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Batata Arts – Tesouros da Batata (97). Série Carlos, O Replicante.

Começamos hoje uma nova nova sequência de tesouros. A série Carlos, O Replicante é em homenagem ao meu hábito de comprar fotos de desconhecidos, que acabam ficando impressos em minha memória como conhecidos, tais como os implantes de memória dos Nexus de “Blade Runner”. Vamos começar com uma bem antiga hoje…

Batata Movies – As Viúvas. Herança Maldita.

Cartaz do Filme

“Viúvas” foi o filme que abriu o Festival do Rio no ano de 2018. Mas como ele já estava aparecendo em trailer no circuitão, só o assisti depois de sua estreia . Pelo trailer, a coisa parecia ser muito boa. Foi mostrado um baita de um elenco: Liam Neeson, Viola Davis, Robert Duvall, Colin Farrell, Daniel Kaluuya e direção de Steve McQueen. O filme, portanto, acabou se tornando algo muito esperado.

Quatro mulheres em busca pela sobrevivência…

O plot é o seguinte: três assaltantes, liderados por Harry Rawlings (interpretado por Neeson), fazem um grande assalto, mas morrem numa explosão. Rawlings acaba roubando dois milhões de dólares de um candidato a vereador de um distrito de Chicago, Jamal Manning (interpretado por Brian Tyree Henry). Jamal irá até a casa da viúva de Rawlings, Veronica (interpretada por Davis) e a ameaça, lhe ordenando que o dinheiro tem que ser pago em duas semanas.

Dor de perder o marido…

Veronica começa a investigar e descobre que precisa ter acesso a um caderno do marido, onde ele anotava todos os assaltos que praticaria. Ela descobre que outro assalto seria feito e a quantia a ser subtraída seria de cinco milhões de dólares. O problema era descobrir onde esse assalto seria praticado. E aí, Veronica convoca as outras duas viúvas, que também correm risco de vida, para investigar o caso. Vai começar aí uma trama de investigação mesclada com ação, com direito a um plot twist.

Magistral participação de Viola Davis…

Para quem espera que esse será um filme de ação, com direito a muita porrada, bomba e tiro, está enganado. O ritmo da película é bem lento e fica mais na retórica do filme de suspense, com direito a muita investigação. Apesar de ser um pouco maçante em alguns momentos, o filme tem a virtude de mostrar uma história bem elaborada que consegue prender bem a atenção do espectador. Um pouco mais de ação somente na parte final da película, mas definitivamente esse não é o mote. Pode-se dizer que o filme prima mais por um certo suspense mesclado com um drama psicológico. Afinal de contas, esse é um filme de mulheres que perderam seus cônjuges queridos.

Querelas políticas em meio a lidar com quadrilhas…

Agora, o grande atrativo é o já mencionado elenco. Tudo gira em torno de Viola Davis, que rouba a cena. Ela interpreta com maestria uma mulher fragilizada pela perda e pela ameaça, mas que precisa manter a aparência de durona para sobreviver. Transitar por esses dois polos não deve ter sido uma tarefa fácil, mas Davis tirou de letra. Neeson aparece pouco no filme, mas ele também chama bastante a atenção em seus poucos momentos. Colin Farrell e Robert Duvall fazem uma boa dupla como filho e pai que disputam a eleição de vereador com Jamal. O primeiro carregava a pecha de ser um político idealista que tinha a reputação manchada pelos malfeitos do pai corrupto no passado. As brigas entre os dois eram realmente muito tensas e agressivas, o que muito chamou a atenção. Já Kaluuya, com seu personagem Jatemme Manning, ficou responsável pelas sequências mais violentas do filme, algo que impressionou, pois seu papel em “Corra”, onde fazia um hóspede indefeso contra uma família racista e seu olhar de peixe morto não parecem lhe dar o perfil de interpretar um personagem violento. Mas acho que o olhar de peixe morto deu um quê de indiferença à violência que ele empregava contra suas vítimas, o que tornou a coisa assustadora.

Robert Duvall. Outra ilustre presença…

Dessa forma, se “Viúvas” parecia um filme de ação mais cascudo e enveredou por uma narrativa um pouco mais lenta, por outro lado, essa narrativa mescla a investigação, o suspense e o drama psicológico de uma forma interessante, o que compensa esse ritmo mais lento que se poderia tornar enfadonho. Os atores também ajudam muito, dando um toque todo especial ao filme e sendo um chamariz para o grande público.

