Mais uma do mestre da fusion…
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Batata Arts – Tesouros da Batata (108)
Mais um tesourinho…
Batata Movies – Os Invisíveis. Sentindo O Vento Quente Das Narinas Do Demônio.
Certa vez, numa de minhas aulas de alemão, quando os tempos eram melhores e éramos muito mais felizes, minha professora lançou uma questão: qual era o melhor lugar para os judeus se esconderem dos nazistas? Depois de alguns momentos de silêncio na sala, ela deu a resposta: em Berlim, é claro! Anos depois, a gente se depara com um filme que conta exatamente essa história. “Os Invisíveis” tem como escopo principal mostrar como os judeus driblaram as deportações para os campos de concentração da Europa Oriental e viveram ilegalmente dentro da Alemanha, passando por todo tipo de sufoco que podemos imaginar.
Veremos aqui a história de quatro jovens que farão de tudo para escapar das garras do nazismo. Podemos dizer que esse filme é uma espécie de “docudrama”, pois vemos os relatos dos verdadeiros judeus que passaram por toda essa situação de ficarem invisíveis aos nazistas nas barbas deles e esses relatos eram dramatizados ao bom estilo de um filme de enredo. O mais notável é que tivemos as mais variadas situações. Houve o caso de um rapaz que escapou do campo de concentração, algo que não aconteceu com os seus pais, e ele ainda prestou uma espécie de resistência à ocupação, pois ele falsificava documentos (passes) que salvaram a vida de alguns judeus na mesma condição que ele.
Houve, também, um caso de uma moça que precisou sair de seu esconderijo e ficou vagando pelas ruas, sem ter um abrigo, sendo que ela somente conseguiu algum lugar para ficar depois de frequentar um cinema e conhecer o filho da senhora da bilheteria, que iria para a guerra e precisava procurar uma companhia para a mãe. Houve, ainda, o caso das moças que faziam tarefas domésticas na casa de um oficial nazista, que sabia da condição das duas de judias escondidas, mas não as denunciou. E o caso do rapaz que ficou de casa em casa até poder tomar parte num movimento de resistência que queria denunciar a situação desfavorável da Alemanha na guerra mais ao seu término.
Como se não bastasse ter que fugir dos nazistas em seu próprio país, os invisíveis ainda tinham que driblar os bombardeios e a sede de vingança dos soldados soviéticos que sofreram duras perdas em seu território por culpa dos nazistas e, agora em território alemão, queriam matar todos os alemães que vissem pela frente. Até os judeus convencerem os soviéticos de que não eram nazistas, já que as notícias sobre a deportação de judeus confirmavam que não havia mais qualquer judeu em Berlim, demorou bastante, sendo mais outra situação de tensão nesse ambiente inusitado e perigoso que é viver sob o nazismo e a guerra.
O filme, entretanto, traz uma mensagem muito importante. Mesmo a Alemanha estando sob o nazismo, isso não significava que todos alemães fossem nazistas e tivessem um péssimo caráter. Ou seja, a velha e batida história de que não podemos generalizar e às vezes teimamos em não aprender. É de suma importância que lembremos que havia alemães opositores ao regime nazista e lutaram contra isso escondendo judeus e dando até a vida por isso. Definitivamente, não podemos nos esquecer dessas pessoas. E “Os Invisíveis” traz muito bem essa recordação à tona, sendo, portanto, um filme imprescindível.
Dessa forma, “Os Invisíveis” merece uma conferida, pois os depoimentos dos sobreviventes judeus à guerra e aos agentes da Gestapo dão um tom de legitimidade muito grande às dramatizações vistas na telona. É um filme que lembra da atitude heroica de alguns alemães que lutaram contra o autoritarismo em seu próprio país e salvaram vidas, com alguns alemães perdendo suas vidas por isso. Um filme fundamental e obrigatório por excelência cinematográfica, pelo seu tom de denúncia nos tempos altamente sombrios que vivemos e um filme para não esquecermos de verdadeiros heróis ocultos pela negligência com o passado. Programa imperdível, valendo a pena procurar nos canais especializados ou em DVD.
Batata Movies – X Men Fênix Negra. Sinistro, Carregando Nas Tintas.
E estreou o novo X-Men, Tem sido há muito ventilado nas redes sociais de que esse filme seria ruim, já era um fracasso antes mesmo de sua exibição, etc., etc. Eu, como fã do Universo dos mutantes e, ainda mais, fã, daquilo que é chamado de “Primeira Classe’, ou seja, uma geração mais prequel da coisa, preferi esperar pela película em si e não embarcar nessa maré de pessimismo. Veio o filme e fui conferi-lo no cinema. Vamos precisar, mais uma vez, dos spoilers.
