Blog

Batata Movies – A Costureira De Sonhos. Bollywood Desbancando Roma.

Cartaz do Filme

Uma co-produção Índia/França. “A Costureira de Sonhos” é mais um daqueles filmes de empregada doméstica, um tema que sempre chama a atenção quando passa por aqui, até porque a figura dessa profissional é um dos resquícios bem claros do escravismo em nossa sociedade brasileira contemporânea. Para analisarmos essa película, vamos lançar mão de spoilers.

Uma empregada cheia de sonhos…

Vemos aqui a trajetória de Ratna (interpretada por Tillotama Shome), uma moça condenada pelo destino, pois enviuvou muito cedo em sua vila no interior da Índia. Segundo a tradição, quando isso acontece, a moça fica marcada e meio que amaldiçoada, não podendo mais casar. Ratna decide, então, tentar a sorte na cidade grande como empregada doméstica para juntar dinheiro. A moça, também, tem um sonho: ela quer aprender costura para se tornar uma estilista profissional. Mas ela vai ter que suar a camisa demais para atingir seus objetivos. Ela trabalha na casa de um rapaz muito rico e ocidentalizado, Ashwin (interpretado por Vivek Gomber). Ele ia se casar, mas o relacionamento terminou de forma, digamos, desagradável, às vésperas da cerimônia. Desde então, ele mete as caras no trabalho e tem uma postura muito reservada. E aí, os dois, patrão e empregada, vivem juntos num apartamento enorme. Impossível não rolar algo.

Ela quer ser estilista…

Há algum tempo, “Roma” de Alfonso Cuarón, ganhou as manchetes e Oscars. Um filme um tanto autobiográfico onde o diretor quis celebrar as lembranças afetivas de sua infância e da empregada da família, não sem mencionar um contexto mais social, onde o relacionamento entre patrão e empregada podia ser eivado de preconceitos. Me pareceu na ocasião que essa questão social poderia ter sido um pouco mais abordada na película. E aí, filmes brasileiros como “Que Horas Ela Volta”, com a Regina Casé, e até “Romance da Empregada”, com Betty Faria teriam abordado essa questão social de uma forma mais aprofundada que “Roma”. Agora, “A Costureira de Sonhos” faz o mesmo, ainda abordando um tema extremamente complexo, o sistema de castas indiano, onde a estratificação social atinge níveis extremos aos nossos olhos ocidentais.

Surge um clima com o patrão…

Ashwin e Ratna se apaixonam. Há uma correspondência entre os dois, mas o preconceito na sociedade indiana de um casal formado por estratos sociais tão diferentes impede com veemência essa união. E, leia-se, não é apenas uma imposição de uma classe mais alta sobre uma classe mais baixa. Os colegas de Ratna, também de seu estrato social, zombavam dela quando percebiam o interesse de Ashwin nela. Isso bloqueava totalmente um possível relacionamento entre os dois e o filme deixou bem claro como essa tradição (vista inteiramente como a vilã da história aqui) aniquila os desejos dos indivíduos.

Zombada pelo próprio estrato social…

O desfecho foi curioso. Tudo indica um chute no happy end. Mas optou-se por uma relativização da coisa, ou seja, como se trata de um amor impossível, Ashwin deu uma última cartada para dar uma esperança de dias melhores para Ratna. Assim, o gosto amargo de um amor não concretizado vem com um recheio de um futuro de esperança para a nossa protagonista, o que deixa o filme simpático aos olhos do espectador que não tem apenas que enfrentar a acidez dos problemas sociais provocados pelo sistema de castas da Índia.

Uma pausa para o descanso…

Assim, “A Costureira de Sonhos” é um filme que vale a pena ser visto, mostrando que a questão social das empregadas domésticas sempre pode ser abordado de uma forma inédita e criativa. Desde “Roma”, que tinha um escopo mais afetivo que social, passando pelos filmes brasileiros de empregada que nos mostram a coisa de uma forma bem mais familiar, chegando até essa película que aborda a questão numa sociedade diferente da nossa como a indiana. Parece que os filmes de empregada estão virando uma espécie de gênero próprio.

Batata Movies – Aladdin. Com CGI, Mas À Moda Antiga.