Batata Séries – Jornada nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 9) Projeto Dédalo. Máquinas X Humanos.

Cornwell trabalha conjuntamente com a tripulação da Discovery

O nono episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Projeto Dédalo”, é dirigido por Jonathan Frakes, o que é um sinal de que o episódio se sai melhor do que a média. Entretanto, dessa vez a coisa degringolou um pouco em virtude do roteiro, que não ajudou muito. Ou seja, ele foi um pouco abaixo da média, já baixa, dos roteiros de Discovery. Apesar disso, nem tudo foi perdido e o episódio também teve alguns pontos bons. Para a gente poder entender isso, precisamos dos spoilers habituais.

Airiam trabalhando sorrateiramente…

O plot começa com a Almirante Cornwell chegando às escondidas à Discovery, para interrogar Spock, que nega categoricamente ter assassinado alguém e não sabe por que foi escolhido pelo Anjo Vermelho para ter as visões da destruição em massa que os habitantes da galáxia sofrerão. O teste diz que Spock não mentiu, com 100% de certeza, mas Cornwell tem um vídeo que mostra Spock matando três pessoas na sua fuga da clínica psiquiátrica. Cornwell diz a Pike que a sede da Seção 31 tem um controle que recebe informações da Frota, mas ele está bloqueado pela Almirante Patar. O controle ajuda a tomar decisões estratégicas e foi transferido para a Seção 31 a pedido de Patar com o surgimento dos sinais do anjo. A missão da Discovery é ir a sede da Seção 31 e desbloquear o acesso ao controle para voltar a abastecê-lo com informações. O grande problema é que o antigo presídio onde está a sede da Seção 31 é cercado por minas que são atraídas pelos escudos. Ao chegar à sede, a Discovery sofre ataques das minas e não consegue se desviar. Burnham (sempre ela) sugere padrões evasivos aleatórios para pegar de surpresa o computador que controla as minas. A Discovery consegue atravessar a barreira de minas e recebe uma transmissão ameaçadora da Almirante Patar. Mesmo assim, vão para a antiga prisão e descobrem que Patar e os demais almirantes estão mortos há duas semanas. Quem, então, entrou em contato com a Discovery com a imagem de Patar? Saru descobre que a transmissão de Patar foi um holograma, assim como também na cena do homicídio de Spock, incriminando-o. Logo, a Discovery parece lutar contra todo o sistema, com um ingrediente a mais: o controle, que recebe os dados, se abastecidos com os dados da esfera, pode adquirir consciência e extinguir toda a vida na galáxia. É por isso que Airiam, que armazenou os dados da esfera em sua memória, conseguiu convencer Pike a ir para a missão para transferir todos esses dados para o controle. Mas seu plano foi descoberto e, depois de dar uma boa surra na Burnham, acabou presa em uma câmara de vácuo por Michael. Airiam, que está sob o controle da entidade alienígena, pede que Burnham a ejete para o espaço. Depois de muito resistir, ela ejeta Airiam que morre, provocando uma grande comoção.

