Grande música do Queen. Letra ideal para se dar aula de Iluminismo na escola..
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Batata Arts – Tesouros da Batata (94)
Outro tesouro…

Batata Movies – Yara. Uma Tradição Que Atropela A Modernidade.

Uma produção libanesa, com parceira do Iraque e da França. “Yara” é mais um daqueles filmes que trabalham a questão da relação entre a tradição e a modernidade. Essa abordagem já foi usada em outras análises de filmes aqui e ela pode assumir várias formas. Existem situações em que a tradição e a modernidade interagem entre si harmoniosamente e existem momentos em que esses dois pólos se veem de forma dicotômica e excludente. Há análises em que a tradição pode ser vista de forma virtuosa e a modernidade como a vilã da história, mas o oposto também ocorre. Logo, quando usamos esse enfoque, podemos ter muitas possibilidades de análise. Lembrando sempre que vamos lançar mão de spoilers aqui .

O plot gira em torno da vida de Yara (interpretada por Michelle Wehbe), uma menina adolescente que vive com sua avó, um tanto quanto isolada nas montanhas do Líbano. A vida é muito prosaica e tradicional, se resumindo ao plantio, à criação de animais, ao recebimento de mercadorias que uma espécie de tropeiro traz periodicamente. Até que um dia chega Elias (interpretado por Elias Freifer), um jovem que é o espelho da modernidade: diz que é viajado, tem a capacidade de levar Yara para viajar, etc., ou seja, joga uma baita duma conversa mole na menina.

E suas visitas passam a ficar cada vez mais frequentes, o que desperta um óbvio envolvimento entre os dois e que leva a desconfianças da parca vizinhança. A partir daí, o filme é levado de uma forma bem idílica entre o casal, que se limita a passeios na região, onde podemos perceber que há casas, escolas e igrejas abandonadas. Ou seja, praticamente todo mundo foi embora. Logo os dois se separarão, pois o pai de Elias conseguiu uma oportunidade do rapaz estabelecer a vida na Austrália e Elias pergunta se Yara quer ir junto. Mas a moça não deixa as montanhas, o que provoca uma despedida melancólica e ressentida.

O leitor pode perguntar: por que Yara não vai embora, assim como praticamente todos da região o fizeram? Aí pode entrar uma componente emocional forte: os pais de Yara haviam morrido e viveram na casa em que ela mora com a avó. Nesse ponto, a tradição ganha uma força arrebatadora, até porque está envolvida numa componente emocional da personagem protagonista, e repele qualquer investida de modernidade naquele microcosmos. Ou seja, o amor de Elias somente cabe se ele se adaptar as condições locais tradicionais exigidas por Yara. Fora disso, nada feito. A moça sente as dores de uma quebra de paixão adolescente.

Mas a película deixa bem claro que em pouco tempo ela se recupera e retoma sua rotina de vida normal, mesmo com algumas inconveniências, como as observações dos vizinhos com o que veste. O leitor pode até afirmar que isso é comum na cultura local, mas devemos ressaltar aqui que fica bem enfatizado no filme que Yara e sua avó são cristãos e não muçulmanos. Esse, aliás, é outro ponto que merece destaque, já que cristãos e muçulmanos estiveram em guerra no Líbano há algumas décadas e esse amor entre Yara e Elias também se materializou como as duas partes do antigo conflito, se constituindo numa espécie de Romeu e Julieta onde não eram rivalidades entre famílias que davam as cartas no processo, mas sim o embate entre a tradição e a modernidade.

Dessa forma, “Yara” é um filme que, se tem um ritmo lentíssimo e um tanto prosaico, bem ao gosto da tradição, ainda assim merece a atenção do espectador, pois mostra como uma moça tão nova não abre mão de suas convicções e tradições em disputa de um amor paternal e maternal perdido no qual ela quer se agarrar. Vale a pena como curiosidade.
Batata Movies – Emma E As Cores Da Vida. Love Story Às Escuras.

Uma produção italiana. “Emma e as Cores da Vida” traz novamente uma madura Valeria Golino em um dos papéis de protagonista. Essa vai ser uma história de amor entre uma cega e um mulherengo, com todos os clichês do mundo que já conhecemos. Entretanto, a novidade aqui está no fato de que a cegueira de Emma (interpretada por Golino) é uma personagem a mais no filme. Teo (interpretado por |Adriano Giannini), o outro membro do casal, conhece Emma numa espécie de experiência sensorial numa exposição, onde pessoas cegas e não cegas se confinam num ambiente inteiramente às escuras e interagem.

