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Batata Movies – Palace 2: Três Quartos Com Vista Para O Mar. Documentário Sobre A Impunidade.

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Cartaz do Filme

Um documentário brasileiro. “Palace 2: Três Quartos Com Vista Para O Mar”, de Rafael Machado e Gabriel Correa e Castro relembra a tragédia do Palace 2 em 1998, quando parte do prédio de um condomínio na Barra desabou, deixando oito mortos e mais de 170 famílias desabrigadas. Esse é mais um documentário sobre a revoltante situação de impunidade que reina em nosso país e é fundamental, pois mostra todo o processo da luta das famílias na justiça contra o deputado Sérgio Naya, que construiu o prédio de uma forma muito irresponsável, praticamente não pagando pelo crime que respondia (o deputado hoje já é falecido e as famílias ainda lutam por seus direitos na justiça, vinte anos depois).

Uma parte do prédio desaba, feito com péssimo material…

Foi feita uma boa reconstituição de todo o ocorrido, com muitos depoimentos dos moradores, advogados e imagens de arquivo que mostraram todo o sentimento de horror dos moradores do prédio na época e o que aconteceu posteriormente. Após a demolição total do prédio, os moradores, sem ter para onde ir, passaram a morar num hotel, alguns deles por vários anos, para se manterem unidos na luta pela justiça.

Colhendo depoimentos dos ex-moradores…

Entretanto esse estilo de vida era altamente desgastante e provocou a desistência de alguns moradores em permanecerem unidos naquela situação. Tanta luta até rendeu bons frutos. O deputado foi condenado a pagar a indenização (até ficou preso alguns dias) mas simplesmente não o fez. A multa pelo não pagamento aumentou com os juros e torna-se cada vez mais difícil de pagar a cada dia.

Luta que já dura vinte anos…

Ao ver toda a via Crucis dos moradores do Palace, a gente fica com um gosto amargo na alma de que a impunidade parece não ter solução em nosso país e que podemos ser vítimas dela a qualquer momento. Isso nos dá um sentimento de impotência e a gente acaba se solidarizando com os moradores em sua luta altamente inglória e que parece cada vez mais infrutífera. É por isso que documentários desse naipe devem ser cada vez mais produzidos e divulgados, onde o cinema cumpre a sua função social de denúncia.

Dor de quem luta há muito tempo…

Dessa forma, “Palace 2, Três Quartos Com Vista Para O Mar” é um documentário altamente necessário e obrigatório, apesar de muito doloroso. A única forma de se lutar contra a impunidade tacanha com a qual somos obrigados a conviver é denunciando-a o máximo possível. E o cinema é um ótimo veículo para essa denúncia. Vale a pena ser divulgado aos quatro ventos.

Batata Movies – Rei Leão. A Animação Deve Ser Melhor.

Cartaz do Filme

Nunca assisti à animação “Rei Leão” da Disney, assim como várias de suas animações. Tenho aproveitado os live actions que têm saído ultimamente como uma forma de buscar atenuar essa lacuna. Pois é, saiu o live action de “Rei Leão”. Dirigido e produzido por John Favreau (que é um cara que admiro muito), fui alegremente ao cinema no primeiro dia de exibição regular do filme acreditando que eu ia gostar muito do que veria. O problema é que quebrei a minha cara nisso, pois não achei a live action grande coisa, até porque era uma experiência totalmente nova para mim e não tinha qualquer referência na minha cabeça.

Simba, o herdeiro do trono…

Mas, por que não achei essa versão de “Rei Leão” grande coisa? Em primeiro lugar, não temos exatamente uma live action, até porque essa história é tipo uma fábula, ou seja, com animais falando. E aí, creio que a animação funciona melhor nesse caso, pois os animais podem ter expressões faciais como seres humanos, dando-lhes personalidade e aproximando a identificação deles com o público. Agora, a gente ver um monte de bichos ora gerados por CGI, ora filmados mesmo, para se parecerem o mais próximo possível com animais reais é algo, pelo menos na minha cabeça, complicado, pois os bichos não podem demonstrar emoções em seus rostos. E aí a coisa fica muito antinatural, estranha. A coisa da voz de um ator em cima de algo virtual fica evidente demais e a gente não compra a ideia de que aquelas imagens de bichos estão conscientes e com uma personalidade.

Um javali é mesmo um javali…

Outra coisa que incomodou foi a violência da história, com direito a mortes muito pesadas, como a do pai e do tio de Simba. E aí, ao contrário da manifestação de expressões e emoções dos bichos, que pareceram muito artificiais, quando houve uma situação de luta entre os leões e as hienas, a coisa pareceu bem mais realista, ficando uma violência bem grande. Ou seja, o filme me incomodou de um lado e de outro. Mas, repito, isso é apenas uma opinião de quem não tem a referência da animação na cabeça.

Não soou natural um filme em que animais de verdade falam. Também pudera…

O problema é que assistir a esse filme foi uma experiência um tanto angustiante. Já os demais espectadores na sala parecem ter se divertido muito mais, rindo por antecipação de alguns personagens e cenas, pois já conheciam a história, e até ensaiando uns aplausos no fim da exibição. Foi nessa hora que vi que o problema estava mais comigo do que propriamente com o filme. Só lamento que não tenha conseguido testemunhar uma boa experiência com essa película e preciso, realmente, ter um contato com a animação, que deve ser bem melhor aos meus olhos.