Uma estranha sede da Seção 31…

Bom, esse foi o plot principal, embora haja algumas pequenas histórias paralelas que serão mencionadas ao longo de nossa explanação. O que podemos falar dessa história? Em primeiro lugar, é uma missão com um propósito um tanto quanto confuso, pois o controle estratégico de toda a Frota Estelar não pode ficar numa base escondida da Seção 31 somente porque uma almirante quis e, ainda assim, depois vedou esse controle de receber informações. A Frota já deveria ter mandado uma pá de naves para recuperar esse controle assim que a Patar vedasse o acesso de informações ao controle. Antes a Discovery tivesse que ir para São Francisco, procurada por toda a Frota. Seria algo bem mais interessante. Outra coisa que incomoda é você dar consciência para uma máquina (o tal do controle) para ele adquirir consciência com todo o volume de informação da esfera e destruir toda a vida na galáxia. Há vários problemas aí. Primeiro, um volume ilimitado de informação não assegura o desenvolvimento de consciência. Na verdade, segundo Marcelo Gleiser, mesmo que um dia consigamos fazer uma máquina que reproduza fielmente um ser humano e sua capacidade de armazenamento de informação, ainda assim não teremos uma máquina consciente, pois a consciência é algo completamente incompreensível e inalcançável nos dias de hoje. Não sabemos do que é feita, como pode ser produzida, ela simplesmente está lá, no cérebro. E mais: por que, uma vez a máquina tendo desenvolvido a consciência, ela destruiria a vida orgânica? De onde vem o motivo para isso? Qual o antagonismo entre máquina e vida orgânica? Ficou muito simplória e maniqueísta essa ideia. De qualquer forma, apareceu uma espécie de “mal maior”, que manipula a Seção 31 e a Frota, vide os hologramas que incriminam Spock ou a morte dos almirantes na sede da Seção 31. Mais uma vez Discovery apresenta uma boa ideia. Só esperemos que ela consiga desenvolver essa ideia bem, pois já está cansando a gente ver um monte de boas ideias mal aproveitadas. Ainda indo nessa direção, o que seria o Projeto Dédalo? E por que tudo tem que ser em volta de Burnham, como disse Airiam ao final? Mais uma vez o problema do protagonismo excessivo de Burnham na série. De qualquer forma, todo esse protagonismo foi questionado por Spock. As cenas de bate-boca entre os irmãos enervam alguns fãs, mas eu consigo ver um aspecto positivo nelas. A coisa tá parecendo uma terapia de grupo bem catártica, onde os dois resolvem suas diferenças. O chato foi ver Spock mais emocional nesse episódio, com uma tensão crescente nas discussões até a explosão paroxista em cima do pobre do tabuleiro de xadrez tridimensional. Mas, por outro lado, Spock fala o que Burnham precisa ouvir há muito tempo: ela sempre quer atrair toda a responsabilidade para si, como se carregar um pesado fardo fosse melhor do que carregar uma dor incontrolável. Spock cita a responsabilidade que Burnham construiu em sua cabeça na guerra com os klingons e no assassinato dos pais pelos klingons, dizendo que não pode haver igualdade entre os irmãos enquanto ela ficar assumindo toda a sua responsabilidade, não reconhecendo fracassos ou sua posição de irrelevância em algumas questões. É claro que Burnham vai pirar na batatinha com isso, mais uma vez agindo como uma criança mimada. Nesse aspecto, a briga entre os dois foi ótima, pois Spock expôs todos os defeitos da protagonista de forma impiedosa, o que ajuda a personagem a enfrentar seus próprios dilemas. Ainda, seguindo essa linha, a morte de Airiam tem uma razão de ser, pois a coisa foi construída a um ponto de que era impossível salvar a “mulher-robô”, mesmo que Burnham insistisse em salvá-la (não se pode abraçar o mundo com as pernas, não se pode salvar o dia todo o dia) e recebesse uma ordem direta do capitão para sacrificar Airiam, assim como Spock falava da ponte que era impossível salvá-la. Ou seja, quando reconhecemos que também precisamos conviver com o fracasso, isso se torna algo libertador, nas palavras do próprio Spock.

Um Spock mais desequilibrado, mas que faz Burnham confrontar-se com si mesma

Falando mais de Spock, precisamos mencionar aqui a melhor parte do episódio, que foi o diálogo entre Spock e Stamets. Um estimula o outro pessoal e profissionalmente. Stamets diz a Spock que Burnham o ama e Spock acha que Culber se separou de Stamets não porque não gosta dele, mas porque não sabe mais quem é. Spock também diz a Stamets que ele tem experiência com a rede micelial e vai conseguir resolver o problema da sabotagem do motor de esporos, enquanto que Stamets diz a Spock que o anjo o escolheu, pois ele deve ser uma pessoa especial. Esse foi o momento onde o episódio mais se aproximou da essência de Jornada nas Estrelas a meu ver.

