia, pois ganhou o prêmio do júri em Cannes e faz alusões aos dias autoritários em que temos vivido. Tudo isso criou um clima de curiosidade em torno da película que foi sanado depois de sua estreia. Para analisarmos o filme, vamos lançar mão de spoilers aqui.

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Um filme onde o povo de Bacurau é o principal personagem…

Mas, no que consiste o plot do filme? Em primeiro lugar, ele se passa “daqui a alguns anos”, ou seja, num futuro não muito distante, mais exatamente no Oeste de Pernambuco, numa pequena cidadezinha de nome Bacurau. Como muitas cidades nordestinas, ela sofre com a crônica falta d’água, mas tem um estrato cultural muito forte, assim como seu senso de comunidade. Os moradores, por exemplo, repeliam com rispidez o prefeito da cidade, que concorria à reeleição, mas tinha promessas vazias quanto ao problema da água. Um belo dia, vários cavalos soltos de uma fazenda próxima invadiram a cidade. Dois moradores foram à fazenda. Ao mesmo tempo, um caminhão pipa chega com perfurações de bala, assim como dois motoqueiros de fora passam pela cidade. Esses três eventos estranhos mudarão para sempre a rotina da cidade, pois estão ligados à presença de americanos que gostam de alvejar as pessoas por esporte e com suas armas antigas somente para descarregar a tensão. Usando a tecnologia, pouco a pouco os americanos riscavam a pequena cidade do mapa: a apagaram do GPS, tiraram o sinal de celular e a energia elétrica, tudo para ter liberdade para exterminar todo mundo sem deixar rastros. De acordo com as circunstâncias, parece que a cidade não terá a menor chance. Mas como a população de Bacurau é muito apegada às suas tradições a ponto de manter um museu na cidade, e essas tradições estavam ligadas a uma quadrilha de cangaceiros, podemos dizer, no popular de hoje, que “deu ruim” para os gringos.

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Sônia Braga e sua Domingas. Timing errado deu uma impressão equivocada da personagem…

O filme trabalha uma grande alegoria. O tom distópico encontrado na legenda inicial “daqui a alguns anos” e nos fuzilamentos do Vale do Anhangabaú, exibidos ao vivo na televisão ajudam a associar o macrocosmos do Brasil do amanhã que todos nós tememos com a realidade microcósmica surreal que Bacurau é obrigada a enfrentar: uma população sob risco de massacre por forças políticas que usam como cães de guarda americanos belicistas e tresloucados, com o total desprezo pela vida humana nativa, a quem os americanos associam a macacos. É de se refletir ao ver todo esse panorama no filme e constatar, na vida real, ligações um tanto torpes de grupos americanos e brasileiros que têm um projeto um tanto apocalíptico para nosso país. Pode-se dizer, nesse ponto, que a alegoria funcionou muito bem.

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Udo Kier. Michael troca o racionalismo pela psicopatia…

O que podemos dizer dos atores? Temos aqui dois medalhões: Sônia Braga e Udo Kier. A primeira faz Domingas, a médica local, uma personagem muito dura e de arroubos erráticos, sobretudo na morte da líder local ao início do filme, onde a doutora aparece bêbada e deprimida no velório. Sei não, mas esse timing não foi muito bom para a personagem, que adentrou o filme visivelmente transtornada com a perda e ficou com uma impressão inicial de ser ruim das ideias, quando não era nada disso (Domingas consegue até ser bem racional). Já Udo Kier faz Michael, o líder dos americanos zuretas e assassinos. Inicialmente frio, Michael faz um percurso inverso ao de Domingas, abandonando a sua racionalidade e frieza para se confirmar como o pior psicopata da trupe americana, matando até alguns de seus colegas (ou eliminando a concorrência do jogo de “quem mata mais”?). O encontro desses dois personagens, inevitável para o bom andamento do filme, foi problemático, pois soou muito falso Michael não executar Domingas. Mas, da forma que a história foi concebida, parecia não haver muito jeito, pois não dava para Domingas metralhar Michael ou ela conversar com ele moribundo depois de baleado, já que ele foi enterrado vivo e seu castigo era definhar consciente com a falta de comida, água e, principalmente, ar.