Na animação, vemos expressões faciais, o que não ocorre na live action…

Dessa forma, apesar de não ter achado “Rei Leão” uma grande coisa, não vou cair aqui na injustiça de não recomendar o filme. Se você tem a referência da animação na cabeça, vá ao cinema para se divertir bastante, como os outros espectadores presentes na minha sessão. Agora, se você não tem qualquer experiência com o “Rei Leão”, espero que sua experiência com essa live action (?) seja melhor que a minha.

Batata Movies – Os Bons Companheiros. A Violência Banal.

Cartaz do Filme

Nunca tinha assistido ao filme “Os Bons Companheiros”, de Martin Scorsese. Pensei que poderia fazer isso no início do ano com a mostra que o cineasta ítalo-americano recebeu no CCBB. O problema é que várias sessões eram gratuitas e lotavam rapidamente. Isso foi não só decepcionante como também aumentou ainda mais a minha curiosidade pelas lacunas na minha vida de cinéfilo em relação a Scorsese, que sempre admirei muito. Aí, aparece uma sessão salvadora de “Os Bons Companheiros” no Cinemark do Botafogo Praia Shopping às… onze e meia da noite de sábado. Meu sangue cinéfilo foi mais forte do que o medo de esperar o ônibus de madrugada na rua (ainda não me relaciono bem com uber, 99 e afins) e fui para a sessão.

Uma turma da pesada…

Quais são as impressões do filme? Scorsese consegue traduzir bem todo um mundo voltado para o crime e a intransigência dos gangsters ítalo-americanos de Nova Iorque. Sabemos muito bem que o diretor teve uma infância e adolescência nos bairros onde tais gangues viviam e atuavam, sendo então seu relato altamente confiável sobre a questão e duas coisas assustam logo de início: o poder descabido que os criminosos tinham nas mãos, exercendo-os sem limites e espezinhando todos os que encontravam pela frente; e uma banalização visceral da violência, onde a vida não valia rigorosamente nada. Isso sem falar do código de conduta onde ninguém sabe de nada, nem fala de nada (qualquer semelhança com países sul-americanos não é mera coincidência, já que a violência é um fenômeno global).

Liotta (centro) como protagonista…

Usando o personagem Henry Hill (interpretado por Ray Liotta) como o protagonista narrador e anfitrião que nos apresenta a esse mundo, o filme mostra, de forma muito crua, como os gangsters repudiavam a vida daqueles que buscavam seu pão com o suor do dia-a-dia e subiam num pedestal magnânimo que dizia que, se eles quisessem algo, era só ir lá e tomar, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

Crime com base familiar…

Scorsese conta com um elenco simplesmente fenomenal. Sempre achei Ray Liotta um ator mais ou menos, o eterno bom coadjuvante que faz bem o seu feijão com arroz. Mas aqui em “Os Bons Companheiros” ele é alçado à condição de um protagonista que conta em primeira pessoa (o que dá a seu personagem uma intimidade maior com o público) toda a sua trajetória, o que justifica o porquê dele ter entrado naquela vida, com direito aos estranhamentos e questionamentos que toda aquela violência explícita provocava. Apesar de imerso em toda aquela podridão do submundo, a gente torce por seu personagem, pois ele, na condição de um capanga bem posicionado, não era o responsável direto pelas ações mais bárbaras das quais tomava parte.

Sonhos que se perdem com o tempo…

Já Robert De Niro foi impressionante, pois ele, que estamos acostumados a ver iluminado pelos holofotes, atuou como um verdadeiro coadjuvante de luxo no filme, fazendo isso com muita maestria. Seu personagem James Conway, de histórico violento, não expressava a selvageria o tempo todo, mas ele podia ser muito intenso e cirúrgico nos momentos certos, o que despertava muito medo dele. Agora, o grande nome do filme (e que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) é, definitivamente, Joe Pesci. Seu personagem Tommy DeVito era um verdadeiro psicopata, sempre prestes a explodir. O cara poderia estar conversando alegremente na mesa de um bar, contando piadas homéricas que levavam a muitas gargalhadas e, de uma hora para a outra, executar o garçom com muitos tiros e acesso de ódio. Sua atuação foi toda merecedora do Oscar que ganhou.

Scorsese na direção…

Assim, “Os Bons Companheiros” é um daqueles filmes para se ver, ter e guardar. Ele retrata de uma forma muito intensa o submundo que fazia parte da infância e adolescência do diretor Martin Scorsese. Um submundo violento, que tem muitas semelhanças com o submundo que é caro para nós, embora as diferenças se façam presentes (há um clima paternalista e familiar, típico da máfia italiana). Para quem não viu, como eu não tinha visto, é algo realmente imperdível. Vejam, abaixo, um trecho da magnífica atuação de Joe Pesci.

https://www.youtube.com/watch?v=qNJeAaNwYKs