E o fim de Airiam? A coisa era para provocar uma comoção, mas como os personagens da ponte sempre foram mal construídos, mais parecendo coadjuvantes de luxo, talvez não houvesse empatia suficiente por parte do grande público para se emocionar com sua perda. Confesso que até cheguei a me emocionar mas é realmente um problema na série essa gama de personagens mal construídos. Eu tive até uma esperança ao ver o início do episódio, pois finalmente via ali os personagens secundários recebendo uma atenção maior, sobretudo Airiam. Mas na verdade, só estavam era preparando o caixão da moça cibernética, pois ela ia deixar a série ao final do episódio. O que eu quero ver na verdade é um episódio que tenha a coragem de desenvolver bem um ou dois personagens secundários e histórias paralelas ao plot principal em outros episódios que também desenvolvam esses personagens sem descartá-los ao final. O desenvolvimento de Airiam aqui pareceu mais uma colher de chá que deram para a gente (e para a Airiam) já que a moça iria morrer. Assim fica feio.

Airiam deixa a série. Comoção???

Assim, esse episódio dirigido pelo Frakes acabou não sendo um dos melhores, embora tenha tido um razoável conteúdo dramático. O grande problema aqui é o roteiro fraco e enrolado, que introduz uma ameaça eletrônica com um propósito um tanto furado. Mas o filme também tem suas virtudes, sobretudo no relacionamento entre os personagens (as discussões entre Burnham e Spock e o diálogo afável entre Spock e Stamets). E, principalmente, uma boa lição que Burnham tomou, que é a de não poder assumir todas as responsabilidades o tempo todo. É necessário também aceitar o fracasso, para aprender com ele e se superar. Nada mais humano, vindo de um apologista da lógica. Aí é que está a força do episódio. E esperemos o que vem por aí.

https://www.youtube.com/watch?v=wGuhQ2kQnzM

Batata Movies – A Aparição. Uma Questão De Fé.

Cartaz do Filme

Uma impressionante produção francesa passou em poucas salas de nossos cinemas. Mas a Batata Espacial correu atrás e viu “A Aparição”, dirigido por Xavier Giannoli (de “Marguerite”) e estrelado pelo versátil Vincent Lindon (de “O Valor de um Homem”). Esse é um filme, acima de tudo, sobre fé. Um filme onde conceitos são visitados e mudados.

Um fotógrafo terá sua fé posta à prova…

Do que se trata a história? Temos um repórter, Jacques Mayano (interpretado por Lindon), que acaba de passar por um grande trauma. Ele estava cobrindo um conflito no Oriente Médio e foi atingido por uma explosão, ficando com um sério problema em seu ouvido. Para piorar a situação, ele perdeu seu amigo de longa data no atentado. Abalado, buscou a reclusão. Mas esta durou pouco tempo, pois ele foi chamado pelo Vaticano para fazer uma investigação em um pequeno vilarejo do interior da França. Essa “investigação canônica” tem por objetivo esclarecer a alegação de uma jovem, Anna (interpretada pela bela Galatéa Bellugi) de que teria visto uma aparição da Virgem Maria. O padre local, Borrodine (interpretado por Patrick d’Assunção) decidiu que o milagre havia sido consumado e a pequena localidade se torna um centro de peregrinação, totalmente fora do controle da Igreja Católica, que envia a tal comissão de investigação canônica para fazer os esclarecimentos.

Uma moça que afirma ter visto a Virgem Maria…

É mais o desejo da Igreja desvendar qualquer embuste ao invés de confirmar se houve realmente um milagre. Mayano ficará responsável pelo caráter mais “mundano” da investigação. Pouco a pouco, ele se envolve com Anna, no bom sentido da palavra, é claro, onde a fé da moça passa a ter um significado cada vez mais especial para ele, que nunca foi muito cristão. O problema é que outras pessoas estavam envolvidas na vida da moça, e até um assassinato cruzava a vida dessas pessoas próximas a Anna, constituindo-se num verdadeiro mistério. E qual não foi a surpresa de Mayano quando ele viu que até um elemento de seu passado aparecia nas investigações? Paro por aqui com os spoilers.

Uma investigação é iniciada…

Esse filme tem uma trama muito bem elaborada, que necessita muito da atenção do espectador, o que mostra a nós um bom roteiro. Mas o filme também tem a virtude de ser muito simples em sua mensagem principal. Acima de qualquer investigação de cunho mais científico, as coisas da fé não precisam de provas. Ou você acredita ou não acredita, é muito simples. E quem tem fé não necessita de provas.