E o que foi que eu vi? Uma coisa bem diferente do que a gente tem visto ultimamente. Esse é um X-Men com um sabor muito sombrio, o que foi a grande virtude da película. Mas talvez, também, o seu grande defeito, já que o diretor Simon Kinberg parece ter errado na mão nesse clima tão sinistro. Digo, desde já, que não conheço muito de quadrinhos e posso ser injusto aqui, mas houve coisas que incomodam no filme, e muito. Se a coisa era tirar o espectador da zona de conforto, a história do filme foi digna de um golpe de mestre. Mas foi impossível não torcer o nariz para algumas coisas.
Bom, o plot é o seguinte: os X-Men precisam salvar um ônibus espacial que está em pane no espaço, depois que uma explosão solar (a cerca de cento e cinquenta milhões de quilômetros do Sol, essa foi difícil de engolir), ameaçava a nave. Mas não era explosão solar coisa nenhuma e sim uma fonte estúpida de energia alienígena. No resgate dos astronautas, Jean Grey (interpretada por Sophie Turner) é atingida por tal massa de energia e começa a ter comportamentos agressivos, usando o seu poder descomunal (qualquer iniciado em X-Men sabe do poder da Fênix) de uma forma muito descontrolada.
Esse poder teria destruído o planeta de uma espécie alienígena que quer controlá-lo e a Fênix era a sua melhor chance até agora para isso. Só não se entende por que essa é uma espécie tão agressiva sem motivos aparentes. Capitaneada por Vuk (interpretada por uma pálida e esquálida Jessica Chastain), tal espécie fará de tudo para controlar a Fênix que, tomada pelo poder e muito atormentada por vozes e visões, tem uma postura altamente agressiva que provoca muita destruição.
Não sei até que ponto essa origem de todo esse poder e malignidade da Fênix numa fonte alienígena tem base nas histórias originais dos quadrinhos. De qualquer forma, soou diferente da Fênix Negra que vimos na outra geração dos X-Men, o que pode ser considerado uma virtude. Entretanto, a história traz coisas um tanto perturbadoras. A morte de Mística, por exemplo, feita de uma forma tão fútil. A mesma Mística que discordava dos métodos empregados por Xavier para tornar os mutantes mais aceitáveis para o grande público, levando-os a missões extremamente perigosas, tal como se fosse uma realização pessoal de Xavier que mal se arriscava. Essa vertente sombria da história criminaliza Xavier fortemente, justamente o líder do grupo, que sofre um desgaste exagerado e muito perturbador, culminando com sua aposentadoria da escola. Ou seja, um desfecho demasiadamente melancólico para um personagem tão importante. Mas as perturbações não param por aí.
Foi muito desconfortável ver Fera e Magneto se unirem em sede de vingança para matar Jean Grey, pois ela foi a responsável pela morte de Mística, mulher cobiçada pelos dois varões. Tal atitude pode até ser esperada de Magneto, que vive em sede de vingança, mas nunca de Fera que, me perdoem o trocadilho, foi demasiadamente “bestializado” no filme, e no mal sentido da palavra. O que era esperado mesmo aqui foi justamente a morte de Jean Grey em seu desfecho, se bem que creio que poderia se ter arriscado uma saída em que ela sobrevivesse. Outro detalhe negativo que chama a atenção foi o total desaparecimento de Mercúrio depois de um certo tempo de exibição. A sua ausência foi muito sentida na sequência final do trem, por exemplo.
Duas virtudes do filme são resumidas em dois nomes: Chastain e Fassbender. A primeira foi uma excelente aquisição. Chastain em seu cabelo louríssimo e sua pele totalmente alva estava fantasmagórica e a maldade de seu personagem pairava sobre a película com tons de alma para lá de penada, sendo uma boa vilã.
E Fassbender, bom esse é hors concours. Seu Magneto é mais ressentimento que ódio, numa mágoa afundada em melancolia que é capaz de gestos nobres, como na sequência final em que convida Charles para uma partida de xadrez num Café de Paris depois da aposentadoria do professor. Eu sou muito suspeito para falar da amizade dos dois, que é uma coisa que eu amo de paixão e o que mais gosto em X-Men. Mas creio que esse derradeiro final ajudou um pouco a esquecer os problemas e inquietações do filme.
Chegando ao final dessas linhas, fica ainda a dúvida derradeira: “Fênix Negra” é um bom filme? Posso dizer que gostei do clima sombrio, mas lamentei demais a forma como se carregou nas tintas nesse clima, pois apareceram situações muito perturbadoras, como os comportamentos do Fera e do Xavier. Pelo menos Fassbender foi o Magneto de sempre e Chastain trouxe um charme especial a uma espécie alienígena de comportamento inverossímil. Recomendo, apesar dos pesares.