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Um encontro pouco crível…

Agora, o grande lance foi o passado cangaceiro de Bacurau, manifesto no museu, que assumiu tons macabros e salientou a ideia geral de que “contra a violência reinante em nosso país, ninguém pode”. Mas também foi um embate entre a cultura local e o intervencionismo estrangeiro, entre a tradição e a modernidade, com o humor negro do ex-matador Pacote (interpretado por Tomás Aquino) perguntando aos citadinos se as cabeças decapitadas não foram um exagero. Ainda, com relação à cultura local, os psicotrópicos que entorpeciam a população também tiveram um destaque especial, algo meio indígena de conhecimento de plantas locais que ajudou na empreitada contra os estrangeiros.

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Em Cannes…

Dessa forma, “Bacurau” foi uma grata surpresa, um thriller emocionante e um tanto surreal, que trabalha uma alegoria contemporânea e o embate entre o local e o estrangeiro, a tradição e a modernidade. Um filme que trabalha o tema da resistência, tão em voga nos dias de hoje. Programa imperdível.

Batata Movies – Yesterday. O Que Aconteceria Se…

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Cartaz do Filme

Um filme esperado. “Yesterday”, de Danny Boyle, conta uma história engraçadinha usando como personagens principais as músicas dos Beatles. Mas o filme convida a uma reflexão bem ao estilo do “O que aconteceria se…”, da Marvel. O se aqui é exatamente o desaparecimento do sucesso dos Beatles da face da Terra. Para podermos analisar esse filme, vamos lançar mão dos spoilers.

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Jack, um cara que se depara com o inusitado…

Bem, vamos ao plot. Jack Malik (interpretado por Himesh Patel) é aquilo que chamamos por aqui de cantor de churrascaria. Ele sempre procura um lugarzinho para tocar por uns trocados, recebendo pouquíssima atenção do público, mas é estimulado pelos poucos amigos e, principalmente por Ellie (interpretada pela “Cinderela” Lily James), um misto de empresária, amiga de infância e pseudo namorada. Numa bela noite, Jack volta para casa de bicicleta e é atropelado por um ônibus enquanto há um pico de energia de dimensões planetárias. O cara vai parar no hospital sem os dentes da frente, despertando mais graça do que pena. E aí, enquanto se recupera, ganha de presente de Ellie um violão, e começa a dedilhar e cantar “Yesterday”, dos Beatles, deixando os amigos maravilhados, que perguntam que música é aquela. Vai ser nesse momento que Jack percebe que ninguém sabe mais quem são os Beatles. E aí ele aproveita a oportunidade e começa a usar as músicas dos Beatles para alavancar a sua carreira, tornando-se uma estrela mundial. O problema é que o estrelato trará algumas complicações, como, por exemplo, o afastamento de Ellie de sua vida e a distorção do uso dos Beatles em função do interesse contemporâneo pelo dinheiro.

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Ellie, fofíssima!!!

O filme perturba a nossa cabeça, pois ele nos dá a entender que, se os Beatles tentassem a carreira hoje, eles não teriam muito espaço para algumas de suas composições, já que, nos dias atuais, há toda uma tecnologia, um imediatismo e um interesse pelo dinheiro rápido que não está em consonância com os dias mais prosaicos da década de 60. Por exemplo, o álbum “Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band” foi rechaçado pelos empresários de Jack, pois era um título muito grande e complicado. E o negócio é a rápida absorção, por parte do público, das músicas para se impulsionar logo as vendas e se ganhar muito dinheiro. Vendo essa questão levantada pelo filme a gente se pergunta: e nos anos 60? O empresário dos Beatles também não estava interessado em ganhar dinheiro? É obvio que sim. Entretanto, o ritmo das coisas e as mídias eram completamente diferentes, como se elas permitissem mais brechas para uma liberdade criativa.