Monta-se até uma comissão para a investigação…

O filme é muito tocante nesse aspecto, pois aqui vemos como Mayano transforma suas convicções à medida em que ele aprofunda seu relacionamento com Anna que, ao contrário do que podem imaginar as mentes mais maldosas, não houve qualquer conotação, digamos, mais carnal. Ao mesmo tempo, ele também percebe que a figura de Anna é muito humana, onde a moça também tem uma vida fora da religião com todas suas amizades, e o fardo de ter supostamente testemunhado uma aparição também é muito pesado, algo que provoca muito sofrimento, principalmente em virtude da exploração comercial da aparição, que também é abordada. Nesse ponto, a moça sofre muito e ela se autoflagela, cortando sua alimentação (volta e meia aparece um quê de paranoia nessa temática religiosa e aqui não foi exceção).

A menina, volta e meia, tem comportamentos estranhos…

Esse foi um filme que mais uma vez coroa uma ótima atuação de Lindon, com seu ar meio melancólico, de fala mansa e de olhar penetrante. Mas não podemos nos  esquecer da jovem Galatéa Bellugi, que interpretou Anna e que atuou muito bem com Lindon, rolando uma ótima química. O casal consegue convencer no seu relacionamento terno e afetivo, sem qualquer apelo de cunho sexual. A fé da moça realmente atinge o descrente de forma arrebatadora, embora o jornalista não perca o norte de sua investigação mundana, onde as pessoas próximas de Anna levantam questões muito perturbadoras, com a dúvida principal estando no fato de onde Anna e suas alegações de aparição se encaixam na turbulenta vida de seus amigos mais próximos.

A aparição é um fardo muito grande para a moça…

Assim, “A Aparição” é um filme altamente recomendável, em primeiro lugar por contar uma boa história, com muitos meandros que necessitam da atenção do espectador. Em segundo lugar, porque temos a oportunidade de rever Lindon, acompanhado de uma jovem atriz que dá conta do recado ao atuar com ele. E, em terceiro lugar, da forma como a fé é abordada nesse filme. Se em alguns momentos, ela é vista com desconfiança, mais ao final se conclui que ela pode ser virtuosa quando transforma a vida das pessoas e abre novos horizontes. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2019) – Roma. O Desmoronamento De Duas Vidas.

Belíssimo Cartaz do Filme

Vamos hoje falar de um filme com dez indicações ao Oscar. “Roma”, de Alfonso Cuarón, concorreu a Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Filme, Melhor Atriz para Yalitzia Aparicio, Melhor Atriz Coadjuvante para Marina de Tavira, Melhor Roteiro Original, Melhor Design de Produção, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som. O filme acabou abiscoitando os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro, Fotografia e Direção. Ainda, ganhou os Globos de Ouro de Melhor Diretor e Melhor Filme Estrangeiro, além de ganhar os Baftas de Melhor Filme, Melhor Fotografia e Melhor Filme em Língua Não Inglesa, recebendo também o prêmio David Lean por Direção. Lembrando que esse filme é uma produção da Netflix e se mostrou uma boa aposta do serviço de streaming para fazer um filme mais “cabeça” e digno de premiações. Vamos aqui lançar mão de spoilers para poder analisar o filme.

Yalitzia Aparicio. Indicação de Oscar para Melhor Atriz em seu primeiro filme

O plot é muito simples. No bairro Roma, de classe média alta da Cidade do México, temos a empregada doméstica Cleo (interpretada por Aparicio) que, junto com uma parente, serve a uma família abastada. De origem indígena, ela conversa com sua parente na sua língua nativa e em espanhol com a família, cheia de filhos. Tratada como se fosse “da família”, onde a ligação afetiva com as crianças é muito estreita, Cleo também é tratada com rispidez em alguns momentos por sua patroa Sofia (interpretada por Tavina), pois o patriarca da família está se separando e saindo de casa, o que faz a esposa cair numa pilha de nervos.

Tratada como “da família”…

Por outro lado, Cleo engravida de um namorado que nega a paternidade do bebê. Assim, vemos duas vidas entrando em parafuso: a de Sofia, a patroa, que tem que encarar uma separação com uma penca de filhos, e a de Cleo, que tem que levar uma gravidez sem a presença de um companheiro. Lembrando que essa película tem por base as memórias afetivas da infância do próprio Cuarón, que tinha uma empregada doméstica em sua casa.