Numa dessas coincidências da vida, Teo depois vai reconhecer Emma pela voz e descobre que a mulher é médica osteopata. Assim, Teo irá marcar uma consulta e irá jogar todo o seu poder de sedução na médica, que acaba sendo conquistada. Mas Teo já tem uma namorada que é bem ciumenta e, por sua natureza mulherenga, cria uma situação que, obviamente, será uma verdadeira bomba relógio. O filme até passa em brancas nuvens em boa parte de sua exibição, antes do conflito inevitável. Será nesse momento que a película mostra o que mais tem de valor, que é mostrar que o deficiente visual não tem uma vida completamente restrita e que o aguçamento dos outros sentidos consegue dar um controle parcial de sua vida e uma certa independência.

Ou seja, o deficiente visual não deve ser visto com pena e sim como uma pessoa perfeitamente funcional com necessidades de inclusão. A personagem de Emma consegue trabalhar, consegue ter uma vida e perceber o mundo à sua volta. É claro que, no momento em que Emma descobre que Teo tem uma namorada, o problema da visão estereotipada dos deficientes visuais irá se aflorar, pois Emma acha que Teo somente está com ela mais por pena do que por amor. Mas o happy end muito clichê prova justamente o contrário.

É uma pena que o filme, apesar de abordar o mundo dos deficientes visuais, seja tão previsível. A coisa poderia ter sido um pouco mais elaborada, com o triângulo amoroso mais trabalhado (talvez uma união das duas amantes contra o mulherengo, por exemplo, criando situações cômicas e explorando ainda mais a questão da deficiência visual). De qualquer forma, a tentativa de se fazer um filme que alerte para o problema da inclusão é algo altamente produtivo, mesmo que seja muito clichê.

De qualquer forma, é muito bom rever Valeria Golino. Mesmo com uma certa idade, a atriz não perdeu seu poder de atração e sensualidade, com sua voz baixa, um pouco rouca e provocativa, assim como seu talento, que parece ter se aprimorado com o tempo. Ela é uma atriz que foge do estereótipo falastrão e agressivo atribuído aos italianos. É claro que no momento da traição houve a explosão emocional, mas mesmo assim Valeria fez com que Emma não perdesse sua ternura, candura e até uma certa fragilidade, o que aumenta a sensualidade da personagem. Típico filme onde a gente paga o ingresso para ver a atriz.

Assim, “Emma e as Cores da Vida” pode até ser um filme muito clichê, mas tem duas virtudes: a de alertar as pessoas para os problemas da inclusão dos deficientes visuais e a presença magnética de Valeria Golino, sempre muito bem vinda. Apesar de uma película mediana, vale a pena a conferida.
Batata Movies – A Nossa Espera. Público Que Interfere No Privado.

Uma co-produção Bélgica/França. “A Nossa Espera” é um filme que, a princípio parece ser sobre uma situação privada e familiar. Mas, com o tempo, percebemos que a película busca mostrar como situações cotidianas no ambiente público podem afetar a vida privada das pessoas.

O plot é o seguinte. Olivier Vallet (interpretado por Romain Duris) trabalha numa empresa onde ele é uma espécie de representante de seus colegas perante a funcionária que ocupa um cargo de chefia. Olivier é do sindicato e precisa proteger os demais trabalhadores das investidas da empresa contra eles, que desrespeita seus direitos e pratica demissões. No ambiente familiar, Olivier precisa criar duas crianças com sua esposa Laura (interpretada por Lucie Debay). Apesar da tarefa ser muito trabalhosa, tudo parecia funcionar em harmonia. Mas algo também parecia estar errado com Laura, que tinha crises de choro em vários momentos. Até que, um dia, Laura simplesmente desaparece e Olivier precisa bancar a casa e seu emprego sozinho. É claro que o pai terá algumas ajudas da mãe e da irmã, mas ele vai precisar se adaptar aos novos tempos. E torcer para que sua esposa apareça.