Cartaz do Filme

A Disney lança mais um live action inspirado em suas animações consagradas. É a vez de “Aladdin”, que conta com o grande nome de Will Smith no elenco. Lembro-me que quando foi noticiado nos facebooks da vida que ele seria o gênio, algumas pessoas torceram bem o nariz e criticaram. Mas é aquela coisa: Will Smith já está naquele panteão de atores em que você vai ao cinema somente para vê-lo. Como era dito em tempos pretéritos: vou ao cinema para ver o ator tal, nem que ele (ou ela, na maioria das vezes) esteja com uma melancia pendurada no pescoço e com a bunda pintada de vermelho. Bom, no caso aqui, Smith está pintado de azul.

Aladdin. Uma excelente caracterização…

Creio que todo mundo já deva conhecer a história de Aladdin (embora eu confesse que ainda não a conhecesse em sua plenitude). Uma coisa aqui chamou bastante a atenção: é uma história que tem uma lição de moral em torno dos três desejos do gênio da lâmpada, pois três desejos nunca parecem ser suficientes. Mas é justamente nesse ponto que reside a lição de moral, já que, ao ser confrontado com a possibilidade de realizar três desejos, o amo em questão vai tomar uma atitude insaciável perante à vida, além de muito arrogante.

Um vilão clássico…

É como se os três desejos entorpecessem a pessoa com um sentido de poder e soberba. E aí, o negócio é ser você mesmo e correr atrás dos seus objetivos na vida. Aladdin passou por todos esses estágios na película, tendo a figura do gênio como grande amigo, gênio esse que nunca havia sido tratado como amigo por qualquer amo pregresso, que pensava no próprio umbigo quando pedia os desejos e nunca libertava o gênio dos grilhões de realizar desejos (o gênio só poderia ficar livre se seu amo desejasse isso). Tal lição de moral é o grande barato da película.

Uma princesa empoderada na medida certa…

Mas o filme teve outros momentos marcantes. O que chama muito a atenção é o quê de musical inerente às produções da Disney. Se bem que, aqui, tivemos um sabor de musicais antigos, com coreografias muito bem ensaiadas (será que foi CGI???) e um figurino espetacular, muito colorido e lindo. Para este escriba, que ama os tempos de Astaire, Rogers, Kelly, Sinatra e muitas outras figurinhas carimbadas dos musicais de outrora, todo esse cuidado com a produção foi um colírio para os olhos.

Um Will Smith azul…

E o elenco? Era Smith e mais dez, como costuma-se dizer por aí. A apresentação do personagem do gênio foi até um tanto boba, mas, com o tempo, a química entre Aladdin e o gênio trouxe momentos muito bacanas e engraçados, além de ser o sustentáculo da lição de moral explicitada acima.

Dois amigos do peito e da fumaça…

Mena Massoud, o Aladdin em questão, estava muito vivaz no papel e foi um parceiro à altura de Smith, uma tarefa difícil. Outro destaque foi Naomi Scott, que interpretou a princesa Jasmine. Em tempos de empoderamento feminino, a moça teve um momento marcante na película, onde a coisa não ficou exagerada nem fora de tom, convencendo o chefe da segurança do Sultão, pai de Jasmine, a não obedecer ao grande vilão da história, Jafar (interpretado por Marwan Kenzari). Tudo na base da conversa e da diplomacia. Jasmine era uma mulher preocupada com seu povo e queria liderá-lo e protegê-lo da guerra, ao contrário do belicista Jafar. Ou seja, Jasmine não ficou somente como uma princesinha da Disney ao bom estilo “Wi Fi Ralph”.

O elenco do filme numa pose, digamos, mais descontraída…

Dessa forma, “Aladdin” é mais uma produção da Disney que merece toda a nossa atenção, dado o talento dessa grande empresa de entretenimento que sempre joga para ganhar. Se há efeitos especiais em CGI (sobretudo com araras e macacos), o filme tem um sabor de musicais antigos bem produzidos com preocupações com cores e figurinos.

A sequência mais bonita do filme…

Alguns momentos pareciam, no bom sentido da palavra, com desfiles de escola de samba, dadas a explosão de cores e roupas. E tem o Will Smith, que mesmo azul é o máximo. Um programa imperdível.

Batata Movies – Tá Rindo De Que? Fazendo Graça Numa Época Sem Graça.