Afeição maternal com as crianças da casa…

Essa temática que Cuarón abordou em seu filme de realidade mexicana – a forma como as empregadas domésticas são tratadas pela elite – é muito familiar e conhecida para nós aqui no Brasil, com o agravante de uma tradição escravista que envenena ainda mais a relação patrão-empregado. Na película de Cuarón, a coisa foi até leve em boa parte do filme, com um cotidiano das empregadas sempre presentes no emprego e com uma relação até certo ponto idílica com os patrões e as crianças. Em alguns momentos, a hierarquia sobressaía, como na reclamação feita pelo pai da família da garagem cheia de sujeiras de cachorro, as grosserias que a mãe da família fazia com Cleo quando a matriarca estava estressada com sua crise conjugal, ou na necessidade de Cleo e sua parente fazerem seus exercícios no quartinho da empregada à luz de velas para não gastar energia elétrica.

Uma guardiã dedicada…

Mas o clima um tanto suave do filme passa a ficar turbulento na segunda metade da película, onde as tensões políticas de um México do início da década de 70 começam a influenciar o microcosmos da empregada. É nesse momento que o filme vai adquirir um ritmo bem mais frenético e prender mais a atenção do espectador. Mas tocar nessa parte da película seria dar muitos spoilers. Para se dar apenas uma dica, o filme opta por um happy end galgado numa espécie de redenção, ou seja, uma opção mais hollywoodiana, quando um final mais realista talvez fosse mais adequado. De qualquer forma, com a denúncia de uma situação social concretizada, não podemos nos esquecer de que a película ainda é produzida numa mídia de entretenimento como a Netflix. E aí o happy end é mais aplicável aqui.

Filme tem uma fotografia lindíssima…

Vale falar apenas mais uma coisa que chama muito a atenção: a película foi rodada em preto e branco, ou seja, artística demais nesse ponto, em termos de Netflix. Lembrando sempre da preferência desse humilde escriba pelo preto e branco pelo fato dos contrastes ficarem bem mais destacados que no colorido, dando grande qualidade estética à imagem.

Mais um exemplo da fotografia impecável da película

Dessa forma, “Roma” é uma grata surpresa da Netflix e de Alfonso Cuarón. Um filme “cabeça”, de arte, em preto e branco, feito pelo serviço de streaming, e que fala de uma realidade social da América Latina. Ainda que o tradicional happy end dos filmes hollywoodianos tenha sido usado como opção, temos que dar o braço a torcer que a Netflix assumiu um projeto muito ousado para o tipo de mídia e de público ao qual ela se propõe. E tal atitude deve ser reconhecida e muito celebrada, tanto que a película ganhou dois Globos de Ouro, quatro Baftas e recebeu dez indicações ao Oscar, levando três estatuetas.

O diretor Alfonso Cuarón

Creio que isso é algo muito bom para estimular os serviços de streaming a melhorarem a qualidade das películas que produzem, aumentando a qualidade para o espectador. E seria legal, também possibilitarem o acesso aos cinemas dos filmes que são produzidos para o cinéfilo mais tradicional ter a experiência de ver esse tipo de filme (que tem uma qualidade fotográfica ótima) na telona.

https://www.youtube.com/watch?v=FkzidhAg45U

Batata Movies – Capitã Marvel. Uma Heroína Que Funciona.

Cartaz do Filme

A Marvel dá mais um de seus tiros certeiros com “Capitã Marvel”. Protagonizado pela vencedora do Oscar Brie Larson, esse é um filme que tem o trunfo de um elenco estelar. Senão vejamos: além de Larson, temos as presenças de Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Jude Law e Annette Bening. Adicionado ao bom elenco, está o fato de termos em mãos uma boa história, com direito a plot twists. Tudo isso ajudou a alavancar o filme de uma heroína pelo menos em tese menos conhecida que um Homem Aranha, Hulk, Thor ou Capitão América. E podemos dizer que a forma como a película foi construída ajudou muito a popularizar a nossa capitã. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Brie Larson convenceu, e muito!!!!