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Um estrelato inesperado e desagradável…

Uma coisa que é hilária é que os Beatles não foram os únicos a desaparecer da face da Terra. Outros ícones tais como a Coca Cola e Harry Potter também não existem mais. E quando Jack via que as pessoas não conheciam tais ícones, ele saía correndo em direção a um computador para pesquisar no Google, não encontrando os resultados corretos. Mas, uma coisa é certa: um mundo sem os Beatles era muito pior. Foi o que disseram a Jack dois fãs que ainda se lembravam dos Beatles e que lhes deram o endereço de, ninguém mais, ninguém menos do que John Lennon, que estava vivo, do alto de seus 78 anos. Jack o visitou e descobriu que, nessa realidade alternativa, John teve uma vida muito boa e uma velhice tranquila, sendo a coisa boa desse “O que aconteceria se…”. O mais impressionante foi ver o ator que interpretou John Lennon, o veterano Robert Carlyle, que já foi até vilão de filme de James Bond. O cara estava igualzinho.

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Um acidente que o deixou desdentado…

Os atores foram bem. Himesh Patel convenceu com o seu tom meio abobalhado e perplexo pela situação inusitada que passava. E Lily James estava fofíssima e serelepe, muito à vontade com sua personagem Ellie. Confesso que gostei muito dela e de sua atuação, mais até do que Patel.

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Declarando o seu amor…

O filme teve um momento mais lento, justamente quando Jack tentava emplacar as músicas dos Beatles e a coisa não engrenava inicialmente. O senso comum do personagem (e o nosso) dizia que o sucesso dos Beatles era algo automático. Mas não foi. Ou seja, sempre se precisa pastar e correr atrás (como os Beatles correram), mesmo se você tem obras-primas à mão. Até elas serem reconhecidas, demora. Outro mito derrubado é o seguinte: mesmo sendo muito popular, não dá para guardar de cabeça todas as músicas dos Beatles. Jack teve que pagar um dobrado para relembrar as músicas e suas letras, agora que elas não existiam mais. Nosso protagonista, inclusive, teve que fazer um tour por Liverpool para refrescar a memória, o que foi um deleite para os espectadores, pois vários pontos turísticos de beatlemaníacos apareceram na película.

Cena do filme Yesterday, com Himesh Patel e diretor Danny Boyle
Himesh Patel e Danny Boyle, o diretor

Dessa forma, “Yesterday” até não é uma coisa de se encher os olhos, mas tem os seus encantos. A gente se diverte com as músicas e com a interpretação do casal protagonista. A gente reflete sobre as chances que os Beatles teriam hoje, num mundo mais controlado pela alta velocidade da informação (olha aí mais uma vez o embate tradição-modernidade, com a primeira sendo elencada como virtuosa). Por essas virtudes, vale a pena dar uma conferida. E não se esqueça de ficar na sala durante todos os créditos finais, pois tem “Hey Jude” cantada pelo Paul McCartney.

Batata Books – Provação. Guerra nas Estrelas Regada a Sangue.