Cartaz do Filme

Um bom documentário brasileiro. “Tá Rindo de Que?”, que tem o ex-casseta Cláudio Manoel entre seus realizadores (os outros são Álvaro Campos e Alê Braga) tem como escopo analisar a produção cultural humorística no período 1964-1985, ou seja, durante o período da Ditadura Militar onde havia a obrigação de um relacionamento com a censura nos anos mais difíceis da repressão.

Carlos Alberto de Nóbrega. “Praça é Nossa” não é humor ultrapassado…

Dessa forma, o primeiro tema a ser abordado no filme será justamente “O Pasquim”, jornal que combatia abertamente a ditadura, cuja redação foi toda presa após o fatídico balão “Eu quero mocotó!” (frase de uma música famosa da época) sobre a cabeça de D. Pedro I, numa reprodução de “O Grito do Ipiranga” de Pedro Américo. Para falar de “O Pasquim”, temos depoimentos de Jaguar, Chico Caruso, Sérgio Cabral (o pai, pelo amor de Deus) e até um trechinho antigo de Paulo Francis. O mais curioso foi ver os humoristas “reclamando” da abertura política, quando a censura arrefeceu um pouco e eles se viram na obrigação de produzir mais conteúdo, ou seja, trabalhar mais e com mais eficiência, pois não haveria mais a censura para “cortar” as coisas, quando se produzia qualquer besteira para a censura cortar.

Jaguar é um dos entrevistados…

Mas o documentário não ficou somente aí. Carlos Alberto de Nóbrega também deu depoimentos sobre o seu programa “A Praça é Nossa”, antigo “A Praça da Alegria”, inventado por seu pai, Manuel de Nóbrega, e falou sobre o estigma de “humor ultrapassado” do programa. Ainda na TV, falou-se de figuras como Jô Soares, Ronald Golias, Zeloni (“A Família Trapo”), Agildo Ribeiro, Paulo Silvino, Renato Corte Real (“Faça Humor, Não Faça Guerra”, “Satiricon”), Chico Anysio (“Chico City”), “Os Trapalhões” e o grupo musical “Asdrúbal Trouxe O Trombone”, com figuras como Evandro Mesquita, Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Patrícia Travassos e Nina de Pádua. Ou seja, é um documentário que consegue fazer um mapeamento muito eficiente de todas as matizes de humor nesse período de 21 anos.

Agildo Ribeiro…

O formato do documentário foi um daqueles bem convencionais, sem uma narração em terceira pessoa, mas com muitas e muitas entrevistas dos personagens principais de todo aquele processo, cujas falas são ilustradas por um farto material de imagens de arquivo que, obviamente, despertavam risos da plateia. Foi também uma oportunidade ímpar da gente matar saudades de muitas figuras que já se foram, tais como: Paulo Silvino, Dercy Gonçalves, Agildo Ribeiro, Golias, Mussum, Zacarias…

… e Chico Anysio, exemplos de humor politizado na TV

Quando a gente se lembra que fazer humor é algo muito difícil, pois uma piada só tem graça quando contada da primeira vez e o humorista precisa constantemente se renovar, percebemos como esse documentário é importante, pois ele mostra a nós o alto grau de inventividade de nossos humoristas, já que há vários sub-gêneros do humor e da comédia apresentados durante a exibição da película.

Evandro Mesquita, do “Asdrúbal Trouxe O Trombone”…

Ou seja, não havia somente uma crítica política e social no humor da época da ditadura (embora essa crítica fosse mais predominante) , mas também um humor como o da “Praça É Nossa”, “A Família Trapo” ou até uma coisa mais circense como “Os Trapalhões” que tinham espaço naqueles dias. A transição do rádio para a TV é mencionada, onde um dos maiores paradigmas foi o programa “Balança Mas Não Cai” e um de seus principais quadros, “O Primo Pobre e o Primo Rico”, interpretados, respectivamente, por Brandão Filho e Paulo Gracindo, primeiro no rádio e depois na TV.

Claudio Manoel é um dos realizadores…

Assim, “Tá Rindo de Que?” é um excelente documentário que mapeia com muita eficiência a produção cultural humorística dos anos da Ditadura Militar. Produção cultural humorística essa que se revela altamente prolífica, com direito a críticas político-sociais, mas também com conteúdos populares e também circenses. Para dinossauros como eu, foi também uma viagem no tempo, onde deu para matar as saudades de humoristas queridos que já não estão entre nós. E o final do documentário já deixou anunciado que haverá uma continuação, falando do humor dos tempos da democracia. Confesso que aguardo ansiosamente. Mas, por hora, vale muito a pena prestigiar essa primeira parte.