O plot é o seguinte. Duas espécies alienígenas, os kree e os skrull, estão em guerra. E aí, uma terráquea, Carol Danvers, (interpretada por Larson) acaba envolvida nessa briga. Os kree, num primeiro momento, parecem ser uma espécie galante e nobre, ao passo que os skrull são violentos e feios.

Samuel L. Jackson arrebenta como um jovem Nick Fury…

Mas esse filme é um tremendo de um jogo de gato e rato, onde o que parece ser uma coisa pode depois ser completamente outra. E essa sequência de plot twists deixam a história divertida, com nossa própria protagonista não sabendo muito bem qual é a sua verdadeira identidade. Outro detalhe interessante do filme é a época em que ele se passa: 1995. Então, podemos ver e experimentar piadas referentes àqueles dias, tais como a demora para baixar um arquivo no PC ou os filmes que passavam no período, quando nossa protagonista cai numa loja do Blockbuster. Até Stan Lee (homenageado na vinheta de abertura em função de sua morte) em sua aparição na película, lia um roteiro de “Barrados no Shopping”, de Kevin Smith, filme em que ele fez uma participação naquela época.

Annette Bening, simplesmente deslumbrante e maravilhosa!!!

Ou seja, a Marvel continuou muito eficiente em sua parte de humor, sobretudo quando falava de gatos. Houve, também, a aparição do tesseract, o cubo cósmico que tem a capacidade de transformar qualquer desejo em realidade. Instrumento valioso para “Vingadores: Ultimato”? Provavelmente. Falando nisso, temos duas cenas pós-créditos na película que têm relação justamente com “Vingadores: Ultimato” e o tesseract.

Jude Law, menos tempo de tela…

E os atores? Foi muito legal ver a atuação de Brie Larson. A moça fez jus à sua premiação de Oscar de Melhor Atriz e esbanjou muito carisma, ao contrário do que podem pensar alguns que não gostaram muito da escolha de Larson para o papel. Ela teve, por exemplo, uma excelente química com Samuel L. Jackson, que fez um jovial e muito engraçado Nick Fury.

Os kree, nobres guerreiros que não são galak…

Pode-se dizer que essa dupla protagonizou até bons momentos de alívio cômico na história. Outra atriz que teve uma atuação muito esplendorosa foi Annette Bening, seja como a “mocinha” de gestos maternais com Carol Danvers, seja como uma maligna líder kree (eu disse que o filme tem muitos plot twists). Poucas vezes a gente vê um ator usando com tanta eficácia a expressividade da face como Bening, principalmente aqui nesse filme.

Os skrull, chatos, bobos e feios. Mas será que é isso mesmo???

Gosto muito de ver atores medalhões em filmes de super-heróis, pois eles dão mais credibilidade a todo o conjunto, ainda mais para esse tipo de filme, que o senso comum diz que se apoia quase que inteiramente à pirotecnia dos efeitos especiais. Jude Law, por sua vez, foi uma espécie de mentor kree para Danvers, mas mesmo tendo um plot twist com ele também, a sua atuação pareceu mais apagada se comparada à dos atores acima citados. Deu a impressão que Law teve menos tempo de tela que os demais. Entretanto, ele foi bem em todos os momentos em que apareceu.

Depois desse filme, você nunca mais vai querer um gato em casa…

Dessa forma, “Capitã Marvel” é um grande filme da Marvel, apesar de não ser o melhor de todos (ainda prefiro “Pantera Negra” e Thanos que se lasque). Mesmo assim, foi legal ver Brie Larson interagindo com esse Universo mais por seu carisma na interpretação do que pelo quesito físico da linguagem corporal das batalhas (é dito por aí que a atriz muito se preparou fisicamente para o filme, fazendo ela mesma várias cenas de luta). Foi também bacana ver um novo Nick Fury com Samuel L. Jackson dando uma outra leitura para o personagem. Annette Bening foi a cereja-surpresa do bolo. E agora resta a nós a torcida pela capitã arregaçar Thanos em “Vingadores: Ultimato”, já que os demais super-heróis ainda parecem muito deprimidos com a derrota de “Guerra Infinita”. Que o Homem Formiga saia também do mundo quântico e protagonize muitos momentos de alívio cômico com a capitã. A plateia agradece.