Batata Movies – O Paciente – O Caso Tancredo Neves. Sucessão De Erros Médicos.
Mais um bom filme brasileiro. “O Paciente – O Caso Tancredo Neves”, do consagrado diretor Sérgio Rezende, já diz ao que vem no título com muita clareza. Ou seja, o filme analisa os últimos dias de Tancredo Neves, o político que conseguiu construir uma complicada aliança política que garantiu a transição da ditadura militar para a democracia no ano de 1985. Eleito presidente pelo colégio eleitoral, Tancredo seria o homem que conduziria o país na chamada “Nova República”.
Mas o país foi assombrado, no dia 14 de março de 1985 (véspera da posse de Tancredo) pela notícia da internação do futuro presidente e sua cirurgia às pressas. Daí, foram mais de trinta dias de angústias e informações desencontradas que culminaram com a morte de Tancredo e um clima de comoção nacional, temperada com um desgosto enorme por ver um antigo apoiador do regime autoritário assumir a presidência, dando a impressão de que nada havia mudado.
Mas, e o filme? Tivemos Othon Bastos como Tancredo Neves e Esther Góes como Dona Risoleta, ambos em atuações brilhantes. Se Bastos aparece mais ao início do filme, tendo, pouco a pouco, menos chances de atuar, à medida que o quadro de saúde de seu personagem se agravava, com Esther Góes foi justamente o contrário, que se sobressaía à medida que Tancredo piorava. Nessa via de mão dupla, Bastos e Góes se encontravam atuando conjuntamente com uma forte química, sendo um deleite para o público ver o trabalho dos dois.
Agora, o que definitivamente chama mais a atenção no filme, foi toda a via crucis que Tancredo passou em virtude de uma sucessão de erros médicos dignos daqueles que atacam o povão na fila do SUS. Tivemos ali uma infeliz combinação de uma doença se manifestando na hora errada com todo um clima de nervosismo dos médicos que operavam e tratavam do futuro presidente, que se sentiam com uma real batata quente nas mãos. Aliado a isso, uma violenta fogueira de vaidades, onde alguns médicos atuavam como verdadeiras estrelas midiáticas, assumindo para si a função de dar para a mídia informações sobre o estado de saúde de Tancredo, simplesmente atropelando o porta-voz oficial do futuro governo, o jornalista Antônio Brito, que era antes disso um conhecido comentarista político da Globo. O filme mapeia com grande desenvoltura todo esse processo do tratamento do presidente, que foi um jogo de muito mais do que sete erros.
Uma coisa incomoda um pouco. Um certo fim abrupto da película, que termina numa espécie de devaneio final de Tancredo com a rampa do Palácio do Planalto engalanada pelas duas fileiras de Dragões da Independência. Seguido a isso, muitas imagens de arquivo do cortejo fúnebre de Tancredo, com a inesquecível “Coração de Estudante” de Milton Nascimento ao fundo. Confesso que bate realmente uma emoção ao rever tudo aquilo, pois quem vivenciou a época se lembra de como foi doloroso todo aquele processo, ainda mais com a falta de consciência, no contexto da época, de minha parte, de todas as articulações políticas que Tancredo fez para conseguir a transição democrática. Todo o momento meio que foi construído pela mídia no intuito de se transformar Tancredo num verdadeiro herói nacional. E aí, a comoção foi inevitável. O único problema é que tudo isso veio de uma forma muito rápida, dando ao filme um desfecho logo em seguida. Parece que faltou algo ali no meio. Ou talvez não se tivesse mais nada a dizer.
Assim “O Paciente – O Caso Tancredo Neves”, mesmo que tenha tido um desfecho abrupto, ainda assim é um filme de suma importância, tanto pelas boas atuações de Othon Bastos e Esther Góes, quanto principalmente pela abertura da caixa preta que foi a forma como o presidente foi cuidado pela equipe médica, quando o desencontro de informações da época era muito pouco reconfortante. A impressão que se dava é que toda a sonegação de informações era típica daqueles anos de censura e era algo muito normal naquele contexto, uma coisa que assusta hoje em dia, mesmo com o mar de fake news que presenciamos. Vale a pena dar uma conferida nos DVDS da vida ou nos canais especializados.
Batata Movies – Missão 115. Como O Estado Ameaça A Democracia Pelo Terrorismo.