Batata Movies – Mademoiselle Paradis. Aparências E Pensões.

Cartaz do Filme

Uma perturbadora co-produção Áustria/Alemanha. “Mademoiselle Paradis” conta a história real da pianista Maria Theresia Paradis (interpretada pela bela Maria Dragus), que vivia na Áustria do século 18 e era cega. Esse é um filme que mostra a venalidade humana em fortes cores e como uma mocinha, a princípio indefesa perante tudo isso, cresce e se fortalece para viver nesse mundo. Mais uma vez os spoilers serão necessários.

Uma pianista cega…

Paradis, apesar de seu mal, era uma exímia pianista e servia como uma espécie de suporte para seu pai e sua mãe, que ganhavam uma pensão em função das apresentações da filha. O semblante cego da moça causava muita estranheza e ela era fortemente controlada por sua mãe, que dizia como ela devia se portar, falando até como usar suas expressões faciais. Os pais, incomodados muito mais com a má impressão dos olhos cegos de Paradis, buscam a ajuda de um médico, o doutor Franz Anton Mesmer (interpretado por Devid Striesow). Sua terapia, revolucionária para a época, consistia em usar magnetismo para curar diversas doenças.

Pais ambiciosos…

Inicialmente, Paradis estranhou muito o ambiente, que tinha até pacientes com esgotamento nervoso agudo. Mas, com o tempo, a moça foi se adaptando, fez amizade com uma criada e passou até a enxergar cores e vultos, além de estabelecer um forte vínculo com Franz. O grande problema é que o médico, para ser aceito pela sociedade, precisava submeter Paradis, assim como seus pais faziam, a testes públicos para provar o êxito de sua medicina.

Um controle feroz…

Só que, com uma visão mínima, Paradis não mais conseguia se concentrar em suas apresentações de piano, pois as teclas lhe pareciam embaralhadas, o que tornava seus recitais um fracasso retumbante. E aí, a pobre moça era engolida de forma impiedosa pelos membros da alta sociedade que a ridicularizavam publicamente. Isso provocava a ira dos pais que, ao invés de ficarem do lado da filha e do médico, tinham um comportamento igualmente agressivo, que acabou resultando na saída de Paradis da casa do doutor.

Paradis irá começar um tratamento com o Doutor Mesmer…

O filme parece ter um desfecho infeliz. Em parte isso realmente aconteceu, pois se Paradis tivesse continuado o tratamento (ainda considerado um tanto revolucionário para os dias de hoje), provavelmente ela teria tido alguma visão, mesmo que limitada. Entretanto, a moça muito cresceu e amadureceu com essa experiência, peitando frontalmente os pais e, mais tarde, se tornando uma pianista e até professora de música, como é dito nos créditos finais. Só é de se lamentar que poucas de suas composições tenham sobrevivido e chegado até nós. Coisas de uma sociedade de Antigo Regime para lá de machista.

O tratamento podia ser muito difícil…

A produção do filme é muito bem cuidada. Temos lindas locações e um figurino esplendoroso, o que colocava a gente no ambiente do século 18, tanto aquele dos livros de História e de Arte, quanto aqueles que estão mais escondidos, onde nada havia de glamouroso como, por exemplo, os tratamentos de médicos anteriores a que Paradis era submetida, que mais prejudicavam a saúde e enchiam seu couro cabeludo de pus. Ecos da medicina menos desenvolvida da Europa no período. Mas, preciosa mesmo, foi a captura da empáfia da cultura de Antigo Regime, onde as aparências contavam muito mais do que qualquer coisa, até a vida e a felicidade de uma filha. Nesse ponto, a diretora Barbara Albert e a roteirista Kathrin Resetarits foram perfeitas. Lembrando sempre que a história é baseada no romance de Alissa Walser.

A moça era submetida a testes constantes…

Assim, “Madeimoselle Paradis” é um programa imperdível, pois é um drama histórico bem construído, com personagens bem elaborados e que mostra de forma contundente aspectos da cultura de Antigo Regime. Vale muito a pena dar uma conferida.

Batata Movies – A Espiã Vermelha. Vovó Guerra Fria.