Bom, por que o filme parece uma interferência do público no privado? Porque o sumiço de Laura pode estar atribuído aos vários problemas de ordem social presentes no filme. Vemos um clima onde os trabalhadores são constantemente ameaçados por demissões e por situações de penúria financeira. E isso afetava muito Laura, que trabalhava numa loja e via suas clientes passarem pela vergonha do cartão de crédito simplesmente não passar na máquina, ao ponto de ela ter crises de choro, um indício de crise de pânico. O fato da moça estar em dupla jornada de trabalho, tendo que trabalhar na loja e, ao mesmo tempo cuidar das crianças, é outro fator de sobrecarga. Tanto que, quando Olivier precisa cuidar das crianças e, ao mesmo tempo tocar seu trabalho, ele tem enormes dificuldades. Assim, a pesada rotina de trabalho e os problemas sociais que circundavam a família atingiam em cheio esta última. Talvez se o sistema não fosse tão cruel, essa família poderia sofrer bem menos danos que sofreu.

Com relação ao desfecho da película, obviamente um happy end em tal contexto estragaria tudo. Optou-se por uma situação em aberto, dando alguma esperança para os personagens, mas ainda imerso num contexto um tanto desesperançoso de realidade. Pelo menos, as convicções políticas de Olivier não se esmoreceram mesmo com necessidades iminentes que poderiam desvirtuar seu caminho. E o mais notável: a decisão que o Olivier tomou para sua família foi feita em votação com seus filhos. Mais democrático impossível.

Dessa forma, “A Nossa Espera” é um filme que, se num primeiro momento parece enfocar exclusivamente a vida privada de uma família, o roteiro bem escrito mostra paulatinamente que as desventuras familiares são provocadas por fatores externos imersos no meio público. Fatores externos que são problemas sociais provocados pela insensibilidade de um sistema que visa ao lucro e não tem qualquer preocupação com aqueles que estão na cadeia produtiva, simplesmente descartando-os quando são considerados prejuízo para o sistema. Por tudo isso, “A Nossa Espera” se torna um filme indispensável e altamente recomendável.
Batata Jukebox – New Year’s Day (U2)
Antológica! Minha música preferida do U2!!!
Batata Arts – Tesouros da Batata (93)
Mais um tesourinho. Comprei esse no ônibus e faz a gente pensar muito…

Batata Movies – Chá Com As Damas. Recordando Um Passado Glorioso, Mas Com Percalços.

Um interessante documentário. “Chá Com As Damas” fala de quatro divas do teatro e cinema inglês: Judi Dench, Maggie Smith, Eileen Atkins e Joan Plotwright. As atrizes se reúnem anualmente na casa de Plotwright para, no popular, “jogar conversa fora” e relembrar momentos da carreira e dos longos anos de amizade. Só que, dessa vez, elas permitiram que o encontro fosse filmado para ser transformado numa espécie de documentário.

A tarefa ficou a cabo do diretor Roger Michell (de “Um Lugar Chamado Notting Hill”). E tivemos um interessante resultado. Para quem pensa que o documentário seria exclusivamente uma reunião de quatro senhoras em uma mesa tomando água e conversando informalmente, a coisa surpreendeu, pois temos um filme recheado de imagens de arquivo que ilustram a conversa das divas.

E aí, podemos ver imagens das atrizes bem joviais (mostrando que elas eram extremamente belas nos seus dias mais gloriosos), em raros e preciosos momentos de atuação no teatro e no cinema. O relacionamento das atrizes com seus maridos também é mencionado, com um especial destaque da relação entre Plotwright e Laurence Olivier, o que lhe rendeu muitos problemas, pois parecia que a atriz só tinha um papel na companhia de um dos maiores atores da História pelo fato não de seu talento, mas pelo fato dela ser esposa do Olivier.
O filme também proporciona muitos momentos engraçados onde as amigas relembravam episódios em comum do passado, algo que dava um sabor especial a película que, como deve ficar bem claro, tem um ritmo bem lento, mas não deixa de ser bem simpática.

Assim, “Chá Com As Damas” não deixa de ser uma interessante curiosidade sobre atrizes que já estamos acostumados há anos em acompanhar no cinema. Ver seus dias mais jovens acaba sendo um deleite para os olhos e nos dá uma noção um pouco mais aprofundada de suas prolíficas carreiras. Foi muito bom também recordar o bom e velho Laurence Olivier, não somente nos palcos e no cinema, mas também em sua vida privada, onde pudemos ter acesso a um pouco de sua intimidade com as atrizes protagonistas. Vale a pena dar uma conferida.