Um excelente documentário brasileiro. “Missão 115” fala de um dos períodos negros da ditadura militar do Brasil: os atentados terroristas a grupos que pediam a volta da democracia depois das promessas de distensão lenta e gradual de Geisel e da volta a democracia de Figueiredo. Dirigido por Silvio Da-Rin, o documentário tem uma postura altamente corajosa de questionar com volúpia as ações dos militares naquela época de atentados à bomba que matavam ou desfiguravam pessoas como o que aconteceu na sede da OAB. Toda uma atenção especial é dada ao caso do Riocentro de 1981 (a tal “Missão 115” é a do Riocentro), onde tudo já estava bem arquitetado desde o início, não fosse por um pequeno detalhe na hora de se armar os explosivos que acabou provocando a detonação dos mesmos dentro do famoso Puma prateado evitando uma tragédia que, provavelmente, seria de consequências terríveis. O documentário deixa muito claro que o atentado mal sucedido ao Riocentro desmoraliza o regime militar de vez, e a tão sonhada distensão lenta e gradual acaba se abreviando. Figueiredo, segundo o documentário, não poderia ter sido uma escolha pior para suceder Geisel, pois o último presidente militar pertencia ao SNI e à linha dura de extrema direita dos militares, justamente o grupo que praticava os atentados, deixando o presidente numa baita de uma saia justa.
Mas o documentário não para por aí. Ele faz um excelente esforço de reflexão ao questionar a lei de anistia, que ficou mais como uma impunidade generalizada do que uma reparação dos crimes da ditadura. E, ainda, analisa de forma magistral como o ranço autoritário gerado nos anos de repressão pode ter influenciado o processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Ou seja, o documentário até elenca um tema principal – o caso Riocentro – mas não fica somente num recorte de tempo muito estrito. Ao se alongar mais no decorrer dos anos, o filme opta por analisar a situação mais como um processo que se perpetua no tempo (ou seja, o autoritarismo latente que sobrevive em práticas de impunidade), mais ou menos num contexto de média duração. A maior prova da perpetuação desse ranço autoritário foi a forma como a Comissão Nacional da Verdade é tratada no filme, tal com se fosse um fantoche altamente manipulável somente para inglês ver e para se dar alguma satisfação para as dores que os humilhados pelas torturas passaram. Uma colaboração pífia das Forças Armadas, uma Comissão que mal tinha tempo hábil para investigações e resultados que já eram do conhecimento da maioria geral. E isso porque o Brasil havia tomado um puxão de orelha da OEA para investigar e punir os crimes da ditadura.
A estrutura do documentário é daquelas bem tradicionais, com uma narração mais pautada em falas de atores sociais daquele momento, testemunhas e pesquisadores especializados. Dentre os pesquisadores, podemos citar a presença dos historiadores Daniel Aarão Reis (UFF), Carlos Fico e Francisco Carlos Teixeira (ambos da UFRJ). Mas também podemos citar o importante depoimento de Cláudio Guerra, ex-militar envolvido nas operações de eliminação dos grupos guerrilheiros da época da ditadura. Alem dos depoimentos, temos, também, uma quantidade muito boa de imagens de arquivo que ilustram bem todo o contexto abordado. Ou seja, e trocando em miúdos: é o tipo de documentário que prende a nossa atenção do início ao fim
Assim, “Missão 115” é um daqueles filmes fundamentais que não podemos deixar escapar de nossa carreira de cinéfilo. É um filme que busca explicar, de forma muito didática, como foram esses períodos negros do passado e qual é a conexão dessa época com o futuro nebuloso que paira sobre nossas cabeças; o cheiro de autoritarismo infelizmente tem andado muito forte por aí e dias sombrios parecem pairar no ar. “Missão 115” nos ajuda a refletir sobre todo esse contexto. Imperdível.
Batata Literária – Tijolos
Olha os tijolos
Cheios de olhos
Formando muros corpóreos
Vermelhos, Faceiros
Sem rebocos costumeiros
Ornando a paisagem
De favelas em desvantagem
Símbolo da sacanagem
Da miséria mortal
Protege do vento vagal
Do frio arremedo
Do inverno brejeiro
No seu pé úmido
Nasce mato matreiro
Junto a musgo único
Que amarga decadência!
Forte na aparência!
Profunda na essência!
Levando à demência!
Volta e meia, à sua beira
Há um corpo moribundo
Vítima da violência
Das entranhas do mundo
Cadê o rabecão???
Só daqui a dois dias
É o mundo cão
E as vidas vadias
Não adianta rezar na missa
Tem que encarar a injustiça
Batata Jukebox – Concertos de Brandenburgo (Johann Sebastian Bach)
A minha preferida do Bach…