Cartaz do Filme

Mais uma curiosa história real retratada no cinema. “A Espiã Vermelha” nos lança uma questão perturbadora. A película insinua (alerta de spoiler) que a Guerra Fria que manteve União Soviética e Estados Unidos num campo de igualdade no contexto nuclear durante décadas foi forjada por uma cientista inglesa que compartilhou com a União Soviética informações nucleares para gerar o equilíbrio entre as potências e frear a guerra.

Revivendo o passado…

Vemos aqui a trajetória de Joan Stanley (interpretada por Judi Dench na velhice e por Sophie Cookson na juventude), uma senhora que recebe a visita da polícia que a intima a um interrogatório por ser acusada de traição contra a Inglaterra. Durante o interrogatório, temos um flash-back que explica o que aconteceu. Joan era estudante universitária de Física na juventude, se envolvendo com estudantes de esquerda que depois se revelam espiões da União Soviética no Ocidente.

Uma jovem metida com átomos e espionagens…

Ao mesmo tempo, Joan passa, sem perceber, a fazer parte do Programa Nuclear da Inglaterra, que busca a construção da bomba atômica. Leo (interpretado por Tom Hughes), um dos amigos comunistas de Joan, e que se envolveu com ela amorosamente, tenta convencê-la de compartilhar os segredos nucleares dos ingleses com os russos, mas Joan rechaça tal atitude com muita veemência, pois ela tem plena consciência de que participa de um projeto altamente confidencial.

Passando um aperto nos interrogatórios…

Entretanto, Joan irá mudar de ideia quando os Estados Unidos conseguem explodir a sua primeira bomba e, mais tarde, destroem as cidades de Hiroshima e Nagazaqui. A partir daí, ela compartilha os segredos nucleares com os espiões russos, pois acredita num equilíbrio entre as futuras superpotências como um expediente para evitar mais uma guerra.

Amigos espiões…

Essa é uma história surpreendente, ainda mais porque a gente tem uma espécie de “mãe” da Guerra Fria aqui. Vista como uma traidora por seu país, Joan se via como uma espécie de salvadora da própria humanidade ao buscar uma forma de evitar mais guerras, ainda mais numa época em que guerras mundiais em sequência massacraram demais gerações inteiras. Assim, o filme tem a coragem de relativizar o papel de uma personagem real acusada de traição.

… e uma paixão…

Quando temos uma atriz do naipe de Judi Dench, a gente sempre espera que ela tenha o maior tempo de tela possível. Infelizmente, isso não ocorre aqui. Já que temos uma história em flash-back, Sophie Cookson teve uma presença maior e não foi mal, com uma atuação bem convincente. Dench, como não podia deixar de ser, rouba a cena nos momentos em que aparece. Mas tivemos também uma boa atuação de Stephen Campbell Moore, no papel do cientista Max Davis, chefe de Joan no Projeto Nuclear, mas também seu amante muito apaixonado, que passou por momentos de altos e baixos emotivos, além de fazer no início um austero chefe.

Um austero e apaixonado chefe…

Assim, “A Espiã Vermelha” é um filme que merece muito a atenção do público, pois chama a atenção para o importante fato histórico de que Joan Stanley, uma ilustre desconhecida, teve um papel marcante na gênese da Guerra Fria. Ainda, é uma história bem instigante com boas atuações de Judi Dench, Sophie Cookson e Stephen Campbell Moore. Vale a pena dar uma conferida.

Batata News – Paul Klee, Equilíbrio Instável. Trajetória Bem Delineada.

Paul Klee, um artista inclassificável…

O CCBB do Rio de Janeiro traz, até o dia 12 de agosto, mais uma de suas megaexposições. O agraciado da vez é o artista Paul Klee (1879-1940). Nascido na Suíça, mas de nacionalidade alemã, seu nome sempre foi motivo de controvérsia no que se refere a sua pronúncia. Sob nossos olhos americanizados, quando vemos o nome Paul Klee logo vem à nossa cabeça uma sonoridade parecida com “Pou Clii”, no bom inglês. Mas esse nome é bem germânico e na verdade se pronuncia algo como “Pául Clêê”. Pronúncias à parte, essa é uma exposição muito bem vinda a nosso país, já que há muito poucas obras de Klee no Brasil e a exposição “Equilíbrio Instável” traz cento e vinte obras do Zentrum Paul Klee de Berna, guardião do espólio do artista.