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Capa do Livro

Falemos hoje de mais um livro que A Editora Aleph lançou do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”. “Provação”, de Troy Denning, cuja história traz de volta os bons e velhos heróis Han Solo, Princesa Leia Organa Solo e Luke Skywalker. Uma história emocionante que é regada à muita ação e que incrementa ainda mais a saga de “Guerra nas Estrelas”, que deve muito a essas histórias “não oficiais”. Vamos falar um pouco desse bom livro, lembrando que vamos esbarrar em alguns “spoilers” aqui.
Os acontecimentos de “Provação” se passam quarenta anos depois de “O Retorno de Jedi”, quando o Império finalmente fora totalmente derrotado e a Ordem Jedi estava reconstituída. Han, Leia e Luke já estavam mais aplacados pelo peso da idade, mas não tinham saído da ativa. As forças do mal ainda azucrinavam a galáxia distante. Dessa vez, o vilão é uma empresa chamada Tecnologias de Exploração Galáctica (TEG), comandadas por dois irmãos da espécie Columi, Marvid e Craitheus Qreph. Eles tinham grandes crânios que eram dotados de uma inteligência muito pronunciada, somente não maior que suas ambições de controlar economicamente toda a galáxia. Os irmãos Qreph tentavam dominar uma região rica em minérios dentro de uma espessa nebulosa, onde Lando Calrissian tinha uma mineradora. Assim, os Qreph tentavam de todo modo pressionar Lando para que ele vendesse seu negócio. Para fazer suas sabotagens e artimanhas, os Qreph mantinham exércitos mandalorianos, e seres reptilóides conhecidos como Nargons. Como Lando está em maus lençóis com os Qreph, Han, Leia e Luke vão à nebulosa investigar. Mas o imbróglio parece ser muito maior que a ambição desenfreada dos Qreph. Um imbróglio que cheira a Siths.

A espécie Columi

Essa rápida sinopse nos dá uma ideia de como a história é cativante. Ao contrário da Trilogia Thrawn, onde as querelas políticas se fazem mais presentes, em “Provação”, as fortes cenas de ação são praticamente uma constante na história. Cabe frisar aqui que, em vários momentos, presenciamos uma violência extrema, e o autor judiou muito de nossos protagonistas, enchendo-os de torturas, explosões e ferimentos. Denning chega às fronteiras do sadismo ao descrever com detalhes os ferimentos nos corpos de Luke, Leia e Solo à cada ação mal sucedida, numa violência ao meu ver, um tanto desnecessária, justamente por ser desmedida.
Um problema na história é o excesso de personagens, sendo que alguns deles praticamente são apenas citados e não voltam mais à história, enquanto que outros permaneceram ao longo da trama. Outro problema no livro é que, como se passaram quarenta anos desde o “Retorno de Jedi”, muitas coisas aconteceram nesse meio tempo e são superficialmente contadas pelo autor, parecendo totalmente descoladas da história principal. Faladas tão rapidamente, esses pequenos detalhes nos dão a impressão de que temos várias pontas soltas que pouco ou quase nada acrescentam à trama.
A presença dos Sith na história também é errática e confusa. Denning acrescenta uma série de elementos aos Sith que poderiam ter sido bem explorados nos últimos 25% de texto, mas foram subaproveitados, como se o autor simplesmente não soubesse amarrar bem as pontas soltas (olha elas aí de novo!) para fazer um bom desfecho para a história. Será que isso foi feito intencionalmente como gancho para uma continuação do livro? Pode ser. Mas a verdade é que a coisa ficou um tanto confusa e com aparência de mal escrita. Ainda, a grande vilã Sith, Savara Raine, uma pós-adolescente muito invocada e maligna, foi mal aproveitada na história. A impressão é a de que ela poderia ter sido mais presente na trama. E não empolgou tanto como o Grão Almirante Thrawn da trilogia de Timothy Zahn, por exemplo.
Apesar desses pequenos problemas na estrutura narrativa da história, o livro ainda nos traz interessantes reflexões. A violência dos métodos dos irmãos Qreph levava Leia a explosões de ódio, rechaçadas pelo argumento de Luke de que a raiva e o medo são um caminho para o lado sombrio. Tal discurso aparece recorrentemente no texto. Mas o mais interessante foi uma série de argumentações que o autor fez com o conceito de Força, dando-lha adjetivos altamente antagônicos, levando a coisa a um certo ar, digamos barroco, que também prima pelo jogo com as antíteses. Não vou entrar em detalhes aqui para não dar mais “spoilers”.
Concluindo, se “Provação” nos deu um texto com alguns problemas, por outro lado tivemos uma boa história de ação. Sua leitura é empolgante, embora menos do que a Trilogia Thrawn. Mas ainda assim, vale a pena e é mais uma contribuição interessante ao Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”

Savara Raine