O Anjo Novo, vendido a Walter Benjamin…

Klee pode ser classificado como um artista inclassificável, pois bebe de várias fontes para executar suas obras. Ele foi muito prolífico, contando com cerca de dez mil trabalhos, dos quais o Zentrum tem quatro mil. A exposição, por incrível que pode parecer, começa com seus desenhos dos tempos de criança, organizados e catalogados pelo próprio artista ainda em seus tempos de infância.

Réplicas de seus fantoches…

Mais tarde, ele vai para um curso de desenho em Munique, depois de não ser aceito na Academia de Arte local. Começa a desenhar a anatomia humana e nus no curso, que finalmente o fazem ingressar na Academia. Lá, aprende a retratar a natureza, mas a arte mais clássica e renascentista não era muito a praia de nosso artista. Retornando à Berna, ele começa a fazer águas-fortes com criaturas bizarras. Agora sim Klee acha que dá um pontapé inicial em sua carreira de artista.

Obra mais abstrata. Influência de Kandinsky.

Depois de casar com a pianista Lily Stumpf em 1906 (Klee também era músico), ele retratava a sua vida doméstica com o filho pequeno Félix enquanto a mulher trabalhava. Klee irá conhecer Kandinsky em 1911 e sua arte, por esta influência, mergulha no abstracionismo. O artista irá ainda ter contatos com o grupo expressionista “Der Blaue Reiter” (“O Cavaleiro Azul”), o cubismo em Paris e o uso das cores na Tunísia. Klee fabricou fantoches para o filho brincar.

Acusação. Referência ao Nazismo.

Cerca de cinquenta fantoches teriam sido produzidos e grande parte deles se perdeu na Segunda Guerra Mundial ou foi roubada. A exposição tem cinco réplicas que mostram bem a genialidade criativa de Klee. Ele vai lecionar na famosa Bauhaus, a escola de arquitetura e arte de Walter Gropius na Alemanha, que queria aliar arte e estética à funcionalidade.

O Zentrum Paul Klee em Berna…

Klee lecionava mais pelo dinheiro e sofria com a falta de tempo para criar, saindo da escola posteriormente. A ascensão do nazismo também influenciará a obra do artista, com quadros representando emigrantes, acusadores e o próprio Adolf Hitler numa figura bizarra. A agressividade nazista o faz retornar a Berna.

Klee no ateliê…

A exposição é um prato cheio para os artistas plásticos, obviamente, não somente por analisar a produção artística de Klee como também há um pequeno salão da mostra que exibe objetos pessoais que Klee usava para pintar e há painéis que explicam de forma detalhada suas técnicas de pintura. Cabe frisar aqui que as obras de Klee são extremamente frágeis, o que obriga uma presença reduzida de público nos salões, aumentando a fila e o tempo de espera para se entrar na exposição. Por isso, é recomendável que o leitor não deixe para ir à exposição mais ao seu final, lá para o dia 12 de agosto, pois as filas e o tempo de espera deverão ser muito maiores. Este escriba ficou cerca de duas horas esperando para entrar e isso numa fila que nem do prédio saiu. E outra coisa: não se esqueça de pegar o ticket na bilheteria, pois ele é exigido, mesmo com a entrada sendo gratuita.

O filho Félix, retratado em casa…

Seguindo a exposição, temos ao final as telas da década de 30, quando Klee já se encontrava doente. Ele sofria de esclerodermia, uma doença que enrijece o tecido conjuntivo. Mesmo assim, ele fez mais de mil obras no período. No final da exposição há um fac-símile de seu quadro “Anjo Novo” que ele vendeu para o historiador Walter Benjamin e hoje está de posse do Museu de Israel. Há toda uma história bonita em torno desse quadro mas essa eu deixo para o estimado leitor conhecê-la na exposição em si.

Klee, numa idade mais avançada, com o seu gato…

Assim, “Paul Klee, Equilíbrio Instável” é uma exposição obrigatória, pois é uma oportunidade única de conhecer de forma aprofundada esse grande artista com o qual tempos pouquíssimo contato por aqui. Vale a pena também comprar o catálogo da exposição por módicos R$ 86,00 e que podem ser divididos em três vezes no cartão. Imperdível.

Klee e Kandinsky…